Um jovem apicultor, amigo e cliente, colocou-me ontem a questão do título da publicação. Hoje respondi-lhe: alguns conseguem viver da apicultura e outros não. Eventualmente este jovem, assim como outros, desejam uma resposta sim ou não. Mas essas respostas de sim ou não para aspectos complexos, que dependem de inúmeras variáveis, sendo sedutoras para quem as ouve porque fica com o assunto resolvido logo ali, e tentadoras para quem as dá porque reforçam o seu estatuto de autoridade e conhecimento, são na realidade respostas parvas (do étimo pequeno).
Por exemplo, hoje saí de casa depois de tomar o café e comer uma barrita de cereais, estavam a bater as 9h30 no relógio da torre. A manhã esteve relativamente fresca e o trabalho corria bem e, quando dei por mim, eram 13h10. Parei um pouco para reflectir se deveria continuar ou parar e fazer 15 km de regresso a casa para almoçar e retornar depois de almoço. Decidi continuar o trabalho e concluí-o por volta das 14h00. Contudo e como ainda faltava uma tarefa que tinha mesmo que fazer hoje noutro apiário, a cerca de 4 km de distância, decidi castigar um pouco mais o corpo e ir fazê-lo, antes de regressar a casa para almoçar. Terminei por lá por volta das 16h00. Regressei a casa e almocei por volta das 17h00. Voltei de novo a esses dois apiários já próximo das 18h00 e conclui a principal tarefa que hoje me comprometi fazer, seriam cerca das 19h45. Agora, que já estou em casa, dou comigo a pensar que este está longe de ter sido um dos dias duros, dos muitos que já tive na apicultura. Alturas houve em que os dias duros vinham em cachos de 5 ou 6 dias seguidos ao longo de 4 a 5 meses.
Voltando à questão: sim para alguns é possível viver da apicultura e, acredito, que o factor decisivo, como não poderia deixar de ser, é o humano, isto é, é a ética profissional, o conhecimento, o pragmatismo, a vontade de superação, a resiliência e, para mim a mais importante na apicultura, a paciência. Paciência para esperar pela natureza, porque quem toca a música é a natureza, o ritmo é marcado por ela.
Não acredito nos “mecânicos/melhoradores da genética” da natureza, não acredito nos “criadores” de naturezas exóticas alternativas. Acredito e admiro os “amadores” da natureza local, aqueles que pacientemente a prescrutam e, sem lhe alterar a génese, ou introduzir exotismos, se apercebem dos carreiros mais escondidos por onde devem fazer o seu caminho. Tenho para mim cada vez mais certo que o apicultor que quer viver da apicultura em Portugal mais tarde ou mais cedo vai confirmar aquilo que já confirmei há algum tempo: não é sobretudo uma questão de genética, é mais uma questão de maneio. Mesmo que isso implique adiar a hora do almoço!
Boa noite amigo!
É com enorme prazer e gosto que sigo o seu blog.
Sou leitor assíduo dos seus artigos. E aprecio a sua forma de escrever e descrever a apicultura. E como a vive.
Sucinto e directo e com elevação por uma arte que não é uma profissão mas outrossim uma paixão.
Tenho pouco tempo de apicultura, e já entendi o que descreveu no artigo de hoje.
Os trabalhos de apiário não tem horário de almoço. Não tem mensagem para a namorada ou esposa não tem telefone para atender. Tem de ter paciência e paixão amor próprio e ás abelhas o nosso maior efectivo.
Abraço!!!
Obrigado pela partilha do seu conhecimento!
Boa apicultura!
Obrigado António! Que amanhã tenha um bom dia com as suas abelhas. Abraço!
Em todos os negocios: una minoria enriquece, alguns vivem bem, muitos da para pagar as despesas e a maioria nao sobrevive. Eu como tenho uma atividade principal diferente, digo que a apicultura paga-me as férias.