No próximo dia 4 de outubro, a JGS Beekeeping abre as portas para um dia dedicado à partilha de conhecimento, experiências e boas práticas em apicultura.
📢 Oradores convidados:
Eduardo Gomes
Bruno Moreira
Henrique Rebelo
🛠️ Workshops práticos:
Tiago Morais
Candace
📍 O encontro será nas instalações da JGS e promete ser um momento único de aprendizagem e convívio entre apicultores e amantes das abelhas.
⚠️ A participação é gratuita, mas é necessária inscrição prévia (link na legenda).
👉 Não perca esta oportunidade de aprender, partilhar e viver de perto a paixão pelas abelhas.
O Ricardo fez o percurso formativo “Controlo efectivo da Varroose ao longo do ano” nos meses de março e abril. Ontem enviou-me este e-mail. Liguei-lhe para que me desse autorização para partilhar o seu testemunho com os leitores do meu blogue — a exemplo do que já fiz no passado com testemunhos de outros companheiros. Generosamente assentiu. O meu grande bem-haja!
Fica a transcrição do e-mail recebido, onde retirei duas pequenas partes pela sua natureza mais pessoal.
“Bom dia Sr. Eduardo,
Escrevo-lhe este e-mail para lhe dar conta da minha experiência com o tratamento inovador.
Este ano comecei a época com 8 colmeias, tendo ideias de desdobrar 2 delas para fazer 6 novos enxames. Em janeiro deparei-me com a morte de 3 delas o que me deixou surpreendido e apreensivo em relação aos planos que tinha.
Então decidi fazer o seguinte plano:
2 colmeias iriam estar afetas à produção de mel;
3 colmeias iriam ser desdobradas (de uma delas iriam sair 6 quadros de criação, um por núcleo, e das outras duas iriam sair 3 de cada, de maneira a fazer 6 núcleos fracos e ainda manter 2 colmeias com algum potencial produtivo).
As 2 colmeias que iriam estar afetas à produção de mel foram “passadas” para lusitana no fim de fevereiro, e a colmeia que foi mais desfalcada com os desdobramentos foi passada para lusitana em fim de março (na data do desdobramento).
Essa troca de modelo em 3 colmeias teve como consequência a renovação das ceras, ao longo da primavera, quase na totalidade para quadros lusitanos. Eu sabia que só por isso, com cera nova, que conseguiria atingir níveis altos de população de abelhas e por conseguinte níveis altos de varroa. Ainda para piorar, os espaço deixado pelos quadros reversíveis nas colmeias lusitanas era ideal para as abelhas fazerem criação de zangão, embora tenha feito uns cortes de criação, houve alguns descuidos por falta de tempo. Tinha noção que o pós cresta não ia ser fácil, principalmente em uma dessas 3 colmeias que tinha tido um crescimento mais acelerado. Vamos chamar a essa colmeia a Colmeia A.
Já a antecipar o problema, em Maio faço uma lavagem de abelhas na Colmeia A, 12 varroas. No simulador do Randy já mostrava o colapso da colónia no pós cresta. Decidi fazer um tratamento com tiras de ácido oxálico durante o mês de Junho, mas por falta de tempo não testei o resultado.
Decido esperar pela cresta (dia 26 de julho), no dia seguinte à cresta faço o teste na Colmeia A, e o resultado é alarmante, 58 varroas, nem testei mais nenhuma colmeia. Deduzo que as tiras de ácido oxálico tenham feito pouco efeito. E zero criação operculada, não consegui aplicar o tratamento inovador. Nas outras colmeias que produziram mel (que foram as 5 iniciais, os desdobramentos nao deram mel), utilizei o tratamento inovador seguido das tiras de apitraz. Mas na Colmeia A coloquei 3 tiras de apitraz, passados 15 dias já apresentava criação operculada apenas em um quadro, onde apliquei o tratamento inovador (nesta altura retirei a 3 tira).
Já no fim de Agosto, decidi aplicar fórmico convencional (100ml a 65% no evaporador da Lyson) para experimentar. Então apliquei na Colmeia A e numa outra do apiário. Testei antes ambas as colmeias, a Colmeia A um mês depois de iniciados os tratamentos (apitraz e tratamento inovador passados 15 dias) já só apresentavas 12 varroas.
Ora no passado sábado, (cerca de 3 semanas depois após o tratamento com fórmico convencional) , a lavagem de abelhas na Colmeia A deu apenas 1 varroa. E como referi anteriormente, passado 1 mês já só apresentava 12 varroas. É importante salientar que as tiras de apitraz ainda estão na colmeia, pois ainda não passaram 10-12 semanas. Mas na minha opinião o fator importante aqui, foi mesmo o tratamento inovador. Pois também fiz o teste a uma colmeia que também teve um crescimento idêntico e que foi tratada com o tratamento inovador seguido das tiras de apitraz (tinha cerca de 5 ou 6 quadros com criação na altura do tratamento) e no passado sábado na lavagem de abelhas deu apenas 2 varroas.
Apesar disto, e estando as temperaturas baixas, decidi tratar tudo novamente (os enxames que foram feitos este ano apenas tinham sido tratados com as tiras de apitraz) com ácido fórmico de forma convencional apenas 100ml por colmeia porque os evaporadores da Lyson não levam mais.
Aproveito também para desabafar consigo alguma tristeza que tenho em relação ao setor apícola,[…] os dois tratamentos por ano são uma autêntica anedota […], ainda para mais com a quantidade de informação cientifica que há acerca da varroa é uma estupidez não alterar isso. Por isso faço votos que continue o seu trabalho, acho que é e tem sido uma mais valia para a apicultura nacional.
Cumprimentos,
Ricardo Luís“
A propósito da experiência que o Ricardo relata, relembro o caso mais extremo de salvamento com o protocolo inovador de uma colónia altamente infestada num apiário de um cliente.
7 quadros cobertos com abelhas, quando 3 meses antes a infestação estava a atingir os 24% e à beira do colapso. Em maio vi uma colónia saudável, a crescer de forma notável.
Para memória futura, fiz duas aplicações deste protocolo, a primeira a 5 de março e a segunda a 13 de março. Em apenas 8 dias esta colónia desceu de 23,7% (71 varroas em 300 abelhas) para 7,7% (23 varroas em 300 abelhas) após a primeira aplicação do protocolo. Depois da segunda aplicação, a 13 de março, achei por bem não testar para não “sacrificar” mais abelhas adultas numa colónia já pouco povoada.
A 13 de maio, voltei ao apiário e achei que tinha chegado o momento certo para fazer um novo teste de infestação: estavam passados exactamente 2 meses e a colónia estava relativamente bem povoada com 7 quadros de abelhas e 5 quadros com criação, como mostra a foto em cima.
No coador, 4 varroas e um cisco. Um protocolo de controlo da varroose com 97% de eficácia não se encontra facilmente, mas está ao seu alcance conhecê-lo inscrevendo-se no percurso formativo que vou iniciar no próximo dia 17 de outubro. Foto minha de uma colmeia que no passado dia 18 de fevereiro apresentava 71 varroas
A aprendizagem do protocolo/tratamento inovador e utilização do simulador de varroa do Randy Oliver, que o Ricardo refere, são conteúdos do percurso formativo “Controlo efectivo da Varroose ao longo do ano”, entre outros conteúdos de grande relevância.
No próximo dia 26 encerrarei mais um percurso formativo, que teve/tem tido uma muito boa adesão junto de um grupo de apicultores muito interessados e com vontade de aprender a melhorar o controlo do principal inimigo das colónias de abelhas.
Entretanto, recebi novas manifestações de interesse neste percurso formativo e decidi abri novas datas. Assim a primeira data está agendada para o dia 17 de outubro, e para a qual ainda há algumas vagas disponíveis.
Venha aprender a melhorar as suas competências de controlo da Varroose mesmo em circunstâncias de infestação elevada, como as descritas no testemunho do nosso companheiro Ricardo Luís.
Solicite mais informação sobre este percurso formativo enviando e-mail para o endereço: jejgomes@gmail.com
O princípio que recomendo aos meus clientes e formandos é avaliarem o nível de infestação após a conclusão dos tratamentos. Não confiar, sem mais e antecipadamente, em nenhum medicamento/tratamento é uma regra de bom senso.
Vem este lembrete a propósito dos resultados discrepantes obtidos em diversos estudos com a utilização de suportes celulósicos de libertação lenta de ácido oxálico dissolvido em glicerina. Estas discrepâncias, que reforçam o cuidado mencionado em cima, ficam visíveis, por ex., nos resultados obtido por Bartlett et al. (2023) e Branchicella et al. (2025).
Bartlett et al. (2023) mostraram que a administração de uma formulação não comercial de libertação lenta de ácido oxálico e glicerina em toalhetes azuis (blue towels) não tem efeito na diminuição dos níveis de ácaros, nas condições em que realizaram o estudo.
Aplicação de toalhetes azuis em colónias de Randy Oliver
Já os resultados obtidos no estudo de Branchicella et al. (2025) mostram que com outro tipo de suportes celulósicos e outro técnica de aplicação estes suportes de libertação lenta de ácido oxálico pode ser altamente eficaz no controlo V. destructor. Contudo mostrou também que, em circunstâncias específicas, a sua utilização pode não diminuir necessariamente as populações de ácaros da colónia.
Estes detalhes e “pormaiores” serão mencionados por mim no próximo percurso formativo que se iniciará no próximo dia 12, às 21h30, via Zoom. A pedido de apicultores já inscritos ensinarei a produzir tiras celulósicas de libertação lenta de ácido oxálico.
Tal como em 2006, ano do CCD (Colony Colapse Disorder), 2025 é um ano de mortalidade massiva de colónias de abelhas melíferas nos EUA (60%+). E também em 2025 a análise dos dados recolhidos até à data aponta para o mesmo grupo de grandes determinantes deste grave fenómeno, que ficaram conhecidos como os 4 Ps (o acrónimo das palavras inglesas Parasites; Pathogens; Poor Nutrition; Pesticides).
Parasitas: O Varroa destructor continua a ser a maior ameaça de acordo com os apicultores. Após a CCD, o amitraz tornou-se o principal controlo dos ácaros — mas, tal como o fluvalinato e o coumafos antes dele, a resistência está a surgir. Novas abordagens e a otimização das formas de utilização das ferramentas existentes estão a acrescentar opções para os apicultores reduzirem a dependência do amitraz. O interesse por stocks resistentes aos ácaros tem crescido e a sua adoção está a aumentar em algumas operações de grande escala, mas ainda é um trabalho em curso.
Patógenos: Não surgiu nenhuma solução milagrosa, no entanto, esforços de monitorização melhorados e uma compreensão mais profunda dos gatilhos para o desenvolvimento de doenças estão a abrir caminho para estratégias de prevenção e gestão mais eficazes. Os vírus transmitidos por ácaros são provavelmente os principais responsáveis pelas perdas misteriosas de 2025, tal como foram com a CCD. Infelizmente, observar colmeias doentes é muitas vezes pouco, e demasiado tarde, para compreender o quadro completo do que correu mal e melhorar os resultados. Muito mais investigação é necessária aqui.
Nutrição deficiente: O programa Seeds for Bees® da PAm, juntamente com o aumento de outras iniciativas para aumentar a disponibilidade de forragem, está a contribuir para uma melhor nutrição das abelhas. Além disso, a melhor compreensão dos nutrientes essenciais para as abelhas está a orientar um suporte nutricional mais direcionado e eficaz. A perda de hectares de CRP (Conservation Reserve Program) e a disseminação de culturas tolerantes a herbicidas tornam cada vez mais difícil encontrar forragem de alta qualidade. As pastagens para as abelhas estão cada vez mais concentradas e, por vezes, totalmente inacessíveis — especialmente porque alguns esforços de conservação começaram a excluir as abelhas das terras públicas e privadas — enquadrando-as como concorrentes dos polinizadores nativos. As abelhas precisam da sua defesa!
Pesticidas: Os apicultores continuam na corda bamba: participando num sistema agrícola que depende do controlo de pragas, ao mesmo tempo que necessitam de forragem segura e de acesso a pastagens fora destes sistemas para manter as abelhas saudáveis. A exposição dos polinizadores a pesticidas continua a ser um problema crítico. Ainda assim, muitas pesquisas foram realizadas nesta área desde a CCD. Por exemplo, compreendemos agora melhor muitos compostos e interações — como misturas nocivas em tanques durante a floração das amendoeiras, uma prática reduzida graças às Boas Práticas de Gestão impulsionadas pela investigação. A comunicação entre produtores e apicultores também melhorou e alterou muitas práticas.
O clima como um quinto “P”: Devemos agora reconhecer um quinto grande stressor planetário: as alterações climáticas. Os incêndios, as inundações, as secas e as tempestades estão cada vez mais a afectar os polinizadores — quer directamente, quer reduzindo a disponibilidade de forragem. Estes acontecimentos tornaram-se um novo normal, uma vulnerabilidade que agrava as pressões existentes.
Estes fenómenos cada vez mais recorrentes e intensos exigem dos apicultores mais conhecimentos e práticas actualizadas e fundamentadas que os qualifiquem para dar respostas eficientes e eficazes.
No sentido de contribuir para a qualificação dos apicultores irei abrir propostas formativas acessíveis nos próximos meses. Entre outras, cursos por Zoom focados em respostas práticas e fundamentadas para um mais efectivo controlo da Varroa assim como para um melhor apoio nutricional das colónias.
Em breve assinalarei por aqui as datas para estes cursos.
É já no próximo dia 5 de outubro que a JGS Beekeeping vai abrir as portas aos apicultores interessados em aprofundar conhecimentos e compartilhar boas práticas apícolas. Fica o convite para estarem presentes.
Ontem, numa manhã nublada, na companhia do Nuno Capela, prossegui o trabalho de observação sistemática, recolha de dados, registo, análise, reflexão e aprendizagem a partir das 5 colónias do apiário pedagógico de Coimbra e que tenho vindo a efectuar desde a primeira semana de abril.
Ficam algumas fotos que documentam as etapas deste processo.
Histórico da Colónia C1.
Avaliação da taxa de infestação em 300 abelhas adultas da colónia C2.
Colónia C4 e quadro de criação intensiva de zângãos.
Observação da infestação por varroa em criação de zângão na colónia C4.
Colónia C5 onde, no passado dia 15 de junho e no âmbito da 4ª edição do workshop Controlo da Varroose, encontrámos várias rainhas virgens e a rainha mãe, esta ainda em postura. Ontem, 28, encontrei uma rainha nova em postura.
Eduardo Gomes: serviços de formação presencial e on-line, consultoria presencial e on-line e apoio técnico em apiário (contactos: 935 251 670; jejgomes@gmail.com)
Na semana passada levei a cabo a 4ª visita técnica aos dois apiários de um colega apicultor de Coimbra.
A primeira tarefa passou por recolher o pólen. A produção deste produto está a correr bem e a deixar o meu cliente muito satisfeito.
Gaveta cheia! Os ninhos bem desbloqueados potenciam esta produção.
Para minha surpresa fomos encontrar uma colónia enxameada e uma outra prestes a enxamear. Na primeira fizemos um desdobramento com pelo menos uma rainha virgem, tendo assegurado que a colónia mãe ficava também com pelo menos outra rainha virgem. Na segunda fizemos outro desdobramento, desta feita com a rainha-mãe. Deixámos 3 mestreiros na colmeia mãe e utilizámos alguns para promover a resolução de um caso de uma colmeia top-bar zanganeira.
Um dos desdobramentos feito.
Alguns mestreiros que foram utilizados para fazer enxertia numa colónia zanganeira top-bar.
Enxertia dos mestreiros.
Avaliámos a taxa de infestação em abelhas adultas e fizemos o corte de criação de zângão para diminuir a população de varroas.
Lavagem com álcool de abelhas nutrizes.
Se cada quadro tiver cerca de 10 % da população das varroas na fase de reprodução, um terço terá cerca de 3%. Se a criação de zângão atrair 5x a 10x mais varroas do que a criação de obreira, podemos almejar ter diminuído entre 7,5% a 15% da população com o corte de zângão nesta face do quadro.
Se, nesta altura do ano, a taxa de infestação estiver nos 3% quando reduzimos a sua população em 15% com um corte da criação de zângão, na quinzena seguinte a taxa de infestação estará nos… 4%!!!
É apenas uma simulação… mas feita num simulador reconhecido por especialistas e apicultores por este mundo fora. Qualquer coincidência com a realidade não é um acaso!
E vimos também o trabalho das novas rainhas, criadas naturalmente, nos desdobramentos feitos nas semanas anteriores. Bem nesse momento, brilharam os olhos do meu cliente e os meus também.
Postura exemplar de uma das rainhas criada naturalmente, num dos vários desdobramentos feitos à entrada de abril. Desdobramentos com os ninhos cheios de abelhas e que produzirão este ano mel e pólen, assim as condições edafo-climáticas o permitam.
Um apicultor satisfeito e orgulhoso com o que alcançamos até agora!
Eduardo Gomes: serviços de formação presencial e on-line, consultoria presencial e on-line e apoio técnico em apiário (contactos: 935 251 670; jejgomes@gmail.com)
A comunidade de apicultores nacional é muito heterogénea. Desde apicultores hobistas a apicultores profissionais, apicultores veteranos com muitos anos de experiência apícola a apicultores que estão a iniciar a sua experiência, apicultores muito jovens a apicultores menos jovens, esta comunidade é feita de mil ramos com um tronco comum, o interesse e paixão pela abelha melífera.
Dentro desta comunidade tão diversa, temos alguns de nós que pela sua influência positiva ao longo de muitos anos se têm destacado no sector. Entre eles está o Francisco Rogão.
Conheço o Francisco praticamente desde o início da minha aventura apícola. Como poderia ser de outro modo? Desde esse início que tenho aprendido com ele aspectos práticos e efectivos de maneio e que me serviram bem quando os apliquei. Lembro-me que em 2015 ou 2016, depois de ter estado presente numa palestra que apresentou no Porto, uma das suas propostas de desdobramentos me serviu como uma luva no quadro da gestão de um apiário que tinha em Coimbra. Dos 40 desdobramentos que realizei em duas semanas consecutivas, 38 resultaram. E esse enriquecimento, quer do meu património apícola e sobretudo do meu nível de conhecimentos, teve origem na generosidade do Francisco na partilha dos seus conhecimentos e práticas dirigidas ao grupo de apicultores presentes nesse fim de tarde no Porto. Este é um caso, entre outros, do meu maneio, onde a inspiração, o “saber fazer” e a motivação para agir foram determinados e orientados pelas “dicas” preciosas do Francisco.
Nos últimos 3 anos tenho colaborado mais activamente com o Francisco nos cursos que disponibiliza on-line e nas duas últimas Jornadas da Macmel. Estes desafios/convites à colaboração de palestrantes de diversas áreas, mostram outra faceta do Francisco, associada à sua generosidade: um espírito aberto e agregador. Um espírito aberto que se expressa na sua atenção e foco nos avanços que vão acontecendo na apicultura nas mais variadas áreas, dos equipamentos às técnicas de maneio e dimensão estratégica de uma apicultura sustentável; um espírito agregador que se expressa nos eventos que promove e em que participa, quer em Macedo de Cavaleiros quer noutros territórios do nosso Portugal continental e insular, e que funciona como uma cola que une pessoas e experiências tão diversas.
Esta publicação e estas linhas simples e incompletas servem para dar um grande Bem-Haja ao Francisco que estendo à Manuela, ao Rúben e à Raquel.
Foi em 2011, um pouco antes dos primeiros avistamentos em Portugal, que soube que uma vespa exótica estava a preocupar e muito os apicultores franceses. Quando recebi a notícia que tinha sido avistada em Viana do Castelo fiquei também bastante preocupado. Esta preocupação acabou por reflectir-se nas inúmeras publicações que tenho vindo a fazer desde 2016, data que fundei este blogue, até ao presente sobre este insecto predador.
Esta publicação tem como objectivo apresentar uma breve e parcelar revisão do que tenho publicado sobre a Vespa velutina nigrithorax.
Eduardo Gomes: serviços de formação presencial e on-line, consultoria presencial e on-line e apoio técnico em apiário (contactos: 935 251 670; jejgomes@gmail.com)
Numas jornadas de apicultores, em que tive o gosto de participar recentemente, foi afirmado por uma das intervenientes que achava que a velutina era mais perigosa que a varroa para as colónias de abelhas. Este achismo pode ser fruto tanto de uma boa reflexão como de uma reflexão muito incompleta e imperfeita.
Vejamos com algum detalhe:
(i) achar que a velutina é mais perigosa que a varroa faz sentido num quadro de pensamento em que se assume que podemos ter um grande controlo sobre a varroose e, portanto, tendo um controlo mais fraco sobre a pressão e danos que a velutina exerce a partir dos meses de agosto e seguintes, os danos sobre as colónias não advêm de uma varroose que até está muito controlada, mas sim de uma pressão das velutinas de difícil controlo.
(ii) achar que a velutina é mais perigosa que a varroa, só porque vemos muitas colónias a colapsar em julho, agosto, setembro e outubro, e responsabilizar as velutinas pelo colapso porque andam por ali a pressionar e comer abelhas, isto sem termos indicadores fiáveis das taxas de infestação por varroa nessa altura e ao longo do ano, é inúmeras vezes uma conclusão errada e que em nada contribui para a correcção necessária das intervenções dos apicultores no sentido de melhorarem o controlo do que devem prioritariamente controlar, a varroose.
Lembro-me bem do Bruno Moreira, presidente da Associação dos Apicultores do Norte de Portugal, um profundo conhecedor das abelhas e das velutinas, afirmar que a principal causa de morte das colónias no norte, onde a velutina já faz muita pressão há anos, continua a ser a varroa. Os apicultores mais veteranos têm presente que muito antes da famigerada velutina ter arrombado as nossas fronteiras, já morriam dezenas de milhar de colónias todos os anos. Muitos, como hoje, não chegavam a reconhecer que era a varroa a causa.
O mais difícil de engolir neste contexto é que, em boa medida, continua a ser assim, apesar da informação e técnicas actualmente disponíveis e de existirem bons exemplos por parte daqueles que controlam ano após ano o flagelo deste ácaro.
As coincidência turvam o olhar e a interpretação. Sem um efectivo controlo da varroose as colónias vão levar o golpe de misericórdia pelas velutinas, mas já estavam a colapsar por acção da varroa. Esta coincidência confunde o observador mais desatento.
As duas simulações que apresento em baixo são esclarecedoras do efeito do fraco controlo da varroa e da coincidência dos “timings”: a morte destas colónias por varroose coincide com o início da pressão das velutinas.
Colónia no interior de Portugal, que tendo entrado no ano com a varroa bem controlada (1%) e, sem mais qualquer controlo, vai colapsar à entrada de agosto. O apicultor a quem isto acontece vai associar a morte da colónia à pressão das vespas que tinha começado a sentir-se umas duas semanas antes. Na verdade a colónia já tinha o destino traçado pela elevada infestação do ácaro, com ou sem velutina presente.Colónia no litoral de Portugal, que tendo entrado no ano com a varroa muito bem controlada (0,3%) e, sem mais qualquer controlo, vai colapsar à entrada de julho. O apicultor a quem isto acontece vai associar a morte da colónia à pressão das vespas que tinha começado a sentir-se umas duas semanas antes. Na verdade a colónia já tinha o destino traçado pela elevada infestação do ácaro, com ou sem velutina presente.