tiras de libertação lenta de ácido oxálico são eficazes?

O princípio que recomendo aos meus clientes e formandos é avaliarem o nível de infestação após a conclusão dos tratamentos. Não confiar, sem mais e antecipadamente, em nenhum medicamento/tratamento é uma regra de bom senso.

Vem este lembrete a propósito dos resultados discrepantes obtidos em diversos estudos com a utilização de suportes celulósicos de libertação lenta de ácido oxálico dissolvido em glicerina. Estas discrepâncias, que reforçam o cuidado mencionado em cima, ficam visíveis, por ex., nos resultados obtido por Bartlett et al. (2023) e Branchicella et al. (2025).

Bartlett et al. (2023) mostraram que a administração de uma formulação não comercial de libertação lenta de ácido oxálico e glicerina em toalhetes azuis (blue towels) não tem efeito na diminuição dos níveis de ácaros, nas condições em que realizaram o estudo.

Aplicação de toalhetes azuis em colónias de Randy Oliver

Já os resultados obtidos no estudo de Branchicella et al. (2025) mostram que com outro tipo de suportes celulósicos e outro técnica de aplicação estes suportes de libertação lenta de ácido oxálico pode ser altamente eficaz no controlo V. destructor. Contudo mostrou também que, em circunstâncias específicas, a sua utilização pode não diminuir necessariamente as populações de ácaros da colónia.

Estes detalhes e “pormaiores” serão mencionados por mim no próximo percurso formativo que se iniciará no próximo dia 12, às 21h30, via Zoom. A pedido de apicultores já inscritos ensinarei a produzir tiras celulósicas de libertação lenta de ácido oxálico.

Os 4 Ps + 1: os maiores determinantes de mortalidade massiva de colónias de abelhas melíferas

Tal como em 2006, ano do CCD (Colony Colapse Disorder), 2025 é um ano de mortalidade massiva de colónias de abelhas melíferas nos EUA (60%+). E também em 2025 a análise dos dados recolhidos até à data aponta para o mesmo grupo de grandes determinantes deste grave fenómeno, que ficaram conhecidos como os 4 Ps (o acrónimo das palavras inglesas Parasites; Pathogens; Poor Nutrition; Pesticides).

Parasitas: O Varroa destructor continua a ser a maior ameaça de acordo com os apicultores. Após a CCD, o amitraz tornou-se o principal controlo dos ácaros — mas, tal como o fluvalinato e o coumafos antes dele, a resistência está a surgir. Novas abordagens e a otimização das formas de utilização das ferramentas existentes estão a acrescentar opções para os apicultores reduzirem a dependência do amitraz. O interesse por stocks resistentes aos ácaros tem crescido e a sua adoção está a aumentar em algumas operações de grande escala, mas ainda é um trabalho em curso.

Patógenos: Não surgiu nenhuma solução milagrosa, no entanto, esforços de monitorização melhorados e uma compreensão mais profunda dos gatilhos para o desenvolvimento de doenças estão a abrir caminho para estratégias de prevenção e gestão mais eficazes. Os vírus transmitidos por ácaros são provavelmente os principais responsáveis ​​pelas perdas misteriosas de 2025, tal como foram com a CCD. Infelizmente, observar colmeias doentes é muitas vezes pouco, e demasiado tarde, para compreender o quadro completo do que correu mal e melhorar os resultados. Muito mais investigação é necessária aqui.

Nutrição deficiente: O programa Seeds for Bees® da PAm, juntamente com o aumento de outras iniciativas para aumentar a disponibilidade de forragem, está a contribuir para uma melhor nutrição das abelhas. Além disso, a melhor compreensão dos nutrientes essenciais para as abelhas está a orientar um suporte nutricional mais direcionado e eficaz. A perda de hectares de CRP (Conservation Reserve Program) e a disseminação de culturas tolerantes a herbicidas tornam cada vez mais difícil encontrar forragem de alta qualidade. As pastagens para as abelhas estão cada vez mais concentradas e, por vezes, totalmente inacessíveis — especialmente porque alguns esforços de conservação começaram a excluir as abelhas das terras públicas e privadas — enquadrando-as como concorrentes dos polinizadores nativos. As abelhas precisam da sua defesa!

Pesticidas: Os apicultores continuam na corda bamba: participando num sistema agrícola que depende do controlo de pragas, ao mesmo tempo que necessitam de forragem segura e de acesso a pastagens fora destes sistemas para manter as abelhas saudáveis. A exposição dos polinizadores a pesticidas continua a ser um problema crítico. Ainda assim, muitas pesquisas foram realizadas nesta área desde a CCD. Por exemplo, compreendemos agora melhor muitos compostos e interações — como misturas nocivas em tanques durante a floração das amendoeiras, uma prática reduzida graças às Boas Práticas de Gestão impulsionadas pela investigação. A comunicação entre produtores e apicultores também melhorou e alterou muitas práticas.

O clima como um quinto “P”: Devemos agora reconhecer um quinto grande stressor planetário: as alterações climáticas. Os incêndios, as inundações, as secas e as tempestades estão cada vez mais a afectar os polinizadores — quer directamente, quer reduzindo a disponibilidade de forragem. Estes acontecimentos tornaram-se um novo normal, uma vulnerabilidade que agrava as pressões existentes.

fonte: https://www.projectapism.org/

Estes fenómenos cada vez mais recorrentes e intensos exigem dos apicultores mais conhecimentos e práticas actualizadas e fundamentadas que os qualifiquem para dar respostas eficientes e eficazes.

No sentido de contribuir para a qualificação dos apicultores irei abrir propostas formativas acessíveis nos próximos meses. Entre outras, cursos por Zoom focados em respostas práticas e fundamentadas para um mais efectivo controlo da Varroa assim como para um melhor apoio nutricional das colónias.

Em breve assinalarei por aqui as datas para estes cursos.

apiário pedagógico de Coimbra: da observação à aprendizagem

Ontem, numa manhã nublada, na companhia do Nuno Capela, prossegui o trabalho de observação sistemática, recolha de dados, registo, análise, reflexão e aprendizagem a partir das 5 colónias do apiário pedagógico de Coimbra e que tenho vindo a efectuar desde a primeira semana de abril.

Ficam algumas fotos que documentam as etapas deste processo.

Histórico da Colónia C1.
Avaliação da taxa de infestação em 300 abelhas adultas da colónia C2.
Colónia C4 e quadro de criação intensiva de zângãos.
Observação da infestação por varroa em criação de zângão na colónia C4.
Colónia C5 onde, no passado dia 15 de junho e no âmbito da 4ª edição do workshop Controlo da Varroose, encontrámos várias rainhas virgens e a rainha mãe, esta ainda em postura. Ontem, 28, encontrei uma rainha nova em postura.

Eduardo Gomes: serviços de formação presencial e on-line, consultoria presencial e on-line e apoio técnico em apiário (contactos: 935 251 670; jejgomes@gmail.com)

4ª visita técnica: um apicultor que continua satisfeito e orgulhoso com o que alcançámos

Na semana passada levei a cabo a 4ª visita técnica aos dois apiários de um colega apicultor de Coimbra.

A primeira tarefa passou por recolher o pólen. A produção deste produto está a correr bem e a deixar o meu cliente muito satisfeito.

Gaveta cheia! Os ninhos bem desbloqueados potenciam esta produção.

Para minha surpresa fomos encontrar uma colónia enxameada e uma outra prestes a enxamear. Na primeira fizemos um desdobramento com pelo menos uma rainha virgem, tendo assegurado que a colónia mãe ficava também com pelo menos outra rainha virgem. Na segunda fizemos outro desdobramento, desta feita com a rainha-mãe. Deixámos 3 mestreiros na colmeia mãe e utilizámos alguns para promover a resolução de um caso de uma colmeia top-bar zanganeira.

Um dos desdobramentos feito.
Alguns mestreiros que foram utilizados para fazer enxertia numa colónia zanganeira top-bar.
Enxertia dos mestreiros.

Avaliámos a taxa de infestação em abelhas adultas e fizemos o corte de criação de zângão para diminuir a população de varroas.

Lavagem com álcool de abelhas nutrizes.
Se cada quadro tiver cerca de 10 % da população das varroas na fase de reprodução, um terço terá cerca de 3%. Se a criação de zângão atrair 5x a 10x mais varroas do que a criação de obreira, podemos almejar ter diminuído entre 7,5% a 15% da população com o corte de zângão nesta face do quadro.

Se, nesta altura do ano, a taxa de infestação estiver nos 3% quando reduzimos a sua população em 15% com um corte da criação de zângão, na quinzena seguinte a taxa de infestação estará nos… 4%!!!

É apenas uma simulação… mas feita num simulador reconhecido por especialistas e apicultores por este mundo fora. Qualquer coincidência com a realidade não é um acaso!

E vimos também o trabalho das novas rainhas, criadas naturalmente, nos desdobramentos feitos nas semanas anteriores. Bem nesse momento, brilharam os olhos do meu cliente e os meus também.

Postura exemplar de uma das rainhas criada naturalmente, num dos vários desdobramentos feitos à entrada de abril. Desdobramentos com os ninhos cheios de abelhas e que produzirão este ano mel e pólen, assim as condições edafo-climáticas o permitam.
Um apicultor satisfeito e orgulhoso com o que alcançamos até agora!

Eduardo Gomes: serviços de formação presencial e on-line, consultoria presencial e on-line e apoio técnico em apiário (contactos: 935 251 670; jejgomes@gmail.com)

bem hajas, Francisco!

A comunidade de apicultores nacional é muito heterogénea. Desde apicultores hobistas a apicultores profissionais, apicultores veteranos com muitos anos de experiência apícola a apicultores que estão a iniciar a sua experiência, apicultores muito jovens a apicultores menos jovens, esta comunidade é feita de mil ramos com um tronco comum, o interesse e paixão pela abelha melífera.

Dentro desta comunidade tão diversa, temos alguns de nós que pela sua influência positiva ao longo de muitos anos se têm destacado no sector. Entre eles está o Francisco Rogão.

Conheço o Francisco praticamente desde o início da minha aventura apícola. Como poderia ser de outro modo? Desde esse início que tenho aprendido com ele aspectos práticos e efectivos de maneio e que me serviram bem quando os apliquei. Lembro-me que em 2015 ou 2016, depois de ter estado presente numa palestra que apresentou no Porto, uma das suas propostas de desdobramentos me serviu como uma luva no quadro da gestão de um apiário que tinha em Coimbra. Dos 40 desdobramentos que realizei em duas semanas consecutivas, 38 resultaram. E esse enriquecimento, quer do meu património apícola e sobretudo do meu nível de conhecimentos, teve origem na generosidade do Francisco na partilha dos seus conhecimentos e práticas dirigidas  ao grupo de apicultores presentes nesse fim de tarde no Porto. Este é um caso, entre outros, do meu maneio, onde a inspiração, o “saber fazer” e a motivação para agir foram determinados e orientados pelas “dicas” preciosas do Francisco. 

Nos últimos 3 anos tenho colaborado mais activamente com o Francisco nos cursos que disponibiliza on-line e nas duas últimas Jornadas da Macmel. Estes desafios/convites à colaboração de palestrantes de diversas áreas, mostram outra faceta do Francisco, associada à sua generosidade: um espírito aberto e agregador. Um espírito aberto que se expressa na sua atenção e foco nos avanços que vão acontecendo na apicultura nas mais variadas áreas, dos equipamentos às técnicas de maneio e dimensão estratégica de uma apicultura sustentável; um espírito agregador que se expressa nos eventos que promove e em que participa, quer em Macedo de Cavaleiros quer noutros territórios do nosso Portugal continental e insular, e que funciona como uma cola que une pessoas e experiências tão diversas.

Esta publicação e estas linhas simples e incompletas servem para dar um grande Bem-Haja ao Francisco que estendo à Manuela, ao Rúben e à Raquel.

Francisco e Manuela.
Macmel

acompanhamento e serviço técnico em apiário: 2ª sessão

Cerca de duas semanas depois da primeira intervenção no apiário de um companheiro, situado nas proximidades de Coimbra, combinámos para hoje uma nova sessão de trabalho (ver aqui o resumo da intervenção anterior).

No final das 7 horas de trabalho, o apicultor contava com mais 16 novas colónias, resultantes dos desdobramentos efectuados, uns motivados por razões de controlo da enxameação e outros por necessidade de substituir rainhas semi-esgotadas, com um padrão de postura medíocre.

Para além dos desdobramentos procedi também a:

  • avaliação da taxa de infestação em abelhas adultas;
  • inspecção de todos os 32 ninhos das colónias estabelecidas ali instaladas;
  • organização dos ninhos;
  • transporte e instalação de 8 desdobramentos para/num segundo apiário.

De referir que num ano de intensa enxameação, a este companheiro só um enxame lhe fugiu para as árvores. As técnicas de prevenção e também as técnicas de controlo da enxameação que tenho levado a cabo têm sido oportunas e suficientes neste caso, com estas duas visitas intervaladas em cerca de 15 dias.

Em baixo um pequeno foto-filme de alguns momentos do trabalho hoje efectuado.

Colmeia que se preparava para enxamear nos próximos dias. Foi submetida ao controlo de enxameação e não enxameará.
Um dos quadros com uma rainha de colónia em situação de breve enxameação, colocado em caixa nova. Esta continuará a trabalhar em caixa do meu amigo. Confidenciou-me que não gosta de andar a apanhar enxames nos galhos das árvores. Partilhamos esse gosto de não gostar do mesmo!
Medição da taxa de infestação. Bastante baixa hoje, depois de ter estado bastante alta, em resultado de várias medidas correctivas que sugeri ao longo dos últimos 3 meses que acompanho mais regularmente as colónias.
Mias uma carga com 8 desdobramentos, que a juntar aos 24 efectuados nestas duas visitas técnicas permitiu ao companheiro duplicar o seu efectivo.

Para conversar e agendar acompanhamento técnico em apiário podem contactar-me para jejgomes@gmail.com

questionário “levantamento de problemáticas na notificação de doenças apícolas”

O investigador João Santos solicitou-me a divulgação do questionário em baixo junto da comunidade dos leitores deste blog. Apelo aos companheiros apicultores para que participem, respondendo ao mesmo. Desde já o meu agradecimento para com a V. disponibilidade e deixo o texto que o João Santos me enviou para acompanhar esta publicação, assim como a hiperligação (a azul sublinhado) para acederem ao questionário.

Um dos projetos principais do Laboratório de Genómica Microbiana e Simbiose do Instituto Gulbenkian de Ciência foca-se  nas bactérias do intestino da abelha do mel. Sabemos que as pragas e doenças interferem significativamente no estado destas bactérias benéficas, e estamos interessados em conhecer em maior detalhe quais as principais dificuldades por que passam os apicultores em Portugal, quais os conhecimentos base que possuem na identificação de doenças apícolas e como lidam com as doenças/pragas que surgem nos seus apiários.
Este é um pequeno questionário (cerca de 5 minutos), construído com o auxílio de outros colegas apicultores, para que os participantes o possam preencher de forma completamente anónima. Pretende-se com este questionário organizar os dados e compreender como tem evoluído o conhecimento nesta área e quais os maiores desafios à apicultura atualmente. Por favor, não deixe de colaborar e de enviar a outros colegas apicultores, no sentido de obtermos uma maior participação.

Obrigado pela sua colaboração.

João Santos,
Microbial Genomics and Symbiosis Lab

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdP7ueTC7mWOW5Me-62tXg8ugjoC1ZgZt1ayYm1vjRETVjr3g/viewform

vespa velutina: o que procura nas flores?

A V. velutina, assim como as suas primas, a V. crabro e a V. orientalis, são vistas frequentemente sobre as flores.

O que procuram? Prioritariamente o néctar, para darem resposta à elevada quantidade de energia que os seus voos exigem. Como caçadores oportunistas que são não dizem que não à possibilidade de caçar um insecto ou outro mais distraído que tenha o azar de estar no local errado e à hora errada.

Vespa velutina a colectar néctar numa flor.
Vespa crabro a colectar néctar numa flor.
Vespa orientalis a colectar néctar numa flor.

Contudo, se a procura dos néctares responde a essa necessidade primária ela é também essencial para responder a necessidades sociais destas espécies. Neste artigo, Continuous exchange of nectar nutrients in an Oriental hornet colony, (2022), podemos apreender alguns detalhes do processo de troca contínua, em loop, dos nutrientes açucarados num ninho de V. orientalis — a probabilidade de se passar o mesmo com a V. velutina é grande.

“A troca de nutrientes entre indivíduos adultos em insetos sociais é bidirecional, ou seja, podem ser doadores e receptores do mesmo tipo de alimento ou nutriente. […] Nas vespas sociais, as secreções larvais constituem um dos principais recursos alimentares dos adultos. As larvas de vespas são alimentadas com presas (artrópodes ou carne) coletadas pelos adultos e, em troca, as larvas devolvem aos adultos os produtos da degradação proteica na forma de uma secreção contendo carboidratos simples e aminoácidos livres (resultantes da gliconeogénese e da quebra de proteínas, respectivamente). […] Sugere-se que esta troca recíproca e unilateral de nutrientes (isto é, proteínas versus carboidratos e aminoácidos livres) e a consequente co-dependência nutricional entre adultos e larvas seja a chave para o estabelecimento da sociabilidade em Vespidae.

Apesar das vespas sociais serem ferozes caçadoras de insetos, os adultos também são frequentemente observados alimentando-se de néctar floral de uma variedade de espécies de plantas diferentes. A vespa asiática (Vespa velutina nigrithorax), por exemplo, foi observada alimentando-se de néctar floral de 27 espécies de plantas. Este consumo de néctar, no entanto, tem sido frequentemente caracterizado simplesmente como um comportamento oportunista, uma vez que a visita às flores também pode estar associada à caça de presas. As operárias adultas são voadoras fortes com uma taxa metabólica extremamente alta e alimentam seu metabolismo com uma dieta rica em carboidratos e aminoácidos livres encontrados no néctar e nas secreções larvais. Estas dietas ricas em carboidratos também podem proteger os músculos de vôo do stresse oxidativo derivado do alto desempenho aeróbico. A composição de macronutrientes das secreções larvais é análoga ao néctar das plantas visitadas pelas vespidae, embora geralmente seja mais rico em concentração e diversidade de aminoácidos. Ao contrário das operárias, as larvas necessitam de alimentos ricos em aminoácidos para sintetizar as proteínas necessárias ao seu desenvolvimento e são sustentadas por uma dieta altamente proteica. Como as larvas são alimentadas com presas e as secreções larvais são mais nutritivas para os adultos do que o néctar, por que razão as vespas também se alimentam de néctar floral?

[…] Também investigamos a importância do néctar para a sobrevivência da colónia. Nossos resultados revelam um papel importante do néctar na nutrição das vespas. Mostramos que os nutrientes do néctar são trocados num ciclo contínuo entre todas as diferentes fases da vida dos membros da colónia, desafiando o conhecimento predominante neste campo até o momento.”

Notas para levar para casa:

  • mesmo na designada fase proteica, os vespões adultos continuam a procurar fontes açucaradas;
  • a presença destes vespões nas flores explica-se pela procura de néctares e não exclusivamente por ali poder emboscar e caçar insectos;
  • se as larvas são alimentadas predominantemente com proteínas, os vespões adultos também lhes entregam nutrientes açucarados;
  • uma parte destes nutrientes açucarados, enriquecidos com aminoácidos, retornam aos indivíduos adultos através do consumo que fazem das secreções que as larvas produzem.

a conta anual da apicultura: que rentabilidade?

Desde 2009, quando iniciei a minha actividade apícola, até 2023, quando a interrompi, sempre me acompanharam as folhas de Excel, que ía preenchendo sempre que fazia uma compra ou sempre que fazia uma venda. No final do ano apícola, último dia de setembro para mim, fazia o encontro de contas para avaliar o maior ou menor sucesso financeiro alcançado no ano. Como apicultor profissional esta era uma ferramenta indispensável de registo — mais vale um lápis pequeno do que uma grande memória, P. Drucker —, de memória, de análise, de comparação, de previsão, de planeamento e de reflexão.

Vista parcial da minha folha de Excel com as despesas do ano apícola 2015-2016.

Esta publicação vem a propósito do artigo The Economics of Honey Bee (Hymenoptera: Apidae) Management and Overwintering Strategies for Colonies Used to Pollinate Almonds (2019), onde Gloria Degrandi-Hofman, reputada investigadora, e colegas concluem que contas bem feitas a rentabilidade que os apicultores profissionais retiram com o aluguer de colmeias para a polinização das amendoeiras na Califórnia é pouca ou nenhuma. Nas suas palavras “A key finding from our study is that there is little or no profit in renting colonies for almond pollination once summer management and overwintering costs are considered.

Para mim esta conclusão é surpreendente por duas razões: 1) ou os apicultores profissionais norte-americanos não estão a considerar alguns custos (custos esquecidos, ocultos ou difíceis de quantificar) e andam a trocar dinheiro; 2) ou Gloria Degrandi-Hofman e colegas, apesar de terem feito os cálculos com colmeias reais (a amostra foi de 190 colmeias) e no terreno ao longo de 10 meses, tiveram despesas acima da média, em especial no maneio de verão e inverno.

Esta publicação reflecte a complexidade em fazer a “conta” anual na apicultura.

Nota: estou consciente que para alguns apicultores a rentabilidade que tiram da sua apicultura é pouco ou nada importante, para outros é medianamente importante e muito importante e determinante para outros ainda.