Como escrevi aqui a enxameação está, geralmente, associada a este conjunto de factores:
- dimensão da colónia;
- congestionamento do ninho;
- distribuição desequilibrada da idade das obreiras;
- transferência reduzida das feromonas da rainha.
As medidas abaixo elencadas destinam-se a evitar o mais possível que surjam os alveólos reais de enxameação . Estamos a fazer neste caso prevenção da enxameação. Quando o apicultor intervém já na presença destes alveólos reais está a fazer controlo da enxameação.
A primeira medida que devemos considerar na prevenção da enxameação implica um ajuste das nossas expectativas. Ponderar se todas as medidas que tomamos no intuito de atingir um nível de enxameação igual a zero são benéficas no médio e longo-prazo e se não comportarão riscos demasiado elevados. Aceitar que a enxameação é o mecanismo de reprodução deste insecto e que temos de aprender a viver com ele naturalmente. Ao mesmo tempo fazer todo o possível para que a enxamear enxameiem no momento em que nos for menos prejudicial e o façam para as nossas caixas/colmeias (desdobramentos ou outras medidas de controlo da enxameação).
A segunda medida passa por possuir um registo dos nossos apiários, construído ao longo dos anos, que identifique os períodos de enxameação e florações que habitualmente lhes estão associadas (naturalmente a consulta de fontes externas fidedignas deve ser tomada também em consideração). Este registo deve apoiar-nos ainda na selecção das matriarcas e sua descendência, que ao longo dos anos têm mostrado tendências mais baixas para enxamear, associadas a alta produtividade e bom estado sanitário.
A terceira medida inclui ter o material que habitualmente utilizamos na prevenção da enxameação pronto a ser utilizado num muito curto espaço de tempo (por ex. a cera).
A quarta medida é ter disponibilidade e vontade para fazer inspecções regulares às colónias durante o período de enxameação, que em regra se prolonga por 30 a 45 dias, não mais, e fazer um maneio competente (aqui e aqui entre outros).
Assumidos estes pré-requisitos e acreditando que em boa medida é possível prevenir a enxameação, porque muitos outros apicultores, tão bons e melhores que nós, o têm vindo a fazer ao longo dos mais de 100 anos de apicultura moderna, detalhemos agora um pouco mais algumas intervenções a realizar e o seu racional.
- A manipulação do ninho deve garantir muito espaço para a rainha fazer a ovoposição assim como uma distribuição mais equilibrada das diferentes gerações de abelhas. A abertura/expansão do ninho, garantindo que os quadros estão em boas condições para armazenar todos os ovos no período de elevada postura, o pyramiding, o chekerboarding, o tabuleiro de snelgrove, o tabuleiro simples de divisão vertical, a equalização, a inversão do ninho e alça, a técnica de Demaree, colmeias de maiores dimensões, shook swarm são, entre outras, técnicas e equipamentos que contribuem para uma adequada gestão deste período de acelerado crescimento de uma colónia.
- A manipulação do espaço superior ao ninho de forma a que permita espaço para o armazenamento de néctar é uma medida absolutamente essencial. Se tiver alças ou meia-alças meleiras com a cera já puxada, devem ser estas as primeiras a ser colocadas. Em zonas e alturas de fluxos muito intensos é recomendável colocar mais alças/meias-alças do que as necessárias e de uma só vez. Esta medida permitirá às abelhas espalhar o néctar por uma área maior e desidratá-lo mais rapidamente, drenando mais abelhas para o exterior e diminuindo o congestionamento do ninho.
- As colónias devem receber o máximo de luz solar no período invernal, e terem sombra à tarde nos dias mais quentes de verão. Árvores de folha caduca podem servir muito bem este fim. A mais fácil termorregulação das colónias nos dias mais quentes descongestiona o ninho e liberta abelhas para outras actividades. As entradas das colmeias devem estar orientadas para receberem o sol da manhã (nascente) em zonas mais quentes, ou o do meio-dia (sul) em zonas mais frias. As colmeias pintadas de branco são úteis na regulação da temperatura, mas mais visíveis na mancha vegetativa envolvente o que pode potenciar os roubos.
- Deve haver ventilação suficiente. As entradas de inverno devem ser removidas no início dos primeiros fluxo de néctar e/ou pólen sempre que as abelhas estejam activas e em número suficiente para defenderem a entrada da colmeia. As alças sobre o ninho podem apresentar uma pequena abertura para ajudar a ventilação. Os óculos das pranchetas devem estar abertos para permitir uma melhor convecção do ar quente. Podem também utilizar-se estrados com rede, sobretudo em apiários menos arejados. No nosso país há que avaliar se este tipo de estrado não aumenta a atracção/predação feita pelas velutinas devido ao odor a mel e criação exalado através deste tipo de estrados.
- A renovação das rainhas ajuda na prevenção da enxameação. As rainha novas produzem mais feromona mandibular e mantém a colónia mais coesa. A dispersão por toda a colónia da feromona mandibular da rainha suprime tanto a supersedure da rainha como a enxameação (Winston et al., 1989). Esta renovação deve ser feita preferencialmente com rainhas de ecotipos locais e que provenham de colónias com um histórico de enxameação baixo. As rainhas do mesmo ecotipo são mais facilmente aceites pelas abelhas que rainhas exóticas. Devemos também ter em atenção que rainhas de raças exóticas, importadas do estrangeiro, podem veicular novas doenças ou parasitas, desarranjar a integridade genética do nosso efectivo e dos efectivos dos apicultores vizinhos. Estas rainhas importadas poderão ainda apresentar baixa qualidade devido aos constrangimentos sofridos durante o transporte aéreo e/ou rodoviário.