o material vinculativo

Nestas duas últimas semanas fiz várias intervenções nos meus apiários que espero venham a ter um impacto assinalável nos resultados deste ano.

Mais adiante conto referir algumas delas. No entanto, por vezes, são as pequenas coisas que mais nos ficam na memória e que mais nos levam a reflectir nos caminhos que a natureza foi encontrando para a perpetuação das espécies. Vem esta conversa a propósito de um pequeno episódio que ocorreu no meu apiário da beira litoral.

No passado domingo insatisfeito com o padrão de postura de uma rainha decidi eliminá-la. Depois de lhe ter passado com o raspador/formão por cima, deitei-a ao chão logo ali. Passado cerca uma hora o meu empregado chamou-me a atenção para um aglomerado/cacho de abelhas no chão, no mesmo local onde tinha deitado a rainha morta.

No dia seguinte, logo pela manhã cedo, voltei ao apiário e lembrando-me deste episódio fiz questão de olhar para o local onde no dia anterior tinha deitado a rainha, e voltei a ver um aglomerado de abelhas por lá. Ainda hoje me pergunto se as abelhas por lá pernoitaram, no exterior da colmeia, ainda atraídas por uma força invisível à sua mãe? Estou em crer que sim.

Na terça feira, já num apiário da beira alta, pedi ao meu empregado que encontrasse e eliminasse duas rainhas que, de acordo com os registos das visitas anteriores, apresentavam um padrão de postura duvidoso. Junto com estas orientações ia uma outra: “depois de eliminar a rainha abra um pequeno buraco no chão e tape a rainha morta com terra”.

Seja nas pessoas, seja nas abelhas, seja noutra qualquer espécie os vínculos são feitos de uma matéria intangível tão ou mais forte que o aço. Nas abelhas o material vinculativo, os entendidos chamam-lhe feromonas.

tão perto e tão longe… mas tudo se aproximará

Este post tem como propósito comparar, genericamente, o nível de desenvolvimento de dois apiários que distam entre si cerca de meia-dúzia de quilómetros em vôo de pássaro.

Apiário 1) com 44 colmeias. 

Notas gerais da inspecção às colmeias realizada no dia 24-02:

  • todas as colmeias estavam vivas;
  • colmeias no geral com 4 a 5 Q de abelhas;
  • com 8 ou mais  quadros de abelhas: nenhuma colmeia;
  • com 6 e 7 Q de abelhas: 8 colmeias;
  • alimentei algumas colmeias;
  • estão a meter pólen amarelo.

Apiário 2) com 26 colmeias. 

Notas gerais da inspecção às colmeias realizada no dia 24-02:

  • todas as colmeias estavam vivas;
  • com 8 ou mais  quadros de abelhas: 8 colmeias;
  • com 6 e 7 Q de abelhas: 6 colmeias;
  • alimentei algumas colmeias;
  • estão a meter pólen amarelo e outro vermelho.

Facilmente se constata que no apiário 2, e à data, há um número significativamente maior de colmeias mais desenvolvidas. A razão que encontro para o sucedido passa pela melhor exposição ao sol nascente das colmeias no apiário 2. Resta dizer que no início de maio o histórico me diz que a força das colmeias nestes dois apiários estão equiparadas. Mais que uma vez vi colmeias “fracas” apanharem colmeias “fortes”. Nesta linha de raciocínio acrescento: mais que contar os quadros cheios de criação de uma ponta à outra a meio do inverno, importa-me contar os bidões que enchi com mel até ao final do verão. São estes que me vão pagar as contas.

Ver aqui como, em condições normais, uma colmeia com 4 a 5 Q de abelhas a 8 semanas do início do fluxo principal de néctar estará em condições de fazer uma boa colheita.

debaixo do sol: fim do inverno?

A cerca de um mês do fim oficial do inverno, nestes dias já cheira e bem a primavera.

Aproveito para fazer um breve balanço do estado das coisas nos meus apiários na beira alta e no meu apiário na beira litoral.

Acerca das minhas colmeias na beira alta:

  • em cerca de 600 colmeias a mortalidade até à data pouco ultrapassa os 2,5% (16 colmeias eliminadas até à data de hoje);
  • cerca de 60% destas colmeias eliminadas apresentavam sinais de mortalidade por efeitos da varroa e, sobretudo, dos vírus por elas veiculados, em especial o vírus das asas deformadas;
  • as restantes 40% das colmeias eliminadas apresentavam sinais claros de orfandade, que nesta época do ano redunda inevitavelmente num estado zanganeiro;
  • cerca de 30% a 40% das 600 colmeias sobreviventes estão a “pedir” espaço. Num primeiro momento irei colocar as primeiras meias-alças com ceras puxadas, por forma a garantir nestas colmeias mais desenvolvidas o espaço necessário para armazenarem os néctares iniciais,  assim como espaço para postura no caso das colónias com rainhas excessivamente prolíferas;
  • continuei a renovar a alimentação com fondant nas colónias que sinalizaram essa necessidade. A mortalidade no final do inverno/início da primavera está muito associada à falta de alimento em quantidade suficiente para suprir o crescimento explosivo de criação e abelhas, típico nesta altura do ano nos meus apiários na beira alta. Esperar o melhor mas estar preparado para o pior foi um lema há muito aprendido e que me tem trazido um bom retorno.

E na beira litoral… onde tenho 10 colmeias e um núcleo

Pouco mais de um mês depois da minha última visita, estive hoje neste pequeno apiário e venho de lá com um sentimento muito positivo, por ter feito tudo o que levava planeado fazer. Simultaneamente confirmei a excelente resposta das minhas abelhinhas ao apoio que lhes tenho dado, ainda que a intervalos relativamente longos. Passo a concretizar:

  • em todas as colmeias não vi sinais absolutamente nenhuns de varroa; as tiras de apivar colocadas há cerca de um mês estão a fazer o seu trabalho;
  • cerca de 70% das colmeias (7 em 10) aproximaram-se do pico máximo da população (40 000-45 000 abelhas), enchendo de abelhas o ninho e sobreninho igual ao ninho, nos dois modelos de colmeia que utilizo: langstroth e lusitana;
  • não vi sinais alguns de enxameação; a resposta positiva ao espaço que antecipadamente lhes dei nos últimos dois meses convencem-me cada vez mais que num fluxo longo e lento, como o que caracteriza o local em que as minhas colmeias estão, a enxameação é perfeitamente controlável (o mesmo não direi nos fluxos muito intensos e por norma curtos, como os da beira alta);
  • com recurso a 4 tabuleiros divisores e a 4 caixas núcleo iniciei hoje a formação de oito novas colónias neste apiário;
  • correndo tudo normalmente vou conseguir entregar em breve os primeiros 8 núcleos que me foram solicitados nos últimos dias por dois apicultores.

Voltando à beira alta: apesar dos dias primaveris não esqueço que o inverno ainda só vai a 2/3 e que a entrada da primavera, dentro de um mês, nem sempre traz dias primaveris. Todas as minhas colmeias que não morreram (98%) podem morrer em grande quantidade nestes dois próximos meses se as reservas forem escassas. Vencida a batalha na fase aguda da varroose, a minha atenção agora, mais do que noutra qualquer época do ano, está focada nos suprimentos (mel em particular) que as minhas colmeias têm ou não têm.

Debaixo do sol: fim do inverno? Quem sabe verdadeiramente?

da beira alta à beira litoral, com passagem pela beira baixa

Na passada semana estive na beira alta onde efectuei mais uma ronda pelas minhas colmeias. As principais tarefas realizadas foram:

  • renovar com fondant/pasta de açucar as colmeias necessitadas. Coloquei cerca de 280 Kg em cerca de 600 colmeias.
  • retirar dos apiários colmeias mortas. Retirei 4 colmeias. Estas juntam-se às 3 colmeias retiradas desde a entrada do outono. A mortalidade outono-invernal está neste momento pouco acima de 1%. Para 3 destas colmeias a razão da sua morte foi a varroa. Foram colmeias onde o tratamento contra a varroa não teve a eficácia desejada, perderam muitas abelhas e o cacho invernal era demasiado pequeno para conseguirem passar o frio das últimas semanas. Na outra colmeia a razão foi ter ficado zanganeira numa altura do ano demasiado tardia para intervir e tentar reverter a situação.
  • verificar se os telhados e réguas de entradas estavam no sítio. Sim estavam.
  • identificar sinais de nosemose apis e de ascosferiose na inspecção junto aos alvados/entradas das colmeias. Não vi absolutamente nada, nem o mais pequeno sinal.

Uma nota importante a terminar: as abelhas estavam a trazer pólen (de cor amarelo desmaiado).

Passei pela beira baixa para me encontrar com o Davide, da Meltagus, que me levou a conhecer a melaria/central de extracção de Castelo Branco. No dia seguinte fui um dos muitos participantes nas Jornadas do Vale do Rosmaninho. Os meus parabéns ao João Tomé por esta iniciativa. Por lá conheci pessoalmente o Milton, com quem já tinha conversado várias vezes ao telemóvel. Dos apicultores mais apaixonados que conheci até hoje.

Finalmente, e já na beira litoral, fui ver as minhas colmeias. Na visita anterior vim de lá muito satisfeito e volto a trazer essa mesma satisfação. Todas as colmeias, com excepção de uma que continua orfã, tinham entre 4 e 7 quadros com criação, cheias de abelhas, néctar/mel a aumentar nas alças e meias-alças, e nem o mais pequeno sinal de enxameação. A colmeia mais forte, com duas alças da Langstroth em cima, tinha 13 quadros com criação, uma coisa que raramente vejo nesta altura do ano. Expandi/abri vários ninhos com quadros de cera laminada. Os colocados na visita anterior puxaram-nos muito bem. Em duas colmeias lusitanas, com muito néctar/mel nas meias-alças, coloquei uma alça e expandi/abri os ninhos de cada uma.

o oeste é o melhor (the west is the best)

The west is the best, aproveitando este conhecido verso da letra do the End, emblemática canção dos The Doors, que cumprem este ano 50 anos sobre a 1ª edição do seu 1º album, nos idos de 1967, expresso genericamente a boa impressão com que fiquei da minha primeira visita deste ano ao apiário que tenho mais a oeste, no distrito de Coimbra.

Este apiário com poucas colmeias neste momento, onde já estiveram 100 colmeias no 2 anos anteriores,  previ desfazê-lo no final de 2016. Por razões diversas não foi possível até ao momento. E agora penso que até foi bom que assim tivesse acontecido. As 8 colmeias e 2 núcleos que por lá ficaram, resultaram de desdobramentos mais tardios em 2016 (Junho e Julho). Nestes dois últimos meses todos se desenvolveram de forma notável, com excepção de um núcleo que apresenta pequenos sinais de ascosferiose.

Na minha visita anterior a este apiário, efectuada no dia 12 de Dezembro, coloquei 3 sobreninhos/alças com cera laminada em 3 colmeias do modelo Langstroth e 2 meias alças, também com cera laminada, sobre 2 colmeias do modelo Lusitana. Numa destas colmeias Lang coloquei hoje a 2ª alça. Fui encontrá-la cheia de abelhas, criação e mel no sobreninho colocado na visita anterior. Numa outra colmeia, as abelhas ocupavam 6 quadros do sobreninho, estavam a puxar bem a cera e a encher com néctar. Na terceira não vi criação alguma. Vi dois mestreiros rotos. Aparentemente decidiram substituir a rainha. Coloquei 1 quadro com ovos retirado de outra colmeia para salvaguardar a possibilidade de a nova rainha não poder ser fecundada nestes dias de clima incerto. Já em casa verifico nos meus registos que a 30 de Maio de 2016, quando esta rainha iniciou a postura, me interrogar acerca da possibilidade de ter sido mal fecundada. A sua substituição pelas abelhas nestas últimas semanas parece confirmar a justeza da minha dúvida na altura. Nas colmeias Lusitana a história conta-se mais rapidamente. As duas colmeias que receberam meia-alças com 8 quadros com cera laminada puxaram-na bem e estão meias-cheias de mel. Verifiquei que não fizeram favos adventícios entre os quadros, como cheguei a temer.

Fig. 1: Favo adventício entre dois quadros (quando o espaço abelha é excedido as abelhas preenchem este espaço com um favo)

Um dos dois núcleos foi passado para uma colmeia e na próxima visita receberá um quadro cheio de criação fechada para acelerar o seu desenvolvimento.

Realço que não estimulei estas colmeias. Alimentei algumas destas colmeias, e apenas uma vez com 1 Kg de fondant/pasta de açúcar, logo à saída do verão, dado que as encontrei com as reservas num nível baixo.

No dia de hoje coloquei mais dois sobreninhos/alças sobre as Langstroth e uma meia-alça sobre uma Lusitana. Na próxima visita conto colocar pelos menos dois sobreninhos/alças sobre as Lusitanas e pelo menos uma 2ª alça sobre uma das Langstroth. Conto ainda iniciar o tratamento contra a varroa. O anterior foi concluído no final de Setembro.

Os meus objectivos para este apiário não estão direccionados para a produção de mel. Pretendo até meados de Abril das actuais 10 colmeias fazer mais 15-20 núcleos fortes para levar para as terras altas da Beira onde os fluxos se iniciam em meados de Maio.

Num post, que surgirá em breve, explicarei como um bom núcleo estará apto, no prazo de um mês, a iniciar a sua subida às meias-alças, o nível do apicultor.

abelhas na beira à saída do outono 2016

Nos passados dias 7 e 8 fiz mais uma passagem por todas as minhas colónias da Beira Alta para renovar a alimentação com fondant (pasta de açúcar) em todas as que necessitavam.

Nas cerca de 600 colmeias encontrei 3 colónias mortas. Em duas delas não encontrei abelhas no interior da colmeia e numa terceira fui encontrar umas 100 abelhas mortas agarradas a um quadro com reservas.  Em duas destas colmeias encontrei um ou dois quadros com uns  20 a 40 alvéolos com criação operculada. Em duas delas havia uma quantidade significativa de reservas de mel. Em casa analisei o histórico destas 3 colónias e constatei que em duas a infestação pelo ácaro da varroa atingiu patamares elevados: abelhas com asas deformadas e abdomens atrofiados, criação operculada com um padrão “salpicado”, abelhas prestes a nascer mortas e com a língua estirada. Estas duas colónias tinham uma população muito reduzida à entrada de outubro, com menos de um quadro de abelhas. Já esperava que não passassem os primeiros dias/noites de temperaturas mais baixas. Da 3ª colónia não possuo um registo detalhado dos últimos 3 meses, o que me indica que não vi nada de suspeito durante este período. Recordo no entanto que no início de outubro vi um pequeno enxame num arbusto a cerca de 5m dessa colmeia. Estranhei a saída tão tardia deste enxame. Agora coloco a hipótese desta enxameação tardia ter ocorrido nesta colmeia.

No final desta volta de dois dias a avaliar o peso das colónias e a alimentá-las fico muito satisfeito com o que encontrei:

  • mortalidade pelo efeito da varroose à saída do outono está abaixo dos 0,5%. E este ano não foi nada fácil controlar esta praga (ver aqui e aqui);
  • a mortalidade pelo efeito da fome até à data é de 0%;
  • não vi sinais de ascosferiose nem de diarreia nas rampas de vôo e/ou paredes das colmeias;
  • não vi sinais de ratos que se pudessem ter instalado no interior das colmeias (todas as colmeias têm réguas de entrada);
  • não encontrei tectos ou telhados de colmeias tombados (os quilos de pedras em cima mostram-se muito eficazes contra os ventos que se fazem sentir em alguns apiários);
  • havia um bom movimento de abelhas (no primeiro dia estava acima dos 12ºC) na entrada das colmeias, com algumas abelhas a transportarem pólen de um amarelo pálido e outro alaranjado;
  • o consumo do fondant (colocado por cima da prancheta junto ao óculo da mesma) diminuiu nestas duas últimas semanas o que me permitiu baixar o seu gasto para cerca de 250 kg nesta passagem.

procurando correr de forma diferente acabei a correr da mesma forma

No seguimento deste post aqui continuo à procura das variáveis que possam explicar duas questões que coloco a mim mesmo:

  • porque razão alguns apiários mostraram uma taxa demasiado elevada de colmeias com varroose após os tratamentos com bayvarol e outros, pelo contrário, apresentavam taxas de elevada eficácia do tratamento?
  • porque razão no mesmo apiário 5% a 10% das colmeias estavam à beira do colapso (abelhas com varroas e/ou com asas deformadas ) e, simultaneamente, a maioria das colmeias estava saudável?

Neste momento a minha melhor hipótese é que na altura do tratamento com o bayvarol as colmeias não estavam todas no mesmo ponto de partida no que respeita à infestação da varroa. Dito de outra forma, tenho uma forte convicção que na altura em que iniciei os tratamentos tinha colmeias já muito infestadas (com 5% ou mais de varroas foréticas), ainda que a infestação não fosse visível aos meus olhos e, ao lado, outras colmeias tinham níveis muito mais baixos de infestação.

Um pequeno parentesis polémico, estou consciente:

Digo hipótese porque não fiz uma monitorização da taxa de infestação da varroose colmeia a colmeia, simplesmente porque é impraticável na dimensão em que trabalho. Poderia, contudo, ter feito uma amostragem aleatória de abelhas em 10% a 25% das colmeias de cada apiário para decidir se tratava na altura ou se adiaria os tratamentos. Pergunto a mim mesmo de que me serviria essa monitorização? Pergunto: num apiário onde encontrei 5 a 10% das colmeias com asas deformadas (e isto no caso dos apiários mais infestados) o que me teria dito uma monitorização aleatória de 10% a 25% das colmeias 40 a 50 dias antes? Estou convencido que me diria que não seria necessário iniciar os tratamentos na altura em que de facto os iniciei. Sei que é controverso mas não estou, neste momento, absolutamento convencido da validade e até da credibilidade que nós apicultores devemos dar à monitorização por amostragem e contagem das varroas nas abelhas adultas através dos diversos métodos de lavagem das varroas dos seus corpos (ver lavagem por açucar de pasteleiro, água com detergente e outros).

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Fig. 1 — Apicultor utilizando o “sugar roll” para monitorizar a taxa de infestação por varroa

Importa sustentar a minha hipótese anterior e que relembro ser estar na presença de colmeias com níveis de infestação muito diversos na altura dos tratamentos com Bayvarol. Com base na análise dos meus relatórios verifico que um dos dois apiários na Beira Alta com mais problemas foi um daqueles para onde transumei um número significativo das minhas colmeias a partir do meu apiário no distrito de Coimbra. Mais, verifico que nestas colmeias transumadas, as colmeias mais infestadas eram na sua maioria colmeias onde iniciei o anterior tratamento, com Apivar, no final de novembro (30 de novembro de 2015) tendo tirado as tiras no início de março (ficaram 12 semanas por razões sustentadas em dois estudos científicos independentes que conto traduzir brevemente). Isto significa que entre o fim do tratamento com Apivar e o início do tratamento com Bayvarol passaram 5 meses grosso modo, quando o intervalo entre tratamentos que procuro seguir não ultrapassa os 4 meses. A somar a este facto lembro que estas colmeias transumadas apresentaram postura intensa nos meses de inverno (influência do clima e pasto apícola conhecido por todos nós no litoral centro do nosso país). Das 4 colmeias mais infestadas, 3 colmeias pertenciam a este grupo de colmeias. Vamos designar este grupo de colmeias pelas letras BL.

Por contraste nesse mesmo apiário e nas colmeias que sempre estiveram pela Beira Alta iniciei o tratamento com Apivar na segunda semana de Fevereiro e foram tiradas na segunda semana de Maio (as mesmas 12 semanas). Nestas colmeias o intervalo entre tratamentos não ultrapassou os dois meses e meio. Por outro lado as rainhas diminuíram naturalmente a postura nos meses de inverno (influência do clima e pasto apícola conhecido de todos nós no interior centro do nosso país). Das 4 colmeias mais infestadas, apenas 1 colmeia pertencia a este grupo de colmeias. Vamos designar este grupo de colmeias pelas letras BI.

Este apiário em questão tem 50 colmeias, sendo 20 do grupo BL e 30 do grupo BI.

Uma questão final neste momento: não seria de esperar que o Bayvarol (ou outro qualquer tratamento homologado ou não) desse conta de quase todas as varroas presentes na colmeia fossem estas 2000 ou 10000? Neste momento tudo me leva a crer que a reposta é que não é mesmo nada de esperar isso. Se o tratamento for eficaz a 90% significa que ficam 200 e 1000 varroas na colmeia, respectivamente. Como já foi dito pelos companheiros nos comentários podemos ter colmeias no nosso apiário ou em apiários vizinhos a adicionarem generosamente varroas a estas colmeias. Mais, a diminuição abrupta da criação nas colmeias nos meses de Julho e Agosto faz subir a pico o número de larvas e pupas parasitadas. No final deste cocktail temos ainda as ondas de calor de Julho e Agosto que diminui significativamente o contato das abelhas com as tiras acricidas e das abelhas entre si, contrariando o mecanismo básico que preside à concepção destas tiras.

Concluindo, neste momento estou convencido que neste apiário a resposta às minhas duas questões iniciais é que mais uma vez cheguei tarde demais, não a todas as colmeias, mas ainda assim a um número significativo delas.

questões pós-tratamento contra a varroose

Como referi num post anterior este ano decidi antecipar os tratamentos de final de verão contra a varroose cerca de 2 a 4 semanas relativamente ao período utilizado nos dois anos anteriores. Como referi esta decisão advém de ter observado que em algumas colmeias os tratamentos colocados em finais de Agosto/início de Setembro eram já tardios (via aqui e ali abelhas com as asas deformadas, com criação calva e até um padrão de criação salpicada/dispersa nos quadros).

Este ano utilizei pela primeira vez o Bayvarol, coloquei as 4 tiras por colmeia como recomendado pelo fabricante. Na altura em que coloquei os tratamentos tive oportunidade de confirmar visualmente a ausência de danos na criação e abelhas pela varroose. Passados cerca de 2 a 3 semanas fiz uma inspecção visual às zonas de postura de algumas colmeias de vários apiários e não vi sinais de varroa. Fiquei relativamente descansado!

Cinco a seis semanas após a introdução das tiras tive a oportunidade de voltar a fazer a inspecção aos ninhos de algumas colmeias e com relativa surpresa encontro algumas colmeias com abelhas com asas deformadas. Decido fazer uma inspecção aprofundada a todas as minhas colmeias (cerca de 600) e encontro varroas em cima das abelhas em cerca de 20% das colmeias e nestas, em 4% a 5%, encontro um estado de infestaçãoo já bastante avançado (abelhas com asas deformadas e inúmeras abelhas com varroas agarradas ao seu corpo). Dos 11 apiários inspeccionados verifico que em dois deles tenho cerca de 30% a 40% das colmeias infestadas e em cinco apiários não vejo qualquer sinal de varroas nas colmeias. Nos restantes apiários encontro 10% a 15% de colmeias com varroas.

A minha questão inicial é:

  • se tenho apiários com 30 a 80 colmeias instaladas onde aparentemente o Bayvarol foi 100% eficaz como explicar que noutros apiários, com as mesmas dimensões, a eficácia tenha aparentemente sido de apenas 60% a 70%?

A outra questão é:

  • ­o que fazer diferentemente no próximo ano no tratamento do meio-final de verão?

Nota: comentando estes resultados com as técnicas da minha associação foi-me dito que outros apicultores associados apresentam resultados semelhantes aos meus (eficácia dos tratamentos numa boa parte das colmeias mas ineficácia em algumas outras) e com outros tratamentos e outros princípios ativos.

os meus números da cresta de méis claros até à data de hoje

Iniciei a cresta de méis claros nos meus apiários no dia 21 de Junho. Até à data de hoje extraí o mel de 379 meias-alças. Vou mais ou menos a meio da cresta das meias-alças com mel claro. Destas 228 são do modelo Langstroth e 151 são do modelo Lusitana.

A produção média das meias-alças do modelo Langstroth é de 14,38 Kg por meia-alça até à data.

A produção média das meias-alças do modelo Lusitana é de 9,74 Kg por meia-alça até à data.

Como o método de extracção “old-fashion”, que ilustrei e me referi no post anterior, está a ser mais lento do que é desejável e um pouco mais cansativo do que é tolerável vou ensaiar na próxima 3ª feira extrair o meu mel numa cooperativa com uma linha de extracção automática “new-fashion”.

Extracção “old-fashion” comparado com a da linha “new-fashion” da Lyson que fui encontrar na cooperativa: o principal estrangulamento que tinha no processo de extracção na minha UPP não era a desoperculação à faca, era quase tão rápido como o desoperculador automático da Lyson que fui encontrar na cooperativa; também não era no meu extractor que era eléctrico e tão rápido como o electrónico da cooperativa; o principal estrangulamento era o processamento da cera dos opérculos, aí sim perdia muito mais tempo na minha UPP comparado com o processamento em “sem fim” da linha de extracção da Lyson presente na cooperativa. [actualização de 22-06-2023]

aspectos da minha cresta de méis claros de 2016

Iniciei há cerca de 2 semanas a cresta de méis claros. Ficam em baixo algumas fotos ilustrativas do processo “old fashion” que estou a utilizar para crestar as mais de 800 meias alças de méis claros que tenho em cima das minhas colmeias. Mais adiante virão as meias alças dos méis escuros e conto voltar a apresentar mais algumas fotos.

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Foto 1: As 38 1/2 alças que vieram do apiário neste dia.

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Fotos 2, 3 e 4: Aspectos concretos do “estado” das 1/2 alças e dos quadros.

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Fotos 5 e 6: Desoperculação com recurso à faca (ainda estou à espera que o Pai Natal me ofereça uma linha de desoperculação e extracção!).

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Fotos 7, 8 e 9: Da centrifugação, em extractor radial eléctrico, para o balde.

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Foto 10: Já enfrascado e à mesa.