Ontem o Marcelo Murta teve a gentileza de me convidar a fazer com ele a inspecção pré-cresta das colónias de seu apiário, situado nas proximidades de Coimbra. Meti no carro o fato, as luvas, as botas e ala-que-se faz-tarde.
Deixo em baixo algumas fotos que fui tirando durante esta visita às abelhinhas. Obrigado Marcelo pelo convite e as cerca de 3 horas que trabalhámos lado a lado, abrindo colmeias, confirmando a madureza do mel, o padrão de postura das novas rainhas, o estado sanitário dos enxames.
Observando o padrão de postura de uma rainha nova…
… uma rainha criada em condições de emergência. Ah, pobres rainhas de emergência!
Algumas das colónias do apiário.
Abrindo as colónias para avaliar a madureza do mel e o estado sanitário das mesmas.
Muitas vezes é difícil identificar exatamente por que razão as colónias produzem mestreiros de emergência. Contudo um aspecto é comum: a colónia ficou súbita e inesperadamente orfã. Estas são algumas das razões mais frequentes por detrás desta circunstância:
A rainha morreu de repente;
A rainha foi esmagada durante as inspeções;
Rainha perdeu-se durante a inspeção;
A rainha voou e não regressou à colónia;
A rainha virgem não conseguiu voltar do voo de acasalamento;
…
Exemplo de mestreiros de emergência
Os mestreiros de emergência surgem geralmente na periferia externa de uma ou mais áreas com criação operculada, zona onde em geral as abelhas encontram as larvas mais novas e/ou ovos. Estes mestreiros não são iniciados a partir de cálices reais pré-existentes (ao contrário dos mestreiros de substituição, como veremos numa publicação próxima), mas sim a partir dos alvéolos onde se encontram as larvas e/ou ovos. Nesta circunstância de orfandade súbita e inesperada as abelhas constroem um número elevado de mestreiros. Uma boa parte deles será destruído pelas próprias abelhas no decurso do intervalo de tempo até à emergência das rainhas.
Ao contrário do que se pensa, nesta circunstância de emergência as abelhas tendem a preferir os ovos de três dias de idade para iniciarem o processo de criação de rainhas e emergência. Nesta circunstância não preferem larvas mais velhas do que 48h (ver gráfico em baixo).
Em situação de emergência as abelhas escolhem predominantemente ovos para iniciarem o processo de criação de rainhas. Quase 70% dos mestreiros iniciados foram iniciadas quando o alvéolo continha um ovo, em vez de uma larva. Além disso, a maioria dos ovos escolhidos tinha três dias (dados de Hatch, S., Tarpy, D. & Fletcher, D. Worker regulation of emergency queen rearing in honey bee colonies and the resultant variation in queen quality). Sobre este estudo ver esta publicação.
Em baixo, um pequeno vídeo ilustrativo do processo de construção de mestreiros de emergência.
Encontrar um ponto de equilíbrio ou compromisso entre colónias bem povoadas (40-45 mil abelhas) antes e durante um fluxo importante de néctar, colónias capazes de produzir um excedente de mel para o apicultor e, simultaneamente, evitar que enxameiem no início/durante esse fluxo é um dos desafios mais exigentes que encontrei na apicultura.
A prevenção da enxameação, isto é, evitar que a colónia produza mestreiros de enxameação, é posta em prática pelos apicultores por intermédio de variadas técnicas, entre as quais:
em colónias com dois ninhos, inversão quadro a quadro ou inversão à caixa;
checkerboarding (W. Wright);
regra “não mais de 6”;
drenar quadros com criação fechada e/ou abelhas amas para colónias mais atrasadas;
expandir/abrir o ninho, com quadros puxados vazios ou com ceras laminadas;
colocar atempadamente as primeiras meias alças com ceras puxadas;
colocar um quadro de meia alça no ninho;
no início de fluxo, retirar do ninho alguns quadros com largas abóbadas de mel e pólen;
retirar quadros com criação operculada e substituí-los por quadros com ovos e criação não operculada;
trocar colónias de lugar;
…
Aplicação da “regra não mais de 6” numa das minhas colónias.
Todas estas técnicas apresentam um ponto comum, de acordo com a minha percepção: visam criar nas abelhas/colónia uma “sensação” de que a sua casa ainda não está acabada ou completa, que ainda há mais alguma coisa para fazer. Ou têm cera para puxar no ninho, ou o sobreninho está vazio, ou a população de abelhas amas ainda é pequena, ou há um número apreciável de ovos para eclodir e larvas para alimentar, ou o mel/néctar armazenado é pouco face ao espaço disponível nas meias alças, ou…
Resumidamente, estas técnicas visam aproveitar um comportamento das colónias bem enraizado por milhares de anos de evolução: enxamear/ reproduzir-se sempre que atinjam um conjunto de condições óptimas em casa. Condições que garantam o melhor possível a sobrevivência de todas as abelhas, não só as que partem mas também as que ficam na colmeia, assim como das novas gerações de abelhas a nascer e da futura rainha, que permanecerão naquela colmeia durante os duros meses de escassez que virão pela frente.
Ao apicultor, e na medida do que lhe for possível e respeitando a vida do enxame, cabe o papel de ir desarrumando um pouco a casa durante a época de enxameação reprodutiva. Este modo de agir visa prevenir o mais possível a enxameação. Deste esforço para atingir o equilíbrio e o compromisso, colónias populosas e que não enxameiem, resulta uma apicultura mais rentável e um sentimento de competência e de trabalho bem feito, aspectos extremamente gratificantes e motivadores.
Sob o caramanchão de glicínia lilás As abelhas e eu Tontas de perfume
Lá no alto as abelhas Doiradas e pequenas Não se ocupavam de mim Iam de flor em flor E cá em baixo eu Sentada no banco de azulejos Entre penumbra e luz Flor e perfume Tão ávida como as abelhas
Sei da minha experiência, assim como da experiência partilhada por outros companheiros de lides, que uma das principais causas do insucesso na introdução de rainhas em desdobramentos decorre da presença de mestreiros nos quadros do núcleo aquando da libertação da rainha da gaiola. Para evitar o mais possível que as abelhas puxem mestreiros a partir das larvas e ovos presentes nos quadros do desdobramento passei a proceder da forma que passo a descrever, isto sempre que os timings se ajustavam e o permitiam.
A partir de 2017/2018 passei a utilizar a técnica Doolittle sempre que necessitava produzir núcleos para introduzir rainhas virgens (a maioria) ou fecundadas (a minoria) em gaiola. Para tal elegia várias colónias muito fortes do apiário. A seleção destas colónias começava a ser feita em finais de fevereiro/início de março.
Colónia com população a ocupar todo o ninho e com mais de 6 quadros com criação. São os sinais que quero ver para saber que estou na presença de uma colónia de uma linhagem precoce. Uma das quatro que tenho neste momento neste apiário. (foto de 6 março de 2022)
O passo seguinte passa por colocar-lhes um sobreninho com quadros puxados vazios.
Colocação do sobreninho. Nas posições 4, 5 e 6 coloco os quadros com a maior quantidade possível de alvéolos vazios. Calculo que nos próximos 8-10 dias a rainha subirá ao sobreninho para encher de ovos dois ou três destes quadros (foto de 6 março de 2022.).
Em geral, passadas uma a duas semanas a rainha inicia a postura em vários destes quadros no sobreninho. Nessa altura confino a rainha ao ninho por via de uma excluidora de rainhas.
Coloco os quadros com abelhas e criação no sobreninho.
A colónia permanece nesta condição durante 5 a 9 dias antes de as utilizar para fazer os desdobramentos pela técnica Doolittle.
Ao tirar os quadros para os núcleos inspeccionava-os com cuidado com vista a eliminar todos os mestreiros que as abelhas pudessem ter puxado nessa condição de semi-orfanação. Nem sempre puxam mestreiros no estado de semi-orfanação, mas não é absolutamente certo que não os puxem. Por outro lado e como introduzia a rainha em gaiola fechada durante 48 a 72 h garantia sem qualquer dúvida que todas as larvas presentes nos quadros já teriam 7 ou mais dias. Nesta condição, as abelhas do núcleo não tinham matéria prima para puxarem mestreiros, isto é larvas com menos de três de dias de idade. Assim, a propensão para aceitarem aquela rainha estranha que vai emergir de uma gaiola de plástico, uma rainha que não criaram, aumenta. Neste contexto, a aceitação da rainha é a única alternativa de que dispõem para não ficarem irremediavelmente órfãs e condenadas enquanto enxame.
Ainda que confrontadas com este contexto artificial criados pelo homem nos últimos 100 anos, as abelhas apresentam uma plasticidade comportamental admirável para darem a volta a esta situação concreta e específica para a qual a evolução de milhões de anos as não preparou. Tiro o chapéu!
Ilustração do mecanismo de tomada de decisão de um enxame de abelhas quando acampadas num galho de árvore durante o processo de enxameação.
Quando os enxames saem da colmeia já escolheram o local onde se vão instalar de forma definitiva? Resposta: não! A escolha do local definitivo ocorre posteriormente, enquanto as abelhas acampam provisoriamente num ramo de árvore, no chão, ou noutro local próximo da colmeia de onde acabaram de sair. Sabemos isto após as observações de Martin Lindauer (década de 50 do século passado) e Thomas Seeley (década de 90 e início do sec. XXI).
Thomas Seeley, dando sequência às observações de Martin Lindauer, levou a cabo um conjunto de experiências no final da década de 90, que lhe permitiram concluir o seguinte:
“Nosso primeiro passo para renovar a análise foi repetir as observações de Lindauer sobre as danças das abelhas batedoras, mas usando equipamentos de vídeo modernos para obter uma imagem mais completa do que era possível na década de 1950. Trabalhamos com pequenos enxames de cerca de 4.000 abelhas e rotulámos cada abelha para identificação individual, para que pudéssemos atribuir cada dança a um indivíduo em particular e assim averiguar sua contribuição para a tomada de decisão de um enxame.
Abelhas rotuladas por T. Seeley durante uma das suas experiências.
A partir de nossas gravações de todas as danças executadas por cada abelha batedora, encontrámos um padrão de dança das batedoras quando acampadas e que se assemelha muito ao que Lindauer relatou com base em seus registros. Por exemplo, num enxame que observámos de 20 a 22 de julho de 1997, todo o processo de tomada de decisão exigiu cerca de 16 horas de atividade de dança distribuídas por três dias. Durante a primeira metade do processo, as abelhas batedoras relataram todos os 11 possíveis locais de nidificação que consideraram, e nenhum local dominou a dança. Durante a segunda ronda, porém, um dos locais começou a ser anunciado muito mais do que os outros e acabou se tornando o local escolhido. De fato, durante as últimas horas da tomada de decisão, o local que havia surgido como favorito tornou-se objeto de todas as danças.”
Com um conjunto de experiências posteriores T. Seeley concluiu que as abelhas decidem por quorum e não necessitam de chegar a consenso para optarem pelo local A e não pelo B ou C, para se estabelecerem definitivamente, concluindo o processo de enxameação. Observou que geralmente este quorum se obtém quando 15 ou mais abelhas são vistas juntas de um dos locais.
Nota: lembro-me de ter observado o ano passado um pequeno enxame que passou 3 dias acampado num ramo de uma árvore. No segundo dia esteve debaixo de chuva miúda, antes de partir no terceiro. Esta observação pessoal não se enquadra na tese de que os enxames quando saem da colmeia já têm o local onde vão nidificar escolhido (se assim fosse porque não se dirigiu este enxame de imediato para esse local?!). Contudo, esta observação pessoal é bem explicado pela teoria do processo de decisão “democrático” descrito por Thomas Seeley.
Neste recente vídeo de Bob Binnie é muito interessante verificar que tanto ele como eu chegámos às mesmas conclusões, isto nunca tendo falado um com o outro. Estou a referir-me aos seguintes aspectos:
equalizar colónias 30-45 dias antes do principal fluxo de néctar qualifica-as para a produção de mel e para a produção de núcleos — estas colmeias que vemos neste vídeo foram equalizadas com cerca de 5 quadros de criação há três semanas atrás e à data de 15 de março, com o ninho e sobreninho repletos de abelhas, estão a ser preparadas para produzirem núcleos ;
assim como eu, Bob Binnie aplica a técnica “não mais de 6”. Na minha opinião esta convergência no maneio resulta de um olhar para o que de facto os enxames nos dizem de semelhante aos dois, quando os olhamos atentamente… com um oceano a separar-nos;
assim como Bob Binnie, aplico a técnica Doolittle para multiplicar os enxames. Como ele, prefiro esta técnica porque respeita a integridade do enxame no ninho onde permanecem 6 ou mais quadros com criação com as abelhas e respectiva rainha, conjugada com a simplicidade dos procedimentos na altura da produção dos núcleos.
Os dois vídeos em cima, o primeiro de Bob Binnie, apicultor norte-americano que gere uma operação apícola com mais de 2000 colónias, o segundo de Ian Steppler, apicultor canadiano que gere uma operação apícola com mais de 1500 colónias, são bem elucidativos de que a equalização de colónias de abelhas é não só compatível com operações apícolas de grandes dimensões, como é uma ferramenta essencial para efectuar a prevenção da enxameação nas colónias muito fortes no período pré-fluxo de néctar e, simultaneamente, habilita as colónias mais atrasadas no seu desenvolvimento para a produção no fluxo que virá 30 a 45 dias adiante. Como vemos nestes dois exemplos a equalização não é um maneio que está apenas ao alcance dos apicultores com poucas colónias, ainda que alguns erradamente acreditem que sim. No meu caso, sempre que se justificava apliquei esta técnica mesmo em alturas que tinha 500 a 600 colónias para trabalhar.
Contudo, como já referi nesta publicação de 2016, a equalização deve ser levada a cabo com alguns cuidados: “O apicultor deve ter um grande cuidado para não distribuir quadros com criação e abelhas a partir de colónias doentes. Deve verificar sempre se as colónias não apresentam sinais de doença antes da equalização. A concluir, deve ter cuidado para não colocar muita criação em colónias fracas, pois estas não conseguirão dispor de abelhas em número suficiente para manter a criação quente durante as noites mais frias, ainda frequentes na primeira metade da primavera no interior do nosso país.“
No caso das colónias mais fracas e para ter boas garantias que as abelhas seriam suficientes para aquecer a criação prestes a emergir do quadro que recebiam (sem abelhas), passei a proceder do seguinte modo:
tirava um quadro com criação predominantemente aberta e ovos. Procedendo desta forma, tinha um bom grau de certeza de que a colónia receptora mais fraca teria abelhas suficientes para não deixar esfriar a cria do quadro recebido: neste caso seria aquecido, grosso modo, pelas mesmas abelhas que antes aqueciam e cuidavam do quadro com criação aberta retirado;
ao mesmo tempo, a colónia mais forte recebia o quadro com criação aberta. Este quadro vai aumentar a ocupação das suas abelhas-ama assim como aumentar a libertação da feromona da criação no interior do ninho, elementos que contribuem para diminuir o impulso de enxameação nestas colónias prematuramente muito fortes;
estas colónias muito fortes, nada sendo feito, apresentam uma grande probabilidade de enxamear à entrada do primeiro fluxo forte de néctar 30 a 45 dias adiante, e nesta condição de enxameadas pouco ou nada produzem na temporada.
Respondendo de imediato à questão: é uma causa menor. A sustentação desta afirmação é dada pelos dados de um estudo levado a cabo durante 15 anos e publicado recentemente com o título “Significant, but not biologically relevant: Nosema ceranae infections and winter losses of honey bee colonies. ”
Como o título e o sumário indicam numa série longa da dados (mais de 3000 e ao longo de 11 anos ou mais) verifica-se uma correlação significativa (não devida ao acaso) entre a mortalidade invernal de colónias e a Nosema ceranae, mas com uma relevância biológica nula ou baixa.
Aceitando como um limiar normal, mesmo natural, uma percentagem de 10% de mortalidade invernal das colónias, quando tal limiar é ultrapassado o principal agente é o do costume: Varroa destructor. Os autores do estudo são cristalinos a este respeito: “Our results reconfirmed what is already known from many other studies, namely that V. destructor is the main driver of honey bee winter mortality.“
Em baixo deixo a “árvore de decisão” que o artigo em questão apresenta e que me parece bastante feliz. Pela importância que este esquema assume voltarei a ele numa próxima publicação.
Para levar para casa: numa altura em que a apicultura passa por uma grande crise de sustentabilidade financeira (esta é a principal causa de abandono na actividade), decidir de forma bem informada onde gastar o dinheiro em medicamentos e suplementos com mais impacto na sobrevivência das colónias é indispensável para essa sustentabilidade. O que este estudo nos vem mostrar é que o dinheiro gasto em suplementos (não existem medicamentos para o controlo dos dois tipos de nosemose) para controlar a Nosema ceranae não será uma decisão avisada no actual contexto financeiro do sector.
Nota: Sobre o impacto da nosemose na sobrevivência de colónias de abelhas escrevi também o ano passado aqui.
As conclusões deste queda para metade na duração média de vida das abelhas são retiradas através da comparação da longevidade de vida de abelhas testada em laboratório nos anos 70 do século passado com a longevidade testada recentemente por entomólogos da Universidade de Maryland. Afirma-se que a média de vida caiu de 34,3 dias (dados dos estudos levados a cabo nos anos 70) para 17,7 dias (dados do recente estudo).
Contudo estas conclusões devem ser consideradas com uma boa dose de prudente cepticismo por diversas razões, entre as quais destaco:
Se as conclusões forem corretas, isto não se teria refletido tanto no tamanho das nossas colónias assim como na média de produção de mel ao longo dos últimos 50 anos, isto é, actualmente as colónias não seriam muito menos populosas e, portanto, muito menos produtivas? Randy Oliver refere: “Se as abelhas vivessem apenas metade do tempo, teríamos definitivamente notado a enorme diminuição no tamanho das colónias”;
as abelhas enjauladas nos testes em laboratório não vivem tanto quanto as abelhas numa colmeia no campo e em condições reais. Será prudente assumir que estas conclusões não se aplicam tal e qual a abelhas em colmeias assentes nos apiários e em condições reais;
a enorme diferença pode ser provocada por diferenças entre os protocolos experimentais seguidos nos anos 70 e os seguidos actualmente, em particular no que concerne ao tipo de alimentação e ingredientes utilizados, que como sabemos têm um grande impacto na longevidade das abelhas;
ainda sobre a importância dos protocolos experimentais utilizados quando se avalia a longevidade das abelhas enjauladas, um investigador canadiano, Jerry Bromenshenk, faz o seguinte relato: “Identificámos um problema de longevidade nos últimos anos, mas atribuo isso às gaiolas que usamos. No início, construí pequenas gaiolas de madeira com laterais em rede. Depois passei a usar copos de sorvete pequenos e usei-os durante anos. No entanto, na última vez que fizemos testes em gaiolas, notamos perda de abelhas após cerca de 10 dias. Antigamente, os copos de sorvete que utilizávamos como gaiolas eram feitas de papel encerado. Os copos de sorvete modernos, pelo menos as que encontramos localmente, ou são completamente em plástico ou possuem algum tipo de revestimento plástico. As abelhas nestes copos morreram num espaço de duas semanas. Quando voltamos a utilizar gaiolas de madeira e rede a longevidade aumentou novamente, voltando ao esperado.” Nesta experiência actual levada a cabo pelos entomólogos da Universidade de Maryland as gaiolas utilizadas são de plástico;
Peter Borst, apicultor e divulgador da ciência apícola, escreve: “Há uma relação positiva entre a população de abelhas nas gaiolas e a expectativa de vida média … Isso pode ser um artefacto dos dados, sabendo que as experiências na década de 1970 usavam populações maiores, logo promoviam uma vida mais longa das abelhas.”;
Novamente Peter Borst: “Moffett et al. (1958) nos Estados Unidos relataram que observaram aumento da longevidade em abelhas adultas engaioladas alimentadas com pequenas doses de penicelina, tetraciclina ou eritromicina… em abelhas recém-emergidas. A alimentação com antibióticos para abelhas estava omnipresente na década de 1970 e, actualmente, não é permitido alimentar abelhas saudáveis com antibióticos.”;
Ainda Peter Borst: “Um trabalho de investigação recente de Jay Evans (2009) afirma: realizámos várias centenas de testes com abelhas adultas apenas em água com açúcar, com uma sobrevivência média de 36 dias e um máximo de 60+ dias”.
Na minha opinião não me surpreende que as abelhas tenham a sua longevidade diminuída por via de vários factores, dos quais destaco a presença mais intensa e ubíqua dos vírus transmitidos pelo varroa nos dias de hoje. Contudo tenho muitas dúvidas que as abelhas tenham sofrido uma queda para metade da sua longevidade nos últimos 50 anos. Ao longo dos meus 13 anos de apicultura não me apercebi de um declínio notável na população das minhas colónias, que teria sido enorme e observável a olho nú caso esta redução de longevidade se tivesse vindo a concretizar.
Sobre o processo de simplificação desde o conteúdo do artigo científico até à sua “interpretação” pela comunicação/redes sociais.