perspectivas actuais sobre o sistema imunológico nos insectos e sua vacinação

  • Os componentes do Sistema Imunitário

Nos mamíferos, o sistema imunitário (SI) é composto de dois componentes, um inato e outro adquirido. Ambos reconhecem microrganismos invasores como não-próprios, e ativam respostas para eliminá-los. E nos insectos qual é a arquitectura do seu sistema imunitário? Nos aspectos fundamentais  os mecanismos de resposta do SI nos insectos  é semelhante ao dos mamíferos.

Agentes infecciosos ameaçam qualquer organismo. Portanto, mamíferos e insetos desenvolveram uma complexa rede de células e fatores humorais denominados sistema imunológico capazes de controlar e eliminar patógenos. A imunidade varia entre diferentes grupos de animais, mas sempre contém um sistema imunológico inato que pode agir rápido e freqüentemente eficaz contra uma ampla gama de patógenos distintos (ou seja, vírus, bactérias, fungos e parasitas eucarióticos). Em mamíferos e insetos, a comunicação entre a regulação das células do sistema imunológico é realizada por citocinas que orquestram a defesa contra os invasores. O maior desafio para reconhecer e combater patógenos é o mesmo para qualquer hospedeiro  Em insetos e mamíferos, os patógenos são reconhecidos como não-próprios pelo reconhecimento de padrões moleculares associados aos patógenos. Além disso, receptores similares de reconhecimento de patógenos e vias de sinalização ativam a resposta imune em insetos e mamíferos. ” (in https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18511854)

 

  • A mudança de paradigma e as possibilidades de vacinação dos insectos

Contudo, até há pouco tempo, a comunidade científica não dispunha de evidências robustas que os insectos pudessem construir a componente adquirida/não inata do seu SI. Julgava-se que os insectos apenas dispunham  de um sistema imunitário inato, e por essa razão algumas terapias, como por ex. a vacinação de insectos contra determinadas doenças, não era objecto de estudo. Contudo como disse Bob Dylan “os tempos estão a mudar” e cada vez surgem mais evidências que também os insectos constroem a componente adquirida dos seu sistema imunitário. Esta mudança de paradigma científico abre o campo a mais investigação fundamental, ao mesmo tempo que abre avenidas à investigação aplicada, como o caso da investigação na criação de vacinas para determinados insectos que nos são benéficos, e naturalmente estou a pensar aqui nas abelhas.

Descobertas recentes forneceram evidências para a existência
de imunidade adquirida não vertebrada. […] Isto é
oposto ao paradigma de que apenas os vertebrados manifestam
as duas formas de mecanismo imunológico; […] Nós pensamos que ambas as formas de imunidade são
similarmente antigos, e co-evoluíram em resposta a
estilo de vida, compensações custo-benefício e simbiose versus
parasitismo. No entanto, diferentes espécies construíram
diferentes soluções imunológicas que não são necessariamente
geneticamente relacionados, mas têm uma função geral semelhante
permitindo que os indivíduos aprendam com a experiência dos seus próprios sistemas imunológicos; a sobrevivência da espécie depende da
experiência imune adquirida dos seus indivíduos.” (in http://www.weizmann.ac.il/immunology/NirFriedman/sites/immunology.NirFriedman/files/uploads/rimer_cohen_friedman_-_2014_-_do_all_creatures_possess_an_acquired_immune_system_of_some_sort.pdf)

  • A investigação aplicada ao caso das abelhas

Como já publiquei anteriormente, alguma investigação específica, está a analisar os mecanismos de transmissão de informação adquirida pelo SI da abelha rainha à sua descendência. Os resultados para já são promissores e o caminho está a fazer-se.

O sistema imunológico dos insetos pode reconhecer patógenos específicos e estimular a imunidade da prole. A alta especificidade da imunização transgeracional pode ser alcançada quando as fêmeas dos insetos transferem elicitores imunes para o desenvolvimento de oócitos. O mecanismo molecular por trás dessa transferência tem sido um mistério. Aqui, nós estabelecemos que a proteína vitelogenina presente na gema do ovo dos insectos é o portador de elicitores imunológicos. Utilizando a abelha, Apis mellifera, demonstramos com microscopia e [?] que a vitelogenina se liga a bactérias, tanto a larva de Paenibacillus – a bactéria gram-positiva causadora da doença Loque americana – quanto a Escherichia coli que representa bactérias gram-negativas. […] Estas experiências identificam a vitelogenina,  amplamente presente nas espécies ovíparas, como o portador de sinais imunológicos. Este trabalho revela uma explicação molecular para a imunidade transgeracional em insetos e um papel anteriormente desconhecido para a vitelogenina.” (in  https://journals.plos.org/plospathogens/article?id=10.1371/journal.ppat.1005015)

Os autores deste último artigo estão a trabalhar na vacina contra a loque americana. Espero que cheguem a bons resultados e que estes bons resultados animem e iluminem o caminho a outros. A vacinação é uma ferramenta tremendamente eficaz na luta contra patógenos em espécies que se organizam em sociedades colectivas com um largo número de indivíduos a partilharem o mesmo espaço, como é o caso das abelhas melíferas com que trabalhamos.

 

 

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