duração do tratamento com apivar: 6 a 8 semanas ou 10 a 12 semanas?

Para além de muitos outro dados com muito interesse que este estudo, realizado em França e publicado em 2007, nos apresenta, sublinho as conclusões tiradas relativamente à duração do tratamento com Apivar: os autores recomendam deixar as tiras nas colmeias durante 10 a 12 semanas, em particular no tratamento de final de verão.

Resumo: Para verificar a validade das suspeitas sobre uma perda de eficiência do Apivar (substância activa: amitraz), devido ao aparecimento de resistência no Varroa destructor, contámos o número de ácaros varroa caídos em 10 colmeias tratadas durante o outono e início do inverno de 2005 e o número de ácaros residuais nessas colmeias após o tratamento no início de 2006. Estes dados foram comparados com os obtidos em 5 colmeias não tratados no mesmo apiário, localizado em Sophia Antipolis (Alpes Marítimos – França). Todas as colmeias são provenientes do mesmo apiário e foram tratada da mesma maneira com Apivar ao longo dos quatro anos anteriores. No início da experiência existia nos dois grupos [grupo experimental e grupo de controlo] um número semelhante de ácaros (média de 1 104 varroas por colónia); no grupo tratado/experimental, assistiu-se a uma elevada mortalidade de ácaros, principalmente no início do tratamento, enquanto no grupo não tratado/controlo a mortalidade apenas diminuiu ligeiramente. Após o tratamento, as colónias de controlo/não tratadas apresentavam em média 622 ácaros contra 2.8 para as colónias tratadas. Comparando estes valores da carga parasitária, deduzimos que o Apivar apresentou uma eficiência equivalente a 99,5% nas colónias tratadas, portanto a eventual resistência do Varroa destructor aos tratamentos com Apivar não é confirmada pelos resultados, de acordo com o protocolo seguido. A correlação entre o número de parasitas recolhidos diariamente na grelha inferior do estrado e o nível de parasitação na colmeia é confirmada neste estudo e justifica a contagem de varroas como um método de alerta ao apicultor e como instrumento de decisão sobre a aplicação do tratamento. […]

A duração do tratamento

Vários estudos têm demonstrado a capacidade do varroa re-infestar as colmeias com frequência variável, dependendo da época: os dados mais extremos publicados referem 2 varroas por semana na primavera e 70 no verão. Se a estes números de re-infestação se adicionarem os varroas que se reproduzem nas colónias ainda com criação, eles podem a pôr em causa a sobrevivência da mesma no inverno. Esta é a razão pela qual recomendamos manter as tiras nas colmeias 10 a 12 semanas, em vez das 6 recomendadas. No nosso ensaio verificámos a destruição de 2 a 42 ácaros por colónia durante o intervalo que vai das 6 semanas às 12 semanas. É verdade que, apesar das precauções tomadas, a re-infestação das colmeias tratadas é mais provável se existirem colmeias não tratadas na vizinhança. [p. 288]”

fonte: http://www.revmedvet.com/2007/RMV158_283_290.pdf

Em vários ensaios franceses realizados em 2014 e 2015 que tenho consultado constato que as tiras de Apivar são mantidas pelo menos durante 70 dias; para o Apitraz também é recomendado a sua permanência durante 10 a 12 semanas (Federico Casillas, palestra proferida no III dia da APICAVE, 28 Jan., 2017). Em vários fóruns de apicultura, franceses e espanhóis, também os apicultores referem que estão a deixar os tratamentos destas marcas 10 a 12 semanas.

Actualização em Dezembro de 2018: o fabricante, Veto-Pharma, já recomenda a manutenção das tiras de Apivar 10 semanas no interior das colmeias. Mais vale tarde…!

11 comentários em “duração do tratamento com apivar: 6 a 8 semanas ou 10 a 12 semanas?”

  1. Mais uma exelente publicação. Estou a começar na apicultura, como hobby apenas, e claro que sendo profissional da área da saúde tenho atenção aos cuidados com os tratamentos, mas tenho tido alguns problemas porque na minha zona Penacova o fluxo de néctar começa em Outubro com mogariça, tojo depois vem o eucalipto que termina em Março e estamos na Primavera.
    Fazer um tratamento com um acaricida comum, vai deixar sempre resíduos pois a entrada de néctar é constante se o tempo permitir. Caso que se está a verificar este ano. Estão agora a precisar de ser tratadas, mas a entrada de néctar de eucalipto é grande escala . Ter tanto tempo o tratamento é complicado….
    Estou este ano a testar oxalico sublimado em 4 aplicações em 1 colmeia para ver o resultado.
    Dá mais trabalho mas como tenho poucas colmeias vou experimentar.
    Cumprimentos
    Pedro Dinis

    1. Boa noite, Pedro!
      Não tenho experiência com o ácido oxálico sublimado. Tenho alguma (se não fosse modesto diria bastante) informação acerca deste modo de tratamento, sobretudo vinda de apicultores norte-americanos e canadianos. Mas nada como informação acerca dos resultados na nossa terra. Se desejar fazê-lo tem aqui um canal aberto para partilhar a sua experiência e os resultados que obteve.
      Aos companheiros que utilizam este método não se esqueçam de utilizar os equipamentos de protecção individual, de forma a não colocarem a vossa saúde em risco. António Pajuelo, nas Jornadas do Vale do Rosmaninho, comparou os vapores do ácido oxálico aos do ácido sulfúrico.

      1. Sim, segurança em primeiro lugar, investir numa boa máscara, com o filtro adequado a gases ácidos, luvas próprias. Fiz 1 tratamento segunda feira, vou fazer outro sábado, faço 4 com 5 dias de intervalo. No dia seguinte ao primeiro tratamento estavam bastantes varroas no Estrado sanitário, isso não diz grande coisa…. Mas não deixa de ser animador. Tenho apenas um problema as abelhas são muito agressivas o normal penso eu, e assim que introduzo o sublimador na colmeia elas atacam-no fortemente… e algumas devem morrer queimadas ou então depois fogem, pois não vi abelhas mortas na porta da colmeia nem no chão no dia seguinte. Estou agora a fazer um projecto para sublimar fora da colmeia em recipiente fechado e empurrar os gases para dentro da colmeia através de um tubo.

        1. Pedro, agradeço os detalhes que apresenta. Se não se importa vou continuar a “espremer a laranja”, para bem de todos nós.

          Se eu estivesse no seu lugar também faria os tratamentos com 3 a 5 dias de intervalo, no máximo. As suas colmeias em Penacova devem estar cheias de criação, com as varroas, na sua grande maioria (80%-90%), a procriarem no interior dos alvéolos e protegidas dos cristais de ácido oxálico pelo opérculo de cera. Há alguns estudos que concluem que nem todas as varroas cumprem religiosamente os 5 a 7 dias na fase forética. Estes estudos referem que as varroas mais maduras, com mais de um ciclo de procriação, podem re-infestar uma nova larva de abelha numa questão de horas (espero traduzir algum desses estudos numa próxima oportunidade). Portanto quanto maiores forem os intervalos entre tratamentos maior é a probabilidade de não atingirmos estas “turbo varroas”, diminuindo a eficácia global dos mesmos.

          Se assim o entender dê-nos mais detalhes: que sublimador está a utilizar? Consegue controlar a temperatura da sublimação? Quanto tempo necessita para tratar a colmeia que tem? Desde já obrigado pelas suas respostas.

          1. Não tenho nada a esconder e se puder ajudar tanto melhor, o sublimador que comprei no ebay veio da República Checa, é o Oxalvap para 2g de oxalico, com colher doseadora de 1g. Não controlo a temperatura penso que o aparelho que foi concebido para o efeito seja adequado.
            Tenho ninho e sobre ninho ambos com 10 quadros, e sim tem muita criação, retirei já, duas meias alças de mel operculado e deixei uma vazia sobre ela agora, está a rebentar de abelhas…Para sublimar os 2g de oxalico demora 2:50, desde que ligo na bateria ( 12V 7A) pequena e leve, depois desligo e deixo a colmeia fechada mais 10 minutos. Por isso posso dizer que demora uns 15 minutos.
            Já agora o modelo da colmeia é reversível.

  2. Pedro muito obrigado pelos partilha destes aspectos da sua experiência.
    Não faço ideia se é sua intenção contar as varroas caídas no estrado 24 a 48 horas após cada tratamento. Concordo que não é das tarefas que mais prazer nos dê. Contudo se o vier a fazer e se desejar publicar aqui os números que obtiver esteja à vontade. São dados preciosos. Eu conheço alguns, mas são do continente americano.

    Cuide bem das suas abelhinhas que são trabalhadoras e merecem! 2 meias-alças de bom mel… e a procissão ainda só vai no adro! excelente!

  3. Gostaria de ter mais tempo para fazer esse e outros estudos, mas trabalho e vivo em Coimbra, tenho as abelhas em “casa” dos meus pais, Penacova, e não posso ir lá com a regularidade que pretendia, investi bastante tempo em formação e claro que agora vou fazer as minhas experiencias. Tenho só 5 colmeias, o que me permite se for necessário fazer contagem de varroa mensal em cada uma, fazer corte de zangão e usar químicos só quando necessário.
    Fiz a contagem passadas 24 do 1º tratamento, tinha 56 varroas, não são muitas, mas amanha vou contar as que caíram nos outros 4 dias, uma vez que estão abrigadas da chuva 🙂 e fazer novo tratamento.
    A apicultura é uma paixão e gosto muito de tratar das minhas abelhas e para mim infelizmente nunca será um negócio…. do qual possa viver.

  4. Boa noite.
    Vou continuar a descrever os meus resultados, antes de fazer o 2 tratamento com ácido oxalico sublimado, tinha cerca de 47 varroas no Estrado, caíram tantas em 24h, como nos restantes 4 dias. Fiz o segundo tratamento a 04.02.17 e a 07.02.17, tinha no Estrado sanitário cerca de 150 varroas, as abelhas parecem dar-se bem com o tratamento a colmeia está muito forte, ainda assim não abri, para ver como está de postura. Faço o próximo tratamento quinta feira. Se elimina as varroas eficazmente não sei, mas que as vai atrasar vai de certeza, depois já terei temperatura para ácido fórmico se necessário.

    1. Olá Pedro,
      Não me canso de lhe agradecer pelo excelente “diário” que está a partilhar. Sou um grande adepto dos números, como já percebeu seguramente. Neste caso em concreto, uma coisa é dizer “tenho muitas varroas no estrado”, outra, muito mais valiosa, é quantificar o “muito” e dizer que tem cerca de 150 varroas caídas ao longo de 4 dias. Dá trabalho, são, contudo, estas informações que nos fazem avançar.

  5. Boa noite
    Deixo aqui o meu testemunho do dos 2 tratamentos seguintes que fiz com o ácido oxalico sublimado. No 3 tratamento ( que foi o que mais varroas matou) tinha cerca de 320 varroas mortas no Estrado. No quarto tratamento tinha no Estrado cerca de 60 varroas.
    No total não caíram muitas varroas para a população da colmeia. Fiz o teste no final do tratamento e tinha uma infestação de 1,6% o que não é muito bom. Mas ainda assim vai-me permitir crestar o eucalipto daqui a 1 mês ( intervalo de segurança) e depois tratar com ácido fórmico.
    Foram estes os resultados que obtive, fiz apenas uma asneira, a colmeia não é nova e tinha fugas entre as duas caixas, saindo algum ácido quando sublimado, devia ter colocado fita isoladora.
    Parece um método de controlo e não de tratamento eficaz, mas foi apenas o primeiro teste.
    Cumprimentos
    Pedro Dinis

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