varroa destructor: detalhes sobre o processo e estratégia de fecundação

Nesta publicação apresentei alguns dos aspectos, actualmente consensuais na comunidade científica, acerca do ciclo de vida do responsável pelo maior número de baixas de colónias de abelhas melíferas: o ácaro Varroa destructor. Para se chegar aqui foram essenciais múltiplas contribuições de investigações parcelares desenvolvidas ao longo das últimas três décadas. O estudo da varroa resume muito bem algumas das principais características do processo científico: parcelar, gradual, integrativo. As conclusões mais gerais e mais consolidadas provêm de contributos parcelares e replicados que se integram posteriormente num quadro mais geral. Vem isto a propósito do excerto de um texto que traduzo em baixo, sobre as observações realizadas há cerca de 30 anos, que contribuíram para o conhecimento fundamentado dos processos e mecanismos de fecundação do ácaro Varroa destructor de que dispomos hoje.

“Como na prole de uma fêmea varroa apenas um macho é criado, pode-se esperar que este poupe suas forças e que, depois de fertilizar uma fêmea, reserve seu sémen para as fêmeas que surgirem posteriormente. Nossas observações mostraram que a estratégia da Varroa é diferente porque o macho e a jovem fêmea Varroa acasalam um grande número de vezes. Essas repetições podem comprometer a capacidade do macho de fertilizar todas as futuras fêmeas, pois causam um gasto de energia para a formação do esperma. No entanto esses acasalamentos repetidos podem ser benéficos aumentando a fertilidade das novas fêmeas.

Dois argumentos estão a favor desta hipótese. Em primeiro lugar, observamos que o macho aproveita a perfuração na pupa da abelha preparada pela varroa mãe. Graças a esta perfuração, e apesar de suas quelíceras terem se transformado em espermadáctilos, o macho alimenta-se com frequência, o que lhe permite acasalar frequentemente.

Uma ninfa Varroa destructor procura o local de alimentação (indicado pela seta) numa pupa de abelha. Uma vez o buraco na cutícula da pupa encontrado, ela começa a alimentar-se. Os movimentos peristálticos de seu sistema digestivo são visíveis através de sua cutícula.

Em segundo lugar, testamos a seguinte hipótese: o número de acasalamentos influencia a quantidade de espermatozóides armazenados na espermateca das fêmeas. Como as fêmeas se reproduzem em vários ciclos, era muito difícil determinar o número de ovos produzidos por cada fêmea. Por isso utilizámos o número de espermatozoides presentes na espermateca feminina como critério de fertilidade potencial. Conhecemos dois fatos: o número de espermatozóides armazenados na espermateca das fêmeas Varroa é muito baixo (menos de 40 segundo Alberti & Hänel, 1986) e está muito próximo do número máximo de óvulos produzidos pelas fêmeas, 30 (de Rujter 1987).
Para testar essa hipótese, realizamos a seguinte experiência em alvéolos artificiais transparentes contendo pupas de operária: duas fêmeas jovens são juntas a 2 machos. Estes foram retirados de alvéolos naturais. Os acasalamentos são observados em incubadora a 34 ° C e 60% R.H .. Foram considerados acasalamentos os atos sexuais que duraram mais de 6 minutos. Foram determinados três grupos de teste: (A) fêmeas fecundadas por um único acasalamento, (B) fêmeas fecundadas por dois acasalamentos e (C) fêmeas permanecendo 48 horas na presença de machos. Fêmeas mães retiradas da criação operculada foram utilizadas como controles (grupo D). Três dias após o acasalamento, os espermatozoides migram para a espermateca e apresentam um formato fusiforme ou em pera, e posteriormente têm forma de faixa. As fêmeas são dissecadas em solução de Ringer e sua espermateca é extraída, depois dividida entre lâmina e lamela e os espermatozóides são contados ao microscópio.

Acasalamentos numerosos: garantia de fertilidade
Nenhuma das cinco fêmeas acasaladas apenas uma vez tinha espermatozoides na espermateca, enquanto nas quatorze fêmeas que acasalaram duas vezes, a contagem de espermatozoides variou de 0 (5 indivíduos) a 26 espermatozoides. Com exceção de uma, as onze fêmeas que permaneceram 48 horas na presença dos machos possuíam mais de 24 espermatozoides. Estes resultados mostram que os acasalamentos repetidos observados aumenta o número de espermatozoides armazenados por uma fêmea. Eles também indicam a importância do fator tempo para o parasita.

Assim, as primeiras duas filhas são provavelmente melhor fertilizadas do que a terceira, uma vez que acasalaram mais de oito e quatro vezes, respectivamente. A terceira fêmea só pode ser acasalada duas vezes por falta de tempo, pois a abelha se metamorfoseou em adulta.

Para concluir
Depreende-se de nossas observações que o parasita Varroa está com pressa e que, para garantir a fecundação de seus descendentes, os indivíduos utilizam um ponto de encontro que serve de local de acasalamento. Para que todas as fêmeas sejam fertilizadas, as fêmeas mais novas são preferidas em relação às mais velhas. As fêmeas mais velhas acasalam tão frequentemente quanto possível, o que aumenta sua fertilidade potencial.
No seu hospedeiro original, a abelha indiana (Apis cerana), a Varroa procria quase exclusivamente em cria de zângãos, que é menos protegida por abelhas. Nas abelhas europeias a defesa das abelhas contra a Varroa é fraca e a eficiência deste parasita em se reproduzir é claramente visível.”

fonte: Donzé G., Fluri P, Imdorf A. (1998) Pourquoi les varroas s’accouplent-ils si souvent? La santé de l’abeille 165 (5-6) 141-146.

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