Durante o inverno, e na zona onde os meus apiários estão localizados, as temperaturas diurnas entre os 3ºC – 7ºC tendem a ser um acontecimento normal e frequente. Com estas temperaturas externas alguns de nós pensarão que as rainhas páram a postura. Ainda que possam estar correctos algumas vezes, o mais provável é estarem afastados da realidade na maioria dos casos.
Tom Seeley e Kirk Visscher descobriram que a postura de ovos começa no momento em que a temperatura média máxima diária atinge cerca de 4 ºC, e se intensifica grandemente se as temperaturas médias diárias se situam entre 5° – 15°C.
Estes investigadores verificaram que este aumento de criação ocorre meses antes do pólen natural estar disponível, e provoca um aumento considerável do consumo de mel/reservas. Isto, claro, aumenta o risco de uma colónia morrer por fome durante o período invernal, mas é um risco que a colónia aceita naturalmente, porque indispensável para que atinja a população de abelhas necessárias ao bom aproveitamento dos fluxos de néctar que virão. Também para apicultor a criação de abelhas novas nestas condições extremas é crítica para delas tirar os proveitos que o seu trabalho e investimento justificam.
A minha estratégia de suplementação alimentar nos últimos três anos tem sido muito simples e bem sucedida: mais do que estimular a postura da rainha nos meses de Janeiro a Março com suplementos líquidos, procuro dar às minhas colónias o apoio necessário nesta altura do ano, com alimento na forma de pasta de açúcar (fondant), para que elas façam o que entendem e sabem fazer tão bem sem passarem fome e cresçam de forma equilibrada e em sincronia com o seu meio envolvente.
Nota: se e fosse criador de rainhas ou se tivesse contratos de polinização para cumprir a minha estratégia de suplementação de alimentos seria diferente. Tenho que ter, no entanto, o bom senso de não seguir as estratégias de alimentação levadas a cabo por apicultores que têm objectivos tão diferentes dos meus.
Fig. 1: Um exemplo de uma mal-gerida alimentação de estimulação. Esta colónia vai morrer. Vejamos como ela teve recentemente uma grande área de criação, como evidenciado pelo anel de pólen recém-coletado. Mas a sua população de abelhas adultas diminuiu mais rápidamente do que as novas abelhas que foram sendo criadas. O cacho de abelhas foi incapaz de cobrir a criação selada e uma geada e temperaturas mínimas muito baixas, conduziram a que boa parte da criação ficasse congelada e fosse removido no dia seguinte. As elevada mortalidade abelhas adultas nesta época do ano pode ser provocada pela Nosema ceranae.
fonte: Seeley, TD and PK Visscher (1985). Survival of honeybees in cold climates: the critical timing of colony growth and reproduction. Ecological Entomology e http://scientificbeekeeping.com/understanding-colony-buildup-and-decline-part-3/
Olá Eduardo
Agrada-me que Você apresente discordâncias a alguns dos meus comentários e que eu tenha liberdade para me opor a algumas afirmações suas. Neste equilíbrio quem ganha são os seguidores do Blog. Ficam com mais opções de escolha. Pena é que não se manifestem mais, para nós também aprendermos, com eles, alguma coisa.
Mas, hoje, é dia para comentar as afirmações de Farrar :
1 – Compreendo, mas não concordo que ele mencione só três raças de abelhas e esqueça a abelha negra europeia ( apis melífera melífera ) .
É uma raça europeia que não se impôs no continente americano, depois de 500 anos pós colonização. As raças dominantes, nesse continente, são as mais prolíficas e maiores consumidoras. Adaptam-se ao espírito americano : mais e mais consumo e maior produção.
A raça negra era, até há menos de três décadas, a mais económica, talvez menos produtiva, mas mais equilibrada no ciclo anual. O paradoxo europeu é que temos vindo, nas últimas décadas, de forma crescente, a aumentar o suplemento alimentar, adulterando o instinto sóbrio e regulado da raça, sem garantia que atinja os níveis de produção de outras raças no seu meio próprio.
2 – Concordo que as abelhas híbridas,geneticamente controladas, podem ser mais vigorosas e produtivas do que as raças puras. Esta máxima, com base em ensaios, é conhecida na Europa há um século ( Frère Adam ).
3 – Concordo que os cruzamentos devem ser seleccionados e não resultantes de uma mistura geral e desorganizada de raças. Haja quem o faça. É verdade, mas onde é que estão os criadores e seleccionadores fiáveis ?
4 – Não concordo que se escolha uma raça apenas por ser prolífica. É redutor não ter em conta outras características ( resistência às doenças, adaptação ao ciclo climatérico local, etc. ).
5 – Concordo só parcialmente e com reservas que a enxameação dependa mais da gestão do apicultor do que da raça. Mas dou de barato, à falta de
resultados de ensaios.
6 – Transcrevo uma afirmação de Farrar :
” Os apicultores desejando novas linhagens devem obter rainhas de vários criadores de rainhas para as comparar devidamente.
Deve-se reconhecer que rainhas deficientemente criadas de linhagens produtivas, em geral serão inferiores a rainhas criadas de forma correcta provenientes de linhagens menos produtivas. ”
a ) Subscrevo por baixo se, onde se lê ” linhagens ” se escrever ” raças e linhagens “.
No continente norte americano as raças estão, há muito, estabilizadas e o grau de exigência já vai ao pormenor da escolha da linhagem. Há oferta para esta exigência, coisa que nós, por cá, mal sonhamos.
b ) Sugeri, em comentário anterior, que em Portugal, fossem criadas zonas protegidas para as melhores raças. Caberia aos apicultores escolher as raças e linhagens que preferissem e decidirem, depois, continuar em função dos resultados.
Com a alteração da alínea anterior, a afirmação de Farrar assenta que nem uma luva.
Conclusão final: continuarei a ler com interesse as afirmações de Farrar e vou inscrevê-lo no Top 10 da minha lista .
Cumprimentos extensivos aos leitores