os garfos ou o caso da colónia que ficou para trás

Com os dias a sucederem-se numa miscelânea de aguaceiros, sol, chuva, alguns mais frescos e outros um pouco mais quentes, as abelhas andam a 200 à hora. Eu vou procurando dar resposta a esta vertigem pois a idade, a saúde e a vontade permitem-me trabalhar a bom ritmo. Depois do dia de anteontem, em que não parei para ver este por do sol — mas a Filipa Almeida viu por mim! —, ontem as tarefas a realizar exigiram-me que o nascer do dia me fosse encontrar já no apiário.

Apesar de começar cedo, as horas e os dias passam tão ligeiros que há sempre alguma coisa a ficar para trás. Neste caso foi uma colmeia, que por ter o estrado estragado no dia de ser transumada com as outras para uma cota cerca de 300m mais baixa, acabou por se manter solitariamente no apiário onde estava. E tornou-se num daqueles projectos “amanhã tenho de a ir buscar”, só que o amanhã demorou mais de um mês a chegar e, durante esse mês, o seu maneio foi nenhum.

O estado do estrado. A colónia que vão ver em baixo passou um dos invernos mais frios que tenho memória, numa das zonas mais frias do país, nesta casa esburacada. Quando me dizem que os enxames de A, B ou C morreram de frio… tenham paciência pela minha falta de paciência para essa conversa..
Visão geral, ontem, da colónia que passou o inverno numa casa pouco aconchegante, aos nossos olhos.

Vejamos a colónia quadro a quadro.

Vista do quadro 10.
Vista do quadro 8.
Pormenor do quadro 7.

Sim, esta colónia enxameou… o enxame primário foi meter-se numa caixa com 8 quadros, que tinha a 30 metros a aguardar utilização num outro assento. Assim sendo, e uma vez que até aqui a fortuna não permitiu que perdesse abelhas deste enxame, decidi fazer o necessário para não vir ainda a perder abelhas — sabendo que o processo de enxameação ainda só tinha jogado a sua primeira parte —, desta feita por via de um aspecto muito negligenciado ou até desconhecido por alguns de nós: os enxames secundários ou garfos.

Vista de frente da colmeia que continha a colónia que enxameou e quatro caixas-núcleo de transporte. Sim, dividi-a em quatro!
A primeira divisão que fiz.
Última divisão que fiz.

E foi só porque me apeteceu fazer 4 enxames de um que fiz quatro enxames de um? Não, a razão foi esta…

Virgem 1… se apurarem o olhar vão vê-la!
Virgem 2.
Virgem 3.
Aqui, se não me engano estão três visíveis!

Desfeito o mito que a primeira rainha a nascer mata as outras? Se as abelhas deixassem e se a primeira nascesse/emergisse com um desfasamento temporal que lhe permitisse localizar as irmãs-rivais — já vi várias vezes rainhas romperem os mestreiros e emergirem com um minuto e menos entre si —, vontade para o fazer não lhe faltaria. Mas vontade apenas não chega!

Uma colónia que enxameou e continua cheia que nem um ovo? Só se o enxame primário tiver saído com meia-dúzia de abelhas, pensarão alguns. Pois nem isso também corresponde à realidade, neste caso e, muito provavelmente, na grande maioria dos casos. O enxame primário foi enfiar-se numa caixa a 30 metros de distância e ocupava cerca de 5 a 6 quadros.

As tiras de apivar coloquei-as antes de saber a proveniência do enxame… coisa que vim a saber poucos minutos depois.

Em conclusão, que o caso já vai longo e tenho que descansar que amanhã o dia vai começar cedo de novo: o grande desperdiçador de abelhas não é apenas o enxame primário; os enxames secundários ou garfos são os maiores responsáveis por chegarmos a uma altura em que na nossa colónia resta pouco mais que as abelhas que cobrem um a dois quadros.

Não estou a dizer nada de novo, Doolittle já o disse há quase 120 anos: o processo de cisão natural do enxame não termina com a enxameação primária. Para não vermos a população daquela nossa colónia, que estava pujante duas semanas antes e a prometer cinco meias-alças de mel, reduzida a 1/10 do que foi, vejo duas alternativas apenas, cada uma em função do estado em que encontremos o enxame: no caso de as rainhas virgens não terem emergido ainda, há que destruir todos os mestreiros com excepção de um; no caso de as rainhas já terem emergido há que fazer múltiplas divisões ou eliminar todas as rainhas virgens com excepção de uma.

2 comentários em “os garfos ou o caso da colónia que ficou para trás”

    1. O abdómen é negro brilhante, mais afunilado, o tórax é um pouco maior, as patas são mais compridas. Sobre o quadro, o seu comportamento em geral é mais irrequieto/nervoso que o das abelhas. Um abraço!

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