medicamentos contra o Varroa: resultados dos testes de eficácia em 2020

Escrevia em 2016, nesta publicação: “Em França verificar a eficácia dos medicamentos utilizados na luta contra o ácaro varroa é, desde 2007, uma atribuição coordenada pela FNOSAD (Fédération Nationale des Organisations Sanitaires Apicoles Départementales) que reúne a grande maioria dos OSAD (Organisations Sanitaires Apicoles Départementales), representando mais de 30.000 apicultores, profissionais e amadores.

Estes tratamentos/acaricidas que beneficiam de homologação são testadas anualmente por forma a mostrarem que garantias dão no controle da infestação pelo ácaro varroa abaixo dos limites considerados  prejudiciais às colónias de abelhas. Os principais parâmetros avaliados por estes testes são a eficácia global, avaliado através dos ácaros residuais encontrados após os tratamentos, assim como a velocidade de ação desses mesmos tratamentos sobre os ácaros.”

Em 2020, e como habitual, a mesma Federação testou novamente um grupo de medicamentos acaricidas: o Apivar, o Apitraz, o Apistan, o Apiguard e o Oxybee, este último um medicamento recente baseado em ácido oxálico.

Protocolo de teste de eficácia de 2020.

Eficácia dos medicamentos testados

Sabendo que para os medicamentos sintéticos (neste caso o Apivar, o Apitraz, o Apistan) se considera atingirem o limiar de eficácia desejável acima dos 95% de mortalidade das varroas, enquanto para os medicamentos não sintéticos (neste caso o Apiguard e o Oxybee) se considera atingirem o limiar de eficácia desejável acima dos 90% de mortalidade das varroas, apresento em baixo os resultados de 2020, tendo como referência estes critérios:

  • Para o Apivar e Apistan, o limiar de eficácia de 95% é alcançado apenas em 49% e 45% das colónias, respectivamente. Isto significa que em mais da metade das colónias estes dois medicamentos não apresentam a eficácia desejável .
  • Para o Apitraz, a percentagem de colónias nas quais o limiar de 95% é atingido é de 67%, portanto em mais de um terço das colónias a eficácia é insuficiente.
  • Nota: com uma aplicação de apenas seis semanas o Apitraz (duração prevista na Autorização de Introdução no Mercado francês, portanto a bula submetida a homologação), o percentual de eficácia foi satisfatório em apenas 7% das colónias.
  • Em relação aos medicamentos à base de substâncias de origem natural, os resultados também não são satisfatórios.
  • Com o Apiguard, o limiar de 90% de eficácia não foi atingido em nenhuma das 20 colmeias testadas. Em 2019, o limiar de 90% de eficácia foi atingido em 26% das colónias.
  • Com o medicamento Oxybee, o limiar de 90% de eficácia só é atingido por 39% das colónias. Na medida em que este fármaco foi aplicado após o enjaulamento da rainha por vinte e cinco dias, portanto a aplicação deste medicamento foi realizada na ausência de cria. É surpreendente obter esta percentagem baixa, longe dos valores alcançados em 2015, 2016 e 2017 com o mesmo método, mas com outro medicamento ((o Api-Bioxal) com a mesma substância ativa (o ácido oxálico).

Velocidade média de acção dos medicamentos testados sobre a mortalidade de varroas

Uma vez mais os dados deste ano confirmam que a velocidade média de acção sobre a varroa difere entre os diversos medicamentos. Julgo ter sido este blog a trazer, em primeira mão, para a língua portuguesa o conceito de acaricidas lentos e acaricidas rápidos.

Gráfico com a velocidade de queda de varroas ao longo dos dias de aplicação do medicamento
  • Em termos médios, o medicamento mais rápido deste teste é o Oxybee, com aplicação por gotejamento e com rainha previamente enjaulada para criar uma condição de criação ausente, tão necessária para aumentar a eficácia deste método. Quatro dias após o gotejamento, quase 50% dos ácaros varroa caíram e foram contados. Esta velocidade de ação também se caracteriza pela sua brevidade, já que uma semana depois a percentagem de varroa caída atingirá um total de 56%, patamar que não ultrapassará nas semanas seguintes.
  • Quatro dias após a aplicação das tiras Apivar, Apitraz e Apistan, a percentagem de ácaros caídos é de apenas 21, 11 e 27%, respectivamente, do total de ácaros (que caíram durante todo o tratamento — tratamento teste e tratamento de controle).
  • Após quatro semanas de aplicação, esse percentual sobe para 57%, 53% e 74%, respectivamente.
  • Para ultrapassar uma queda de 80% dos ácaros Varroa, temos que esperar oito semanas com Apivar, sete semanas com Apitraz e seis semanas com Apistan.
  • Notemos que com o medicamento Apitraz, após seis semanas (tempo de aplicação previsto na Autorização de Introdução no Mercado francês, isto é o período de tempo de utilização recomendado na bula do medicamento), a mortalidade média é de 77%.
  • Esses resultados confirmam que a libertação do ingrediente ativo é lenta e prolongada, seja nos medicamentos com base de amitraz ou tau-fluvalinato.
  • No caso do medicamento Apitraz, estes testes mostram que o tempo de aplicação previsto, seis semanas, é insuficiente no contexto dos testes.

Maior volatilidade dos resultados

Os resultados de 2020 confirmam que os níveis de eficácia são muito heterogéneos entre as colónias, mas sobretudo que uma alta percentagem delas não está devidamente protegida após o final dos tratamentos de verão.
Notamos também a grande volatilidade dos resultados de um ano para o outro, conforme ilustrado pela eficácia do Apivar, por exemplo. Na tabela em baixo, podemos observar que 94% das colónias testadas em 2016 ultrapassaram o limiar de 95% de eficácia. Nos quatro anos seguintes, esta percentagem tem descido, ainda que de uma forma irregular.

fonte: https://www.sante-de-labeille.com/docs/resultats_tests_efficacite_varroa_2020.pdf

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