A minha experiência com a introdução em gaiola de rainhas fecundadas é relativamente pequena. Nestes mais de dez anos de actividade apícola terei introduzido perto de 40 rainhas fecundadas. A taxa de aceitação inicial rondou os 100%, dos dados que registei na memória — como fiquei satisfeito com o facto dos procedimentos que me ensinaram e apliquei com o melhor rigor que me foi possível terem dado tão bons resultados! Contudo, mais adiante, cerca de 30% destas rainhas vieram a ser substituídas. Sei muito bem que a minha experiência é pouco representativa, a amostra é muito pequena, mas foi expressiva o suficiente para me elucidar que por vezes as abelhas também mudam de ideias, e aquela relação que começa bem evolui e termina mal.
Na altura não me empenhei em perceber melhor as causas do sucedido, o trabalho era muito e tinha de seguir em frente. Intimamente achei que tal se deveria a uma deficiência qualquer presente nestas rainhas, difícil ou até impossível de corrigir, fruto de uma certa aleatoriedade natural inultrapassável. E fui andando com a minha vida sem investir muito tempo neste assunto. Afinal introduzir rainhas fecundadas não é a minha praia; há mais de 5 anos que não o faço, já passaram mais de dois anos desde que introduzi massivamente rainhas virgens, tirando duas excepções que resultaram da oferta generosa de dois amigos de umas poucas rainhas virgens. Este não era, e continua a não ser, um assunto do meu interesse imediato. Apesar disso tal não me impede de reconhecer a sua importância para o sector apícola nacional, dado que vários companheiros recorrem à introdução de rainhas fecundadas pelos mais diversos motivos. Estava eu a preparar esta publicação e, nem de propósito, um companheiro contactou-me a solicitar uma opinião para o ajudar a entender, entre outras coisas, a razão da elevada taxa de substituição precoce das rainhas fecundadas que tem introduzido. Mal irei, e este blog comigo, quando me auto-centrar exclusivamente nas minhas práticas. Ficarei mais pobre e limitado nos conhecimentos, o blog menos abrangente e diversificado, enfim correria o risco de o tornar um diário, desinteressante e auto-proclamatório.
Será então adequada e actual a hipótese de que a substituição precoce de rainhas, 2 a 4 meses após a sua introdução e aceitação inicial, é uma situação inultrapassável própria de uma situação natural, da qual conhecemos, dominamos e controlamos pouco as diversas variáveis envolvidas? Não, nem a hipótese é actual nem é adequada. Hoje sabemos mais que isso. Hoje estão identificadas as variáveis que condicionam a taxa de sucesso deste processo.
Neste pequeno vídeo Bob Binnie identifica as principais causas da não aceitação ou substituição precoce de rainhas fecundadas introduzidas em gaiola e afirma que os criadores de rainhas podem melhorar o processo a montante. Recorre às reflexões e observações do Irmão Adam (o enorme apicultor alemão da Abadia de Buckfast) e aos estudos controlados levados a cabo por Doug Summerville (o autor da obra fundamental Fat Bees, Skinnie Bees).
Hoje, tudo leva a crer que os factores de sucesso/insucesso se encontram a montante, e uma vez mais os timings são muito relevantes. Bob Binnie afirma e identifica as principais condicionantes e factores de insucesso do processo: “a maioria dos problemas com rainhas e com pacotes, como fraca aceitação e substituição precoce deve ser atribuída a:
- rainhas colhidas demasiado novas;
- rainhas criadas demasiado cedo;
- rainhas armazenadas em banco por demasiado tempo.“
Também nesta publicação da prestigiada revista apícola Bee Culture — https://www.beeculture.com/requeening/— referem os mesmos motivos subjacentes à elevada taxa de substituição precoce de rainhas fecundadas.
Boa noite
Tendo que ver , um pouco, com este assunto, qual o método que utiliza para substituição de rainha “velha”?
Cumprimentos
Bom fim de semana
Saudações apicolas
Boa noite, Bruno!
Habitualmente são as abelhas a tratar desse assunto. Quando o não fazem (situação rara nas minhas colónias), e no caso de o seu padrão de postura ser medíocre, elimino-a (por norma faço-o no final de março/início de abril). Deixo as filhas criar uma nova mãe a partir dos ovos/larvas desta honorável resistente. Não enxameou (ou não deixei que o fizesse), “resistiu” ao varroa, aguentou 3 ou 4 invernos. Ainda que não seja um grande crente na selecção de campo, mal não fará e poderá vir algum ganho ao manter este “sangue”. Igualmente, bom fim-de-semana. Abraço!