Bons velhos hábitos são para manter e, assim sendo, continuo a ler os relatórios anuais sobre perdas de colónias. Escrevi há um ano atrás nesta publicação “Sou um leitor ávido e habitual de relatórios anuais publicados por algumas associações/institutos de apicultura, tendo já publicado um ou outro pelo interesse que encontro nos seus dados (ver por ex. aqui). Acho os relatórios extremamente didácticos pela visão macroscópica que me permitem elaborar, pelo sentido que dão às observações mais fragmentares que vou fazendo nos meus apiários e pelo reforço que dão a algumas das acções basilares no maneio das minhas colónias.” Este esforço de pesquisa — que se traduz em mais conhecimento para mim e que vou partilhando com os leitores —, associado a trabalho, proactividade, mudança e reflexão, contribuem para que a mortalidade de colónias por varroose neste verão/outono de 2021 tenha sido um redondo zero nos meus apiários. Não foi fácil… nunca é com este inimigo!
Na sequência deste velho hábito não pude deixar de ler os dados preliminares obtidos pelo inquérito conduzido pelo The Bee Informed Partnership a perdas de colónias de abelhas nos Estados Unidos em 2020-2021. Vejamos alguns números globais:
- forneceram respostas validadas ao inquérito 3.347 apicultores com 192.384 colónias;
- o inquérito cobriu o período de um ano, entre abril de 2020 e abril de 2021;
- durante o inverno de 2020-2021 (1 de outubro de 2020 – 1 de abril de 2021), cerca de 32,2% das colónias nos Estados Unidos foram perdidas (Fig. 1);
- durante o verão de 2020 (1 de abril de 2020 – 1 de outubro de 2020), cerca de 31,1% das colónias foram perdidas nos Estados Unidos (Fig. 1);
- durante todo o ano (1 de abril de 2020 – 1 de abril de 2021), os apicultores nos Estados Unidos perderam cerca de 45,5% de suas colónias de abelhas (Fig. 1). Esta é a segunda maior perda anual já registada, 1,8% maior do que a perda anual estimada do ano passado (43,7%), e um aumento de 6,1% sobre a taxa média de perda (39,4%) nos últimos 10 anos.
Os apicultores que responderam foram solicitados a identificar até às três principais causas da perda de colónias nas suas operações. Apicultores de todos os tipos de operação relataram que o ácaro parasita Varroa destructor foi a principal causa da perda de colónias durante o inverno (Fig. 2), com os apicultores “comerciais” (com mais de 500 colónias) a referirem problemas com as rainhas em segundo lugar. As razões relatadas para as perdas de verão foram ligeiramente diferentes, com problemas de rainha, seguido pelo ácaro varroa, listado como o mais e o segundo mais importante em todos os tipos de operação de apicultura, respectivamente. A nosemose é a causa menos referida.
Um outro grupo de dados que chamou a minha atenção: apenas metade dos apicultores de quintal (backyard) entrevistados substituíram rainhas nas suas colónias durante o verão de 2020 (49,9%; n = 3.019). Em contraste, a maioria dos “sideliner” (89,3%; n = 84) e virtualmente todos os apicultores comerciais (97,1%; n = 35) introduziram novas rainhas durante este período (Fig. 3).
Interrogações: sabendo que são os apicultores “comerciais” que substituem na totalidade, ou perto disso, as rainhas com 1 ano de vida, como se explica que seja este mesmo grupo a identificar mais problemas com as rainhas durante o verão? Será pelo desgaste rápido das rainhas que decorre da extensão dos períodos de postura por força dos contratos de polinização que este grupo de apicultores assina ano após ano, ou pelos impactos sub-letais causados pelas longas viagens até aos pomares da Califórnia nestes indivíduos mais longevos da colónia, ou… ? Se o desejarem, podem deixar as vossas propostas de explicação na caixa de comentários.
fonte: https://beeinformed.org/wp-content/uploads/2021/06/BIP_2020_21_Losses_Abstract_2021.06.14_FINAL_R1.pdf
Bom dia, Eduardo.
Do pouco que sei sobre apicultura, considero as seguintes causas:
-Se os apicultores comerciais substituem de ano a ano, imagine a quantidade de rainhas que têm de ser produzidas de forma artificial, ou seja, vão existir sempre fornecedores com pouca qualidade no trabalho desenvolvido.
-A exploração desmesurada das colónias, transportes sistemáticos, mudanças abruptas de temperaturas no interior da colmeia (as diferenças entre estados são enormes)
-Obrigar as colmeias a voos de orientação, várias vezes ao ano.
-Alimentação Artificial contínua que obriga as rainhas a colocar postura de forma contínua, interrompendo o ciclo natural para a mesma.
-Vários episódios de stress no interior das colmeias