ineficácia dos tratamentos para a varroose: para lá da resistência

Todos os tratamentos contra a varroose num momento ou outro são ineficazes. Nenhum deles foi eficaz de todas as vezes que foi aplicado. Esta ineficácia, que surge mais frequentemente em certos anos ou em certos apiários, é por si só a demonstração de resistência da varroa aos princípios activos utilizados? Se a resposta fosse um simples sim, então teríamos de concluir que existem varroas resistentes, por exemplo, ao ácido fórmico ou ao ácido oxálico sempre que ele não é eficaz — pelos relatórios que tenho traduzido, os apicultores da região da Alsácia que utilizam o fórmico, o oxálico ou o timol identificam ano após ano uma percentagem de mortalidade de colónias a rondar os 30%.

Até à data, ninguém informado aceita que seja a resistência ao fórmico ou ao oxálico a explicação para a ineficácia destes nos casos em que a sua aplicação não resultou efectiva. Os factores de ineficácia apontados são variados mas podem resumir-se na frase “too little, too late” (pouco e tarde).

Contudo, se facilmente se aceita que as razões da elevada ineficácia destes tratamentos orgânicos não está na resistência das varroas aos mesmos, já no caso do amitraz, presente em três medicamentos homologados em Portugal, o Apivar, o Apitraz e o Amicel, é a resistência a explicação mais ouvida e utilizada para explicar os casos de ineficácia. Este pré-juízo em relação ao amitraz pode ser muito prejudicial à apicultura nacional:

  • Primeira razão: pode deixar a ilusão numa boa parte dos apicultores que existem tratamentos alternativos, como o fórmico ou o oxálico que, sem casos documentados de varroas resistentes, são sempre eficazes. Pensar assim é um erro crasso — os apicultores que estão em Bio que abram o livro e tornem público as dificuldades que passam e a mortalidade de colónias que infelizmente constatam nos seus apiários, isto apesar de utilizarem tratamentos para os quais as varroas não têm resistência. Os tratamentos orgânicos são sempre eficazes, até ao momento em que o não são.
  • Segunda razão: não descartando a possibilidade de as varroas terem aumentado um pouco a resistência ao amitraz, isto é serem menos susceptíveis às quantidades que as matavam no passado, a explicação da ineficácia dos tratamentos homologados com amitraz a partir exclusivamente da ideia de resistência contribui para não se explorar devidamente a hipótese que a ineficácia se deveu sobretudo ao facto de ter sido “too little, too late” a que eu acrescento “too slow” (lento).

Nada como ouvir a JoJo a discorrer sobre o conceito “too little, too late”, para o interiorizarmos devidamente :-).

Nota 1: deixo o apelo dos responsáveis pelo inquérito em Portugal: por favor respondam ao mesmo. O link: https://bgoodwp4.ugent.be/home/portuguese-version/

Nota 2: Sugiro a leitura desta publicação em complemento.

2 comentários em “ineficácia dos tratamentos para a varroose: para lá da resistência”

  1. Boa tarde, Eduardo.
    Achei curiosa a expressão que utilizou “too little, too late, too slow”, realmente pelo que tenho experienciado esse é um ponto chave..

    Esta empresa está a desenvolver um sistema que tenta dar resposta, exactamente a essa questão e pode inclusivamente ser um aliado aos apicultores em modo BIO.

    Pelo menos na teoria!

    https://www.tobe.green/

    Um abraco

    1. Boa tarde, Nuno

      Obrigado pelo link que partilhou. Tomei conhecimento deste dispositivo a semana passada através do Bee-L. Está nos meus rascunhos para fazer uma publicação no futuro, depois de aprofundar alguns detalhes. Um abraço.

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