grelhas excluidoras: limitando as rainhas sem as limitar

Na utilização da técnica Doolittle para fazer desdobramentos tenho de confinar a rainha ao ninho por meio de uma grelha excluidora de rainhas.

Esta colónia, que habita uma colmeia do modelo Langstroth, recebeu o sobreninho a 21-03. A rainha foi confinada ao ninho em 27-03 por uma grelha excluidora, portanto há pouco mais de um mês.

Quando se menciona grelhas excluidoras de rainhas surge inexoravelmente a questão se limita ou não a postura das rainhas. Vamos por partes!

Esta é uma lâmina de cera que costumo utilizar nos ninhos das Langstroth. Tem 19,5 cm por 42 cm.

Ontem, depois do jantar comedido que fiz, decidi contar os alvéolos desta lâmina de cera.

Tinha 41 alvéolos na altura e 78 na largura. Multiplicando estes dois números fiquei a saber com rigor que estão presentes 3198 alvéolos em cada face desta lâmina de cera. Nas duas faces são 6396. Como incrusto a cera mais próximo do travessão do fundo dos quadros, estimei a altura com mais três filas de alvéolos, neste caso 44 em altura. Fazendo novamente as contas para esta alternativa obtenho um total de 3432 alvéolos em cada face, perto dos 7000 nas duas faces.

Outra questão que importa esclarecer: uma rainha põe exactamente quantos ovos por dia? Eu não sei! Julgo que varia de acordo com vários factores. Contudo na literatura são referidos valores médios a variarem entre 1000-2000 ovos/dia. Muito bem, se assim é 8 quadros do ninho bem desbloqueados dão espaço de sobra a uma rainha com uma postura média de 2000 ovos/dia durante 20 dias. Sim, porque ao fim do vigésimo dia começam a emergir as abelhas geradas a partir dos ovos postos 20-21 dias antes. E de novo esses alvéolos ficam disponíveis para um novo ciclo de postura — de facto o reverendo Langstroth não andava sob o efeito de psicotrópicos quando idealizou as dimensões dos quadros da sua colmeia.

Em conclusão, a grelha excluidora limita o espaço de postura de uma rainha ao ninho, mas não tem forçosamente de limitar a postura em si mesma. Bem desbloqueados os 10 quadros do ninho no modelo Langstroth — e também os da Lusitana, que têm um número de alvéolos muito próximo — não limitam a postura das minhas rainhas. No período de 20 dias permitem a oviposição de 40 mil ovos. Sabendo que a população máxima de uma colónia iberisiensis ronda as 45 mil abelhas, parece-me que não é “contra-natura” a utilização da grelha excluidora nas condições que descrevo. Não noto, nestas colónias, atraso nenhum no seu desenvolvimento.

Tirei umas fotos para me convencer que também não ando sob o efeito de psicotrópicos quando trabalho nos meus apiários — desde que anteontem uma raposa se aproximou de mim, a menos de 10 metros, enquanto eu trabalhava silenciosamente no meu apiário como é meu hábito, e ambos ficámos admirados de nos vermos ali tão inesperadamente próximos, que já não sei aos certo se o que vejo existe ou se vejo o que quero ver. Se calhar é um pouco das duas coisas!

Quadros do ninho da colónia 1, com rainha confinada ao ninho.
Quadros do ninho da colónia 2, com rainha confinada ao ninho.
Quadros do ninho da colónia 3, com rainha confinada ao ninho.

Mas como a apicultura é feita de imprevistos e de singularidades, se alguém desejar ensaiar não deixe de ir fazendo as suas observações e os ajustamentos que achar adequados. Nem sempre tudo sai como o planeado!

Como não saiu como planeado o meu primeiro ensaio na utilização da técnica de translarve.

A minha amiga Filipa Almeida e os meus amigos David Marques, João Gomes e Francisco Rogão já me deram umas dicas preciosas para evitar este colossal fracasso na próxima vez que tentar de novo.

5 comentários em “grelhas excluidoras: limitando as rainhas sem as limitar”

  1. Existe alguma correlação entre o que escreve relativamente à não limitação dos ninhos Langstroth e Lusitanos para a postura da rainha e um menor impulso de enxameação?

    1. João, julgo que sim que existe. O enxame tende a iniciar o processo de enxameação quando ocupa cerca de 90% da cavidade que habita. Quanto menor essa cavidade for, ou no caso da apicultura mobilista quanto mais pequenas forem as dimensões da caixa dedicada ao ninho, mais cedo e mais frequentemente o enxame entrará em processo de enxameação. Contudo a dimensão da cavidade não parece ser um factor único, isolado e independente de outros factores de enxameação.

  2. Olá Eduardo,
    Como leitor assíduo, passei novamente os olhos por este artigo.

    Surgiu-me uma questão que já vem sido debatida nomeadamente nos grupos de facebook, no que toca a incrustar a lâmina de cera no topo do quadros (penso que seja esta a prática mais recorrente pelos apicultores), ou mais próximo, como refere neste artigo, ou mesmo no fundo dos quadros?

    Eu pessoalmente coloco a lâmina encostada no topo do quadro, no rasgo para esse efeito. Já tentei efetuar alguns testes de colocar no fundo, mas infelizmente por falta de tempo para observar as diferenças não cheguei a obter conclusão sobre este assunto. Tentarei se me for possível no próximo ano. É evidente que ao colocar a lâmina no fundo do quadro estamos a permitir mais espaço, porém surge a questão por parte de alguns apicultores de as abelhas não conseguirem puxar a cera de baixo para cima, entre outras questões.

    Poderá ser um assunto para um artigo (se ainda não existe, pelo menos eu não encontrei no seu blog), que pode ser certamente diferenciador como praticamos a apicultura.

    Obrigado Eduardo

    1. Viva, Elias! Vejo nas estatísticas das publicações que também as publicadas há mais tempo vão sendo visualizadas, o que me deixa um sentido da utilidade e interesse que continuam a despertar. No caso da lâmina de cera que muitas vezes incrustei tangente ao travessão inferior do quadro, verificava que na larga maioria das vezes as abelhas uniam o topo da lâmina ao travessão superior. Contudo em alguns casos não o faziam. Então passei a incrustar a cera a tocar no travessão superior mas sem a inserir na ranhura dos quadros. Um abraço.

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