estratégia de tratamentos: números e decisões

Aqui e ali, nas redes sociais, recebo umas “bocas” a chamarem a minha atenção para o facto de na apicultura “2+2 não serem 4” e “a apicultura não ser uma ciência exacta”. Este tipo de comentários revela pelo menos duas coisas aos meus olhos: 1) não me conhecem nem conhecem o que escrevo, ainda que julguem que sim; 2) mais grave, desconhecem que todos os fenómenos naturais têm uma tradução matemática.

A utilidade dos números na apicultura.

Vem isto a propósito de umas contas que vou passar a apresentar. Na publicação anterior identifiquei a taxa de infestação pelo ácaro varroa em abelhas adultas nas colónias de um apiário. Fui interpelado por um amigo se tinha ideia da taxa de eficácia das tiras de ácido oxálico que coloquei em finais de junho. Respondi que sim, isto apesar de não ter feito um teste de campo. Esta resposta assenta nos cálculos que realizei. De acordo com estes cálculos, a taxa de eficácia rondará os 65%. Como cheguei e este valor?

  1. Terminado o primeiro tratamento do ano, a taxa de eficácia ter-se-á situado nos 98% (três tiras de Apivar por ninho — ver nesta publicação: “A avaliação pós-tratamento nos mesmos apiários revelou uma infestação entre os 0,2% e os 0,4%. A monitorização foi feita com a recolha de abelhas adultas e posterior lavagem das mesmas em água com detergente para as varroas se soltarem das abelhas, filtradas através de um coador de mel com duas malhas (técnica com boa fiabilidade)”. De acordo com esta percentagem de eficácia terão sobrevivido 2% de varroas tendo em consideração a sua população total;
  2. Assim sendo, no final de julho — 3 meses passados o primeiro tratamento — a taxa de infestação em abelhas adultas rondaria os 3,2 %, considerando uma duplicação do seu número por cada 30 dias passados (0,4×2=0,8×2=1,6×2=3,2);
  3. Atendendo que no teste de campo ontem realizado encontrei uma taxa de infestação de 1,1%, a diferença entre este valor e o valor previsível (3,2%), caso não tivesse efectuado o tratamento intermédio com as tiras de oxálico, é de 2,1.
  4. Para o cálculo de eficácia destas tiras considerei que 100% de eficácia seria eliminar os 3,2% previsíveis. Como “apenas” se eliminou 2,1% (3,2-1,1=2,1) quanto representa percentualmente um abaixamento de 2,1? Fazendo uma regra de “três simples”, a calculadora diz-me que a percentagem de eficácia das tiras de oxalico é de 65,6% ( 2,1×100/3,2= 65,6%).

Em conclusão, o tratamento com as tiras de oxálico está perfeitamente justificado na minha estratégia de tratamentos da varroose:

  • faz baixar o suficiente a taxa de infestação durante o período de fluxo de néctar;
  • a sua taxa de eficácia é suficiente para o considerar um bom tratamento intermédio;
  • esta taxa de eficácia é baixa para pôr a hipótese de não efectuar um terceiro tratamento.

Ainda que a minha apicultura assente em dados numéricos, muito úteis para avaliar o caminho que estou a fazer, é óbvio —para quem me conhece e lê com olhos de ler as minhas publicações — que esta apicultura não se resume a números. Trabalho, observações, leituras, reflexões, hipóteses, cálculos, avaliações e tomada de decisões serão um resumo mais justo e completo.

4 comentários em “estratégia de tratamentos: números e decisões”

  1. Conhece o Spray “Stop Varroa” se já experimentou qual a sua opinião?
    Eu experimentei, mas não se deve abusar, porque mais de 2 pulverizações de cada lado do quadro mata algumas abelhas, mas parece-me eficaz.
    Obrigado

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