colónias conformadas à regra “não mais de 6” produzem mel?

Dado o interesse que a “regra não mais de 6” suscitou em vários apicultores que me contactaram, questionando e procurando mais alguma informação, surgiu algumas vezes nestas conversas a questão: e estas colmeias assim trabalhadas produzem mel? Da minha experiência, que trabalho com os modelos Langstroth e Lusitana, a resposta sumária é sim (com as reversíveis em teoria poderá ser diferente, mas não tenho experiência directa que o confirme porque não trabalho com este modelo de colmeia). Mas vamos a alguns números para todos entendermos melhor a minha observação reiterada e a minha resposta sumária (apesar de a apicultura não ser uma ciência, é uma arte que se fundamenta por ex. nos números/matemática).

Lembro o que escrevi em 2017: Em quase todas as colmeias com 8 quadros de criação estou a retirar 2 quadros com criação e a colocar um quadro com cera laminada na posição 2 e um outro de meia-alça na posição 9.

Uma colónia com 8 quadros de criação à saída do inverno apresenta os 10 quadros do ninho bem cobertos de abelhas. Grosso modo temos 20 mil abelhas no ninho (2 mil por quadro).

Colónia com 9 a 10 quadros bem cobertos de abelhas (foto tirada a 18 de março do ano passado num apiário a 900 m de altitude, no início do fluxo da urgueira).

Tiro dois quadros deixando 6 quadros com áreas substanciais preenchidas por criação (operculada e não operculada). Destes 6 quadros vão nascer/emergir cerca de 30 mil abelhas, nos próximos 20 dias.

Um quadro langstroth ou lusitano tem cerca de 7 mil alvéolos, retirando dois mil para o arco de mel e pólen, nestas condições cada quadro, como o da foto em cima, vai dar cerca de 5 mil novas abelhas à colónia.

Segundo a lei de Farrar os quilogramas de mel produzidos são uma função quadrática do número de abelhas da colónia e duração e quantidade do fluxo de néctar. Trocando por miúdos, quer dizer o seguinte:

  • 20 mil abelhas produzem 4 kgs de mel para o apicultor (2 ao quadrado);
  • 30 mil abelhas produzem 9 kgs de mel para o apicultor (3 ao quadrado);
  • 40 mil abelhas produzem 16 kgs de mel para o apicultor (4 ao quadrado);
  • 50 mil abelhas produzem 25 kgs de mel para o apicultor (5 ao quadrado);
  • 60 mil abelhas produzem 36 kgs de mel para o apicultor (6 ao quadrado).

No caso da utilização da “regra não mais de 6” teremos uma média de 50 mil abelhas na colónia (as 20 mil do ninho e as 30 mil novas abelhas que se lhes juntarão). Por cada geração de abelhas (que medeia os 35 a 45 dias), e assim a duração e a quantidade do fluxo de néctar o permitam, estas colónias poderão produzir em média 25 kgs de mel.

Nota: Deu-me muito prazer ter lido há poucos dias atrás que Mark L. Winston, investigador canadiano que está entre os mais referenciados na literatura apícola, concluiu através dos seus trabalhos de campo que as abelhas tendem naturalmente a enxamear quando ocupam cerca de 90% da área disponível dos favos na cavidade/colmeia que habitam. Não andei muito longe da conclusão de Winston quando escrevi em 2017 “A análise do histórico das minhas colmeias tem-me mostrado que trabalhando com uma só caixa a ninho, existe uma correlação assinalável entre os 8 a 9 quadros de criação no ninho e o facto de as abelhas entrarem em modo de enxameação.”

3 comentários em “colónias conformadas à regra “não mais de 6” produzem mel?”

  1. Boa noite Eduardo,
    Este é o meu primeiro ano apícola, e estou a trabalhar com colmeias reversiveis em trás os montes(terra quente transmontana), e este ano já tive alguns problemas com a enxame ação na tentativa de obter uma colmeia forte com muita populaçao para a produção de mel e ao mesmo tempo tentando que esta não enxame, estou a ponderar para o ano usar sobreninho e mantê-lo para sempre ou seja todo o ano, pois assim conseguiria uma colmeia forte e com espaço para a postura. Que achas da ideia seria possível passar o inverno uma colmeia nestas condições em trás os montes com muito frio e nevoeiro?

    1. Viva Samuel! Que tudo lhe corra pelo melhor neste primeiro ano para continuar motivado. Uma recomendação para continuar com sucesso e motivado é tratar adequadamente contra o varroa. Relativamente à sua questão tenho alguma dificuldade em responder porque não tenho o modelo reversível. A sua ideia de utilizar sobreninho parece-me correcta, mas nada como falar com um ou mais apicultores bem sucedidos nas tarefas apícolas com esse modelo. O que posso dizer do que eu faço com lusitanas e langstroth é que uma série delas, as mais fortes, passam o inverno na zona da Guarda com ninho e sobreninho. Dessas nunca me morreu nenhuma de frio. Um abraço.

      1. Sim Eduardo tenho utilizado apivar por recomendação de um amigo julgo que chega.
        Já é uma boa ajuda saber que na Guarda colmeias com dimensões maiores se aguentam com ninho e sobre ninho. Vou experimentar também. A minha ideia passa por ter uma colmeia maior, diminuído o extinto de enxamear e ao mesmo tempo ter muita populaçao para uma maior produção. Sendo que a reversível tem a vantagem acrescida de poder alterar os ninhos se assim for conveniente para obrigar a rainha a descer se for necessário. Um abraço e obrigado

Responder a Samuel Teixeira Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.