a diminuição dos recursos de pólen desencadeia a transição para populações de abelhas de vida longa a cada outono

Deixo a tradução do resumo de uma artigo que li pela primeira vez há uns 5 anos atrás. Na altura achei-o contra-intuitivo e muito “fora-da-caixa”. Este estudo verificou um atraso na criação de abelhas de vida mais longa nas colónias que acederam até mais tarde a fontes de pólen, e a repercussão disso na dinâmica do número de abelhas por colónia nos meses seguintes de inverno. Todo este quadro que ilustra bem a complexidade do mundo das abelhas, da co-existência de fenómenos com várias camadas imbricadas, e da fragilidade e incompletude do nosso conhecimento, muito em especial no que respeita à nutrição do enxames. Neste contexto, em que confesso a minha grande ignorância acerca dos efeitos globais de muitos maneios com alimentação suplementar e alimentação estimulante, a minha divisa é “bee keep it simple“, ou seja, faz só o necessário para que não morram de fome. O resto, a parte mais complicada, deixo para elas.

Resumo:

1. A cada outono nas regiões do norte do hemisfério, as colónias de abelhas mudam de populações de operárias de vida curta para populações de abelhas de inverno de vida longa. Para determinar se os recursos de pólen em declínio desencadeiam essa transição, o desaparecimento natural dos recursos de pólen externos foi artificialmente acelerado ou atrasado e as colónias foram monitoradas para verificar os efeitos sobre a atividade de criação de larvas e o desenvolvimento de populações de abelhas de inverno de vida longa.

2. Atrasar o desaparecimento dos recursos de pólen adiou o declínio na criação de larvas nas colónias. As colónias com um suprimento mais prolongado de pólen criaram abelhas por mais tempo até outubro, antes que a criação das larvas terminasse, do que as colónias de controle ou para as quais o suprimento de pólen foi cortado artificialmente no outono.

3. As colónias com maior suprimento de pólen produziram mais obreiras durante o outono do que as colónias com menos pólen, mas o desenvolvimento da população de abelhas de vida longa no inverno foi adiado até relativamente mais tarde no outono. As colónias apresentaram números semelhantes de abelhas de inverno, independentemente do momento do desaparecimento dos recursos de pólen.

4. A longevidade média das operárias criadas no outono esteve inversamente relacionada com a quantidade de larvas remanescente para ser criada nas colónias quando as operárias eclodiram. Consequentemente, operárias longevas não apareciam nas colónias até que a criação de larvas diminuísse, que por sua vez era controlada pela disponibilidade de pólen.

5. A redução dos recursos de pólen fornece um dado marcante que inicia a transição para as populações de abelhas de inverno, porque afeta diretamente a capacidade de criar larvas das colónias e indica indiretamente a deterioração das condições ambientais associadas à aproximação do inverno.

fonte: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/j.1365-2311.2007.00904.x

Notas:

1. associar à leitura desta e desta publicações anteriores;

2. no território onde tenho as minhas colónias, a fase de crescimento das mesmas inicia-se, em regra, na última semana de dezembro, muito gradualmente como gosto de observar. As abelhas de inverno morrem a uma taxa mais rápida nestes dois meses de janeiro e fevereiro, em razão da sua idade já prolongada assim como pela redução da sua longevidade, uma consequência do aumento gradual das tarefas de nutrição das larvas.

a selecção de abelhas: o passado, o presente e o futuro

Gilbert M. Doolittle (1846-1918) 

O primeiro avanço significativo na selecção de abelhas aconteceu com o desenvolvimento de procedimentos que permitiram a produção de um grande número de rainhas a partir de uma só mãe (Doolittle, 1889). Pela primeira vez, foi possível produzir um grande número de rainhas a partir de colónias selecionadas.

A descoberta de que rainhas e zângãos acasalam em voo fora da colmeia (Huber, 1814) teve implicações importantes para a selecção das abelhas, pois mostrou que a paternidade era aleatória. O estabelecimento de apiários isolados de colónias selecionadas já se verificava em 1928 (Weatherhead, 1986). O controle completo do lado paterno tornou-se possível com o desenvolvimento da inseminação instrumental (II) por Watson em 1927, embora só com os desenvolvimentos adicionais trazidos por Laidlaw em 1944 a inseminação instrumental se tenha tornado mais rotineira e confiável (Laidlaw, 1944; Cale e Rothenbuhler, 1975).

Harry Hyde Laidlaw (1907–2003)

A aplicação das técnicas de multiplicação de rainhas por translarve e inseminação instrumental permitiram o estabelecimento de programas de melhoria de abelhas. A maioria dos programas de melhoria concentrou-se nos traços produção de mel, temperamento e resistência a doenças. Infelizmente, poucos foram os programas que tiveram sucesso a longo prazo, muitos deles tiveram curta duração desmotivados pelo progresso lento e limitado na melhoria de características, pelos efeitos prejudiciais da endogamia (consanguinidade) e baixos retornos do investimento.

No entanto, avanços recentes na genética das abelhas (Weinstock et al., 2006; Bienefeld et al., 2007; Oldroyd e Thompson, 2007) permitiram uma maior compreensão da arquitetura genética da colónia de abelhas e hoje fornecem novas oportunidades à utilização de novas técnicas genéticas para o aprimoramento da selecção de abelhas. Estes avanços podem inaugurar uma nova era, em que métodos moleculares mais baratos e mais refinados são/serão usados ​​para identificar e propagar indivíduos superiores.

fonte: The Genetic Architecture of Honeybee Breeding, Peter R. Oxley and Benjamin P. Oldroyd, Behaviour and Genetics of Social Insects Laboratory, School of Biological Sciences, The University of Sydney, New South Wales, Australia

Numa publicação futura abordarei com mais detalhe a metodologia de selecção assistida por marcadores moleculares e apresentarei alguns dados de um estudo de caso onde esta nova metodologia e tecnologia foi aplicada.

o cheiro/odor da criação diminui a esperança de vida das abelhas obreiras

Em outubro de 2017, referi-me aqui às características fisiológicas distintivas entre as abelhas de primavera-verão e as abelhas de outono-inverno. Foi referido que a quantidade do composto proteico vitelogenina é um dos componentes críticos que distingue a fisiologia destes dois tipos de abelhas. As abelhas de outono-inverno apresentam uma maior quantidade de vitelogenina. Mais recentemente, nesta publicação, abordei a relação entre o envelhecimento das abelhas e a necessidade de alimentarem a sua criação. Estribado no estudo realizado pela equipa de Gro Amdam, acerco-me agora dos indutores primários, os “gatilho” basilares envolvidos no processo de envelhecimento das abelhas.

A longevidade das abelhas, na minha opinião, é um aspecto relevante para a apicultura, pela sua determinância na sobrevivência invernal e bom arranque da colónia no final do inverno. Deixo em baixo o texto que descreve o percurso da equipa de Gro Amdam, desde a curiosidade inicial, passando pelo processo investigacional, até às conclusões retiradas sobre o impacto do cheiro/odor da criação na esperança de vida das abelhas obreiras.

“Durante algumas semanas cruciais a cada primavera, as abelhas são os trabalhadores mais essenciais do planeta, polinizando muitas das principais produções de frutas do mundo: sua sobrevivência durante o inverno é, portanto, fundamental para a agricultura. 

Percebendo que a sobrevivência do indivíduo era a chave para o sucesso de uma colónia, Gro Amdam ficou intrigado com a longevidade das abelhas. A esperança de vida das abelhas operárias tende a ser de apenas algumas semanas; no entanto, Amdam clarifica que um novo tipo de abelha desenvolve-se no final do verão, conhecido como abelhas diutinus*. Estas abelhas têm uma vida útil surpreendente de 6 meses ou mais e garantem a sobrevivência da colónia durante o inverno. Curiosa para saber o que limita a longevidade das abelhas operárias e permite o desenvolvimento das abelhas diutinus, Amdam começou a investigar a longevidade das abelhas.

Lendo a literatura, ela percebeu que uma proteína do ovo, a vitelogenina, poderia ser essencial para a longevidade da abelha diutinus: o que é curioso, porque as abelhas diutinus são na sua maioria estéreis, não produzem ovos e não precisam da proteína do ovo. Outra coisa que ficou clara foi que a presença de criação aberta numa colónia era suficiente para evitar que as abelhas operárias se tornassem veteranas longevas. ‘A criação está para as abelhas diutinus como a criptonite está para o Super-homem’, ri Amdam ao sumariar o tema. A princípio, Amdam pensou que o trabalho árduo de alimentar as larvas evitava que as abelhas operárias aumentassem seus níveis de vitelogenina e se transformassem em abelhas diutinus. Mas então ela leu um relatório de que o cheiro do fermento afeta a vida das moscas-da-fruta. O odor da criação – feromona da criação – pode afetar a longevidade das abelhas? A feromona poderia impedir que as operárias aumentassem seus níveis de vitelogenina e se tornassem abelhas diutinus de vida longa? Amdam decidiu investigar se a feromona da criação poderia ser a chave para a curta vida das abelhas operárias.

Trabalhando com Claus Kreibich e Margrethe Brynem, a aluna de Amdam – Bente Smedal – preparou 12 colmeias onde a equipe poderia controlar cuidadosamente os níveis de cria e feromona da criação para descobrir se os baixos níveis de vitelogenina das abelhas operárias e a curta esperança de vida eram devidos ao odor da feromona da criação. Fornecendo às abelhas operárias em cada colmeia uma rainha enjaulada (que não podia produzir cria) para que Smedal pudesse controlar os níveis de criação e feromona de cada colónia, ela assumiu o controle do suprimento de criação da colmeia, fornecendo às abelhas: cria; feromona sintética de criação; tanto criação como feromona sintética; ou nem cria nem feromona. Monitorando os níveis de vitelogenina das abelhas 3-4, 7-8 e 23-24 dias após o estabelecimento das colmeias, ficou claro que estar perto da criação reduzia os níveis de vitelogenina das abelhas operárias. Mas a exposição à feromona da criação isolada também reduziu os níveis de vitelogenina das abelhas na mesma quantidade. E quando Smedal observou os níveis de vitelogenina nas abelhas com 23-24 dias de idade, as abelhas que foram privadas de criação e da sua feromona tinham os níveis mais altos de vitelogenina, tal e qual as abelhas de outono que iniciam a invernagem na colónia. O trabalho duro de cuidar da criação não explica os baixos níveis de vitelogenina das operárias.

E quando Brynem verificou as colmeias 200 dias depois para descobrir quais as colónias que sobreviveram e quais as que morreram, as colónias que não tiveram cria ou feromona sobreviveram melhor, enquanto as colmeias que receberam cria e feromona tiveram as piores taxas de sobrevivência. Era o odor da criação – feromona da criação – que regulava os níveis de vitelogenina e a longevidade das abelhas.”

fonte: https://jeb.biologists.org/content/212/23/i.2?utm_source=TrendMD&utm_medium=cpc&utm_campaign=J_Exp_Biol_TrendMD_0

* diutinus é a palavra do latim para “longa duração”. As abelhas diutinus são, portanto, abelhas de longa duração. São as abelhas que, nas regiões temperadas, mantêm a colónia desde o outono-inverno até aos dias mais quentes do início da primavera.

o processamento do néctar pelas flores e abelhas: aspectos básicos

O néctar é secretado por glândulas na base das flores, conhecidas como nectários. Estes são classificados como florais ou extra-florais, de a acordo com a sua localização. De forma simples o néctar é a resposta evolutiva que as plantas angiospermas encontraram para atrair e recompensar os animais que promovem a sua fecundação, geração de sementes e frutos.

Esquema básico do orgãos reprodutivos de uma planta angiosperma, do qual os nectários fazem parte.

Como sabemos as abelhas coletam o néctar das flores no campo. Nesta fase, o néctar apresenta alto teor de sacarose com um pouco de frutose (levulose) e glicose (dextrose) e alto teor de humidade. Também há vestígios de outras substâncias como minerais, vitaminas, pigmentos, substâncias aromáticas, ácidos orgânicos e compostos de nitrogénio. As abelhas convertem esse néctar em mel através de uma série de etapas. Quando o néctar é coletado, é armazenado na vesícula nectarífera ou papo da abelha que retorna à colmeia.

Os órgãos do sistema digestivo são: papo ou vesícula nectarífera – o órgão responsável pelo transporte de água e néctar, utilizado na formação do mel. O papo possui grande capacidade de expansão e ocupa quase toda a cavidade abdominal quando está cheio. O seu conteúdo pode ser regurgitado pela contração da musculatura, movimento que propicia a desidratação do néctar, além de o conduzir para as glândulas hipofaríngeanas, onde receberá novas secreções para se transformar em geleia real. Do papo para o ventrículo ou estômago verdadeiro, só passa o necessário para a nutrição da abelha. No ventrículo acontece a digestão e processa-se a nutrição, devido a uma alta ação enzimática. A ação destas enzimas sobre o alimento prepara-o para ser absorvido no intestino delgado. As excrecções vindas do estômago juntam-se com as excreções nitrogenadas provenientes dos tubos de Malpighi e são eliminadas pelo reto.

Uma enzima chamada invertase é adicionada ao néctar enquanto está na vesícula nectarífera da abelha. A invertase converte o néctar, principalmente uma solução de sacarose, numa solução onde predominam a glicose e a frutose. 

O néctar amadurecido é depois armazenado nas alvéolos de cera de abelha, onde o teor de humidade é reduzido para 13–18% pela manipulação e ventilação das abelhas. Quando o mel está maduro, as abelhas operculam os alvéolos com cera de abelha.

Quadro com mel operculado.

Deixo duas notas finais acerca de dois erros frequentemente cometidos por quem escreve sobre as abelhas, apicultores e não-apicultores:

  • o néctar não é regurgitado pelas abelhas a partir do seu estômago, mas sim da vesícula nectarífera, um tipo de orgão dedicado, que não existe por ex. no nosso corpo e talvez por essa razão cause equívocos quando se fazem analogias apressadas sobre o local onde esteve armazenado o néctar regurgitado pelas abelhas;
  • o açucar que damos às abelhas, sob a forma de açúcar seco, em pasta ou diluído não carece ser previamente invertido para a sua digestibilidade e assimilação pelas abelhas. Assim como o néctar, que frequentemente tem uma predominância de sacarose, também o açúcar branco refinado (99% de sacarose ou mais) é quebrado por acção da invertase produzida pelas abelhas.

fontes: https://www.dpi.nsw.gov.au/__data/assets/pdf_file/0018/532260/Feeding-sugar-to-honey-bees.pdf

https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/veterinaria/morfologia-da-apis-melifera/22902

https://pt.wikipedia.org/wiki/Nectário

um inverno quente é bom para as abelhas? alguns dados

Em dezembro de 2016 publiquei a minha linha de pensamento e actuação, suportada em dados não publicados na altura, para enfrentar aqueles invernos quentes no território onde tenho os apiários (ver aqui). Escrevi na altura “As abelhas, em geral, invernam melhor quando a temperatura exterior mantém o cacho invernal tranquilo e a consumir muito pouco mel.” Nesta publicação, suportada na leitura de ScientificBeekeeping.com, chegou a altura de publicar alguns dados, números e suas inter-relações que dão suporte a este pensamento.

Cacho invernal numa colmeia com ninho e sobreninho (foto do ScientificBeekeeping.com).

Dados apresentados por Southwick (1982) indicam que as colónias de abelhas melíferas são surpreendentemente eficientes, no que respeita à necessidade de produzirem energia, com temperaturas ambiente entre os 0º e 10˚C — com um valor óptimo nos 4ºC. Fora desta faixa de temperaturas as abelhas aumentam a produção de energia e consequentemente o consumo de reservas aumenta também . O gráfico em baixo relaciona as temperaturas ambiente (eixo das abcissas) com a taxa de energia metabólica produzida, em Watts, por quilograma de abelhas (eixo das ordenadas) — um quilograma de abelhas contém aproximadamente 10 mil abelhas e este número de abelhas cobre cerca de 5 quadros do ninho no modelo Langstroth. Por exemplo, a taxa metabólica mais baixa (entre 5 e 10) é alcançada em torno dos 5ºC de temperatura ambiente.

Em baixo é apresentado o consumo estimado de mel para um aglomerado de abelhas com 2,25 Kg de peso (cobrem cerca de 10 quadros sem aglomeração de abelhas) ao longo de um período de 152 dias, de 1 de novembro a 1 de abril, na taxa metabólica indicada no gráfico acima (cálculos de Randy Oliver). O consumo de mel também aumenta muito à medida que a colónia começa a ter um bom número de larvas presente.

  • Para uma taxa metabólica de 10 o consumo invernal é de cerca de 16 kgs de mel durante o inverno;
  • Para uma taxa metabólica de 15 o consumo invernal é de cerca de 24 kgs de mel durante o inverno;
  • Para uma taxa metabólica de 20 o consumo invernal é de cerca de 32 kgs de mel durante o inverno.

Aplicação prática: de acordo com Randy Oliver, um inverno mais quente, menos amigável, ocorre por volta dos 13-16˚C, quando não está suficientemente quente para forragear, não está suficientemente frio para formar um cacho invernal compacto, mas está quente o suficiente para desenvolver muita criação precocemente. Muita energia é desperdiçada à medida que a colónia quebra o cacho formado durante a noite, a cada dia, preparando-se para uma possível e frequentemente infrutífera coleta de alimentos.

fonte: http://scientificbeekeeping.com/understanding-colony-buildup-and-decline-part-13a/

por que não temos abelhas melhores?

Vamos supor que existe um criador muitíssimo competente e que lhe compramos abelhas rainhas com excelentes características. São pouco defensivas, invernam bem, são abelhas muito produtivas e, a cereja no topo do bolo, são abelhas que resistem ao ácaro Varroa. Para o criador de rainhas a manutenção destas características não é um problema, possui um local de acasalamento bastante isolado e realiza, sempre que necessário, inseminação instrumental. 

Acasalamento em voo, em campo aberto.

Contudo as dificuldades com a preservação destas abelhas são muitas e ocorrem sobretudo depois das rainhas terem saido das mãos do criador. Numa geração ou duas, os descendentes dessas “superabelhas” estão de volta à estaca zero. Os traços criados em rainhas por via de programas de reprodução cuidadosamente controlados desaparecem rapidamente quando as filhas dessas rainhas acasalam em campo aberto, nos nossos apiários. Por que razão acontece isto?

No mundo 1 quase real, adquirimos uma rainha cuidadosamente criada e inseminada para um comportamento supressor da fertilidade/fecundidade do ácaro varroa, a sua prole provavelmente mostrará a característica desejada, e os ácaros varroa serão mantidos em números bastante baixos. Mas num determinado momento, a colónia perde esta rainha seleccionada (por substituição ou por enxameação). Deixando a natureza seguir o seu curso sem intervir, uma de suas filhas tornar-se-á a nova rainha. Ela carrega o traço desejado de sua mãe e pai, mas quando ela acasala, ela acasala com o conjunto de zângãos locais. Talvez alguns desses zângãos tenham o gene resistente ao ácaro, especialmente se alguns outros apicultores locais compraram rainhas ao mesmo criador. Mas a maioria dos zângãos não tem essa característica. Portanto, se a nova geração de abelhas mostrará resistência ou não, é um caso de probabilidade. Quase todos os genes resistentes ao varroa são recessivos, se a nova rainha acasalar 16 vezes, e apenas um ou dois desses acasalamentos ocorrerem com um zangão com genes resistentes ao varroa, teremos, no máximo, apenas duas subfamílias na colónia exibindo o traço comportamental desejado. Supondo que todas as subfamílias estejam igualmente representadas, seria cerca de 1/8 das abelhas ou 12,5% – percentagem muito baixa para manter o varroa debaixo de controlo.

A chave para manter um traço
recessivo num ambiente local é
a saturação das zonas de
congregação do território com
zângãos com os genes desejados.

No mundo 2 menos real, imaginemos que com muito esforço e persistência conseguimos saturar a zona com os nossos zângãos resistentes. Mas um novo apicultor instala nas proximidades 250 colónias sem o traço resistente. Temos 250 rainhas, cada uma pondo 1.000 ovos por dia nos meses de abril, maio e junho. Se 15% dessa postura são zângãos, então temos (250 x 1000 x 90) x 15%, contas feitas, 3 milhões e 375 mil zângãos na nossa área durante aquele período de três meses. E estes são apenas os zângãos dos novos enxames ali instalados, não são considerados outras colónias domésticas ou ferais ali instaladas. E cada um destes zângãos não resistentes está ansioso para acasalar com as rainhas da nossa linha resistente. Estes são números aproximados, obviamente.

A mensagem é clara. Se levarmos uma rainha resistente ao varroa para uma área onde há muitas abelhas, mas pouca resistência ao varroa, a característica rapidamente desaparecerá. Em resumo, um apicultor persistente com muitas colónias pode alterar significativamente o pool genético a seu favor. Mas se uma área é constantemente bombardeada com abelhas vindas de outros lugares, é extremamente difícil desenvolver e manter uma linha resistente. Isso exigirá tempo, esforço e planeamento. Não digo que não devemos tentar criar abelhas melhores. Mas precisamos entender que é uma uma longa leira para cavar à enxada, que pode ser difícil imitar o sucesso de outros e que as características resistentes são difíceis de manter. Por causa da biologia única das abelhas, pode demorar muito para vermos uma mudança substancial.

Nota 1: decidi elaborar a partir de um traço, comportamento resistente ao varroa, porque, tanto quanto sei, não há criadores de rainhas em Portugal a referirem explicitamente que estão a seleccionar para este traço. O que menos desejo é ferir susceptibilidades de natureza comercial. Ainda assim espero que a mensagem para os apicultores mais inexperientes e menos conhecedores tenha sido clara o suficiente para que compreendam melhor dois aspectos:

  • comprando rainhas seleccionadas, a baixa probabilidade de manterem esses traços desejados nas suas abelhas ao longo das sucessivas gerações através de fecundações naturais;
  • as exigentes condições que os criadores de rainhas têm de garantir para poderem reclamar que estão a selecionar para este ou aquele traço e fornecer o mercado com rainhas rigorosamente seleccionadas.

Nota 2: Publicação inspirada em leituras antigas do blog HoneyBeeSuite.

a humidade no interior de uma colmeia quando faz frio cá fora

Na sequência desta publicação, com uma das mensagens centrais a frisar que as abelhas, quando aglomeradas/em cacho nos dias mais frios, se aquecem entre si e nada fazem/conseguem para aquecer o espaço vazio da colmeia, vejamos agora com algum detalhe o que se sabe acerca da produção de humidade/água e da condensação do vapor de água no interior de uma colmeia nos dias frios de outono/inverno.

No inverno, as abelhas geram calor “queimando” o mel que armazenaram, ou seja, digerindo-o e usando a energia resultante para flectir os seus músculos de voo, para produzir e emitir calor. Nos dias frios, elas formam um aglomerado compacto (cacho invernal de abelhas) para manter o calor dentro do mesmo; elas não aquecem a colmeia, apenas o seu cacho.

Para muitos apicultores, é uma prática comum colocar uma camada espessa de algo* no topo da colmeia, no interior, para “absorver a humidade” que é produzida pela respiração das abelhas durante o inverno. O objetivo dessa camada absorvente é evitar que a água se condense no topo da colmeia, pingando e molhando as abelhas, resfriando-as e destruindo a colónia por congelamento.

A água vem da ‘combustão’ do mel; os produtos da combustão são dióxido de carbono (CO2) e água (H2O). A água é exalada como vapor e condensa-se nas paredes frias e no topo da colmeia.

Na opinião de vários apicultores com experiência a água produzida pelo processo digestivo das abelhas durante o inverno é tanta que nenhuma quantidade razoável de material absorvente poderá absorvê-la. Em vez disso, o que acontece é que a camada espessa de “algo” actua como isolamento, evitando a condensação no topo da colmeia, de modo que o condensado se forma apenas nas paredes da colmeia, onde congela ou escorre pelas paredes, sem prejuízo neste caso. […]

As abelhas ao consumir cerca de 18 kgs de mel geram cerca de 12 litros/Kgs de água. As abelhas metabolizam os açúcares, de acordo com o seguinte equação: C6H12O6 + 6 O2 → 6 CO2 + 6 H2O.

Quando fazemos as contas, o metabolismo do açúcarpor cada quilograma de mel produz 6/10 de Kgs de água. Adicionemos a isso 17% de água líquida já presente no mel, e acabamos com aquele quilograma de mel transformando-se em 2/3 de Kgs de água (inicialmente mantida no interior do corpo das abelhas). As abelhas no cacho não podem conviver com este excesso de água por um longo período de tempo sem prejuízo para a sua saúde — está associado a desinteria e nosemose — e têm de lidar com ele de alguma maneira.
Sabemos que as abelhas reciclam cerca de ¾ deste excesso de água
na saliva para diluir o próximo quilo de mel para seu consumo, mas isso
não resolve completamente o excesso ganho a cada semana e que ainda precisa para ser tratado de alguma forma.


Lembremo-nos que que esta água é produzida na forma de vapor, ao longo de vários meses de inverno. Presumivelmente, grande parte dele é removido da colmeia com a saída do ar, pois é substituído por ar fresco. No entanto, se o vapor de água entrar em contato com uma superfície interna fria antes de sair da colmeia, ele se condensará, se liquefará e talvez congele.

A superfície interna da colmeia é fria no inverno; não há como evitar isso, e o vapor de água se condensará em superfícies frias. Se essa condensação fria pingar sobre o cacho invernal formado pelas abelhas, será bastante prejudicial. Podemos evitar isto tendo um pequeno orifício de ventilação próximo do topo da colmeia para permitir que o ar carregado de humidade se escape e isolando fortemente o topo da colmeia para que a humidade se condense nas paredes da colmeia, não no seu topo.

fontes:

  • https://www.beeculture.com/wait-much-water/
  • Randy Oliver (Bee-L (11-10-2020))

* Alguns apicultores utilizam como absorventes da humidade, por exemplo, cobertores, ou jornais, ou serradura colocados em tabuleiros dedicados no lugar das pranchetas convencionais.

o envelhecimento das abelhas: alguns aspectos

O nascimento das primeiras abelhas de inverno ocorre sobretudo no final do verão e início do outono, isto é, entre agosto e outubro. Segundo alguns estudos (Merz et al. 1979; Imdorf et al. 2010) uma boa parte destas abelhas de inverno nasce em setembro. Também por esta razão, as nossas colónias devem estar desparasitadas do varroa por esta altura.

Enquanto as abelhas de verão vivem cerca de 35-40 dias em média, as abelhas de inverno vivem cerca de 180 dias. Aspectos de natureza genética, fisiológica, morfológica e ambiental explicam esta diferença. Por exemplo abelhas da sub-espécie ligústica vivem menos tempo em média que abelhas da sub-espécie cárnica (efeito genético); abelhas com mais hormona juvenil na hemolinfa (abelhas de verão) vivem menos tempo que abelhas com menos hormona juvenil (abelhas de inverno). Morfologicamente as abelhas de inverno distinguem-se das abelhas de verão no tecido adiposo, maior nas primeiras que nas segundas.

Tecido adiposo de uma abelha de inverno (à esquerda) e de uma abelha de verão (à direita).


Mas são as variáveis de natureza ambiental que apresentam um impacto mais profundo no tempo de vida expectável das abelhas (Imdorf et al. 2010). E aqui o termo ambiental engloba não apenas as condições ambientais externas à colmeia (a metereologia, por ex.), mas também as condições ambientais internas, como a presença ou ausência de criação para alimentar nos meses de final de verão e início do outono. Analisemos mais aprofundadamente este dado que, no meu ponto de vista, apresenta um grande interesse e implicações práticas acerca das benesses e prejuízos que podem advir da utilização de alimentação estimulante no final do verão/início do outono.


Creio que todos nós, apicultores com alguns anos de abelhas, já pudemos observar que uma colónia zanganeira, livre de cria, não perece habitualmente em poucas semanas, pelo contrário pode sobreviver por vários meses. Dados experimentais têm mostrado que as abelhas em colónias sem cria (colónias com rainha enjaulada, por ex.) vivem muito mais e exibem características fisiológicas típicas de abelhas longevas de inverno. Fluri e Imdorf (1989) testaram os efeitos no desenvolvimento de colónias com paragem de desova entre 13 de agosto e 18 de setembro. As colónias com paragem de desova criaram 6.000 abelhas a menos do que o grupo de controle e tiveram em média 1.800 abelhas a menos que hibernaram por colónia. À saída do inverno, a força média das colónias foi no entanto muito semelhante nos dois grupos de colónias. Isso sugere que durante uma paragem de desova no final do verão/início do outono, uma grande parte das abelhas se transforma mais cedo em abelhas de inverno de vida mais longa. Estas observações levaram à hipótese de que o cuidado com a criação encurta a expectativa de vida. Em 1985, Wille, H. e colegas demonstraram que a criação intensiva de cria é sinónimo de redução da expectativa de vida das abelhas. O mesmo concluíram Westerhoff e Büchler (1994): cuidados mais intensivos com a criação podem explicar dois terços da redução na expectativa de vida das abelhas.

Ligando os pontos, julgo que estou em condições de poder dizer que a alimentação estimulante não é necessariamente um bem absoluto e a utilizar como regra, especialmente neste período de fim de verão/início de outono. Podemos estar, em muitas circunstâncias e vários locais, a envelhecer prematuramente e desnecessariamente as abelhas adultas já presentes nas nossas colónias ao obrigá-las a criar em excesso novas abelhas. No que me diz respeito não me lembro de ter utilizado alguma vez alimentação estimulante nestas alturas do ano, no meu território, onde não tenho pressão de velutinas nem florações nectaríferas importantes no inverno. Nunca me pareceu que fizesse qualquer falta, e cedo aprendi a conviver e a achar natural o decréscimo populacional de uma colónia de abelhas nesta época do ano. Numa ou outra fico na dúvida se passará o inverno, e em regra até passam desde que tenham alimento suficiente (natural ou artificial na forma de pasta).

Resumindo, as abelhas de inverno para serem longevas devem nascer num ambiente desparasitado (com poucas varroas e vírus) e devem ser libertadas da tarefa de alimentar um excesso de criação provocado por uma alimentação artificial inoportuna.

pobres rainha de emergência revisitado

Por feitio e defeito procuro conhecer o mais e melhor possível o que a perspectiva científica me pode dar acerca das minhas opções no domínio da minha profissão de apicultor. Assim o faço em relação à sanidade dos enxames, em particular a varroose, à criação de rainhas de qualidade sem recurso ao translarve, entre mais uns poucos de assuntos. Relativamente à criação de rainhas de qualidade sem recurso ao translarve coloca-se frequentemente a questão da idade das larvas que as abelhas seleccionam para criar as suas rainhas. Existe em muitos apicultores uma arreigada convicção que numa condição de orfanação súbita do enxame promovida pelo apicultor através, por exemplo, da divisão/desdobramento do enxame as abelhas escolhem larvas com 6 ou mais dias de idade, contados a partir da oviposição. Serão estas rainhas de má qualidade, que nascerão antes de todas as outras, matarão as suas irmãs ainda dentro dos mestreiros, que serão as rainhas entronadas. Apicultores de renome como por exemplo Jay Smith, C.C. Miller, Michael Bush, com base nos seus muitos anos de experiência e observações feitas nos seus apiários, não alinham com esta ideia-feita. Segundo eles, as abelhas escolhem e seleccionam os melhores mestreiros e as melhores rainhas de emergência disponíveis naquele enxame em concreto. Bem, pode sempre dizer-se que apesar dos atributos destes perspicazes apicultores, faltou-lhes condições mais controladas e verificáveis para dar outra confiabilidade às suas conclusões. Certo e pertinente.

E esses estudos controlados e verificáveis têm vindo a surgir… e, saliento, a confirmar as ideias destes ilustres apicultores. Por exemplo este estudo, publicado em 1999, deixa bem claro que as abelhas numa condição de emergência criaram apenas rainhas a partir de ovos/larvas que, no momento da orfanação, tinham 1 a 5 dias de idade. Com mais detalhe, a maioria das rainhas foram criadas a partir de indivíduos que eram ovos  no dia da orfanação (69,2%), e cerca de metade destes eram ovos de 48-72 horas de idade (34,1 %).

Este outro estudo, que conheço há uns anos (http://www.cyfronet.krakow.pl/~rotofils/Tofilski_Czekonska2004.pdf), publicado em 2004 na prestigiada revista Apidologie, tornou-se uma referência nesta linha de investigação pelo rigor e a elegância metodológica. Em boa medida confirma os dados recolhidos do estudo anterior: a idade média dos indivíduos a partir da qual os mestreiros foram construídas foi de 3,0 dias. A idade da criação que deu origem a rainhas nascidas/emergidas foi de 3,4 dias (a idade é contada a partir do dia em que se deu a oviposição). Apenas um número residual de mestreiros foram construídos a partir de larvas com 6 dias, a contar da oviposição, e acabaram por ser destruídos mais adiante pelas abelhas.

Duas notas muito interessantes e importantes que expressam bem o comportamento selectivo das abelhas para garantir as melhores rainhas possíveis em situação de emergência:

  • A maioria dos mestreiros (60,3%) foi destruída pelas abelhas, 17,6% antes da sua operculação e 42,7% após a sua operculação;
  • Enquanto as rainhas abrem um pequeno buraco na parede lateral do mestreiro para picar a sua irmã concorrente antes desta emergir, as obreiras abrem um buraco muito maior na parede lateral e, em vez de picarem a rainha, removem-na do mestreiro. Noutras circunstâncias as abelhas não permitem que rainhas recém-emergidas andem livremente pelo ninho e destruam as suas irmãs concorrentes por emergir.

Tenho para mim que a eventual falta de qualidade das rainhas de emergência se deve em grande medida à incompetente acção do apicultor (e tantas vezes já cometi acções incompetentes com as minhas abelhas) ao deixar um número insuficiente de abelhas, com a idade inadequada e numa caixa com poucas reservas/alimento a criar essas rainhas.

melhoramento de abelhas: facto ou ficção?

O Dr. Keith Delaplane, investigador da Universidade da Geórgia, pergunta nesta palestra dada a 9 de fevereiro de 2013, na Associação de Apicultores do Estado de Indiana, se o melhoramento de abelhas é um fato ou uma ficção.

K. S. Delaplane vai apresentando ao longo desta palestra um conjunto de questões e afirmações relativamente surpreendentes/provocatórias (porque provocam reflexão). Destaco estas:

  • pergunta quão bem sucedido tem sido a selecção e melhoramento de abelhas nas últimas décadas?
  • pede à sua audiência para comparar a tinta que foi gasta, o tempo gasto a pensar, falar, escrever, a investigação que foi levada a cabo com o produto final do processo de melhoramento (a abelha) para solucionar os maiores problemas da apicultura actual;
  • refere, que o que vemos e ouvimos é que “estamos a caminho”, “estamos a caminho”, “estamos a caminho”… e que um dia destes chegaremos lá (ironicamente!);
  • anuncia que não está ali para denegrir os programas de melhoramento de abelhas, e que concorda que se deve investir nestes programas, mas questiona-se se estes programas não estão a ignorar áreas importantes da biologia da abelha?
  • a biologia actual é cada vez mais uma “ciência dura”, sustentada na investigação genética e na estatística, e que visa responder a questões muito simples como esta: quando o gene G1 está presente ocorre “sempre” aquele comportamento C1?
  • O estudo da biologia das abelhas nos dias de hoje é muito isto: que genes estão presentes nos cromossomas e como esta “informação” é expressa no comportamentos das abelhas, como por ex. comportamento higiénico, comportamento defensivo, comportamento de forrageamento, comportamento anti-varroa, …?
  • na ordem himnoptera (onde estão incluídos os insectos em geral e as abelhas em particular) há indivíduos hemozigóticos com apenas metade do genoma, no caso que nos interessa os zângãos;
  • existem basicamente três programas diferentes de melhoramento de abelhas: a) selecção materna/com acasalamento livre (do tipo “eu gosto desta colónia, vou seleccionar/melhorar a partir das suas larvas”); b) melhoramento através do acasalamento de indivíduos híbridos (heterozigóticos) com indivíduos puros (homozigóticos); c) melhoramento pelo acasalamento de populações próximas/fechadas (o programa mais sofisticado dos três );
  • os dois primeiros programas funcionam até um certo ponto mas não são suficientemente poderosos para seleccionar para um traço específico, como por ex. a resistência à varroa;
  • para seleccionar para traços específicos o programa mais adequado é o c (melhoramento pelo acasalamento de populações próximas). É um programa de compromisso entre seleccionar para um traço, sem correr o risco de estreitar demasiado o “pool” genético; contudo é um programa que funciona até 20 gerações para a frente… depois começam a surgir os problemas com a homozigose recessiva/consanguinidade (por ex. criação em mosaico);
  • K. Delaplane levou a cabo um programa de melhoramento pelo acasalamento de populações próximas e ao longo de 5 anos para conseguir o que ele chama uma abelha perfeita para os dias de hoje: uma abelha prolífica e ao mesmo tempo muito resistente a doenças e ao ácaro varroa;
  • refere que este programa é muito exigente e complexo a vários níveis se feito de forma séria: envolve equalização rigorosa das colónias no início do programa, medições rigorosas dos comportamentos desejados, priorizar os comportamentos desejados, transformar dados de escalas diferentes numa escala única (“z score”); criar um índice de seleção;
  • No final dos 5 anos do programa de melhoramento com a estratégia acasalamento de populações próximas Delaplane apresenta as conclusões: para o traço comportamento higiénico os resultados foram inconsistentes; para o traço área de criação os resultados foram bons com melhoria leve mas consistente; para o traço compacticidade da criação os resultados mantiveram-se estáveis ao longo dos 5 anos, não melhoraram mas também não pioraram; para o traço resistência à varroa os resultados foram muito desanimadores, não se verificaram melhorias consistentes, verificaram-se avanços e retrocessos ao longo dos 5 anos;
  • K. S. Delaplane acaba a dizer com algum desânimo que passados 5 anos de um trabalho muito sério, utilizando o programa de melhoria de abelhas mais sofisticado que dispomos na actualidade… selecionar para uma abelha melhor não conseguiu mostrar grande coisa, não conseguiu uma abelha geneticamente melhorada;
  • O investigador está a pensar numa outra hipótese/estratégia de trabalho: assentar o programa de melhoria numa característica da espécie, o acasalamento poliândrico. O caminho não é estreitar o “pool genético”, é alargar a diversidade genética. Os genes que desejamos são raros e recessivos, e podem estar presentes de forma homozigótica/recessiva em várias sub-famílias de abelhas numa colónia naturalmente poliândrica;
  • K. S. Delaplane conclui a sua apresentação afirmando: é possível seleccionar para o melhoramento de determinados traços nas abelhas; reter e propagar esses traço ao longo de várias gerações tem-se mostrado muito difícil; o produto (abelha) alcançado com os programas de melhoramento não tem sido suficientemente interessante; a poliandria é central na história evolutiva da abelha melífera; os dois programas de melhoramento, o poliândrico (natural) com a selecção para traços (o manipulado pelo homem) são compatíveis.

Pelo menos assim o deseja K. S. Delaplane, que nesta apresentação complexa apresentou os limites dos actuais programas de melhoramento de abelhas, a falta de resultados interessantes para os apicultores. Deixa, contudo, uma porta aberta para um caminho que se está a iniciar. Sem marketing ilusório, sem garantias que a “abelha perfeita” está logo ali ao virar da esquina, apenas a promessa de trabalho sério e honesto pela frente.