Bob Binnie entrevista: tratamento da varroose com ácido oxálico

Grato ao Nuno Cascais por me ter chamado a atenção para este conjunto de entrevistas conduzidas pelo apicultor norte-americano Bob Binnie a dois investigadores da Universidade do Estado da Georgia. Jennifer Berry e Lewis Bartlett estão a conduzir esta investigação sobre o tratamento da varroose com recurso ao ácido oxalico. O meu interesse pelos tratamentos com ácido oxálico não é de agora (ver aqui e aqui). Contudo, o aumento substancial de apicultores a recorrerem a este químico simples para fazerem os tratamentos tem provocado um interesse cada vez maior nos investigadores. E assim, os estudos controlados que têm surgido recentemente ajudam-nos a compreender melhor as virtudes e limitações desta opção com o ácido oxálico.

Em baixo elenco um conjunto de dados e conclusões que estes dois especialistas têm retirado nos seus ensaios com a utilização de ácido oxálico:

  • ao contrário de Randy Oliver, que no clima quente e seco do norte da Califórnia, tem tido sucesso com os dispensadores lentos de ácido oxálico, isto é, com os suportes celulósicos com uma mistura de glicerina e ácido oxálico, no clima quente mas húmido da Geórgia os dispensadores celulósicos não são efectivos no controlo/abaixamento do número de varroas de acordo com os resultados obtidos por esta equipa de investigadores; a ecologia do local, em particular a maior humidade relativa do ecossistema do estado georgiano, parece estar na causa desta pouca efectividade, associado ao facto de neste estado as colónias terem criação presente ao longo de 12 meses, ou próximo disso;
  • outro aspecto que esta equipa testou foi o regime de tratamentos utilizado. Por exemplo vaporizaram com ácido oxálico as colónias num regime de 7 vaporizações com 5 dias de intervalo entre vaporizações; conseguiram estabilizar o número de varroas mas não conseguiram que a população de varroas decrescesse até números abaixo do limiar de danos económicos, isto é menos de uma varroa por cem abelhas adultas;
  • o pressuposto de que todas as colónias têm a mesma taxa de infestação no início dos tratamentos e, consequentemente, a mesma taxa de infestação no final do tratamento não é realista. Nesta publicação “arrisquei a pele” dizendo isto mesmo; é reconfortante ouvir agora a Jennifer Berry defender basicamente o mesmo: monitorizar sim, mas monitorizar todas as colónias porque todas as colónias apresentam à partida do tratamento e no final do tratamento diferentes taxas de infestação;
  • numa abordagem de Gestão Integrada de Pragas estas opções com ácido oxálico e neste contexto, presença de criação durante quase todo o ano e clima quente e húmido, podem não servir os objectivos dos apicultores;
  • Binnie coloca a questão sobre a extensão do período forético/fase de dispersão, se este pode ser inferior a 4 dias. Resposta: esqueçam tudo o que julgam saber. Pode ser menos de 4 dias. Como já referi em publicações anteriores, em laboratório, Rosankranz e colegas, identificaram varroas com um período forético de cerca de um dia;
  • o conceito tão caro à Gestão Integrada de Pragas de apenas tratar as colónias que atingiram o limiar de dano económico (2 a 3% de infestação de abelhas adultas) deve ser revisto. O “super-organismo” é o apiário todo, não a colónia. Os fenómenos de deriva, de pilhagem, os zângãos vagabundos, permite às varroas viajarem rapidamente entre colónias do mesmo apiário e entre colónias de apiários diferentes. Quando se identifica uma colónia que ultrapassou o limiar de dano económico devem tratar-se todas as colónias desse apiário;
  • com os métodos mais comuns de monitorização dos níveis de infestação, como a lavagem de abelhas adultas para fazer soltar os ácaros ou a queda destes em cartolinas/tabuleiros colocados no fundo das colmeias, podemos não obter uma boa representação, um número fidedigno, do nível de infestação das colónias.

2 comentários em “Bob Binnie entrevista: tratamento da varroose com ácido oxálico”

  1. Viva Eduardo,
    trata-se duma informação muito valiosa de facto.
    A região onde se localizam os meus apiários (Alentejo interior), é local muito quente e seco.
    No Verão chegam a fazer 43º.
    Este ano segui os seus concelhos e apliquei nalgumas colmeias (cerca de 40) as tiras de ácido oxálico na primeira quinzena de Julho e dei-me bem. Destas não morreu nenhuma, mas tive a necessidade por precaução de aplicar apivar, já em Outubro. Não monitorizei antes da aplicação porque não tive tempo. Mas até agora resultou bem.
    Por norma trato com apivar em meados de Fevereiro. Tenho receio de abrir as colmeias antes em virtude das temperaturas e faço a segunda aplicação no princípio de Julho após a cresta que nesta zona ocorre em finais de Junho. Nesta data já está tudo completamente seco.
    À cerca de 20 anos um tratamento anual parecia ser suficiente mas actualmente, atendendo ao aumento da adaptação da varroa e à virulência crescente, dois tratamentos anuais são manifestamente insuficientes.
    No próximo ano vou tentar fazer um tratamento intermédio por alturas de Abril/Maio e atrasar 15 a 20 dias o terceiro tratamento.
    Pelo andar e já não falta muito pouco vamos passar o ano inteiro a tratar da varroose.
    Parabéns uma vez mais pelo excelente trabalho desenvolvido.
    Luis Lopes

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