ciclo evolutivo das três castas de abelhas

No quadro em baixo podemos ver o ciclo evolutivo das três castas de abelhas.

 TEMPO
OPERÁRIA
RAINHA
ZÂNGÃO
1º ao 3º dia Ovo Ovo Óvulo
Eclosão do ovo Eclosão do ovo Eclosão do ovo
3º ao 8º dia Larva Larva Larva
Larva Célula operculada Larva
8º ao 9º dia A célula é operculada; a larva tece o casulo A larva tece o casulo A célula é operculada: a larva tece o casulo
10º ao 10º 1/2 dia Pré-pupa Pré-pupa Tece o casulo
11º dia Pré-pupa Pupa  Pré-pupa
12º dia Pupa Pupa  Pré-pupa
16º dia Pupa Inseto Adulto Pupa
21º dia Inseto Adulto  –
24º dia Inseto Adulto
1º ao 3º dia  Incubação e limpeza Rainha Jovem Vive na colmeia
4º dia Começa a alimentar as larvas Rainha Jovem Vôos para fora
5º dia Alimenta as larvas Vôo nupcial Procura rainha para fecundar
5º ao 6º dia Alimenta as larvas jovens, produz geléia real faz os primeiros vôos para fora A rainha é alimentada Procura rainha para fecundar
8º ao 12º dia Produz geleia real, produz cera, faz os 1ºs vôos de reconhecimento A rainha começa engordar Se acasalar, morre
13º ao 19º dia Trabalhos de campeira Inicia a postura Se acasalar, morre
21º ao 30º dia Campeira Põe ovos Se acasalar, morre
31º dia Campeira Põe ovos Morre
31º ao 45º dia Coleta pólen e néctar Põe ovos
55º dia Morre Põe ovos
720º – 1450  – Pode voar com todas as abelhas mais velhas, no processo de enxameação. Morre  –

o vírus das asas deformadas e abelhas de inverno

20141008-0032-150x150

Fig. 1:  Abelha infectada com o vírus das asas deformadas

O vírus das asas deformadas (VAD) é um vírus comum nas colónias de abelhas melíferas, amplamente distribuído e intimamente associado com os ácaros varroa. A prevalência do VAD nas colónias de abelhas melíferas está diretamente ligado à infestação pela varroa. Nas colónias fortemente infestadas pela varroa, quase 100% das abelhas obreiras podem estar infectados com o VAD, mesmo que estas não apresentem sintomas. O VAD está fortemente associado à mortalidade de colónias no inverno. O controle do VAD é geralmente conseguido com o tratamento contra a varroa. Após o tratamento eficaz o apicultor assiste a uma diminuição gradual do VAD umas vez que as abelhas infectadas são substituídas por outras saudáveis. O VAD pode ser encontrado em todas as castas e nas diversas fases da vida das abelhas. O VAD também é transmitida através de alimentos, fezes, da rainha para os ovos e a partir dos zângãos para a rainha.

search

Fig. 2: Criação afectada pelo ácaro da varroa e pelo VAD (as larvas distorcidas nos alvéolos podem confundir o apicultor e levá-lo a pensar estar na presença de loque europeia dada a semelhança dos sintomas apresentados pelas larvas).

Os sintomas observados em infecções agudas incluem a morte precoce de pupas, asas deformadas, abdómen atrofiado, descoloração da cutícula das abelhas adultas, que chegando a nascer morrem dentro de poucos dias, fazendo com que a colónia possa eventualmente entrar em colapso num período muito curto de tempo, podendo ser confundido com o famoso Colapso/Despovoamento súbito de colmeias.

O VAD também pode ainda afetar a agressividade das abelhas assim como a memória e aprendizagem de comportamentos nas abelhas adultas. Para que o apicultor possa minimizar a presença e todos os efeitos perniciosos do VAD nas suas colmeias só tem uma saída no momento actual da ciência: diminuir para níveis muito baixos a infestação pelo ácaro varroa. Mais, a infestação da varroa deve ser reduzida nas colónia antes que produzam as abelhas de inverno, o que requer um bom timing de controle da varroose nos apiários. Nas regiões interiores do nosso país as abelhas de inverno são criadas, em regra, nos meses de Agosto a Outubro. Estes 2 a 3 meses requerem ao apicultor uma vigilância e atenção grandes em torno dos níveis de infestação pelo ácaro varroa pré e pós-tratamento. Só as colónias com baixos índices de infestação pela varroose nestes meses conseguirão ultrapassar os invernos típicos no interior do nosso país.

fonte principal: Honey Bee Viruses, the Deadly Varroa Mite Associates

luta contra a Varroa destructor: comparando os medicamentos MAQS ™, HopGuard® e ApilifeVar®

Da análise dos resultados deste estudo/ensaio técnico conduzido na Alsácia (França) rapidamente se constata a grande variabilidade de eficácia obtida com a utilização de três acaricidas orgânicos. Cito:

“As eficiências obtidas foram altamente variáveis de uma colmeia para outra:

  • ApiLifeVar® (3 aplicações com 1 semana de intervalo): 73% de eficiência * (± 17% de Desvio Padrão) ;
  • MAQS ™ (1 aplicação): eficiência de 49% (29% ± SE). As variações na eficácia entre colmeias são importantes (variam na eficiência de 97% para 7%).
  • HopGuard® (3 aplicações com 1 semana de intervalo): eficiência de 29% (15% ± SE). Este medicamento é administrado nos EUA como um tratamento eficaz no inverno (sem criação/postura). Neste teste, utilizou-se com criação, multiplicando aplicações.”

fonte: Essai technique 2013 : comparaison MAQS™, HopGuard® et ApilifeVar® – Conseiller apicole – Chambre Agriculture de Région Alsace 

Quer o ApiLifeVar quer o MAQS  fazem parte do menu de acaricidas homologados no nosso país na luta contra a varroose. Desse menu fazem parte também outros acaricidas orgânicos assim como sintéticos. Neste aspecto a DGAV está a seguir as melhores práticas recomendadas pelo comité Europeu de Veterinários, a saber, homologar e disponibilizar aos apicultores a maior diversidade possível de princípios activos.

Apetece-me dizer com base nos resultados destes ensaios comparativos na Alsácia que ainda bem que dispomos de outros orgânicos e sintéticos para além do ApiLifeVar e do MAQS  porque a variabilidade de eficiência que os resultados demonstram neste ensaio não são para deixar quem quer que seja tranquilo. Se para alguns de nós estes acaricidas  fazem parte do plano A, será muito confortável ter outras famílias de acaricidas disponíveis para que um eventual plano B seja posto em marcha.

Em conclusão, julgo que neste particular a DGAV está a fazer o que deve ser feito alargando cada vez mais o menu de acaricidas disponíveis e homologados, seja a sua natureza sintética ou orgânica. Em sentido contrário vão alguns países europeus, como por exemplo na Áustria, onde se restringiu os homologados a uns poucos medicamentos orgânicos, e que nos últimos anos tem aparecido entre os países com os índices mais elevados de mortalidade invernal de colónias de abelhas (ver COLOSS). E como bem sabemos a mortalidade invernal tem por detrás um protagonista principal: o ácaro varroa.

mistura de meis UE e não UE

A concorrência dos méis de origem duvidosa, que as nossas autoridades e as autoridades de outros países permitem que sejam rotuladas como todos nós sabemos de “mistura de méis UE e não UE”, tem nos últimos anos distorcido o mercado do mel na Europa e noutras zonas do mundo (EUA e Canadá, por ex.).

Há alguns dias atrás apicultores portugueses em Lisboa e apicultores espanhóis em Mérida manifestaram-se publicamente nas ruas destas duas cidades exigindo aos respectivos governos que mudem as regras do jogo e que legislem no sentido de a rotulagem do mel indicar de forma clara e inequívoca os países de origem deste mel que se encontra à venda um pouco por todo o lado. Actualmente é o Decreto-Lei nº 214/2003 que regulamenta a rotulagem do mel.

A justeza desta exigência numa sociedade avançada e madura democraticamente faz todo o sentido uma vez que os consumidores devem ser informados com clareza acerca da origem e características dos produtos que são colocados ao seu dispôr nas diversas superfícies comerciais.

Não tendo uma bola de cristal para adivinhar o futuro, prevejo no entanto que estas iniciativas, ainda que justas e pertinentes torno a dizer, poderão esbarrar naquilo que alguns chamam de “real politic” ou a “diplomacia dos interesses”. Temo que que os nossos governantes fingindo dar-nos atenção irão adiar uma e outra vez a reposta ao problema. Julgo mesmo que esta é uma questão que só poderá ser resolvida no âmbito europeu com legislação de Bruxelas, porque a norma actual é europeia também. Por outro lado se os chineses continuam a injectar no país muito capital através de aquisições imobiliárias, se o governo procura estimular o investimento chinês nos sectores produtivos da nossa economia, se temos o NovoBanco para vender e os chineses estão na corrida, se os chineses têm uma. forte presença noutros sectores relevantes para a economia nacional, porque razão iria o governo português comprar uma quezília com os chineses por causa dos rótulos de frascos de mel? Poderá acontecer uma cena bíblica, como a de Davide e Golias; mas isso só acontece uma vez, e os apicultores não têm a mão de Deus por trás como teve Davide e a China é muito maior que Golias. Ou muito me engano, e quero enganar-me, ou tudo isto dará uma boa história para alguns contarem mas de frutos nada. Não deveremos preparar um plano B no caso deste falhar? Porque a solução não é ficar de braços cruzados, claro que não. Sugiro portanto o apoio do estado para uma campanha nos canais de comunicação social por ele tutelados (rádio e televisão públicas) para a importância do consumo do mel e particularmente do mel nacional, a exemplo da campanha que foi feita para o sector do leite.

A juntar a esta campanha que estará sempre dependente da boa vontade e interesse de terceiros  julgo que nós próprios podemos fazer mais do que fizemos até agora para alertar os consumidores. Porque não colocar um contra-rótulo nas costas dos frascos de nosso mel nacional e que colocamos no mercado a chamar a atenção dos consumidores para evitar consumir mel que não identifique claramente os países de origem do mesmo e sensibilizar os consumidores para que prefira o mel nacional porque as abelhas dos outros países não polinizam as árvores e flores de Portugal.

Fica este espaço em aberto para sugestões que possam estimular o consumo do nosso mel, e se andar por aí alguém com formação em Direito que nos diga por favor se podemos “contra-rotular” nos termos que eu sugiro.

Este post foi inspirado no Monte do Mel e pelo post do António Marques acerca do seu encontro de 3º grau com uma mistura de meis UE e não UE numa casa de turismo rural no nosso país (ver http://montedomel.blogspot.pt/2016/10/turismo-rural-descaracterizado.html) e no post do Afonso no Abelhas do Agreste acerca da manifestação em Lisboa.

a reprodução da varroa nos meses de fevereiro a agosto

Começando por alguns factos e concluindo com um cenário ou uma projecção com base nos factos:

Os factos:

Um ciclo de reprodução de varroas produz, pelo menos, 1,45 novas fêmeas se criadas em larvas de obreira; pelo menos 2,2 novas fêmeas  se criadas em larvas de zângãos, larvas mais atraentes para a varroa.

A reprodução da varroa ocorre nos alvéolos fechados/operculados e dura 12 ou 14 dias, se em larvas de obreiras ou de zângãos respectivamente. A maioria das varroas sexualmente maduras apresentam 3 ou 4 ciclos reprodutivos sucessivos durante a sua vida.

A duração da fase forética entre 2 ciclos reprodutivos é variável. Uma fêmea nova amadurece durante 7 dias, em média, na sua primeira fase forética (mínimo de 5 até 14 dias) antes de infestar uma larva e levar a cabo o seu primeiro ciclo reprodutivo. Muito importante: no entanto, a fase de forética não é vital, e subsequentemente passa a depender, principalmente, da disponibilidade de larvas próximas a ser infestadas e na fase adequadas do seu desenvolvimento.

O tempo de vida útil do parasita é adaptado ao ciclo de vida da abelha. Uma fêmea pode viver entre 1 e 2 meses no verão e entre 6 a 8 meses durante o inverno, na ausência de criação.

Infestação: na temporada apícola, as larvas de zângão são muito mais fortemente infestadas do que as larvas de obreiras (8 a 10 vezes mais). O impacto e nível de infestação é, portanto, menos perceptível, exceto quando a criação de zângãos diminui, provocando, assim, uma transferência em massa da população das varroas em direção à criação de obreiras, o que tem um impacto súbito numa única geração de obreiras e pode levar ao colapso da colmeias quando o nível de infestação é muito alto (facto de importância crítica, nunca o esquecer).

(fonte: http://www.veto-pharma.com/products/varroa-control/about-varroa-mites/)

Agora o cenário…

Começando com uma varroa na nossa colmeia a 1 de Fevereiro, no dia 12 fevereiro temos a mãe e mais uma filha. No dia 1 de março (5 dias na fase forética e 12 dias a reproduzir-se nas larvas das obreiras), temos as duas mães e mais duas filhas, 4 no total. Se considerarmos que a mãe original está no fim da vida passados estes 30 dias temos 3 varroas na nossa colmeia. Antes do início da temporada de criação de zângãos a varroa triplica os seus números a cada trinta dias (perspectiva conservadora).

Mas em abril as nossas colmeias começam a criar zângãos e as 3 varroas vão desenvolver a sua prole nesta casta de larvas. Tudo se irá acelerar. Passados 19 dias (5 dias da fase forética e 14 nas larvas de zângão) as três varroas presentes no início de abril deram origem a 6 novas filhas. Temos agora nove varroas na nossa colmeia. Num período de 19 dias o número de varroas triplicou. Por volta de 8 de maio temos cerca de 30 varroas. Antes do final de maio temos entre 90 e 100 varroas. A quinze de junho o número voltou a triplicar e chegamos às 300 varroas. No início de Julho estamos a chegar às 1000 varroas. 3000 varroas será o número aproximado cerca de 20 de Julho. Por volta de 10 de Agosto estamos a chegar a 10 000 varroas.

Os números não enganam: numa população de 50 000 abelhas no início de Julho temos 2% de infestação. Percentagem tolerável mas que coloca as nossas colmais à beira de um aumento crítico das varroas num período de pouco mais de um mês, mês em que geralmente andamos muito ocupados com a cresta do mel para nos apercebermos.  Se nada fizermos entre o início de Julho e meados de Agosto a percentagem de infestação muito provavelmente irá atingir os 20%. Nesta altura temos uma colmeia à beira de colapsar pelo contributo negativo dado por vários factores:

  1. temos um ácaro em cada uma de 5 abelhas;
  2. os ácaros preferem as abelhas nutrizes e portanto não será extravagante pensar que uma em cada duas abelhas nutrizes transportam uma varroa;
  3. estes ácaros esperam o momento oportuno para se introduzirem nos alvéolos e podem encurtar a fase forética para menos do que os 5 dias que habitualmente são referidos na literatura;
  4. a criação de zângãos está reduzida e assistimos à transferência massiva dos ácaros para a criação de obreira;
  5. a postura das rainhas e a criação tem vindo a decrescer regularmente desde o solstício de verão em muitas regiões do nosso país…
  6. todos estes factores criam as condições para que 50% a 75 % do próximo ciclo de novas abelhas surjam de larvas parasitadas.

procurando correr de forma diferente acabei a correr da mesma forma

No seguimento deste post aqui continuo à procura das variáveis que possam explicar duas questões que coloco a mim mesmo:

  • porque razão alguns apiários mostraram uma taxa demasiado elevada de colmeias com varroose após os tratamentos com bayvarol e outros, pelo contrário, apresentavam taxas de elevada eficácia do tratamento?
  • porque razão no mesmo apiário 5% a 10% das colmeias estavam à beira do colapso (abelhas com varroas e/ou com asas deformadas ) e, simultaneamente, a maioria das colmeias estava saudável?

Neste momento a minha melhor hipótese é que na altura do tratamento com o bayvarol as colmeias não estavam todas no mesmo ponto de partida no que respeita à infestação da varroa. Dito de outra forma, tenho uma forte convicção que na altura em que iniciei os tratamentos tinha colmeias já muito infestadas (com 5% ou mais de varroas foréticas), ainda que a infestação não fosse visível aos meus olhos e, ao lado, outras colmeias tinham níveis muito mais baixos de infestação.

Um pequeno parentesis polémico, estou consciente:

Digo hipótese porque não fiz uma monitorização da taxa de infestação da varroose colmeia a colmeia, simplesmente porque é impraticável na dimensão em que trabalho. Poderia, contudo, ter feito uma amostragem aleatória de abelhas em 10% a 25% das colmeias de cada apiário para decidir se tratava na altura ou se adiaria os tratamentos. Pergunto a mim mesmo de que me serviria essa monitorização? Pergunto: num apiário onde encontrei 5 a 10% das colmeias com asas deformadas (e isto no caso dos apiários mais infestados) o que me teria dito uma monitorização aleatória de 10% a 25% das colmeias 40 a 50 dias antes? Estou convencido que me diria que não seria necessário iniciar os tratamentos na altura em que de facto os iniciei. Sei que é controverso mas não estou, neste momento, absolutamento convencido da validade e até da credibilidade que nós apicultores devemos dar à monitorização por amostragem e contagem das varroas nas abelhas adultas através dos diversos métodos de lavagem das varroas dos seus corpos (ver lavagem por açucar de pasteleiro, água com detergente e outros).

images

Fig. 1 — Apicultor utilizando o “sugar roll” para monitorizar a taxa de infestação por varroa

Importa sustentar a minha hipótese anterior e que relembro ser estar na presença de colmeias com níveis de infestação muito diversos na altura dos tratamentos com Bayvarol. Com base na análise dos meus relatórios verifico que um dos dois apiários na Beira Alta com mais problemas foi um daqueles para onde transumei um número significativo das minhas colmeias a partir do meu apiário no distrito de Coimbra. Mais, verifico que nestas colmeias transumadas, as colmeias mais infestadas eram na sua maioria colmeias onde iniciei o anterior tratamento, com Apivar, no final de novembro (30 de novembro de 2015) tendo tirado as tiras no início de março (ficaram 12 semanas por razões sustentadas em dois estudos científicos independentes que conto traduzir brevemente). Isto significa que entre o fim do tratamento com Apivar e o início do tratamento com Bayvarol passaram 5 meses grosso modo, quando o intervalo entre tratamentos que procuro seguir não ultrapassa os 4 meses. A somar a este facto lembro que estas colmeias transumadas apresentaram postura intensa nos meses de inverno (influência do clima e pasto apícola conhecido por todos nós no litoral centro do nosso país). Das 4 colmeias mais infestadas, 3 colmeias pertenciam a este grupo de colmeias. Vamos designar este grupo de colmeias pelas letras BL.

Por contraste nesse mesmo apiário e nas colmeias que sempre estiveram pela Beira Alta iniciei o tratamento com Apivar na segunda semana de Fevereiro e foram tiradas na segunda semana de Maio (as mesmas 12 semanas). Nestas colmeias o intervalo entre tratamentos não ultrapassou os dois meses e meio. Por outro lado as rainhas diminuíram naturalmente a postura nos meses de inverno (influência do clima e pasto apícola conhecido de todos nós no interior centro do nosso país). Das 4 colmeias mais infestadas, apenas 1 colmeia pertencia a este grupo de colmeias. Vamos designar este grupo de colmeias pelas letras BI.

Este apiário em questão tem 50 colmeias, sendo 20 do grupo BL e 30 do grupo BI.

Uma questão final neste momento: não seria de esperar que o Bayvarol (ou outro qualquer tratamento homologado ou não) desse conta de quase todas as varroas presentes na colmeia fossem estas 2000 ou 10000? Neste momento tudo me leva a crer que a reposta é que não é mesmo nada de esperar isso. Se o tratamento for eficaz a 90% significa que ficam 200 e 1000 varroas na colmeia, respectivamente. Como já foi dito pelos companheiros nos comentários podemos ter colmeias no nosso apiário ou em apiários vizinhos a adicionarem generosamente varroas a estas colmeias. Mais, a diminuição abrupta da criação nas colmeias nos meses de Julho e Agosto faz subir a pico o número de larvas e pupas parasitadas. No final deste cocktail temos ainda as ondas de calor de Julho e Agosto que diminui significativamente o contato das abelhas com as tiras acricidas e das abelhas entre si, contrariando o mecanismo básico que preside à concepção destas tiras.

Concluindo, neste momento estou convencido que neste apiário a resposta às minhas duas questões iniciais é que mais uma vez cheguei tarde demais, não a todas as colmeias, mas ainda assim a um número significativo delas.

uma arma revolucionariamente simples contra a vespa velutina

Como muitos de nós sabem, por um saber de experiência feito, a apicultura quando levada seriamente é uma atividade muito exigente no que respeita à carga de trabalho a ela inerente. Por essa razão procuro, e julgo que procuramos todos nós, soluções simples, rápidas e que tenham uma elevada eficácia na resolução dos diversos problemas com os quais nos vamos confrontando.

Um dos problemas mais atuais em alguns países europeus e também em várias regiões de Portugal chama-se Vespa Velutina (também conhecida por Vespa asiática ou Vespa das patas amarelas). Ora nas minhas deambulações pela net encontrei aqui uma solução para eliminar pelo menos uma parte das Vespas Velutinas rainhas (também conhecidas por “fundadoras”).

A bandeja coletora de Vespas Velutinas rainhas

Um apicultor francês, Denis Jaffré, apicultor na Finisterra francesa e co-presidente da Associação Anti Vespa Asiática, descobriu uma forma inteligente para acabar com o pesadelo. “Em 2014, eu perdi seis colmeias, mas descobri o culpado no outono: dois enormes ninhos de vespa asiática, previamente escondida pelas folhas, e que estavam empoleirados nas árvores situadas num raio de 200 metros meu apiário “, diz ele. No ano seguinte, este apicultor decidiu utilizar pela primeira vez a “bandeja coletora” de Vespas Velutinas rainhas. É um dispositivo simples e eficaz que atrai e elimina as rainhas na primavera, antes de formarem uma nova colónia.

Um atrativo poderoso

O resultado é eloquente: “entre o início de março, quando elas saem da hibernação, e no final de junho, eu capturei 13 rainhas, o que me permitiu impedir a criação de 3 a 4 ninhos no meu ambiente imediato e lamentar a predação nas minhas colmeias “, diz este apicultor. O princípio é o de atrair estas jovens rainhas usando um poderoso atrativo: mel cristalizado colhido no outono, amalgamado com cera de uma colmeia saudável (para evitar a propagação de pragas, como loque americana). Denis Jaffré coloca este atrativo numa bandeja de metal grande (60 x 70 cm no mínimo) que é colocada sobre cavaletes. O conjunto é colocado em campo aberto, mas protegido da chuva, num local bem iluminado, garantindo que o sol não derreta o isco.

Esfomeadas por alimentos ricos em açucares

“No final do inverno e toda a primavera, as rainhas sentem uma bulimia por alimentos açucarados”, explica ele. “As rainhas nesta época do ano procuram avidamente acumular reservas de energia necessárias para a atividade reprodutiva no futuro próximo. Mel com cera misturada liberta aromas que atraem todas as fêmeas dentro que eu acho que cerca de 1,5 km”. “A captura é realizada no momento da visita diária com um frasco de boca larga com uma tampa (ver aqui vídeo exemplificativo), ou com um pau de espeto revestidos com cola (ver aqui vídeo exemplificativo) ou com um pequeno aspirador (ver aqui vídeo exemplificativo). Não há risco de ser picado “nesta época do ano, as rainhas jovens só pensam em comida e não são agressivas” garante Denis Jaffré. Além disso, ao contrário de um aprisionamento convencional, a bandeja coletora de rainhas é muito seletiva: não são eliminados as rainhas dos abelhões, vespas ou vespas europeias (inofensiva para as abelhas) para não mencionar as abelhas campeiras atraídas também pelo cheiro perfumado do mel e cera.

“Simples, eficaz, seletivo e limpo”

A última vantagem deste método revolucionário: não custa nada – o seu inventor (vespavelutinabzh@orange.fr) fornece o seu parecer gratuitamente — e é para todos: indivíduos, mas também as comunidades. “Os investigadores continuam a procurar e eu descubro num ano um truque simples, eficiente, seletivo e orgânico”, diz ele sarcasticamente. Segundo ele, a destruição de ninhos custa cerca de 300.000 euros por ano e por departamento, uma soma de 20-30 milhões de euros em todo o país. Tudo em vão, porque, ano após ano, a vespa asiática continua a proliferar …”

Quanto a nós, por cá, é pôr mãos à obra porque uma boa velutina é uma velutina morta, sobretudo se ela for uma rainha.

questões pós-tratamento contra a varroose

Como referi num post anterior este ano decidi antecipar os tratamentos de final de verão contra a varroose cerca de 2 a 4 semanas relativamente ao período utilizado nos dois anos anteriores. Como referi esta decisão advém de ter observado que em algumas colmeias os tratamentos colocados em finais de Agosto/início de Setembro eram já tardios (via aqui e ali abelhas com as asas deformadas, com criação calva e até um padrão de criação salpicada/dispersa nos quadros).

Este ano utilizei pela primeira vez o Bayvarol, coloquei as 4 tiras por colmeia como recomendado pelo fabricante. Na altura em que coloquei os tratamentos tive oportunidade de confirmar visualmente a ausência de danos na criação e abelhas pela varroose. Passados cerca de 2 a 3 semanas fiz uma inspecção visual às zonas de postura de algumas colmeias de vários apiários e não vi sinais de varroa. Fiquei relativamente descansado!

Cinco a seis semanas após a introdução das tiras tive a oportunidade de voltar a fazer a inspecção aos ninhos de algumas colmeias e com relativa surpresa encontro algumas colmeias com abelhas com asas deformadas. Decido fazer uma inspecção aprofundada a todas as minhas colmeias (cerca de 600) e encontro varroas em cima das abelhas em cerca de 20% das colmeias e nestas, em 4% a 5%, encontro um estado de infestaçãoo já bastante avançado (abelhas com asas deformadas e inúmeras abelhas com varroas agarradas ao seu corpo). Dos 11 apiários inspeccionados verifico que em dois deles tenho cerca de 30% a 40% das colmeias infestadas e em cinco apiários não vejo qualquer sinal de varroas nas colmeias. Nos restantes apiários encontro 10% a 15% de colmeias com varroas.

A minha questão inicial é:

  • se tenho apiários com 30 a 80 colmeias instaladas onde aparentemente o Bayvarol foi 100% eficaz como explicar que noutros apiários, com as mesmas dimensões, a eficácia tenha aparentemente sido de apenas 60% a 70%?

A outra questão é:

  • ­o que fazer diferentemente no próximo ano no tratamento do meio-final de verão?

Nota: comentando estes resultados com as técnicas da minha associação foi-me dito que outros apicultores associados apresentam resultados semelhantes aos meus (eficácia dos tratamentos numa boa parte das colmeias mas ineficácia em algumas outras) e com outros tratamentos e outros princípios ativos.

compatibilizar a renovação de rainhas e a produção de mel

Uma das leis mais sólidas em apicultura é a de que as colmeias mais populosas tendem, em condições normais, a serem as mais produtivas (ver lei de Farrar).

Se exceptuarmos as doenças das abelhas (sendo a mais prevalente a varroose) e a fome nas abelhas, as duas variáveis que mais impacto negativo têm na população das abelhas de uma família/colmeia são a pouca prolificidade de uma rainha e a enxameação.

Em condições regulares estas duas variáveis (baixa prolificidade e enxameação) podem e devem ser resolvidas com a renovação de rainhas em ciclos de dois anos, ou mesmo de ano a ano.

Os métodos de renovação de rainhas são inúmeros e cada um de nós deve escolher aquele que mais lhe agrada, de acordo com a sua realidade e as suas capacidades. Neste post vou propor uma técnica que nos permite fazer a renovação de rainhas sem pôr em causa o desenvolvimento normal da família/colmeia, isto é, sem provocar um atraso no crescimento da sua população, logo sem pôr em causa a produção.

No meu caso, tendo em conta o meu contexto, procuro uma solução para a renovação que rainhas que possa ser aplicada de forma simples (que não me exija a criação de condições relativamente complexas para a introdução de rainhas virgens ou fecundadas), económica (que não me exija por ex. a aquisição de rainhas fecundadas e/ou equipamentos dedicados), com uma baixa exigência logística (que não me exija trabalhar com caixas de tamanhos diferentes como por ex. nucleólos, núcleos ou outros equipamentos), que seja rápida ao ponto de ser realizada com um baixo de número de manipulações/operações e que seja eficiente, isto é, que me dê garantias que no processo de renovação de rainhas menos de 1% das famílias/colmeias fique orfã.

Para alcançar este conjunto integrado de exigências apenas necessito de um equipamento extra ou dedicado, o tabuleiro divisor, que me permite atingir todas as exigências elencadas em cima, em particular a baixa exigência logística.

20150619-31-4-150x150

Fig. 1 : Tabuleiro divisor simples

Os procedimentos/manipulações são os que descrevo em baixo:

  • identificamos a família/colmeia que apresente uma rainha pouco prolífica ou que apresente sinais prévios de enxameação (por ex. ovos em cálices reais ou construção de muito cálices reais);
  • passamos esta rainha com 2 ou 3 quadros de criação e abelhas para uma outra caixa (caixa B) igual ao ninho e um ou dois quadros com reservas (tal e qual o que faríamos se da criação de um núcleo se tratasse);
  • no ninho (caixa A) ajeitamos os quadros restantes e completamos os espaços vazios com quadros novos com cera puxada e/ou laminada;
  • colocamos o tabuleiro divisor sobre este ninho (caixa A) com a sua entrada/alvado orientado na mesma direção do alvado do ninho;
  • sobre o tabuleiro divisor colocamos, finalmente, a caixa B, com a rainha original, quadros e abelhas aderentes e com os espaços vazios preenchidos com quadros novos puxados e/ou laminados;
  • passadas algumas horas ou no dia seguinte introduzimos no ninho uma realeira/mestreiro aberto ou fechado (a solução mais económica e simples de todas as que conheço para a renovação de rainhas).

Passados cerca de 10 a 20 dias (dependendo da maturação da realeira introduzida) teremos na caixa A/ninho:

  • Uma jovem rainha fecundada que iniciou a postura na caixa A (ninho) mais uma numerosa população que devido aos elevados níveis de produção de feromona mandibular da jovem rainha verão o seu instinto enxameatório fortemente diminuído;
  • Uma rainha que em virtude da sua juventude e vigor tenderá a apresentar uma taxa de ovodeposição muito elevada.

Entretanto na caixa B, a rainha original continuou a sua postura, podendo ter passado dos 2 ou 3 quadros de criação iniciais para os 5 a 6 de criação.

Se o nosso objectivo era somente o de renovar a rainha, eliminamos a rainha original da caixa B, tiramos o tabuleiro divisor, passamos estes quadros de criação existentes na caixa B e colocamo-los na caixa A. Tiramos o tabuleiro divisor e sem mais juntamos as duas famílias sem receio de lutas entre as abelhas, dado que os aromas/odores se mantiveram harmonizados pela facto de o tabuleiro divisor apresentar uma rede mosquiteira que promoveu em todos os momentos a permanência de um só odor entre as duas famílias.

Se por algum acaso, a jovem rainha não chegou a iniciar a postura, não matamos a rainha original e reunimos as duas famílias/colmeias como descrito em cima.

Se a nossa intenção é eliminar a rainha original porque a família começava a apresentar fortes sinais de enxameação, podemos aumentar a eficácia do procedimento se ao invés de colocar a entrada/alvado do tabuleiro divisor com a mesma orientação da entrada do ninho (caixa A) a colocarmos no sentido oposto, o que leva a que muitas mais abelhas forrageiras deixem a caixa B, deixando a rainha original com uma população sobretudo de abelhas nutrizes na caixa B, o que irá refrear significativamente a pulsão reprodutiva, logo a ação de enxameação.

Nota: sobre a construção e utilização do tabuleiro divisor pode ler mais aqui e aqui.

o mel de melada ou o mel do bosque

O mel de melada (também designado mel do bosque) provém de um líquido açucarado secretado por insetos, como os pulgões/afídeos, que sugam a seiva de certas plantas/árvores. Este líquido açucarado é, por seu turno, coletado pelas abelhas nos afídeos ou directamente nas plantas e árvores e depois convertido em mel de cor escura com reflexos avermelhados à contraluz, malteado no palato e muito denso ou de viscosidade forte. Este mel de melada é também conhecido como mel do bosque ou mel de floresta e pode ter origens diversas, tendo como ponto comum ser um mel não-floral, ou como outros indicam um mel extra-floral. Algumas variedades são nomeadas de acordo com a fonte vegetal a partir do qual as abelhas recolhem a melada (por exemplo o famoso e valorizado mel de “sapin” francês, que pessoalmente acho muito semelhante ao mel de azinheira que produzo).

A composição, propriedades e benefícios do mel de melada são diferentes das que habitualmente encontramos no mel derivado do néctar das flores.

Em geral os méis de melada não cristalizam devido ao menor teor de glicose e contém uma alta concentração de minerais, uma característica identitária destes méis. Possuem um sabor forte amadeirado e persistente na boca. Apresentam uma cor escura, um menor aroma e são uma solução altamente viscosa  muito pegajosa ao toque.

As principais diferenças entre o mel de néctar floral e o mel de melada são:

  • Composição: os méis de melada contêm um elevado teor de sais minerais, açúcares complexos tais como rafinose e melezitose e aminoácidos.
  • Sabor e cor: é de cor escura e menos doce em comparação com o mel de flores.
  • A cristalização: a presença de açúcares complexos impede a cristalização. Em geral o alto teor de frutose em relação com a glicose e menor quantidade de água impede a cristalização deste tipo de mel.

Contudo a melada de carvalho e azinheira (a mais comuns no nosso país), ao contrário de outras variedades de mel derivadas de melada, fica cristalizada muito facilmente formando cristais grandes e firmes, é um mel de cor escura, com um aroma intenso e sabor malteado (a mim lembra-me bastante a cerveja preta).

As condições climáticas mais propícias à produção deste tipo de mel não se verificaram este ano na zona dos meus apiários. Faltaram as névoas matinais e maior fresquidão e em seu lugar tive/tivemos dias tórridos e sem humidade no ar, que se instalaram em especial a partir do final de Junho.

Estranhamente, o mel de melada não é considerado um bom alimento de inverno para as abelhas, porque pode ser bastante elevado em cinzas, a principal causa de disenteria nas abelhas. Os apicultores muitas vezes removem o mel de melada das suas colmeias antes do início do inverno .

No que respeita ao mercado, o mel de melada é geralmente um pouco mais valorizado nos mercados internacionais, sobretudo no centro e norte da europa, quando comparado com a generalidade dos méis mais claros. A razão pode estar no facto de apresentarem uma condutividade eléctrica maior, o que pode facilitar o trabalho dos grandes grossistas na sua homogeneização e mistura com outros lotes de méis.

A terminar uma dica para quem desejar produzir estes méis: tenham preparados quadros com cera limpa e já puxada para colocar nas alças meleiras, pois na altura das meladas (Julho a Setembro) as abelhas têm já muita dificuldade em puxar cera.