agir de acordo com o abelhês

Hoje eram 9.00h, de acordo com o relógio da torre, quando arranquei para o meu apiário a 900 m de altitude. O objectivo principal era fazer a prevenção e controlo da enxameação, porque é por lá que agora “as coisas estão mais quentes”. Dado as condições climatéricas relativamente atípicas do ano o período propício à enxameação iniciou-se mais tarde e está, naturalmente, a prolongar-se um pouco para lá da época habitual. Para além desta razão de natureza racional, é também um apiário que gosto bastante de frequentar por ser o único num terreno meu, por ter sido aqui que instalei o meu primeiro apiário, faz quase 11 anos, e porque é deveras magnífica a vista quando levanto o olhar para o horizonte e contemplo a plantação de diversas árvores que o meu saudoso pai lá fez.

Durante o maneio das colónias deparei-me, em 3 delas, com três situações idênticas, estavam a construir mestreiros, mas com significados diferentes, isto pelo menos de acordo com o meu domínio actual do abelhês. É uma língua que pressupõe alguns pré-requisitos (experiência e leituras) e em simultâneo um espirito livre que esteja disposto a deixar fluir o melhor possível a experiência actual, integrá-la no já aprendido ou, pelo contrário, questionar esse “já aprendido”, para submergir mais e melhor no “falar” daquelas abelhas, naquele momento e naquele local. Admito pacificamente que haja aspectos universais desta linguagem, mas nem tudo é igual em todos os locais, e é, quantas vezes nas nuances, nos detalhes do “abelhês” regional, o local onde vou encontrar Deus e o Diabo.

Constatei e decidi que o melhor a fazer era nada fazer!
Observei e decidi que o melhor a fazer era nada fazer!
Aqui o meu pequeno domínio do abelhês disse-me que era melhor fazer alguma coisa!
Sim a mãe andava ainda por lá… ali!
À falta de um núcleo foi para dentro de uma caixa de 10!
Com este padrão de postura dei por bem dispendido os cerca de 3 minutos que me levou a localizá-la!
O restante do enxame foi divido em dois, com recurso ao tabuleiro divisor, para evitar os garfos (o Vasco Correia Paixão e outros escrevem a palavra no masculino e não no feminino, e sigo essa escola).

Por volta das 13.ooh estava de regresso a casa com um incremento no meu património, correndo tudo bem, na ordem dos 250€. Sim, porque também vou fazendo estas contas. Ainda que não pareça, ainda sou um apicultor profissional, e esta componente financeira, com menos peso que no passado é verdade, continua a ter o seu peso.

Nota: uma questão final, que ainda não compreendi do abelhês: qual a vantagem evolutiva que as abelhas encontraram em continuar a enxamear após o primeiro enxame, em enxames cada vez mais pequenos (os garfos), uns atrás dos outros, condenados a enorme maioria deles ao insucesso?

2 comentários em “agir de acordo com o abelhês”

  1. Há garfos que vingam muito bem. Às vezes sinto que há rainhas que “comandam” e outras que “apenas” fazem o seu trabalho. Interrogo me se as abelhas se sentem mais ou menos entusiasmadas a trabalhar consoante a rainha. Mas não me refiro ao trabalho consoante a necessidade do enxame e da postura da rainha. Parece me que há rainhas que dão “genica” às abelhas mesmo não sendo mães delas, até.

    Algo assim como se as abelhas soubessem ou sentissem ” por esta rainha vale a pena trabalhar”.

    Um abraço.

    1. Carlos, essa sensação também me é familiar. Vejo isso em colónias muito organizadas, com os ninhos e quadros de criação muito “arrumados”, com um crescimento constante, que sobem bem e rapidamente às meias-alças, como diz como “se soubessem ou sentissem por esta rainha vale a pena trabalhar”.

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