Vespa asiática de patas amarelas (V. velutina nigrithorax): ciclo de vida

Nota prévia: Estes dados são de uma região francesa (Aquitaine). Poderá ser necessário fazer alguns ajustamentos na sazonalidade e intensidade de comportamentos para a realidade portuguesa acerca dos aspectos abaixo descritos. Desconheço se há algum estudo deste tipo feito na nossa terra. Contudo, os dados desta região francesa, ajudam-nos a compreender melhor o ciclo de vida deste indesejado e exótico predador por terras lusas.

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Fig. 1 — Exemplar de uma V. velutina nigrithorax (as patas amarelas são um elemento distintivo em relação às V. crabro)

  • Período de postura: A emergência do período de hibernação das fundadoras da V. velutina vai do período de fevereiro a maio. A construção do ninho primário e os primeiros ciclos de postura ocorrem durante este período. Sabemos que a atividade das fêmeas fundadoras depende da temperatura ambiente. A antecipação dos dias de calor podem levar ao aparecimento precoce de alguma atividade, mas a fundação de uma nova colónia está dependente de alimentos em quantidades adequadas que a rainha fundadora possa encontrar. Nesta fase inicial da vida da nova colónia há uma preferência destes insectos por carbo-hidratos, daí que se aconselhe que as armadilhas para a captura das vespas fundadoras sejam elaboradas com uma base açucarada.

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Fig. 2 — Preparação de armadilhas para caçar as V. velutinas

  •  A invernagem: Em geral, para passar o inverno, as rainhas jovens já fecundadas escondem-se num lugar protegido (troncos podres, aterros, pilhas de madeira, buracos nas paredes, etc…).
  • Uma fundadora por ninho e por ano: A fundadora é, originalmente, apenas uma por colónia e por ano. Ela morre depois de um ano e são os seus descendentes (fêmeas fecundadas) que, no ano seguinte, se tornam as fundadoras de novos ninhos. Na primavera, cada fundadora constrói um novo ninho e desenvolve uma nova colónia que pode chegar a atingir 1800 indivíduos no final do verão.

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Fig.  3 — Exemplar de um ninho de uma colónia de V. velutinas

  • Modo de fecundação: Em geral, o acasalamento é realizado em vôo e prossegue no solo. A fecundação das fêmeas fundadoras da próxima geração tem lugar no final do verão ou no início do outono. As feromonas sexuais produzidas pela fêmea parecem estar envolvidos na atracção dos machos.
  • Composição da dieta alimentar: A componente proteica da dieta da V. velutina é composto por 80% de abelhas, quando em áreas urbanas e 45 a 50% nas zonas rurais. O resto da dieta é composta de lagartas, borboletas, moscas, libélulas e outros insetos. No final da temporada, as V. velutinas são especialmente atraídas por fruta madura (fazem estragos assinaláveis, por exemplo, em vinhas). A sua dieta depende do alimento disponível, do estágio de desenvolvimento da colónia e uma possível concorrência com outros predadores.

Os hidratos de carbono (açucares) e as proteínas são necessários ao desenvolvimento das colónias destes vespões. Os hidratos de carbono necessários para suprir os gasto de energia dos adultos estão sempre presentes na sua dieta. As proteína são necessárias para a criação da sua prole. E, infelizmente para as abelhas e para nós apicultores, uma das principais fontes de proteína desta praga de vespões são as abelhas.

Nota: Julgo que está a chegar a altura do ano para iniciar a caça das vespas fundadoras.  Neste momento sugiro armadilhas com um atraente açucarado . Espero que em breve surjam métodos de combate a esta praga mais efectivos que os actuais. Deposito uma grande esperança no aperfeiçoamento dos cavalos de tróia, uma estratégia que poderá levar a melhores resultados que os até agora alcançados.

4 comentários em “Vespa asiática de patas amarelas (V. velutina nigrithorax): ciclo de vida”

  1. Olá

    Soube há dias que três associações apícolas do norte estiveram reunidas na Assembleia da Republica, com vários deputados, com o intuito de produzir legislação acerca desta praga. Serão consultadas novamente no futuro.
    Aguardemos o que por aí vem.

    Eduardo, obrigado pela disponibilidade e pelo saber que partilha.

    Cumprimentos
    Carlos Fernandes

    1. Olá Carlos
      Obrigado pela informação. Esperemos que os nossos companheiros possam ter deixado bem claro que nesta questão não há uma terceira via ou convívio possível: se as velutinas não forem exterminadas ou próximo disso, a pequena e média apicultura nacional fica seriamente ameaçada.

      Simultâneamente espero que, no seio dos deputados, não prevaleça a opinião de que pode existir uma solução ideal sem danos colaterais. Os franceses fizeram esta abordagem “low-profile” ao longo de anos e anos com os maus resultados que conhecemos. Quiseram controlar o bicho de mansinho e agora já pagam teses de doutoramento no estudo do melhoramento e aperfeiçoamento de estratégias do tipo cavalo de tróia. Como dizia o Marlon Brando, no filme Apocalipse Now, para evitar que o corpo morra da infecção às vezes é necessário cortar o braço. Quando se chega a um certo ponto já não há soluções óptimas; só há soluções menos más. Esperemos que sensibilidades excessivas e despropositadas não impeçam o apoio governamental a ensaios e avaliação das estratégias do tipo cavalo de tróia.
      Um abraço!

      1. Boa sinal o que leo, a assambleia da republica e quen ten que dotar de medios para a luita deste parásito. Neste senso Portugal adianta pola dereita a España. Esperemos que os nossos gobernantes ollen para o país vecino.

        1. Sem pessimismo derrotista e sem optimismo irrealista, vamos esperar que estas reuniões se concretizem em algo palpável e que o estado português classifique esta espécie exótica como nociva. Por outro lado que dê um real passo em frente criando uma equipa científica que estude rapidamente, melhore e crie um protocolo para a utilização de estratégias do tipo cavalo de tróia. Ou muito me engano, ou no momento actual, se quisermos enquanto apicultores deixar de ser a presa e passar a ser o caçador o caminho é esse.

          Os nossos estados devem apoiar a criação de equipas científicas que definam um tóxico dedicado, com os menores efeitos colaterais sobre a fauna existente e os maiores efeitos directos sobre a velutina. Mais, estas equipas devem trabalhar em coordenação, as espanholas, as portuguesas e porque não as francesas, para aumentar a sua efectividade e diminuir custos. E sobretudo que façam rapidamente este trabalho, porque os dias contam e muito nesta matéria. Que dêem bom uso aos impostos que todos pagamos!

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