apicultura numa pequena escala: aspectos de um sistema de maneio

Sabemos que o crescimento de uma colónia de abelhas e o seu bem-estar estão dependentes de um conjunto de aspectos centrais, nos quais se destacam:

  • bom estado sanitário da colónia (especial atenção ao controlo da varroa);
  • rainha prolífera;
  • capacidade das abelhas nutrizes manterem as temperaturas adequadas ​​na câmara de criação e alimentarem adequadamente as larvas;
  • disponibilidade de néctar (ou mel durante o período de escassez) e pólen no exterior;
  • existência de espaço na colmeia para a expansão do ninho e para o armazenamento do néctar.

Reunidas estas condições não há razão para a colónia não aumentar a sua população e, como consequência, fazer a colheita que o apicultor deseja, salvaguardando o campo/pasto no exterior e boas condições atmosféricas que permitam o forrageio. Sobre estas últimas nada podemos fazer, sobre as primeiras podemos agir, através de um sistema de maneio que nos permita alcançar a melhor produção possível. É sobre este sistema de maneio, numa apicultura de pequena escala, que vamos refletir e apontar algumas diretrizes.

Qualquer sistema de maneio tem como objectivo apoiar e/ou melhorar os factores acima enunciados. O nível de sofisticação de uma operação de apicultura determina a extensão em que as operações de maneio afetam estes factores.

Aspectos da apicultura de grande escala como a utilização de rainhas geneticamente selecionadas, a alimentação artificial com xaropes, pastas e pólen ou seus substitutos, a deslocação de colónias para seguir os fluxos de néctar não estão facilmente disponíveis para a maioria dos apicultores de pequena dimensão. Muitas vezes, para empreendimentos apícolas de pequena escala, estas opções ou são impraticáveis do ponto de vista logístico ou são geradoras de custos indesejáveis. Para os pequenos apicultores, os sistemas de maneio devem ser mais simples e orgânicos e os que não necessitem de investimentos elevados. Ora, para estes apicultores, o seu trabalho, as horas que dedicam num fim-de-semana e/ou ao fim do dia às suas abelhas, são geralmente o investimento mais barato.

Sobre o maneio em pequena escala, importa traçar algumas directrizes muito simples para a época do ano que estamos a passar: a viragem do inverno para a primavera.

Nesta altura o apicultor pode ser o pior inimigo das suas abelhas, se não acautelou uma quantidade suficiente de reservas de mel no ninho. Este aspecto, que não implica trabalho extra ao apicultor, é muitas vezes desprezado pelo apicultor, e pode trazer dissabores, em especial nestes dois meses de fevereiro e março que estamos a atravessar.

Nesta altura do ano as rainhas começam a aumentar gradualmente a sua postura, com a entrada de algum néctar e pólen do exterior, aumentando significativamente as necessidades nutricionais da colónia. Se esta tem ainda mel e pólen armazenados, estão em boas condições para fazerem face a alguns dias de chuva e/ou frio, habituais nesta altura do ano. Caso estejam no limite das suas reservas (especialmente as de mel) a morte da colónia por fome pode chegar rapidamente de um dia para o outro. Ainda que a tentação de crestar muito ou todo o mel existente na colónia seja grande, o apicultor que o não faz está a investir no futuro da sua colónia.

No meu caso, sabendo que desde o início de agosto até finais de março (8 meses) pouco ou nenhum néctar significativo entra na colmeia, sabendo que uma colónia média consome em média neste período 1-1,5kg de mel/mês, necessito deixar 8-12 Kg de mel para garantir os níveis mínimos de reservas. Um quadro do ninho de uma colmeia Langstroth ou de uma colmeia Lusitana cheio de mel ronda os 2,5-3kg de mel. Necessito de 3 a 4 quadros bem cheios de mel no ninho para garantir as condições mínimas de sobrevivência no inverno. Este é o mínimo, mas um pouco mais é desejável, sobretudo para uma colónia que entra no outono muito bem povoada e com a varroa bem controlada. Sugiro mais uma meia-alça com 4 a 5 quadros bem cheios de mel.

Tudo parte do objectivo para que temos as abelhas. Para um apicultor de pequena dimensão, não andarei muito longe da verdade se disser que, sobretudo, pretende desfrutar do prazer que lhe dá ter abelhas, aprender com elas, ter umas horas por semana dedicadas à sua observação e maneio. Uma das formas mais simples e mais económicas de manter esta fruição ao longo de anos e anos, passa por deixar reservas suficientes para que elas renasçam saudáveis e vigorosas à entrada de cada primavera.

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