Recentemente foi descoberto em ensaios laboratoriais e um pouco por acaso que o cloreto de lítio (LiCL) tem um elevado efeito acaricida. Esta descoberta acidental* foi efectuada no âmbito de uma linha de investigação, já com alguns anos, em torno da modificação de alguns genes da varroa, com a intenção de manter a população de ácaros controlada (um tema a abordar num futuro post).
Nesta investigação, e de acordo com os protocolos experimentais, o cloreto de lítio (LiCL) foi usado como precipitante do RNA. Inesperadamente verificou-se que o LiCL é muito eficaz na eliminação dos ácaros Varroa, quando as abelhas são alimentadas com xarope onde estão dissolvidas concentrações muito baixas deste composto. No seguimento foram realizadas várias experiências para avaliar melhor os efeitos acaricidas do LiCL, assim como a tolerância das abelhas a este composto. Até agora os resultados obtidos sustentam o optimismo dos investigadores (que inclusive já patentearam a descoberta e seus desenvolvimentos futuros) e dão uma base promissora para o desenvolvimento de um método de controle efetivo e de fácil aplicação no controlo dos ácaros que tanto nos afligem.
Os autores da descoberta escrevem o seguinte a propósito desta descoberta surpreendente: “Como um varroacida, o LiCl apresenta algumas potencialidades únicas: (i) O LiCl atua de forma sistémica através da alimentação de abelhas (“fácil de aplicar”); (ii) é solúvel em água e não se acumulará na cera da abelha; (iii) a toxicidade oral da maioria dos compostos de lítio para mamíferos é relativamente baixa; (iv) não tem efeito repelente no xarope onde se encontra dissolvido dentro do intervalo de concentração relevante e (v) está disponível a preços moderados.
[…] Um desafio para novas pesquisas será o desenvolvimento de uma técnica de aplicação dedicado a enxames e colónias de tamanho natural para garantir que todas as abelhas recebam a quantidade crítica do composto ativo.“
fonte: https://www.nature.com/articles/s41598-017-19137-5
Nota: *Acerca das descobertas acidentais em ciência, recordo-me de alguém dizer que a célebre maçã que caiu sobre a cabeça de Newton e o levou a formular a teoria gravitacional, caiu sobre uma cabeça preparada.
Actualização acerca do lítio na dieta humana: o lítio é essencial na dieta humana e as evidências científicas actuais defendem o consumo de 1000 μg/dia de lítio para um adulto médio com 70 Kg. O consumo de litio propicia benefícios na saúde da população em geral.
Fonte: Gerhard N. Schrauzer (2002) Lithium: Occurrence, Dietary Intakes, Nutritional Essentiality, Journal of the American College of Nutrition
Actualização em 28-02-2020:
Desde a altura da publicação há pouco mais de dois anos, em janeiro de 2018, pouco ou nada mais li de substantivo sobre a utilização do cloreto de lítio na luta contra a varroa. Em geral isso quer dizer uma de duas coisas: ou a investigação foi descontinuada por alguma razão, ou os dados preliminares são muito promissores e avançou-se para a fase de pedido de patente. No caso vertente é a segunda hipótese a que é válida. O processo de patente foi submetido por três cidadãos alemães, entre os quais está um dos maiores especialistas mundiais de varroa, Peter Rosenkranz. Ver aqui: http://www.freepatentsonline.com/20200008429.pdf
Olá Eduardo
Uma esperança é sempre uma boa notícia e neste domínio é óptima.
Não sabia que o lítio era recomendado no consumo para benefício da saúde das populações.
Conheci uma pessoa bipolar que tomava lítio, com conselho médico, para controle dos humores.
As pessoas das zonas graníticas do interior, talvez saibam que o granito é formado por quartzo, micas (branca e preta) e feldspato. Talvez não saibam é que uma fonte do lítio são as micas brancas (moscovite).
Quanto à esperança vamos ter que aguardar que o remédio seja aprovado no país de origem e depois licenciado e homologado nos outros países, inclusive o nosso.
Desfazer a comodidade reinante e os interesses instalados não é rápido nem fácil.
Mas vamos esperar,…sentados !
Saudações
Sobre o lítio …
O lítio (Li+) é o mais leve dos metais do grupo Ia. Os sais deste catião monovalente partilham algumas características com o Na+ e K+. O Li+ é prontamente assimilado nos fluidos biológicos e pode ser detectado no tecido cerebral.
Vestígios do ião ocorrem normalmente nos tecidos animais, mas não se lhe conhece nenhuma função fisiológica.
O carbonato de lítio , assim como o citrato, são usados em terapêutica.
Concentrações terapêuticas de lítio, quase não têm efeitos psicotrópicos discerníveis em indivíduos sem sintomas psiquiátricos.
Uma importante característica do Li+ é que, ao contrário do Na+ e K+, desenvolve um relativamente pequeno gradiente através de membranas biológicas .
Várias hipóteses se colocam para o mecanismo de acção do lítio, sendo as mais plausíveis as que se focam no impacto deste nas monoaminas implicadas na patofisiologia dos distúrbios do humor, e como segundo mensageiro e outros mecanismos moleculares intracelulares, envolvidos na transdução, regulação de genes e sobrevivência celular. Actua a nível dos mediadores da transmissão neuronal mas tem acção limitada na actividade da adenilciclase sensível às catecolaminas. Modifica algumas respostas hormonais mediadas pela adenilciclase.
Introduzido em 1949 no tratamento da doença bipolar, foi progressivamente aceite em todo o mundo por 1960 e nos EUA em 1970, inicialmente para o tratamento dos estados agudos de mania e depois para a sua prevenção.
A faixa terapêutica é muito estreita ( 0.5 – 1.0 mEq/L ) , o que obriga a uma monitorização apertada.
Saudações,
Francisco Frazão.
Não referi a origem:
Goodman & Gilmam – Pharmacological Basis of Therapeutics