abelhas na beira à saída do outono 2016

Nos passados dias 7 e 8 fiz mais uma passagem por todas as minhas colónias da Beira Alta para renovar a alimentação com fondant (pasta de açúcar) em todas as que necessitavam.

Nas cerca de 600 colmeias encontrei 3 colónias mortas. Em duas delas não encontrei abelhas no interior da colmeia e numa terceira fui encontrar umas 100 abelhas mortas agarradas a um quadro com reservas.  Em duas destas colmeias encontrei um ou dois quadros com uns  20 a 40 alvéolos com criação operculada. Em duas delas havia uma quantidade significativa de reservas de mel. Em casa analisei o histórico destas 3 colónias e constatei que em duas a infestação pelo ácaro da varroa atingiu patamares elevados: abelhas com asas deformadas e abdomens atrofiados, criação operculada com um padrão “salpicado”, abelhas prestes a nascer mortas e com a língua estirada. Estas duas colónias tinham uma população muito reduzida à entrada de outubro, com menos de um quadro de abelhas. Já esperava que não passassem os primeiros dias/noites de temperaturas mais baixas. Da 3ª colónia não possuo um registo detalhado dos últimos 3 meses, o que me indica que não vi nada de suspeito durante este período. Recordo no entanto que no início de outubro vi um pequeno enxame num arbusto a cerca de 5m dessa colmeia. Estranhei a saída tão tardia deste enxame. Agora coloco a hipótese desta enxameação tardia ter ocorrido nesta colmeia.

No final desta volta de dois dias a avaliar o peso das colónias e a alimentá-las fico muito satisfeito com o que encontrei:

  • mortalidade pelo efeito da varroose à saída do outono está abaixo dos 0,5%. E este ano não foi nada fácil controlar esta praga (ver aqui e aqui);
  • a mortalidade pelo efeito da fome até à data é de 0%;
  • não vi sinais de ascosferiose nem de diarreia nas rampas de vôo e/ou paredes das colmeias;
  • não vi sinais de ratos que se pudessem ter instalado no interior das colmeias (todas as colmeias têm réguas de entrada);
  • não encontrei tectos ou telhados de colmeias tombados (os quilos de pedras em cima mostram-se muito eficazes contra os ventos que se fazem sentir em alguns apiários);
  • havia um bom movimento de abelhas (no primeiro dia estava acima dos 12ºC) na entrada das colmeias, com algumas abelhas a transportarem pólen de um amarelo pálido e outro alaranjado;
  • o consumo do fondant (colocado por cima da prancheta junto ao óculo da mesma) diminuiu nestas duas últimas semanas o que me permitiu baixar o seu gasto para cerca de 250 kg nesta passagem.

fazer rainhas de qualidade utilizando o formão/raspador

Como?

Esta técnica foi cunhada com o acrónimo OTS (on the spot) e foi inicialmente divulgada por Mel Disselkoen, apicultor norte-americano.

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Fig. 1 : Mel Disselkoen

Numa colmeia previamente orfanizada, vamos procurar em dois ou três quadros larvas com menos de 36 horas de vida. O mais provável é encontrar estas larvas em zonas adjacentes às zonas com ovos.

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Fig 2: Ovos (Eggs), larvas com menos de 36 h (just right) e larvas com mais de   36 h (too old)

Nas zonas onde encontrarmos estas larvas com menos de 36 h vamos esmagar com o formão os alvéolos logo por baixo como podemos ver exemplificado neste vídeo (a partir dos 4’40”).

Este simples gesto permite que a construção de alvéolos reais se faça o mais possível na vertical, como acontece naturalmente com os alvéolos reais de enxameação ou de substituição (supersedure).

Mel Disselkoen propõe que se realize o OTS  em duas a quatro zonas por quadro e em dois ou três quadros. Tudo dependerá do que cada um de nós pretender.

Se pretender fazer alguma selecção genética recomendo que utilize um quadro com larvas de uma colmeia que aprecie.

Desde há dois anos que utilizo esta técnica e estou satisfeito com a qualidade geral das rainhas que tenho obtido.

Fica assim apresentada uma técnica que requer do apicultor apenas duas coisas: um formão/raspador e uma razoável acuidade visual.

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que colónias alimentar no outono/inverno

Que colónias alimentar no outono/inverno? Esta é uma questão que nos interpela todos os anos à entrada do outono/inverno.

Em princípio devemos alimentar todas as colónias que apresentem um nível de reservas de mel baixo. Como decidir se o nível de reservas é baixo. Neste post indicámos que o consumo de mel pode variar de acordo com o número de abelhas presentes na colónia. Tomemos como referência o consumo de 2,7 Kg de mel  durante um mês. Se considerarmos que nos meses de Outubro a Janeiro as abelhas pouco ou nenhum néctar fazem entrar na colmeia (esta é a realidade nos meus apiários na Beira Alta), então durante estes 4 meses consumirão 10-11 Kg de mel das sua reservas. Nos meus apiários julgo que consumirão menos porque as baixas temperaturas, mais ou menos habituais por aqueles lados, levam-nas a formar o cacho invernal e portanto a diminuir as suas necessidades energéticas. Mas vamos manter aquele valor como referência, porque neste caso mais vale pecar por excesso. Sendo assim necessito que as colmeias me apresentem pelo menos 4 quadros Langstroth ou Lusitana no ninho bem cheios de mel (que deverão somar 10 a 12 Kg de mel) para ficar tranquilo acerca do seu adequado nível de reservas para passarem estes 4 meses.

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Fig. 1: Quadro cheio de mel maduro em toda a sua superfície

Como avaliar o nível de reservas? A maior parte dos apicultores faz uma pesagem das colónias para verificar o nível de reservas. A forma mais expedita de o fazer é levantar a parte detrás da colmeia. Este tipo de avaliação permite ter uma noção grosseira do nível de reservas de uma colmeia. Há quem faça uma pesagem mais rigorosa recorrendo a uma balança ou dinamómetro (ver aqui uma forma de pesagem das colmeias).

Como calcular o peso real das reservas de mel? Sabendo o peso da colmeia vazia com quadros (há variações dependendo sobretudo do modelo em questão assim como da madeira utilizada na sua construção), sabendo que o peso aproximado das abelhas, numa colónia a invernar, não deverá passar muito os 1,5 kg (7 000 abelhas pesam cerca de 1 Kg e ocupam 3 a 4 quadros do modelo Langstroth) e se adicionarmos mais 2 a 3 Kg para o peso da cera nos 10 quadros, e subtraindo estas parcelas ao peso total, a diferença deverá representar o mel e pólen armazenado no interior da mesma. Retirando o peso do pólen armazenado temos finalmente um valor muito aproximado do peso das reservas de mel. Se estas forem superiores a 12 Kg e nos meus apiários da Beira Alta fico bastante tranquilo.

No papel é fácil. E no campo? Contudo se no papel esta avaliação até é muito simples no campo tudo se complica. A primeira dificuldade passa por pesar com algum rigor cada colmeia. A balança tipo dinamómetro é utilizada para este fim por alguns apicultores, como já vimos. No entanto outros equipamentos são utilizados (ver aqui).  A segunda dificuldade, e na minha opinião a maior, é fazer uma estimativa aproximada do peso do pólen numa colónia estabelecida para o descontar e finalmente alcançarmos um número confiável do peso que as reservas de mel têm.

Dois caminhos, qual escolher? No ano passado para eliminar esta angústia acabei por alimentar todas as 400 colmeias que invernaram nos apiários da Beira Alta (ver aqui). Decidi pecar por excesso e pagar a factura, literalmente. Este ano estou a fazer uma abordagem um pouco diferente. No final de Outubro e nos primeiros dias de Novembro, dei uma volta às 600 colmeias que tenho a invernar, abri-as e fiz uma observação rápida dos 4 quadros laterais (2 de cada lado) para a avaliar o mel efectivamente armazenado. Para isso levantei os quadros mais laterais. Com base nestas observações classifiquei as colónias em quatro categorias: fracas, médias, médias mais, e fortes. Destas quatro categorias estou a alimentar as colónias incluídas nas 3 primeiras.

As minhas observações dizem-me para não confiar numa observação “por cima” dos travessões dos quadros, porque alguns destes tendo uma pequena abobada de mel, que nos podem induzir em erro quando observados “por cima”, apresentam efectivamente a maior parte da sua superfície vazia ou preenchida com pólen.

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Fig. 2: Visão habitual de uma colmeia vista “por cima”

Se estes quadros estiverem vazios o método que eu utilizo, levantar ligeiramente a colmeia pela parte detrás, dá-me uma ideia que esta colmeia está a necessitar de alimento suplementar. Contudo se estes quadros estiverem carregados de pólen podem iludir-me, levando-me a sobrestimar a quantidade de mel armazenado.

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Fig. 3: Quadro em que a maior área está ocupada com pólen

Com a abordagem que estou a utilizar este ano espero que o custo por colmeia com a alimentação suplementar desça cerca de 1/3, e que no final a minha despesa global com 600 colmeias a invernar não ultrapasse a despesa que o ano passado tive ao invernar um pouco mais que 450 colmeias. Mas como prognósticos só no fim vamos ver como corre este ano.

alvéolos reais: como os interpretar

Para o apicultor que se está a iniciar na apicultura a correcta interpretação do que dizem os alvéolos reais, em especial na época de enxameação, é crucial para o seu entendimento do que se está a passar na colónia, o que o qualifica para uma intervenção mais adequada e ajustada à realidade da mesma.

Quando vir no fundo dos quadros vários alvéolos reais muito provavelmente a colónia está para enxamear ou já enxameou.fig-0611-600x450

No período da enxameação o apicultor deve verificar com uma frequência semanal se as abelhas estão a criar alvéolos reais no fundo dos quadros, em particular nas colónias que tenham atingido ou passado os 6 quadros com áreas extensas de criação. Inclinar num ângulo de 45º o corpo do ninho em relação ao estrado e dar uma espreitadela ao fundo dos quadros pode trazer um bom retorno ao apicultor.

Contudo nem sempre os alvéolos reais de enxameação surgem (só) no fundo dos quadros.

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Às vezes surgem nas zonas laterais dos quadros, especialmente se houver depressões ou irregularidades nas superfícies laterais destes. Contudo, em regra, quando as abelhas criam alvéolos reais nestas zonas dos quadros também os criam no fundo dos quadros. Portanto a inspecção ao fundo dos quadros continua a dar boas garantias, mesmo nestas circunstâncias, de uma boa interpretação.

Quando vir no seio de uma zona de criação um a quatro alvéolos reais, e não encontrar mais, muito provavelmente está numa situação de supersedure/substituição de rainha eminente.

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Nesta situação as abelhas irão substituir a velha rainha por uma nova. Estes alvéolos reais não devem ser destruídos para não pôr em causa a sucessão da velha rainha.

Quando encontrar alguns alvéolos reais construídos nas zonas periféricas da zona de criação e se eles se formam a partir dos alvéolos de obreira (alvéolos reais de emergência) muito provavelmente estará na presença de uma colónia que ficou subitamente orfã e que está a tentar criar a sua próxima rainha. Não deve destruir estes alvéolos reais se não tem planos ou possibilidades de fornecer alvéolos reais ou uma rainha a esta colónia.

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Em regra nos períodos de crescimento pujante das colónias, períodos de um bom fluxo de pólen e néctar, encontram-se com frequência vários cálices reais. Não indicam necessariamente que a colónia se prepara para enxamear nas próximas semanas, mas deve manter no radar estas colónias e inspecioná-las semanalmente.

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Se estes cálices se apresentarem com geleia real e com uma larva em cada um deles o processo de criação de novas rainhas foi iniciado.

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A terminar uma nota: um abelha ocupa uma área no quadro equivalente a cerca de 3 alvéolos. Sendo assim um quadro cheio de criação fechada fornecerá abelhas suficientes para cobrir  cerca de 3 quadros. Compreendemos melhor com estes números como uma colónia fica, num espaço de no máximo 12 dias, subitamente cheia de abelhas, às vezes demasiado cheia para o espaço que o apicultor lhes dá.

vespa velutina ou vespa asiática: alimentação, iscos e armadilhas

Este conjunto de 3 vídeos dá-nos a conhecer o extraordinário trabalho levado a cabo pelo Sr. Ernesto Astiz no âmbito das sua investigação em torno da alimentação, iscos e armadilhas para as vespas velutinas. Muito obrigado pelos seus ensinamentos!

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Fig. 1: Ernesto Astiz com uma gaiola para velutinas utilizada nas suas experiências

Vespa velutina (parte 1)

Vespa velutina (parte 2)

Vespa velutina (parte 3)

 

Aqui podemos ver o fim!

uma nova formulação de ácido oxálico (Aluen CAP) para controle de Varroa destructor aplicada em colónias de Apis mellifera na presença de criação operculada

Sabemos que a eficácia dos tratamentos com ácido oxálico é diretamente influenciada pela presença de criação operculada porque o ácido oxálico não mata os ácaros na criação operculada (Imdorf et al., 2003). A sua eficácia quando a criação operculada está presente é de cerca de 60% (Charrière 1997, Rademacher e Harz 2006). Assim, a utilidade do ácido parece limitada em climas quentes com um longo período de criação. Tendo em conta que o ácido oxálico é um composto adequado para o controle de V. destructor em colónias sem criação operculada durante o período de outono e inverno, dentro do conceito de Controlo Integrado da Varroa, o maior desafio para os cientistas passa por desenvolver uma nova formulação que possa ser usada durante a presença de criação operculada em colónias de A. mellifera. O objetivo principal do estudo que abaixo apresento o sumário foi avaliar a eficácia de uma nova formulação de libertação lenta (Aluen CAP), baseada no ácido oxálico, para utilizar na presença de criação operculada.

Sumário: Um produto orgânico à base de ácido oxálico foi avaliado para uso no controle de Varroa sob condições climáticas de primavera/verão na Argentina. A formulação consiste em quatro tiras feitas de celulose impregnada com uma solução à base de ácido oxálico. Quarenta e oito colmeias foram utilizadas para avaliar a eficácia do produto. Os resíduos do produto também foram testados em mel, abelhas e cera. Cada ensaio teve respectivos grupos de controlo sem tratamento oxálico. No início da experiência, foram aplicadas quatro tiras da formulação às colónias pertencentes ao grupo tratado. Os ácaros caídos/mortos foram contados após 7, 14, 21, 28, 35 e 42 dias. Após a última contagem, as tiras foram removidas e as colónias receberam duas tiras de flumetrina durante 45 dias. Os ácaros caídos/mortos foram contados ao longo deste período. A eficácia média do produto orgânico foi de 93,1% com baixa variabilidade. Este produto é um tratamento orgânico concebido para o controlo de Varroa durante a presença de criação e representa uma boa alternativa aos tratamentos sintéticos.

fonte: http://link.springer.com/article/10.1007/s13592-015-0405-7

introduzir rainhas novas em colmeias estabelecidas

Como era minha intenção construí cerca de uma centena de tabuleiros divisores no início da passada primavera.

O tabuleiro divisor é neste momento para mim o mais crucial dos equipamentos apícolas que possuo: pela sua simplicidade, pela sua versatilidade, pelo seu baixo preço. Como estou muito satisfeito com este equipamento continuo a juntar as peças do puzzle para entrever de que forma poderei maximizar e diversificar o âmbito da sua aplicação no maneio que pratico. E somando e juntando as peças daqui e dali julgo que tenho um método bem desenhado e definido na minha cabeça com vista à introdução de rainhas novas, especialmente virgens, em colmeias já estabelecidas e com o auxílio do tabuleiro divisor.

Do saber que foi sendo construído pelas anteriores gerações de apicultores sabemos que em regra é mais fácil uma rainha estranha/nova ser aceite por uma colónia estabelecida durante um fluxo de néctar. Se não houver néctar a entrar na colmeia, a aceitação será facilitada com o fornecimento de xarope de açúcar.

Para aumentar a probabilidade de uma rainha nova ser aceite há ainda um conjunto de outras considerações a ter muito em conta:

  • dar às abelhas o tempo e a oportunidade de se acostumar com sua nova rainha. Durante este período de um a dois dias a rainha deve estar protegida por uma gaiola lhe permite manter contato “físico” com as obreiras (exsudando as feromonas reais no coração da colónia);
  • as abelhas mais jovens aceitam rainhas mais facilmente do que as abelhas velhas;
  • colónias menores aceitam as rainhas mais prontamente do que colónias maiores.

O método que apresentarei seguidamente apresenta estas vantagens:

  • evitará quaisquer interrupções na postura de ovos das rainhas atuais/velhas;
  • dispensará a utilização/aquisição de material dedicado, o que permite simplificar o trabalho do apicultor e torna-lo mais rentável.

(Abrindo parêntesis: Relativamente à dispensa de material dedicado a minha posição de princípio é que o apicultor moderno deve evitar sempre que possível comprar material e equipamentos que sirvam apenas para um maneio/operação específica. Deve privilegiar os métodos que lhe permitam fazer o que pretende com os materiais e equipamentos generalistas que já possui. No caso específico da criação de rainhas há muito equipamentos dedicados por onde nos podemos “despistar”e fazer derrapar orçamentos. Como consequência destas derrapagens orçamentais desejamos e necessitamos que cada colmeia produza 50 Kg de mel/ano para o apicultor, que dê ainda uns bons quilos de pólen e umas gramitas de apitoxina, tudo para que se paguem as despesas do ano. A minha opção é sempre que possível evitar o material dedicado e procurar os métodos de maneio de colónias que levem aos mesmos fins e que exijam materiais e equipamentos que já possuo do maneio habitual e normal das colmeias. Esta recomendação poderá ter interesse para os apicultores que se focam na produção de mel, como é o meu caso. Recomendo a terminar este parêntesis que tenham um quando muito dois focos se querem ter uma apicultura rentável no nosso país. Não se dispersem, nem no território nem nos produtos! Foquem-se na produção de um/dois produtos e concentrem a vossa operação num/dois territórios!)

Equipamento necessário a preparar antes de ir para o apiário:

  • uma alça de dimensões iguais à do ninho da colmeia e com quadros puxados ou laminados;
  • tabuleiro divisor;
  • jaula temporária de rainhas/pinça para apanhar rainhas.

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Fig. 1: Exemplo de uma pinça para apanhar rainhas

No apiário:

  • Coloque a alça que trouxe em cima do tabuleiro divisor e ao lado da colmeia estabelecida onde pretende introduzir a nova rainha;
  • Localize a rainha “velha” e coloque-a numa jaula temporária;
  • Remova 2 – 4 quadros com criação larvar e sobretudo operculada do ninho desta colmeia estabelecida com todas as abelhas aderentes. Estes quadros deverão ser colocados na alça igual ao ninho que trouxe consigo. Os quadros vazios que são removidos são introduzidos no ninho da colmeia estabelecida. Devemos manter a integridade da zona de criação, colocando estes quadros “novos”nas zonas laterais da mesma;
  • Coloque um ou dois quadros adicionais de mel retirados da colmeia estabelecida ou de outra colmeia depois de sacudidas as abelhas aderentes;
  • Se necessário sacuda ainda mais algumas abelhas dos quadros da colmeia estabelecida para os quadros colocados na alça que se encontra em cima do tabuleiro divisor. Pode fazê-lo com toda tranquilidade porque a rainha ainda se encontra na sua jaula temporária;
  • Liberte a rainha velha em cima dos quadros com criação que ficaram no ninho da colmeia estabelecida;
  • Coloque a alça com tabuleiro divisor em cima da colmeia estabelecida. A entrada do tabuleiro divisor deverá ter a direção contrária à entrada da colmeia estabelecida. Isso permitirá que as abelhas mais velhas saiam e voltem para a colmeia estabelecida em abaixo;
  • Passadas umas horas ou até um dia introduza a nova rainha na sua jaula na alça que foi preparada para a receber;
  • Esta nova alça/novo ninho, foi perdendo as abelhas mais velhas que foram sendo drenadas para o ninho estabelecido em baixo, tem uma parcela importante de abelhas novas, e tem um número menor de abelhas. Com este método estão reunidas as condições que garantem maior sucesso na introdução de novas rainhas;
  • Passadas duas ou três semanas, confirmada a boa postura da nova rainha, elimina a velha rainha ou retira-a para um núcleo, tira o tabuleiro divisor e sem mais operações reúne a colónia, agora com nova rainha.

abelha buckfast ou nenhum homem é uma ilha

O irmão Adam (Karl Kehrle 1898-1996) para responder à designada “doença da ilha de Wight”criou uma abelha híbrida que ficou mundialmente conhecida pela designação abelha buckfast.

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Fig. 1: O irmão Adam e a abadia de Buckfast

Esta abelha tem qualidades muito apreciadas pelos apicultores: boa produtora, resistente a doenças, pouco enxameadora, pouco defensiva. Estas qualidades devem-se ao conhecido “vigor híbrido” característico do cruzamento na primeira geração (F1). Contudo não está garantido que estas características sejam passadas às gerações seguintes. Para o garantir é necessário proceder à inseminação instrumental/artificial ou garantir zonas de congregação de zângãos suficientemente isoladas. Tanto quanto sei os criadores alemães parecem reunir estas condições e têm credibilidade neste nicho de mercado. Quanto à credibilidade de vários fornecedores de linhas buckfast podem ler aqui as dúvidas que o conceituado apicultor britânico Roger Patterson tem.

Como consequência os utilizadores da abelha buckfast ficam dependentes dos criadores de linhas credíveis (alemães muito provavelmente) e necessitam de renovar as rainhas a intervalos regulares de 1 a 2 anos, antes que as abelhas decidam fazê-lo naturalmente (enxameação ou supersedure) . Se assim não o fizerem as suas linhas buckfast depressa degenerarão com os cruzamentos com as linhas nativas (no nosso caso a iberiensis), donde resultarão linhas de características misturadas e imprevisíveis e geralmente muito agressivas.

Entretanto os apiários vizinhos com linhagens nativas podem ter sido desarranjados pela introdução das linhas buckfast nas imediações. Estes são os primeiros a receber o impacto de ter um vizinho apicultor que inopinadamente, ou por estar deficientemente informado, decidiu experimentar a abelha buckfast.  Lembra-me a frase que alguns infelizmente vão esquecendo ou pior ignorando: nenhum homem é uma ilha!

apivar provavelmente o melhor acaricida

De entre todos os acaricidas homologados em Portugal, o Apivar é provavelmente o melhor de entre eles.

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Fig. 1: Saquetas e tiras de Apivar

No caso dos acaricidas eles devem ser avaliados de acordo com um conjunto de critérios que sejam pertinentes. Na minha opinião os critérios a eleger devem ser:

  • segurança alimentar;
  • segurança para o aplicador;
  • baixo impacto na colónia de abelhas;
  • eficácia no controle da varroose;
  • facilidade de aplicação;
  • relação custo/benefício.

Relativamente à segurança alimentar estudos independentes e relatórios produzidos pelo Comité europeu para o uso de medicamentos veterinários são claros quanto a este ponto: a utilização do Apivar em colónias de abelhas antes, durante e após os fluxos de néctar não faz aumentar os níveis de amitraz e seus metabolitos para além dos limites estabelecidos (200µg por Kg de mel).

fontes principais:

  1. http://www.ema.europa.eu/docs/en_GB/document_library/Maximum_Residue_Limits_-_Report/2009/11/WC500010419.pdf
  2. https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-00892290/document
  3. http://projectapism.org/wp-content/uploads/2013/06/Final-Report_Pettis-341.pdf

Relativamente à segurança para o aplicador, as tiras de Apivar não obrigam a medidas e equipamentos de protecção individual dedicados ou extraordinários. O aplicador deve ter cuidado para evitar contactar com as mãos nuas nas tiras, o que não é difícil de conseguir porque por hábito já utilizamos luvas no exercício do nosso maneio apícola.

Mesmo em contextos de longa exposição das abelhas, rainhas e larvas de abelhas às tiras de Apivar confirmou-se um baixo impacto na colónia.

fontes principais:

  1. http://scientificbeekeeping.com/

Relativamente à eficácia no controle da varroose do Apivar ela é elevada quando comparada com a eficácia de outros acaricidas disponíveis. Já anteriormente me referi à vantagem de manter as tiras de Apivar 10 a 12 semanas nas colmeias para aumentar e prolongar o seu efeito acaricida. Por outro lado o modo de acção do amitraz (princípio ativo das tiras de Apivar) no ambiente da colmeia parecem tornar mais difícil e/ou demorado o surgimento de varroas resistentes ao mesmo.

fontes principais:

  1. http://gdsa34.e-monsite.com/medias/files/apivar-presentation-produit.pdf
  2. http://www.revmedvet.com/2007/RMV158_283_290.pdf
  3. http://ecbiz193.inmotionhosting.com/~nodglo5/wp-content/uploads/2016/04/FNOSAD-2014-study-high-quality.pdf
  4. http://www.alsace.chambagri.fr/fileadmin/documents_alsace/INTERNET/elevage/flash_abeilles/Bilan_enquete_sur_les_pertes_hivernales_2014-2015.pdf

No que respeita à facilidade na aplicação, para além da grande simplicidade na colocação das tiras, quero referir dois aspectos a ter em consideração para uma melhor eficácia: as tiras de Apivar devem ser colocadas no interior da zona de criação e passadas 6 a 8 semanas devem ser ajustadas caso a zona de criação se tenha deslocado.

fontes principais:

  1. http://gdsa34.e-monsite.com/medias/files/apivar-presentation-produit.pdf
  2. http://www.apivar.co.nz/FAQs.htm

Finalmente a relação custo/benefício: sendo o tratamento eficaz, como tem provado ser, esta relação é muito positiva para o apicultor. No pior cenário serão gastos cerca de 10 € por colmeia (2 tratamentos a 5€ cada, custo que se vê substancialmente reduzido se comparticipado pelo PAN) e será mantido um efectivo que se avalia em 100 € (montante abaixo do actual valor de mercado de uma colónia de abelhas). Por outro lado é um tratamento que obriga apenas a duas viagens, custos que poderão ser minimizados facilmente se complementados com outras tarefas a realizar no apiário.

Mas como nada que o homem construa é perfeito, também o Apivar apresenta um calcanhar de Aquiles: sendo um tratamento de muito lenta libertação do princípio activo é de eficácia imprevisível quando colocado em colónias com um nível de infestação pelo ácaro varroa demasiado avançado.

fontes principais:

  1. http://www.alsace.chambagri.fr/fileadmin/documents_alsace/INTERNET/elevage/flash_abeilles/flash_ABEILLES-n_2-Decembre2011.pdf

Nota: naturalmente não me responsabilizo por qualquer resultado menos bom com a aplicação das tiras de Apivar. Pretendi manifestar a minha opinião com base no que conheço, suportado no que tenho lido e sustentado na minha experiência como apicultor. Cada um de nós é responsável pelo que decide e deve assumir os riscos dessa decisão.

produção global de mel e apicultura global

A análise detalhada da produção total de mel e das exportações indica contradições sérias e óbvias. Como mostra o gráfico abaixo, houve um enorme aumento no total de exportações globais de mel (61%), sem um aumento correspondente no número de colmeias em todo o mundo (8%).

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Graf. 1: A evolução do número de colmeias no mundo (linha castanha) entre 2007 e 2014 foi de 8%; por seu lado no mesmo período a evolução das exportações de mel (linha azul) foi de 61%.

Esta aberração é mais preocupante ainda sabendo que a população global de abelhas está sob tremendo stresse e em declínio. Nas operações de apicultura mais avançadas e profissionais do mundo, como na América do Norte e na Argentina, a produtividade por colmeia diminuiu substancialmente. Nestas zonas do mundo onde médias de 55Kg/colmeia eram típicas, atualmente produzem-se 22-32 Kg/colmeia, e em circunstâncias climáticas adversas esta média baixa ainda mais. As perdas de abelhas relacionadas com os neonicotinóides, pesticidas, ácaros, colapso das colónias, redução da área cultivada para forragem, monoculturas e monodietas, stresse, poluição ambiental e mudanças climáticas contribuíram para esta perda de produtividade por colmeia. O aumento das exportações globais de mel neste contexto associado a um número estável de colmeias e a quedas de produtividade por colmeia nos principais países produtores cria uma anomalia que sugere uma adulteração generalizada do mel.

O fato dos apicultores chineses extraírem mel com níveis de humidade muito alta na ordem dos 35-40% (quando o standard de humidade num mel maduro se situa em torno dos 17%) e posteriormente reduzirem em fábricas aquele alto teor de humidade pode ser um fator que contribui para esta anomalia. A extração de mel imaturo e não amadurecido pode aumentar as quantidades produzidas, mas diminuiem as qualidades e privam o mel dos benefícios para a saúde e o seu estatuto de produto puro e natural. Felizmente, a tecnologia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) pode fornecer uma ferramenta eficaz para distinguir o mel imaturo e inautêntico do mel natural. Padrões para as práticas globais de apicultura profissional e metodologias de teste eficazes para o mel precisam de evoluir para preservar a integridade do mel.

Fonte: http://www.ahpanet.com/page/IntlHoneyMarket