A Lei de Farrar é muito clara relativamente à relação que existe entre o número de abelhas de uma colónia e a produção de mel. Mais, diz-nos que esta relação é não-proporcional, isto é, uma colónia de 60 000 abelhas produz mais que duas colónias com 30 000 abelhas.
Em Portugal, os modelos de colmeias mais utlizados são a reversível, a lusitana e a langstroth. Estes ninhos, na configuração de um só andar, não têm uma dimensão suficientemente ampla para albergar a postura de uma rainha prolífera na altura do pico de postura que, em geral, ocorre na primeira metade da primavera. Alguns apicultores, conhecendo os constrangimentos destes ninhos, colocam uma segunda caixa, o chamado sobre-ninho ou segundo ninho, de igual dimensão para duplicarem o espaço da câmara de criação. Esta solução, com alguns inconvenientes não o negamos (ver post relacionado), justifica-se pelo facto de potenciar o desenvolvimento de colónias mais populosas, logo mais produtivas e, em simultâneo, promover o descongestionamento do ninho, reduzindo o potencial de enxameação (ver post relacionado).
Mas… (há sempre um “mas”, não é?) para que o efeito do sobreninho seja optimizado e se concretize em colmeias mais populosas e menos congestionadas há um “saber-fazer”, que tem de ser dominado pelo apicultor que deseja fazer da apicultura algo mais do que um simples acto de colocar caixa sobre caixa.
Neste sentido vamos identificar duas técnicas, a saber, pyramiding e checker boarding. Vou manter as designações em inglês pela simples razão da minha dificuldade em traduzi-las de forma satisfatória para o português.
Pyramiding é uma técnica que pode ser utilizada para dar um acesso rápido quer à rainha quer às obreiras ao sobre-ninho, permitindo um aumento da postura e população e, simultaneamente, reduzindo o congestionamento no ninho. Esta técnica é desencadeada com a colocação do sobre-ninho sobre a colmeia que até aí tinha apenas um ninho. Se possível, é desejável utilizar quadros com cera puxada, mas se tal não for possível podem ser utilizados quadros com cera moldada. O diagrama em baixo ilustra como os quadros são reconfigurados quando utilizamos esta técnica com quadros de cera puxada.


Com os diagramas à nossa frente, passo agora à descrição passo a passo da técnica pyramiding:
1— Crie um espaço na nova caixa a adicionar (o sobre-ninho) retirando 3 quadros de cera puxada do centro desta caixa;
2— Tire 2 quadros com criação do ninho e um quadro com mel e pólen do ninho original e coloque-os no espaço central criado na nova caixa;
3— Centre os quadros com criação na caixa original e preencha os espaços vazios nas laterais da câmara de criação com quadros vazios (preferencialmente com cera puxada) retirados da nova caixa/sobre-ninho.
Depois de colocada esta segunda caixa ou sobreninho, mais opções ficam disponíveis por forma a reduzir o congestionamento e ajudar a prevenir a enxameação. Devido à tendência natural das abelhas fazerem o seu movimento para cima, a partir de um certo momento a probabilidade de a câmara de criação se localizar neste segunda caixa é grande. Neste caso, a caixa superior e a caixa inferior podem ser invertidas. Esta operação estimula as abelhas a acederem e a utilizarem de forma mais equilibrada as duas caixas aos invés de uma só.
Uma situação menos comum surge quando a rainha está a fazer criação em simultâneo nas duas caixas, ninho e sobreninho. Apesar de não utilizar o modelo reversível, tudo me leva a crer que esta situação é relativamente comum neste modelo de colmeia (aqueles que utilizam este modelo e que me estiverem a ler podem confirmar ou infirmar esta ideia fazendo um comentário). Nesta circunstância a inversão das caixas pode não ser adequado porque pode resultar numa divisão indesejada da câmara de criação ou ainda porque esta inversão não diminui de forma notável o congestionamento de abelhas nos ninhos. Outra acção deverá ser tomada que não a inversão das caixas. Para gerir esta circunstância, rainhas a fazer postura nas duas caixas, ninho e sobre-ninho, podemos utilizar a técnica do checker boarding, com o objectivo de aliviar o congestionamento do ninho e assim reduzir o impulso da enxameação.
Lembremo-nos que como resultado da enxameação por falta de espaço, perdemos não só a rainha e 40 a 50% das abelhas, mas também a esperança de aquela colónia vir a fazer uma boa produção de mel. Não nos podemos esquecer que metade das abelhas produzem menos que metade do mel.
Sobre o checker boarding escreverei mais adiante.