contagem de varroas foréticas: instrumentos, procedimentos e cálculos

Estes três vídeos apresentam-nos de forma rápida e esclarecedora 3 técnicas, os instrumentos, os procedimentos e os cálculos para proceder à estimativa da infestação das abelhas adultas pelo varroa.

Os limiares para a decisão de tratar situam-se, no meu caso, entre os 2% e 3% de infestação das abelhas adultas (ver aqui).

Os vídeos estão legendados em francês e qualquer dúvida que tenham acerca do seu conteúdo utilizem por favor os comentários para as colocarem. Procurarei responder rápida e claramente às vossas dúvidas.

evolução anual de parâmetros populacionais em colónias de Apis mellifera L. (Hymenoptera: Apidae) parasitadas por Varroa jacobsoni Oud. (Mesostigmata: Varroidae)

Este estudo despertou-me um grande interesse por várias razões, a começar pelo facto de ter sido realizado em colónias de abelhas localizadas na Comunidade Valenciana, isto é, em colónias de abelhas da mesma subespécie que o nossa: a.m. iberiensis. Somado a este facto, todos os gráficos mereceram e merecem a minha melhor atenção, em particular os respeitantes às colónias não tratadas. Para todos os que desejam conhecer de forma séria o principal inimigo das nossas abelhas, tem neste artigo um excelente auxiliar.

Resumo: Realizou-se um acompanhamento da evolução da população do ácaro Varroa jacobsoni Oud. em colónias de abelhas localizadas na Comunidade Valenciana. Avaliou-se regularmente a mortalidade natural do parasita e a percentagem de infestação em abelha adulta. Para testar o efeito do ácaro sobre as colónias foram determinados valores mensais de cria de abelhas, população de abelhas adultas, peso das colónias e peso médio de abelhas. O pico da população de ácaro verificou-se nos meses da primavera. O ácaro diminuiu o número de cria de abelhas, a população de abelhas e o peso médio de abelhas. As colónias que não foram tratadas com acaricidas morreram num espaço de 10 e 12 meses após a infestação inicial.

fonte: http://www.mapama.gob.es/ministerio/pags/biblioteca/plagas/BSVP-18-04-777-788.pdf

Acerca deste estudo quero sublinhar estes aspectos:

  • as colónias para este estudo foram formadas/criadas com uma população baixa de ácaros em junho/julho;
  • os meses de fevereiro e março são os meses em que se assiste ao pico da criação para esta região de acordo com o ecotipo de abelhas, as condições climáticas, e as florações (predominância de laranjeiras) segundo os autores;
  • as colmeias não tratadas não enxameiam e a diminuição da população de abelhas adultas é gradual ao longo de quatro meses, março a junho (ver fig. 6 no artigo), até à sua morte.
  • a infestação pela varroa nas abelhas adultas quase que triplica no período de um mês apenas, entre abril e maio (ver fig. 6 no artigo);
  • as colónias não tratadas não aumentaram de peso no período de fluxo de néctar;
  • a queda natural/mortalidade de ácaros varroa mais que quadriplica entre o início de fevereiro e meados de março (ver fig. 9 no artigo);
  • quando a infestação das abelhas adultas ultrapassa os 20% as abelhas nascem mais pequenas e pesam menos (ver fig. 11 no artigo);
  • as colónias não tratadas morreram entre 10 a 12 meses após terem sido formadas/criadas.

duração do tratamento com apivar: 6 a 8 semanas ou 10 a 12 semanas?

Para além de muitos outro dados com muito interesse que este estudo, realizado em França e publicado em 2007, nos apresenta, sublinho as conclusões tiradas relativamente à duração do tratamento com Apivar: os autores recomendam deixar as tiras nas colmeias durante 10 a 12 semanas, em particular no tratamento de final de verão.

Resumo: Para verificar a validade das suspeitas sobre uma perda de eficiência do Apivar (substância activa: amitraz), devido ao aparecimento de resistência no Varroa destructor, contámos o número de ácaros varroa caídos em 10 colmeias tratadas durante o outono e início do inverno de 2005 e o número de ácaros residuais nessas colmeias após o tratamento no início de 2006. Estes dados foram comparados com os obtidos em 5 colmeias não tratados no mesmo apiário, localizado em Sophia Antipolis (Alpes Marítimos – França). Todas as colmeias são provenientes do mesmo apiário e foram tratada da mesma maneira com Apivar ao longo dos quatro anos anteriores. No início da experiência existia nos dois grupos [grupo experimental e grupo de controlo] um número semelhante de ácaros (média de 1 104 varroas por colónia); no grupo tratado/experimental, assistiu-se a uma elevada mortalidade de ácaros, principalmente no início do tratamento, enquanto no grupo não tratado/controlo a mortalidade apenas diminuiu ligeiramente. Após o tratamento, as colónias de controlo/não tratadas apresentavam em média 622 ácaros contra 2.8 para as colónias tratadas. Comparando estes valores da carga parasitária, deduzimos que o Apivar apresentou uma eficiência equivalente a 99,5% nas colónias tratadas, portanto a eventual resistência do Varroa destructor aos tratamentos com Apivar não é confirmada pelos resultados, de acordo com o protocolo seguido. A correlação entre o número de parasitas recolhidos diariamente na grelha inferior do estrado e o nível de parasitação na colmeia é confirmada neste estudo e justifica a contagem de varroas como um método de alerta ao apicultor e como instrumento de decisão sobre a aplicação do tratamento. […]

A duração do tratamento

Vários estudos têm demonstrado a capacidade do varroa re-infestar as colmeias com frequência variável, dependendo da época: os dados mais extremos publicados referem 2 varroas por semana na primavera e 70 no verão. Se a estes números de re-infestação se adicionarem os varroas que se reproduzem nas colónias ainda com criação, eles podem a pôr em causa a sobrevivência da mesma no inverno. Esta é a razão pela qual recomendamos manter as tiras nas colmeias 10 a 12 semanas, em vez das 6 recomendadas. No nosso ensaio verificámos a destruição de 2 a 42 ácaros por colónia durante o intervalo que vai das 6 semanas às 12 semanas. É verdade que, apesar das precauções tomadas, a re-infestação das colmeias tratadas é mais provável se existirem colmeias não tratadas na vizinhança. [p. 288]”

fonte: http://www.revmedvet.com/2007/RMV158_283_290.pdf

Em vários ensaios franceses realizados em 2014 e 2015 que tenho consultado constato que as tiras de Apivar são mantidas pelo menos durante 70 dias; para o Apitraz também é recomendado a sua permanência durante 10 a 12 semanas (Federico Casillas, palestra proferida no III dia da APICAVE, 28 Jan., 2017). Em vários fóruns de apicultura, franceses e espanhóis, também os apicultores referem que estão a deixar os tratamentos destas marcas 10 a 12 semanas.

Actualização em Dezembro de 2018: o fabricante, Veto-Pharma, já recomenda a manutenção das tiras de Apivar 10 semanas no interior das colmeias. Mais vale tarde…!

nem todas as varroas são iguais: implicações para uma nova família de tratamentos

Como muitos de nós, estou informado que em vários países da América do Sul, entre os quais a Argentina e o Chile, os apicultores locais estão a utilizar um novo veículo para ministrar o ácido oxálico. Refiro-me às tiras de cartão com uma mistura de ácido oxálico e glicerina. Na Argentina já surgiu inclusivamente o Aluen Cap, produto actualmente homologado naquele país (ver mais aqui e aqui). Contudo, como habitualmente, os apicultores fazem réplicas caseiras procurando fazer igual e mais barato. Nos EUA, Randy Oliver fez e está a fazer ensaios com uma formulação e veículo algo diferentes, as “blue shop towels”, para libertar de forma lenta o ácido oxálico, o que e está a suscitar um enorme interesse e a criar uma grande expectativa na comunidade apícola de língua inglesa (EUA, Canadá e Nova Zelândia).

Por cá, falando sobre esta nova família de tratamentos com alguns apicultores experimentados e credíveis, que já realizaram alguns ensaios com tiras caseiras de oxálico e glicerina, relataram-me que os resultados não foram muito animadores. O efeito acaricida ficou aquém do esperado, tendo em conta os níveis de eficácia relatados pelos nossos companheiros sul americanos. A razão que encontram é que o sul da américa está colonizado por uma estirpe de varroa destructor (tipo japonês/tailandês) menos destrutiva/virulenta que a presente no nosso continente e no nosso país (tipo coreano). Também em Espanha os resultados são por enquanto pouco animadores, segundo me referiram.

Fig. 1: Colmeia com tiras de cartão embebidas na mistura de ácido oxálico com glicerina

Para os que estão a testar ou pensar testar esta nova formulação e este novo veículo recomendo as seguintes precauções:

  • muito cuidado ao manipularem o ácido oxálico;
  • acompanhem de perto as colónias tratadas com esta formulação e façam avaliações da taxa de infestação antes, durante e após os tratamentos e tirem as vossas conclusões com base nos números e não nas aparências;
  • não se esqueçam que apesar do ácido oxálico estar homologado, este veículo, as tiras de cartão com uma mistura de ácido oxálico e glicerina, não está.

o timing do tratamento contra a varroa: juntando as peças

À medida que vou lendo, ouvindo, cruzando os dados com a minha experiência, fazendo cálculos e reflectindo, procuro encaixar as peças do puzzle para definir os momentos mais ajustados (timing) para colocar os tratamentos/acaricidas, de modo a que estes não sejam colocados demasiado cedo ou tarde de mais nas colmeias. Trato de acordo com o calendário, logo a definição do momento certo é crítico para obter os melhores resultados. Neste post (que em grande medida expressa as ideias por mim apresentadas no passado sábado, no III dia da APICAVE, onde fui escutado por mais de uma centena de apicultores atentos e  interessados — renovo os meus agradecimentos a todos: apicultores, direcção da APICAVE, colegas de painel, moderadores, pelo dia muito gratificante que passei na sua companhia) importa-me reflectir e concluir qual o timing mais adequado para iniciar os tratamentos, em especial o tratamento de final de verão, em função do cálculo da taxa de infestação. Se quisermos elaborar uma fórmula simples teremos: timing= função (população de ácaros/população de abelhas).

Fig. 1: Momento da minha apresentação do tema “Controlo da varroose: estratégias para o sucesso”, no III dia da APICAVE, 18 janeiro, 2017.

A eficácia dos tratamentos à entrada do outono: a minha experiência  nos anos de 2014, 2015 e 2016

As observações nos meus apiários (dados dos anos 2014, 2015 e 2016) mostraram-me que, em alguns apiários na beira alta, em geral os situados a cotas mais baixas,  o tratamento iniciado entre a segunda semana de setembro e a última semana de setembro não é eficaz em 10% a 20% das colmeias, com algumas variações entre os apiários.

Estes valores de ineficácia são relativamente transversais. Os dados deste ensaio francês em torno das perdas invernais de 2014/2015 apontam na mesma direcção.

Nestas colmeias onde o primeiro tratamento de outono não foi suficientemente eficaz (10% a 20%), re-tratadas com outro tratamento sobreviveram cerca de um terço no inverno de 2014/2015; no inverno de 2015/2016 sobreviveram mais de dois terços re-tratadas com o mesmo tratamento. A melhoria na taxa de sobrevivência, de um ano para o outro, atribuo-a ao facto de ter dispendido um maior esforço na sua despistagem, ter apoiado mais vezes estas colónias com alimentação artificial, factores estes associados a um inverno menos rigoroso em 2015/2016. No inverno de 2016/2017, que ainda decorre, a mortalidade invernal ultrapassa até agora pouco mais de 1%. Estes dados de permitem-me desvalorizar, até agora, a hipótese dos resultados se deverem à existência de uma estirpe de ácaros resistentes aos princípios activos utilizados (tenho utilizado, predominantemente, o amitraz libertado das tiras de Apivar).

Junto outros dados: em 2015 realizei uma avaliação da taxa de infestação pré e pós-tratamento no tratamento de final de inverno/início da primavera. Coloquei as tiras de acaricida na primeira semana de Fevereiro e retirei-as na primeira semana de abril.  Os números que encontrei na avaliação pré-tratamento variaram entre 1,8% e 2,6%, de acordo com os apiários monitorizados. A avaliação pós-tratamento nos mesmos apiários revelou uma infestação entre os 0,2% e os 0,4%. A monitorização foi feita com a recolha de abelhas adultas e posterior lavagem das mesmas em água com detergente para as varroas se soltarem das abelhas, filtradas através de um coador de mel com duas malhas (técnica com boa fiabilidade).

A dinâmica populacional das colónias de abelhas entre abril e setembro.

A evolução do número de abelhas da colónia está dependente da relação entre o número de abelhas que nascem e o número de abelhas que morrem num determinado período de tempo. Não nos podemos esquecer que esta relação está fortemente dependente dos fluxos de néctar e pólen que entram na colmeia. Estes por sua vez estão dependentes da flora nectarífera e/ou polinífera do local assim como das condições ambientais no período de tempo considerado. Esta relação varia de local para local e mesmo de ano para ano.

De acordo com as minhas observações, aqui apresentada com maior detalhe, as colónias dos meus apiários, em particular as situadas em cotas mais baixas (entre 600 e 700 metros de altitude), apresentam em geral o ninho cheio de abelhas e muitas delas já têm as abelhas a subirem generosamente à primeira meia-alça, no final de abril. Estou convicto que a população de abelhas adultas nesta altura do ano rondará os 23 000 indivíduos, pelo menos. Assim em baixo, fica a minha proposta para o crescimento e declínio da população de abelhas entre finais de abril e finais de setembro:

  • final de abril= 23 000 abelhas adultas;
  • final de maio= 45 000 abelhas adultas;
  • final de junho=39 000 abelhas adultas;
  • final de julho=33 000 abelhas adultas;
  • final de agosto=27 000 abelhas adultas;
  • final de setembro =21 000 abelhas adultas.

Estes números são em boa medida confirmados pelas minhas observações, em particular as realizadas no final de julho e final de setembro.

Retomo esta ideia: se quisermos elaborar uma fórmula simples para definirmos o melhor momento para efectuar os tratamentos temos: timing= função (população de ácaros/população de abelhas). Neste momento falta-nos estimar o número aproximado de ácaros presentes nas colónias no período de tempo em causa.

A dinâmica populacional dos ácaros varroa entre abril e setembro

Em 2015, a avaliação pós-tratamento revelou uma infestação entre os 0,2% e os 0,4%. Nesta altura do ano as minhas colmeias apresentavam muita criação fechada/selada, como habitualmente. Há um elevado consenso na comunidade científica que na presença de criação fechada/selada 80-90% das varroas estão protegidas pelos opérculos. O método que eu utilizei de monitorização de varroas em abelhas adultas permite-me ficar com uma boa ideia dos números da infestação de apenas 15% da população total. Fazendo os cálculos, com base numa taxa de infestação de 0,2%, obtenho 46 varroas foréticas (15% em 23 000 abelhas), logo 100% da população de varroas serão 307 varroas.

Existe um bom consenso na comunidade científica que a população de ácaros varroa duplica o seu número, em colónias com criação, por cada 30 dias passados. Aceitando como fidedigno que a população total de varroas no final de abril é de 307 varroas, temos estes números nos meses seguintes:

  • final de maio= 614 varroas população total;
  • final de junho= 1228 varroas população total;
  • final de julho= 2456 varroas população total;
  • final de agosto= 4912 varroas população total;
  • final de setembro = 9824 varroas população total.

Juntando os dados e concluindo

Estamos, nesta altura, em condições de calcular a taxa de infestação nas abelhas adultas pelo ácaro varroa nas colónias que apresentem uma dinâmica populacional aproximada da que apresentei.

  • final de abril=307 varroas para 23 000 abelhas; infestação de 0,2%;
  • final de maio= 614 varroas para 45 000 abelhas; infestação de 0,2%;
  • final de junho= 1228 varroas para 39 000 abelhas; infestação de 0,47%
  • final de julho= 2456 varroas para 33 000 abelhas; infestação de 1,12%
  • final de agosto= 4912 varroas para 27 000 abelhas; infestação de 2,72%
  • final de setembro = 9824 varroas para 21 000 abelhas;infestação de 7%.

Neste artigo científico os autores concluem dizendo que uma taxa de infestação pelo ácaro da varroa superior a 3% aumenta em cinco vezes a probabilidade do tratamento ser ineficaz, portanto o timing com que o mesmo é efectuado é crítico/decisivo quanto à sua eficácia.

Concluo que o momento/o timing ajustado para iniciar o tratamento contra a varroa, nas minhas colónias na beira alta, especialmente as situadas a cotas mais baixa, e com um acaricida lento tem uma boa janela de oportunidade ao longo do mês de agosto. Mais tarde poderá ser tarde demais. Não só pelos ácaros mas também pelos vírus por eles veiculados. Estas abelhas que irão nascer devem ser o mais saudáveis possível para viverem os 100 a 120 dias até à primavera seguinte.

fatores de risco associados às falhas dos tratamentos para o controlo da varroa em colónias de abelhas sem período de paragem de postura

Li este estudo, levado a cabo na Argentina, pela primeira vez à cerca de duas semanas e é, na minha opinião, muitíssimo interessante, em especial pela correlação que estabelece entre o timing do tratamento e a sua maior ou menor eficácia, ideia que tenho sublinhado em vários posts (por exemplo aqui e aqui).

Resumo- O tratamento contra o Varroa destructor tem-se tornado uma ferramenta básica nas práticas apícolas, principalmente durante o outono. A eficácia do tratamento deve ser melhorada através da identificação de variáveis ​​que afectem o resultado final. O objetivo deste estudo foi identificar os fatores de risco associados ao resultado do tratamento obtido durante o controle de outono do Varroa destructor. A infestação de ácaros após o tratamento foi avaliada em 62 apiários e os dados referentes às práticas de maneio foram coletados por meio de um questionário. […] As colónias com níveis elevados de ácaros antes do tratamento (P = 0,002) e pertencentes a apicultores que não substituíam frequentemente rainhas (P = 0,001) estavam associadas a um maior risco de falha do tratamento. Outras práticas apícolas melhoraram indiretamente a eficácia do tratamento. Uma estratégia integrada para controlar os ácaros que inclui tratamentos sintéticos/químicos e o maneio adequado por parte dos apicultores é necessária para manter as populações de ácaros baixa durante o inverno.

fonte: http://link.springer.com/article/10.1007/s13592-015-0347-0

Deste artigo científico, que aconselho a fazerem o download, retiro os seguintes dados, que muito me interessam para um post a surgir em breve:

  • A prevalência de colónias com mais de 1% de infestação por V. destructor após um tratamento com um acaricida no outono foi estimada a partir do exame de diagnóstico de 377 colónias de abelhas. As colónias com infestação por Varroa superior a 1% após o tratamento de controlo foram consideradas como colónias onde o tratamento falhou. Este limiar foi estabelecido, supondo que as colónias que passam o inverno com postura e criação disponível devem manter os níveis de Varroa tão baixos quanto possível, uma vez que 85-90% das Varroa estão nos alvéolos fechados, durante um ciclo de criação da varroa [de 12 dias na criação de obreira: ver aqui e aqui].
  • Um total de 76 (20,2%) das 377 colónias apresentou infestação superior a 1% (1 ácaro por 100 abelhas) após tratamento contra V. destructor e foram consideradas como colónias onde o tratamento falhou. A média de V. destructor (por colónia) antes do tratamento foi de 0,05 ± 0,06 ácaros por abelha adulta (5 ácaros por 100 abelhas).
  • O acaricida mais utilizado pelos apicultores durante o outono de 2013 foi a flumetrina (43 dos 62 apicultores), seguido de amitraz (10 apicultores), ácido oxálico (5 apicultores) e coumaphos (4 apicultores). A maioria dos apicultores (90,5%) aplicou um acaricida comercial: 69,8% utilizaram Flumevar® (tiras com flumetrina, 0,34 g/100 g de produto), 14,3% Amivar® (Amitraz, 4,13 g/100 g de produto), 3,2% Cumavar® (tiras com cumafos, 8,5 g/100 g de produto) e 3,2% de Oxavar® (pó de ácido oxálico 97 g/ 100 g de produto). As formulações caseiras foram raras (9,5%).
  • Conforme evidenciado pelos nossos resultados, as colónias onde o tratamento falhou apresentaram 4,9 vezes mais risco desta ocorrência quando a percentagem de infestação de Varroa antes do tratamento era superior a 3%.

as novas velhas regras de rotulagem

Com este esclarecimento a DGAV vem tirar as poucas ilusões que eu acalentava em torno das mudanças necessárias e justas na rotulagem do mel com origem em países terceiros: Esclarecimento N.º1/DGAV/2017.

Recordo uma coisa que nós sabemos mas muitos esquecem ou desvalorizam: as abelhas estrangeiras não polinizam as nossas árvores, plantas e flores.

Ver assunto relacionado.

a dinâmica populacional de uma colónia de abelhas entre março e setembro

Não são muitos os estudos credíveis e com dados quantificados que eu conheço em torno do crescimento e declínio populacional de abelhas adultas no período que vai do fim do inverno até à entrada do outono, isto é, de março a setembro. Para as abelhas da nossa península não conheço nenhum. Contudo, juntando dados de várias fontes e cruzando-os com as observações que tenho feito nos meus apiários na beira alta, avanço com a proposta que agora apresento.

Qual o número máximo de abelhas adultas presentes por colmeia quando trabalhamos com a nossa abelha ibérica? Segundo António Pajuelo, nas jornadas do Vale do Rosmaninho, em regra não passam das 45 000. Na altura em que o ouvi pareceu-me pouco, dado as várias referências que conheço de populações de 60 000  e mais abelhas… mas em locais diferentes (EUA e Canadá) e com outras raças de abelhas. Decidi  fazer alguns cálculos em casa e cruzá-los com as minhas observações. Os quadros do ninho Langstroth, em regra, apresentam 7 000 alvéolos. Sabemos que uma abelha adulta ocupa uma área que corresponde, grosso modo, a 3 alvéolos, portanto um quadro bem preenchido de abelhas tem cerca de 2 300 abelhas (7000/3= 2333). Feitos os cálculos um ninho Langstroth, com 10 quadros bem cobertos de abelhas, comporta cerca 23 000 abelhas. Uma colmeia Langstroth, com um ninho e uma alça igual ao ninho (ou cerca de 2,5 meias alças), bem cheia de abelhas tem cerca de 46 000 abelhas. Nas minhas colmeias é este máximo que em regra tenho observado. Para mim, é agora claro que Pajuelo tem razão.

Fig. 1: Exemplo de um ninho e um quadro bem cheio de abelhas

Em que altura do ano as colónias atingem o pico populacional? Segundo os dados do investigador canadiano Harris o ritmo de oviposição de uma rainha vai em crescendo até 60 dias após o início do aumento linear de postura. Quando as rainhas atingem o máximo de oviposição as colónias apresentam cerca de 16 000 alvéolos operculados (de acordo com as medições de Nolan e Harris). Estes valores são relativos a outras “raças” de abelhas, mas vou considerá-los fidedignos no caso das rainhas de raça ibérica (desconheço se existem dados para o nosso caso). Outro dado muito interessante apresentado por estes investigadores é que neste momento a colónia atingiu cerca de metade da sua população máxima, isto é cerca de 30 000 abelhas (ver mais aqui). Como já referido em cima a população máxima das minhas ibéricas, em regra, situa-se nos 45 000 indivíduos. O crescimento linear das minhas colmeias na beira alta inicia-se, em regra, no início de março. Chega ao seu topo 60 dias depois, no início de Maio, coincidente com o período de enxameação, e a população máxima de abelhas adultas (45 000) acontece  2 a 3 semanas depois, por volta da 3ª semana de Maio. Estou convicto que a partir desta altura, inevitavelmente, a população de abelhas adultas começa a decrescer.

Fig. 2: Exemplo de um quadro típico de uma rainha no pico da postura

A  que ritmo e quais os números a que declina a população de abelhas a partir dos finais de maio. O declínio de uma população de abelhas resulta da diferença entre o número de abelhas nascidas e o número de abelhas que morrem no período de tempo analisado. Como já vimos no período de crescimento de uma colónia ela aumenta, em regra, dois quadros de abelhas por semana, o equivalente a cerca de 4600 abelhas por semana no modelo Langstroth (ver mais aqui).

As minhas observações têm confirmado que, em condições normais, as rainhas mantêm a postura, ainda que em  declínio, entre os meses de maio e novembro. Entre finais de maio e finais de novembro continuam a nascer abelhas, mas a uma taxa que não permite compensar as abelhas que vão morrendo no mesmo período.  Sabendo que a colónia cresce a um ritmo de dois quadros de abelhas até atingir o número máximo da sua população, parece-me razoável propor que a partir do início de junho morrem cerca de 4600 abelhas por semana (o equivalente a dois quadros de abelhas).

A minha proposta é credível? Entre finais de maio e finais de setembro, período das abelhas de verão, a colónia perde por semana o equivalente a 4600 abelhas e ganha nesse mesmo período de tempo, presumo, cerca de 3000 novas abelhas. A perda líquida de abelhas entre início de junho e finais de setembro é de cerca de 1500 abelhas por semana, isto é, 6000 abelhas por mês. Sustentado nestes valores calculo a seguinte população aproximada de abelhas adultas entre finais de maio (pico da população) e finais de setembro:

  • final de maio= 45 000 abelhas adultas;
  • final de junho=39 000 abelhas adultas;
  • final de julho=33 000 abelhas adultas;
  • final de agosto=27 000 abelhas adultas;
  • final de setembro =21 000 abelhas adultas.

Estes são números elaborados através de cálculos indiretos e de uma presunção baseada no que observo nas minhas colmeias. Nos últimos anos tenho terminado a cresta dos méis claros na última semana de julho. Nesta altura, crestadas as meias-alças, por norma deixo ficar as colmeias com uma meia-alça, para as abelhas armazenarem ainda alguns néctares/meladas mais tardios. Tenho verificado que as abelhas se acomodam bem nesta configuração de colmeia: ninho + meia-alça. Se o ninho albergar 23 000 abelhas e a meia-alça metade dessa população não ultrapassamos em muito as 33 000 abelhas referidas no cálculos anteriores. No final de setembro, em regra a configuração das minhas colmeias apresenta apenas o ninho, espaço mais do que suficiente para albergar as abelhas existentes, que ocupam 8 a 10 quadros, observação que não diverge das 21 000 abelhas atrás calculadas.

da beira alta à beira litoral, com passagem pela beira baixa

Na passada semana estive na beira alta onde efectuei mais uma ronda pelas minhas colmeias. As principais tarefas realizadas foram:

  • renovar com fondant/pasta de açucar as colmeias necessitadas. Coloquei cerca de 280 Kg em cerca de 600 colmeias.
  • retirar dos apiários colmeias mortas. Retirei 4 colmeias. Estas juntam-se às 3 colmeias retiradas desde a entrada do outono. A mortalidade outono-invernal está neste momento pouco acima de 1%. Para 3 destas colmeias a razão da sua morte foi a varroa. Foram colmeias onde o tratamento contra a varroa não teve a eficácia desejada, perderam muitas abelhas e o cacho invernal era demasiado pequeno para conseguirem passar o frio das últimas semanas. Na outra colmeia a razão foi ter ficado zanganeira numa altura do ano demasiado tardia para intervir e tentar reverter a situação.
  • verificar se os telhados e réguas de entradas estavam no sítio. Sim estavam.
  • identificar sinais de nosemose apis e de ascosferiose na inspecção junto aos alvados/entradas das colmeias. Não vi absolutamente nada, nem o mais pequeno sinal.

Uma nota importante a terminar: as abelhas estavam a trazer pólen (de cor amarelo desmaiado).

Passei pela beira baixa para me encontrar com o Davide, da Meltagus, que me levou a conhecer a melaria/central de extracção de Castelo Branco. No dia seguinte fui um dos muitos participantes nas Jornadas do Vale do Rosmaninho. Os meus parabéns ao João Tomé por esta iniciativa. Por lá conheci pessoalmente o Milton, com quem já tinha conversado várias vezes ao telemóvel. Dos apicultores mais apaixonados que conheci até hoje.

Finalmente, e já na beira litoral, fui ver as minhas colmeias. Na visita anterior vim de lá muito satisfeito e volto a trazer essa mesma satisfação. Todas as colmeias, com excepção de uma que continua orfã, tinham entre 4 e 7 quadros com criação, cheias de abelhas, néctar/mel a aumentar nas alças e meias-alças, e nem o mais pequeno sinal de enxameação. A colmeia mais forte, com duas alças da Langstroth em cima, tinha 13 quadros com criação, uma coisa que raramente vejo nesta altura do ano. Expandi/abri vários ninhos com quadros de cera laminada. Os colocados na visita anterior puxaram-nos muito bem. Em duas colmeias lusitanas, com muito néctar/mel nas meias-alças, coloquei uma alça e expandi/abri os ninhos de cada uma.

critérios para o estabelecimento de estações de acasalamento

Em território continental, as estações de acasalamento/fecundação dirigida, com o objectivo de garantir o isolamento indispensável à execução de um programa criterioso de seleção e melhoria de raças de abelhas, devem cumprir um conjunto de critérios. Elenco agora alguns dos mais importantes critérios:

  • Ausência ou presença mínima de colónias de “outras” abelhas num raio de pelo menos 6 km;
  • A zona circundante deve ter abundantes recursos de pólen e néctar;
  • A temperatura ambiente deve ter longos períodos superiores a 20 ° C e a velocidade do vento não superior a 24 km/h;
  • A paisagem deve ser ondulada e apresentar áreas abrigadas para o posicionamento de caixas de fecundação. Pedras, árvores, arbustos ou objetos especialmente instalados ajudam a minimizar a deriva das rainhas;
  • As colónias dedicadas à criação de zângãos devem ser em número suficiente para garantir uma forte população de zângãos selecionados para os acasalamentos. De acordo com Tiesler e Englert (1989) deve haver uma colónia de zângãos por cada 25 rainhas a fecundar;
  • Baixa presença de outras espécies predadoras de abelhas.

Fonte: http://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.3896/IBRA.1.52.1.07?needAccess=true

Notas breves sobre os períodos de vida dos zângãos

Os zângãos atingem a sua maturidade cerca dos 16 dias da sua vida adulta (D0 + 16 dias), e tornando-se menos férteis ou até inférteis após os 28 dias de idade (D0 + 28 dias). A duração média da vida de um zangão é de 55 dias (D0 + 55 dias), variando com condições do contexto.

Fig. 1: Eclosão de um zângão ou dia zero (D0)