bloqueio dos ninhos com pão-de-abelha: a solução que me encontrou

Surgiu há poucos dias no Bee-L (fórum de apicultura de origem norte-americana) uma questão muito interessante de um apicultor e que serve de motivo para esta publicação. Perguntava esse apicultor o que poderia fazer para evitar que os quadros do ninho ficassem bloqueados com pão-de-abelha. Para o necessário contexto desta questão falta dizer que este apicultor utilizava a configuração ninho+sobreninho, criando assim aquilo que alguns denominam de forma feliz um “ninho infinito”, em colmeias do modelo Langstroth. Ora este bloqueio dos ninhos com pão-de-abelha é uma situação relativamente inconveniente, e que se agudiza a partir de meio/final do verão. Já passei por isso, já dei voltas à cabeça para encontrar uma solução, e acabou por ser a solução a encontrar-me. O processo, passo a descrevê-lo.

Até há três anos atrás (2017) a grelha excluidora era uma peça do meu equipamento que raramente ía para o apiário e, quando a utilizava, era de forma muito temporária. Neste período anterior a 2017, vinha a encontrar a meio/final do verão, e nas colmeias com ninho+sobreninho, boa parte dos ninhos abandonados pela rainha, que entretanto se tinha instalado de modo permanente no sobreninho. Em resultado deste comportamento natural das rainhas, os ninhos ficavam entregues às obreiras que, provavelmente, viveriam os seus dias mais felizes a encher com pólen todos os alvéolos assim que o último ciclo de cria nascia, enchendo de travessão a travessão os quadros com pão-de-abelha devidamente enzimado e compactado à cabeçada. Tenho ideia que havendo espaço, este é o modo natural de armazenagem das abelhas quando a postura da rainha começa a diminuir com o avançar da época ou quando na presença do ninho infinito: mel na abóbada superior, zona de criação na zona intermédia e pão-de-abelha na abóbada inferior do quadro ou, no caso, na caixa inferior da colmeia.

Nesta foto parcial de um quadro vemos pão-de-abelha armazenado junto ao travessão inferior, alvéolos vazios na zona intermédia e…
… pequena abóbada com mel operculado junto ao travessão superior do quadro (quadro invertido relativamente à sua orientação normal).

Em 2017, e para satisfazer a demanda de enxames e quadros com criação optei por utilizar mais frequentemente a grelha excluidora nas colónias que dediquei à produção de abelhas e criação. Para não ter que ter a preocupação de localizar a rainha sempre que retirava abelhas ou quadros com criação de um conjunto de colónias, a grelha excluidora foi uma peça importantíssima desta estratégia. Tendo terminado esta tarefa com sucesso, decidi deixar a excluidora em algumas colónias, até porque já tinha lido um número apreciável de opiniões positivas acerca da mesma, em particular por apicultores norte-americanos, canadianos e australianos. Resolvi testar, ainda que um conjunto de crenças em mim me dissessem que provavelmente iria correr mal. Para minha surpresa já na altura colhi boas impressões, mas como eram ao arrepio de muitas das minhas crenças da altura, decidi continuar o teste nestes últimos anos, antes de assumir para mim próprio e em público as conclusões que tenho vindo a publicar sobre as bem-feitorias das grelhas excluidoras de rainhas. Entre outras que já identifiquei e referi, verifico de forma reiterada que as colónias com a configuração ninho+sobreninho e com a rainha confinada no ninho por uma excluidora me surgem nesta altura do ano muito menos bloqueados pelo pão-de-abelha. Atribuo este efeito ao facto de a rainha, com a sua postura limitada ao ninho, ocupar uma parte significativa do mesmo com a oviposição. Naturalmente nos alvéolos onde a rainha põe um ovo, e as abelhas criam as suas larvas, não podem ser utilizados em simultâneo para armazenar pão-de-abelha. Como as duas tarefas são mutuamente exclusivas, a colónia encontra aquilo que me parece ser um melhor equilíbrio na gestão do espaço do ninho: um compromisso entre o espaço dedicado à oviposição e criação de abelhas e o espaço dedicado à armazenagem de pão-de-abelha.

Em jeito de conclusão, se tivesse que dar uma resposta ao apicultor que colocou a questão no Bee-L, dir-lhe-ía para colocar uma grelha excluidora de rainhas entre o ninho e sobreninho a partir de meio do período da enxameação reprodutiva. Nas minhas colmeias foi esta a resposta natural que as minhas abelhas me deram. O meu trabalho foi apenas ter a atenção necessária para as ouvir, apesar do ruído provocado pelas minhas crenças da altura.

4 comentários em “bloqueio dos ninhos com pão-de-abelha: a solução que me encontrou”

  1. Muito interessante, é algo que todos os anos me acontece nas minhas colmeias e muitas colmeias acabam por ficar bloqueadas com pão de abelha nesta altura do ano, a minha questão é eu utilizo o modelo reversível será que não existirá o problema de elas enxamearem por ter a grade excluidora? Os meus cumprimentos e muitos parabéns pelo blog, a apresentar publicações sempre prementes e de muita qualidade.

    1. Viva, Daniel! Não tenho colmeias do modelo Reversível, o que torna impossível dar-lhe uma resposta sustentada nas minhas observações. Especulando, julgo que colocando uma excluidora entre o ninho e o sobreninho da reversível, estando o ninho bastante desbloqueado e depois do pico da postura, não irá incrementar a enxameação. Se alguns dos companheiros já fez esta experiência em reversíveis pode comentar descrevendo os resultados. Obrigado pelas suas palavras e um abraço Daniel.

  2. Olá boa Tarde
    Tenho 120 Colmeias no Girassol. Tantas como no Ano passado, li o Artigo do Bloqueio da Postura, pelo Pão de Abelha .
    Tenho Langstrhot, lusitana e reversível.
    O Ano Passado as Abelhas ficaram bloqueada e eu por Inexperiência de ter a Rainha Bloqueada 90 por Cento Vieram a Morrer no Inverno início de Primavera.
    Como evitar tanta Morte nas Colmeias???
    Os Espanhóis no final do Girassol, retiram todo o Mel e pão de Abelha ,se a Colméia estiver Bloqueda e depois fazem Alimentação.
    Que me Aconselham ??
    Grato pela Atenção e Informação.
    Abraço Fernando Silva.

    1. Bom dia, Fernando! As colónias no inverno morrem sobretudo por uma destas três razões: infestação pelo varroa; perda da rainha durante o outono/inverno; por fome. As colónias bloqueadas no ninho com pão-de-abelha geralmente apresentam poucas reservas de mel, pior, não têm espaço para armazenar alguma parte da alimentação artificial que lhe venhamos a dar e, para cúmulo, não conseguem fazer uma termorregulação do cacho invernal tão eficiente, o que implica terem de consumir mais reservas para manterem a sua temperatura acima dos 13ºC. Do que descreve das acções do apicultores espanhóis parece-me correcto tirar os quadros bloqueados com pão-de-abelha, desde que tenham quadros puxados desbloqueados para os substituir. Outra alternativa é experimentar a técnica que eu apresento num conjunto de colónias e ver se os resultados lhe agradam. Um abraço!

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