No território onde tenho os apiários (distrito da Guarda), as colónias deixam de criar novas abelhas, ou abrandam significativamente esta criação, entre novembro e finais de dezembro. Nesta condição, sem criação para aquecer, as abelhas necessitam de manter a temperatura no interior do cacho invernal nos 18ºC para não entrarem em coma térmico, ficarem paralisadas, caírem no estrado da colmeia e aí morrerem.
Pouco depois do solstício de inverno, entre o início de janeiro e primeira/segunda semana de fevereiro, as colónias iniciam gradualmente a criação de novas abelhas e, nesta nova condição, surge a necessidade de manter estas áreas com criação a cerca de 35ºC.
A partir de meados de fevereiro o fluxo de pólen aumenta significativamente e as áreas dos quadros dedicadas à criação de novas abelhas aumenta também, acompanhando os inputs do exterior, isto é o suprimento crescente de proteína saudável que a natureza lá fora vai disponibilizando. Nesta nova condição a pressão sobre as abelhas adultas aumenta em virtude da necessidade de manter a 35ºC estas áreas em crescimento linear (não exponencial, porque a rainha é só uma).
Em conclusão: a evolução da dinâmica de criação de novas abelhas que assisto regularmente, ano após ano, entre novembro e finais de março, em colónias com desenvolvimento normal, está associada de forma directa à dinâmica de consumo de hidratos de carbono/mel/açucares suplementares disponíveis na colmeia. Sabemos que as abelhas através do seu mecanismo termogénico, a contração rápida dos músculos das asas, fazem subir a temperatura do seu corpo. Este mecanismo é, naturalmente, um grande consumidor de energia, e quanto maior for a necessidade de recorrer a ele maior é o consumo do combustível, isto é o consumo de hidratos de carbono, estejam eles na forma de mel e/ou na forma dos complementos açucarados que lhes fornecemos.
Implicação prática: Nestas próximas 6 a 8 semanas a maior parte das minhas colónias estão/irão transitar para novas condições: as áreas que têm de ser mantidas a 35ºC aumentam consideravelmente, e isto num território em que o fluxo de néctar é habitualmente baixo até meados de abril. Sendo assim o maneio mais crítico para a sua sobrevivência, de agora em diante e até ao início do primeiro fluxo importante de néctar, o do rosmaninho — que surge habitualmente entre a segunda e terceira semana de abril, isto considerando um ano meteorologicamente regular —, é cuidar que cada uma delas tenha o mel e/ou os suplementos de açúcar em quantidade suficiente e sempre presentes. Porque a dura realidade já me mostrou, poucas vezes felizmente, que chegou aquela altura do ano em que colónias saudáveis e populosas podem sucumbir em poucos dias por falta de reservas e morrerem na praia.