a colmeia está zanganeira?

Sabemos que 3 a 4 semanas depois de uma colónia ter ficado órfã, caso não consiga criar uma nova rainha, começam a surgir abelhas poedeiras e a colónia fica zanganeira.

As causas do aparecimento de colmeias zanganeiras são várias, podendo decorrer de uma tentativa das próprias abelhas de substituição de uma rainha velha e/ou esgotada e, por alguma razão, a nova rainha não é gerada ou morre durante os seus vôos de fecundação. Este acontecimento pode decorrer também de uma intervenção do próprio apicultor. Sobretudo quando na vistoria de novos núcleos, provoca na rainha recém fecundada um elevado estado de nervosismo. Este nervosismo súbito pode provocar uma acção de pelotagem/asfixiamento da rainha pelas abelhas mais velhas. Apicultores veteranos recomendam que se evite, ou se reduza ao mínimo, a inspecção de núcleos onde se presume que possa haver uma rainha que tenha iniciado há poucos dias a sua postura. Como fazer  então uma análise de um núcleo ou colmeia que nos permita, com uma observação muito pouca intrusiva, recolher alguma informação confiável da presença ou não de uma rainha fecundada?

O apicultor experimentado tem alguma facilidade de identificar se uma colónia tem ou não uma rainha fecundada ou se está zanganeira (isto levantando apenas a prancheta e observando atentamente o comportamento das abelhas nos travessões superiores dos quadros). Se as abelhas estão claramente mais nervosas, com passeios erráticos, mal definidos quanto ao sentido ou orientação, como que sem objectivo e mais defensivas que o habitual, podemos desconfiar que ainda não têm uma rainha fecundada. Se a juntar a estes sinais, as abelhas estiverem dispersas em pequenos grupos por todos os quadros do núcleo ou da colmeia, podemos desconfiar que estão no estado zanganeiro, com obreiras poedeiras. Se as abelhas apresentarem tranquilidade, até alguma indiferença à nossa presença, se estiverem sobretudo aglomeradas sobre dois ou três quadros (caso dos núcleos) ou sobre os quadros centrais (caso das colmeias), se nos cheirar a muita criação aberta (o cheiro da geleia real e papa larvar) o melhor é deixar a colónia tranquila por mais 2 a 3 semanas, até que a nova rainha adquira a “liderança serena” daquela colónia.

Alguns apicultores há que afirmam e reafirmam que observando o movimento de abelhas no alvado (entrada) da colmeia é suficiente para diagnosticar se a colónia está zanganeira ou não. Ainda não cheguei a esse nível de perícia. Para alguns, a entrada de pólen é um sinal de uma colónia com rainha em postura. O que tenho observado é que a entrada de abelhas com pólen não chega para garantir que a colmeia não esteja zanganeira. Já observei inúmeras vezes as abelhas a entrarem com pólen em colmeias zanganeiras. Para mim, faz sentido que assim seja. No fim de contas elas têm larvas para alimentar, as larvas de zângão fruto da postura das abelhas!

Se a observação dos sinais atrás referidos nos leva a suspeitar que a colónia está zanganeira há que o confirmar. A confirmação passa pela observação dos quadros, observação esta que nos permite identificar um conjunto de sinais inequívocos do estado disfuncional da colónia. As colónias zanganeiras apresentam, quase universalmente, um conjunto de sinais bem conhecidos que passo a elencar pensando nos apicultores que estão a dar os primeiros passos neste mundo das abelhas.  Alguns dos sinais indicam um estado inicial ou recente de “zanganisse”, outros um estado mais avançado. São estes os sinais:

  • postura de vários ovos no mesmo alvéolo (seja de obreira, seja de zângão);

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  • postura significativa de zângãos em alvéolos de obreira em áreas bem definidas (surge habitualmente no estádio inicial e/ou em colónias populosas);
  • postura mais reduzida de zângãos em alvéolos de obreiras em pequenas áreas mal definidas de alguns quadros (surge habitualmente num momento mais tardio e/ou em colónias menos populosas);

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  • vários ovos surgem colados na parede dos alvéolos (as abelhas poedeiras por terem o abdómen mais curto que a rainha nem sempre conseguem depositar os ovos no fundo do alvéolo);
  • acumulam pólen em excesso;
  • mais tarde aparecem falsas realeiras, muito largas e compridas (4 a 5 cm), com uma forma cilíndrica, com uma larva de zângão e com muita geleia real.

O que o apicultor pode e deve fazer com uma colmeia zanganeira depende de vários aspectos, entre os quais destaco: força do enxame e altura do ano.

Se a altura do ano for propícia, com um fluxo de néctar próximo, se o enxame for valente, por norma, não sacudo as abelhas. Por norma, procuro reverter a situação o que exige alguma persistência. Aos enxames zanganeiros nas condições atrás descritas coloco um quadro com muita criação larvar e alguma criação fechada, com poucos ou nenhuns ovos, durante  duas ou três semanas a um ritmo de um por semana. Na terceira ou quarta semana, coloco um quadro sobretudo com criação fechada e ovos, de preferência numa cera nova mais flexível, ou caso tenha disponível, uma ou duas realeiras abertas ou fechadas. Com este maneio tenho revertido esta situação tão indesejável numa percentagem muito aceitável.

Actualização: 1) mesmo com uma rainha em postura, há um pequeno número de abelhas poedeiras nas colmeias. Quem utiliza grelhas excluidoras já deve ter verificado a presença de ovos dispersos aqui e ali na zona da colmeia inacessível à rainha. Eu, como outros, já me deparei com esta situação. Estes ovos são retirados/consumidos por outras abelhas, não os deixando eclodir;

2)  Nesta publicação está uma outra proposta de solução que utilizei umas 3 ou 4 vezes sempre com sucesso;

3) Na maior parte das vezes, resolvia estes casos sacudindo as abelhas para o chão e de seguida colocava os quadros sem abelhas em colónias funcionais. Eram quadros muito úteis à saída do inverno/início da primavera.

13 comentários em “a colmeia está zanganeira?”

  1. Olá Eduardo.
    permita-me que dê uma opinião.
    Em relação a reverter o estado de zanganeiros, tens um bom método, mas como dizes com muito maneio e persistência.
    O método que utilizo é o seguinte:
    Dependendo da altura como dizes, pois se não houver entrada de pólen e néctar, nem penso duas vezes sacudo e pronto.
    Dependendo do tamanho do enxame utilizo um núcleo ou colmeia.
    Coloco dentro do núcleo/colmeia um quadro com muita criação aberta poucos ovos e alguma criação fechada, um quadro com pólen e um quadro com mel os restantes quadros com cera puxada e laminada.
    Retiro a colmeia do sitio e coloco o núcleo/colmeia no mesmo lugar.
    A colmeia zanganeira transporto-a mais ou menos uns 40 metros.
    E nesta altura que utilizo fumo, dou umas pouco fumo, espero um pouco de tempo para elas encherem de mel.
    Depois sacudo a colmeia e levo para casa, a obreira poedeira como esta cheia de mel, e geralmente não conhece o sitio onde se encontrava a colmeia, perde-se e não volta.
    Passado 6 a 7 dias verifico se já existem mestreiros.
    Se não existirem mestreiros torno a colocar um quadro de criação com as mesmas características do anterior
    Tem sido um bom método, com uma boa taxa de sucesso.
    Abraço.

  2. Olá Dino!
    Apoveita este espaço para nos ensinares o muito que sabes de apicultura.
    Também utilizo o método que descreves.

    O método que descrevo utilizo-o quando dou conta de que a colmeia está zanganeira há pouco tempo (alvéolos com ovos de poedeiras, mas ainda sem criação operculada), levando-me a pensar que uma quantidade apreciável de abelhas ainda são novas e poderão desorientar-se no regresso à colmeia.
    Um abraço!

  3. Olá Eduardo,

    Primeiro deixe-me felicitá-lo por a criação deste blogue. Os temas até agora abordados são de grande utilidade e interesse para todos os apicultores, e outra coisa não seria de esperar de uma pessoa que notoriamente adora a apicultura, e escrever sobre ela.

    Relativamente às zanganeiras, tenho usado um método mais ou menos semelhante e que até agora correu sempre bem.
    Se tiver tempo e o apiário for perto de casa faço o seguinte, coloco uma colmeia no lugar da zanganeira e fecho a zanganeira. Depois coloco um quadro com criação e abelhas (bem coberto de abelhas amas) na colmeia nova e deixo ficar assim umas 5 ou 6 horas, depois abro a zanganeira o mais longe que conseguir e sacudo todas as abelhas e aproveito os quadros que derem para aproveitar e coloco na colmeia nova.
    Ultimamente devido à distância dos apiários tenho feito tudo seguido sem tempo de espera e tenho tido também bons resultados.

    Desta forma tenho safado a maioria das zanganeiras que ainda valham a pena…

    Cumprimentos,

    Bruno

    1. Obrigado Bruno.

      Com a técnica que utilizas, à partida garantes abelhas novas em número suficiente para produzirem geleia real para as novas realeiras que as abelhas irão construir. Faz muito sentido, supondo que algumas colmeias zanganeiras poderão ter já poucas abelhas amas para essa tarefa. Consegues que te façam realeiras logo nesse primeiro quadro?
      Um abraço!

      1. Sim tenho usado esse método em colmeias já bastante adiantadas e tem funcionado, as rainhas tem aparecido fecundadas e o sucesso tem sido quase na ordem dos 100%.

        Tenho um exemplo de uma colmeia que à dois anos estava zanganeira, e foi salva desta forma e curiosamente foi a melhor colmeia deste ano que passou, e a rainha não foi substituída pois tinha-a, e ainda a tenho marcada.

        Para mim o pormenor de colocar um quadro bem coberto de abelhas amas faz toda a diferença, pois são estas que vão assegurar/ proteger a criação de alvéolos reais.

        Outra questão que para mim é mais um mito, é de haver conflito entre as abelhas ao usar quadros com abelhas de diferentes colmeias ao fazer núcleos para novos enxames. Eu sempre que posso misturo quadros de várias colmeias, desta forma consegue-se fazer enxames mais equilibrados. Não sei se mais alguém custuma fazer isto, pois gostaria de ouvir mais opiniões.

        1. Excelente Bruno. Tenho que ensaiar esta técnica tão simples para resolver as zanganisses.

          Acerca de combinar abelhas de colmeias diferentes, há dois anos atrás o João Tomé também me disse para o fazer para criar os núcleos para receberem as rainhas que lhe tinha comprado. Assegurou-me que não haveria lutas e que a aceitação da rainha seria optimizada.

          Por uma questão de economia de tempo acabei por não aplicar a técnica. A minha experiência é nula, mas como vês já não é a primeira pessoa a quem ouço dizer que é possível fazer.

          1. Eu tenho feito os meus enxames com abelhas de várias colmeias, outros so da mesma dependendo de como me der mais jeito, e sinceramente tenho a impressão que os enxames feitos com abelhas de várias colmeias formam melhor e mais rápido o efeito de enxame e que ocorre menos deserção.
            Já o fazia antes de ter ido a uma formação do João Tome em Maio do ano passado, no entanto fazia-o moderadamente, mas depois do João afirmar também reconhecer vantagens, comecei a fazer pratica comum. Inclusive introduzi 2 rainhas que lhe comprei com sucesso desta forma. Experimente e depois diga o que acha.

  4. Olá Eduardo.
    parabéns pelo blog, vou segui-lo com atenção.

    nos meus apiários as zanganeiras são a causa da maior taxa de mortalidade.
    cumprimentos

    1. Boa noite Sr. Vieira.

      Dá-me muito gosto que seja um dos leitores do abelhas à beira. Ainda há dois dias atrás estive a rever a fotografia que me mandou do apiário do Jorge.
      Um abraço!

  5. Boa noite Eduardo!

    Antes de mais parabéns pelo teu blogue! Espero que continues e lances para discussão temas importantes para os apicultores como já o estás a fazer. Acho que faz falta esta discussão técnica/prática para evoluirmos enquanto profissão!

    Eu também uso o método de sacudir as abelhas da colmeia zanganeira embora o método que usas acho que tem a vantagem de no final o enxame ficar mais forte do que com o método de sacudir as abelhas longe.

    Quanto aos desdobramentos eu também os faço recorrendo a quadros de várias colmeias e nunca vi as abelhas lutarem entre si, inclusivamente quando por lapso vai uma rainha de uma das colmeias no núcleo, nunca dei por haver qualquer tipo de problema. Eu costumo chamar-lhes de desdobramentos multicolmeia. No início da época é um bom método de poupar as colmeias e conseguem-se fazer bastantes desdobramentos ao longo do tempo.

    Cumprimentos
    Hugo Martins

    1. Obrigado Nuno.

      Tenho verificado isso mesmo, que o método que utilizo permite manter e até fazer evoluir a população da colmeia zanganeira.
      Vou passar a fazer alguns núcleos multicolmeia. Nomeadamente quando esta intervenção se puder conjugar com outra que nos obrigue a localizar a rainha. Assim seria fazer dois em um.
      Um abraço!

  6. Olá, gostaria de saber onde coletou os dados sob transição de colmeias órfãs para colmeias zanganeiras, já que no início do seu post fala que dura de 3 a 4 semanas?
    Agradeço desde já.

    1. Boa noite, Bárbara
      As obreiras na ausência da feromona da rainha, mas especialmente na ausência da feromona libertada pela criação, deixam de ter presente um supressor ao desenvolvimento dos seus ovários e ao início gradual da ovoposição de ovos não fecundados. As jovens abelhas levam 21 dias a eclodir, no final deste período todas as abelhas que estavam para nascer já se encontram nascidas, daí estas obreiras poedeiras começarem a surgir 3 a 4 semanas depois da colónia ter ficado orfã, caso não nasça uma rainha. Pode consultar estes dois links em lingua inglesa acerca das obreiras poedeiras: http://www.dave-cushman.net/bee/layingworkers.html; https://honeybeesuite.com/how-to-fix-a-laying-worker-hive/
      Se pretender uma leitura mais “científica” sugiro: http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0013531

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