a pontualidade suiça

Pesquisadores suíços mostraram que o Vírus das asas deformadas (VAD) reduz o tempo de vida das abelhas obreiras e que os altos níveis de VAD estão diretamente associados – têm um efeito causal – à perda de colónias durante a invernagem (ver post relacionado). Por conseguinte, a finalidade do tratamento contra a varroa no final de verão/início do outono é reduzir os níveis desta, de modo a que os níveis elevados das estirpes virulentas de VAD não sejam transmitidas às abelhas de inverno.  Quando é a melhor altura para tratar é a questão de um milhão de euros?  Dizer que tem que ser suficientemente cedo para que esta população de abelhas de inverno, crítica para a sobrevivência na invenagem, viva até a primavera já é um alerta, mas um pouco vago. Vejamos se é possível chegar a uma resposta mais concreta.

No estudo suíço acima referido, os investigadores olharam para a longevidade de abelhas de inverno. Podemos usar os dados da sua pesquisa para inferir quando começam a ser criadas as abelhas de inverno na colónia e quando o tratamento do ácaro da varroa deve, portanto, ser concluído para proteger essas abelhas.

Os estudos foram conduzidos em Berna, Suíça, em 2007/08, onde a temperatura média em novembro/dezembro desse ano foram 3ºC (não muito distantes das temperaturas médias nos locais dos meus apiários na Beira). Os investigadores observaram, pela primeira vez, diferenças mensuráveis ​​na longevidade das abelhas de inverno (entre colónias que, posteriormente, sucumbiram ou sobreviveram) em meados de novembro. Este fenómeno ocorreu 50 dias após abelhas terem nascido (as abelhas foram marcados para se poder determinar a sua idade). Até ao final de novembro, essas diferenças foram-se acentuando. Portanto, em meados de novembro, as abelhas de inverno expostas à varroa e ao vírus já exibiam uma vida útil reduzida. Subtraindo 50 dias a partir de meados de novembro significa que essas abelhas nasceram no final de setembro. Como é do conhecimento geral, o desenvolvimento das abelhas obreiras demora 21 dias. Assim, os ovos devem ter sido colocados na primeira semana de setembro e as larvas em desenvolvimento terão sido operculadas em meados de setembro (sabe-se que a varroa entra no alvéolo onde a larva se desenvolve cerca de 12h a 24h antes deste ser operculado — ver post relacionado).

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Fig. 1 — Quadro com sinais de parasitação pelo ácaro varroa, e muito provavelmente pelo vírus das asas deformadas, numa colónia que irá morrer por fome nos dias frios de inverno por não ter abelhas suficientes para chegarem ao mel armazenado

No estudo suíço referido, para proteger a população de abelhas de inverno, o tratamentos dos ácaros teria, portanto, que estar concluído até meados de Setembro, de modo que os níveis de varroas sejam suficientemente baixos, garantindo que as larvas em desenvolvimento não sejam infestadas pelos ácaros, veículos de transporte de cargas potencialmente letais do VAD.

Para o tratamento com Apivar (tratamento que tenho eleito e que leva 6 semanas a estar concluído), isso significa que o tratamento deve ser iniciado entre o início e meados de agosto.

Claro, estes números e datas não são universais e devem ser ajustados aos locais onde se situam os apiários, assim como às particularidades dos tratamentos que cada um decide utilizar. No meu caso particular, e nos meus apiários da Beira, estas datas fazem todo o sentido, de acordo com as observações que tenho realizado nos dois últimos anos. Para não chegar tarde, devemos ter a pontualidade suíça.

Actualização (26-01-2019): Actualmente deixo as tiras de Apivar nas colmeias entre 10 a 12 semanas.

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