formação em apiário pedagógico, coimbra, 28 de junho

A pedido de diversos apicultores e imbuído da missão de fornecer informação sobre estratégias e ferramentas alternativas e efectivas de controlo da Varroose à comunidade de apicultores portugueses decidi, em colaboração com o Nuno Capela, levar a cabo uma sessão de formação presencial, em sala e apiário, em Coimbra no próximo dia 28 de junho. O foco desta sessão estará na demonstração de um protocolo inovador de elevada e rápida eficácia no controlo da Varroose.

A sala da formação, um espaço magnificamente sombreado por pessegueiros
Uma das colónias da sala de formação
Um dos quadros de uma colónia da sala de formação

Se está interessado(a) em ter esta ferramenta de elevada e rápida eficácia na sua “tool box” entre em contacto para o e-mail jejgomes@gmail.com. As vagas para esta sessão estão quase esgotadas e as inscrições são feitas por ordem de chegada.

Eduardo Gomes, formador e consultor apícola

as causas principais do enorme colapso de colónias no último inverno/primavera nos EUA e uma alternativa

A USDA-ARS enviou ontem para o meu e-mail as conclusões a que chegou acerca das causas das enormes perdas de colónias reportadas no último inverno/primavera pelos apicultores norte-americanos.

O USDA-ARS divulgou descobertas cruciais da análise de agentes patogénicos em amostras recolhidas durante as perdas de colónias nesta primavera — e os resultados estão a fazer soar os alarmes.

Os vírus viculados pelos ácaros Varroa foram um fator importante, e todos os ácaros testados continham genes associados à resistência ao Amitraz, um dos tratamentos mais utilizados contra Varroa. Isto sublinha uma preocupação crescente nas comunidades de apicultura e investigação: a diminuição da eficácia de um dos tratamentos mais utilizados contra a Varroa. Graças ao trabalho árduo e à urgência dos investigadores envolvidos, estes resultados foram recolhidos, analisados ​​e redigidos para publicação rápida, fornecendo informações cruciais que ajudarão a moldar a nossa resposta a este desafio contínuo. […]

Em Portugal, foram recentemente descobertas mutações genéticas em algumas populações de Varroa destructor associadas à resistência ao Amitraz. Por esta razão receio que nos próximos meses venhamos a assistir ao colapso de colónias de abelhas como nunca se verificou por cá, na Península Ibérica e restante Europa.

A pedido de diversos apicultores e imbuído da missão de fornecer informação sobre estratégias e ferramentas alternativas e efectivas de controlo da Varroose à comunidade de apicultores portugueses decidi, em colaboração com o Nuno Capela, levar a cabo uma sessão de formação presencial, em sala e apiário, em Coimbra no próximo dia 28 de junho. O foco desta sessão estará na demonstração de um protocolo inovador de elevada e rápida eficácia (acima de 95%) no controlo da Varroose.

Imagem de um corte de criação de zângão com varroas mortas duas horas após a aplicação do protocolo inovador.

Se está interessado(a) em ter esta ferramenta de elevada e rápida eficácia na sua “tool box” entre em contacto para o e-mail jejgomes@gmail.com. As vagas para esta sessão são limitadas e as inscrições são feitas por ordem de chegada.

dia 5 de julho em Oliveira de Frades: mudar o paradigma de controlo da varroose

A convite da Associação VerdeLafões, vou orientar uma sessão em sala e outra em apiário, no próximo dia 5 de julho, acerca da necessidade de mudar o paradigma (mudar conceitos e mudar práticas) para se alcançar um controlo efectivo da varroose ao longo do ano.

Por uma apicultura eficiente, informada e inovadora.

como reduzir a pressão das vespas velutinas no apiário nos meses de verão e outono

Depois de no passado dia 24 de abril ter ministrado uma sessão via Zoom sobre a armadilhagem e eliminação das Vespas velutinas fundadoras, tenho previsto uma outra sessão para o próximo dia 9 de junho sobre a etapa seguinte na protecção das nossas colmeias: a redução da pressão das velutinas (vespa asiática) sobre as colmeias nos meses de verão e outono.

Nesta sessão o foco estará na apresentação de informação fundamentada, testada e de grande utilidade na mitigação da pressão das velutinas à frente das colónias, entre outra:

  • utilização inovadora da combinação de harpas e rede;
  • cavalos de troia e requisitos para melhorar a sua produção e minimizar efeitos colaterais;
  • o enredamento das colmeias: propostas menos conhecidas;
  • o maneio das colmeias num apiário pressionado pela V. velutina.

Os interessados em frequentar esta sessão via Zoom entrem em contacto para o e-mail: jejgomes@gmail.com

quinta da machada: a reforçar a parceria de serviços de polinização

No passado dia 22 de março, a empresa apícola Quinta da Machada, para quem presto serviço de consultoria e apoio técnico em apiário de forma regular e sistemática, iniciou um serviço de polinização num campo de mirtilos na região centro.

Instalámos colmeias na proximidade do campo, com enxames fortes e saudáveis, a ocuparem 9-10 quadros de ninho do modelo Lusitana.

Instalação de colmeias nas proximidades do campo de mirtilos.
Vista parcial de um dos campos de mirtilos no início da polinização pelas operárias da Quinta da Machada.

Lembro-me que na altura em que publiquei este empreendimento num grupo apícola do facebook, surgiram comentários dos “expertos em tudo” afirmando perentoriamente que as abelhas ou não polinizavam os mirtilos ou eram maus polinizadores deste arbusto. Felizmente o meu cliente estava solidamente sustentado em investigação recente que lhe forneci sobre a grande capacidade de as abelhas melíferas polinizarem as flores destas plantas e negociou um bom contrato para ele e para o produtor. E a satisfação com os resultados, o teste do algodão, avaliados ontem pelo administrador da empresa agrícola, seu engenheiro técnico responsável e pelo meu cliente, é inquestionável. Tão agradados estavam com os frutos (literalmente e metaforicamente) deste serviços de polinização que fortalecerma a parceria com um contrato mais alargado de serviço de polinização dirigido a outras culturas.

O administrador e o engenheiro técnico da empresa agrícola satisfeitíssimos por verem este “quadro” replicado em milhares de plantas dos seus campos, não deixaram de referir a enorme capacidade de trabalhar e polinizar os mirtilos das abelhinhas que ali colocámos.

Entretanto outros lotes de colmeias foram levados para outras culturas, como as dos abacates e morangos.

Orientações estratégicas e dicas sobre esta e outras formas de diversificar e rentabilizar os serviços e produtos que as abelhas oferecem ao apicultor, com vista a aumentar a sustentabilidade de operações apícolas de pequena-média dimensão, estarão ao seu dispor na sessão Zoom que irei ministrar no próximo dia 27 de junho.

Os interessados entrem em contacto para o e-mail jejgomes@gmail.com

quinta da machada: uma operação apícola a crescer sustentadamente e a diversificar os seus serviços

A Quinta da Machada é uma empresa apícola de pequena-média dimensão, sediada em Coimbra, a quem presto serviços técnicos de consultoria e apoio técnico em apiário. Faço-o de forma muito regular e o bom trabalho em equipa que tenho realizado com o Dr. Armando Monteiro, o gerente da empresa, tem-nos permitido fazer crescer gradual e sustentadamente esta operação apícola que, no início de 2024, data em que iniciei a assistência técnica de uma forma mais regular e sistemática, contava com cerca de 30 colmeias estabelecidas.

Durante o ano de 2024, fruto da eficácia das medidas remediativas no controlo da varroose e prevenção e controlo da enxameação que implementei, a operação cresceu e iniciou a diversificação dos produtos e serviços produzidos e explorados. No caso do mel, que alcançou uma medalha de bronze no Concurso Nacional e na categoria dos multiflorais, a produção multiplicou-se por mais de 5 vezes em relação ao ano anterior; a produção de pólen foi iniciada e com resultados muito motivantes; e, por último, foi feito um ensaio de prestação de serviços de polinização em culturas de cucurbitáceas e leguminosas que se revelou muito positivo para as duas partes, o agricultor e o apicultor.

Este ano, consequência de mortalidade zero por varroa e enxameação quase zero, resultado final da aplicação de conhecimento inovador e muito trabalho em equipa, a Quinta da Machada tem aumentado o seu próprio efectivo para próximo das 150 unidades e avançou com uma nova vertente comercial: a comercialização de enxames .

É acerca desta última faceta de uma operação, cada vez mais sustentada e diversificada, que apresento as fotos em baixo.

Exemplo de um enxame de 5 quadros, dois dias antes de ser entregue no apiário do cliente.
Nestes enxames vimo-nos obrigados a colocar provisoriamente um ou dois quadros mais para fazer o transporte, dado a grande quantidade de abelhas.
Dois dias depois, com o sol a nascer, fizemos a carga de uma parcela dos enxames comercializados.
150 kms depois, já instaladas no apiário do cliente, que também é cliente dos meus serviços.
Um dos vários enxames fornecidos pela Quinta da Machada e que, na visita técnica que efectuei esta semana, 7 dias depois de ser entregue, ocupava 8 quadros.
Confirmação da qualidade do padraõ de postura das rainhas e sua marcação.
Mais um dos vários enxames que, 7 dias depois de ser entregue, ocupava 8 quadros e pedia o nono quadro.
Confirmação da qualidade do padraõ de postura das rainhas, umas criadas pelos criadores Eduardo Côrte-Real e Francisco Rogão, outras criadas naturalmente.

No âmbito da partilha de conhecimentos e práticas testadas e validadas iniciarei no próximo dia 27 de junho um novo percurso formativo, via Zoom, sobre Como tornar a sua operação apícola de pequena—média dimensão sustentável, rentável e diversificada.

Os interessados deverão fazer o contacto através do e-mail jejgomes@gmail.com

o caso de salvamento de uma colónia muito, muito infestada: o seguimento

Na publicação anterior escrevi a propósito de uma colónia muito, muito infestada: “Em 18 de fevereiro, na lavagem de 300 abelhas adultas caíram 71 varroas ( infestação de 23,7%). Os sintomas dos vírus, veiculados pelas varroas e potenciados pela debilitação do sistema imunológico das abelhas, eram muito visíveis. […] Nesta circunstância, em condições normais, a colónia estava condenada ao colapso; o seu destino estava traçado. […] esta colónia deu-me a oportunidade de fazer dela um estudo de caso dos efeitos de um protocolo de tratamento inovador que já tinha testado com sucesso em colónias muito infestadas, mas muito menos infestadas (com mais de 8% de infestação e abaixo de 15%).”

Para memória futura, fiz duas aplicações deste protocolo, a primeira a 5 de março e a segunda a 13 de março. Em apenas 8 dias esta colónia desceu de 23,7% (71 varroas em 300 abelhas) para 7,7% (23 varroas em 300 abelhas) após a primeira aplicação do protocolo. Depois da segunda aplicação, a 13 de março, achei por bem não testar para não “sacrificar” mais abelhas adultas numa colónia já pouco povoada.

Ontem, voltei ao apiário e achei que tinha chegado o momento certo para fazer um novo teste de infestação: estavam passados exactamente 2 meses e a colónia estava relativamente bem povoada com 7 quadros de abelhas e 5 quadros com criação.

7 quadros cobertos com abelhas, quando 3 meses antes a infestação estava a atingir os 24% e à beira do colapso, vi uma colónia saudável, a crescer de forma notável

Caso a segunda aplicação, a 13 de março, não tivesse tido efeito algum, ontem, a 13 de maio, a colónia estaria muito provavelmente com uma infestação superior a 30% (7,7×2=15,4×2=30,8%).

Felizmente os dados da medição de ontem apontam num sentido oposto. Com uma infestação de de 7,7% há dois meses atrás, a segunda aplicação do protocolo teve uma eficácia de 97%, segundo a simulação que efectuei no simulador do Randy, considerando os dados recolhidos ontem: 4 varroas em 300 abelhas (1,3% de infestação).

No coador, 4 varroas e um cisco. Um protocolo de controlo da varroose com 97% de eficácia não se encontra facilmente, mas está ao seu alcance conhecê-lo inscrevendo-se no percurso formativo que vou iniciar no próximo dia 16.

Dada a solicitação de informação e formação de um número apreciável de apicultores sobre este e outros aspectos de uma estratégia bem fundamentada, testada e com os resultados acima descritos em apiários do território português, abri uma nova data para iniciar o percurso formativo “Controlo efectivo da Varroose ao longo do ano”, no próximo dia 16 de maio, com a sessão on-line, via Zoom, a ser iniciada às 21h30.

Os interessados podem contactar-me para o e-mail: jejgomes@gmail.com


o caso de salvamento de uma colónia muito, muito infestada

Nesta publicação já me havia referido a esta colónia. Em 18 de fevereiro, na lavagem de 300 abelhas adultas caíram 71 varroas ( infestação de 23,7%). Os sintomas dos vírus, veiculados pelas varroas e potenciados pela debilitação do sistema imunológico das abelhas, eram muito visíveis.

Nesta circunstância, em condições normais, a colónia estava condenada ao colapso; o seu destino estava traçado. Na altura teria abelhas para cobrir pouco mais de um quadro e meio. Decidi aceitar o desafio que a natureza me colocou à frente: esta colónia deu-me a oportunidade de fazer dela um estudo de caso dos efeitos de um protocolo de tratamento inovador que já tinha testado com sucesso em colónias muito infestadas, mas muito menos infestadas (com mais de 8% de infestação e abaixo de 15%).

No dia 5 de março decidi experimentar nesta colónia uma ferramenta inovadora que trago na minha caixa para utilizar nestes casos de infestação elevada. Neste caso em concreto os meus receios eram sobretudo dois: (i) apesar da eficácia e consistência revelada por esta ferramenta noutros casos exigentes, nenhum se igualava à exigência deste; (ii) numa colónia tão infestada, tão debilitada, tão despovoada, temia que o “remédio” pudesse acelerar o seu colapso. Contudo, colapsada já ela estava, ainda que teimosamente se agarrasse à vida cada vez mais periclitante.

Há dois dias, a 6 de maio, passados cerca de 2 meses sobre a utilização deste protocolo, abri esta colónia e inspeccionei-a atentamente, quadro a quadro. E fiquei muito feliz, por constatar que a colónia estava viva e estava a crecer e prosperar. Este caso limite, revelou uma vez mais vários aspectos comuns com os outros casos por mim analisados até à data:

  • a mortalidade de criação decorrente da aplicação deste protocolo a acontecer é ínfima e não observável;
  • a mortalidade de rainhas é inexistente, até à data;
  • mesmo em casos de elevada infestação, a eficácia e persistência dos efeitos deste protocolo são evidentes e mensuráveis.

Em baixo deixo algumas fotos, do passado dia 6 de maio, ilustrativas do estado de saúde e desenvolvimento desta colónia.

Obviamente que o princípio que partilho, ensino e recomendo é planear, definir, projectar e monitorizar uma estratégia anual de controlo à varroose com medidas culturais e medicinais que mantenham a infestação não acima do intervalo 1-2%. Contudo, por vezes, há casos que nos fogem da mão. E nestes casos as medidas convencionais derrapam e são frequentemente ineficientes, como todos sabemos. Só consigo descortinar duas opções para estes casos: (i) baixar os braços porque não temos ferramentas à altura de casos tão exigentes; (ii) utilizar esta ou outra ferramenta inovadora, com princípios activos orgânicos ou técnicas culturais, que podem dar-nos esperanças realistas de conseguir recuperar colónias com mais de 8% de infestação.

Porque não me conformo com a tremenda mortalidade anual de colónias de abelhas melíferas em Portugal (150-200 mil/ano), tão necessárias à prestação de serviços ecossistémicos que sustentam e melhoram o ambiente natural que todos apreciam e necessitam, tão necessárias à fruição de cerca de 10 mil apicultores não profissionais e ao sustento dos cerca de 1000 apicultores profissionais, continuo a informar e ensinar o melhor que sei e posso, sempre que solicitado a fazê-lo por apicultores.

Dada a solicitação de informação e formação de um número apreciável de apicultores sobre este e outros aspectos de uma estratégia bem fundamentada, testada e com os resultados acima descritos em apiários do território português, abri uma nova data para iniciar o percurso formativo “Controlo efectivo da Varroose ao longo do ano”, no próximo dia 16 de maio, com a sessão on-line, via Zoom, a ser iniciada às 21h30.

Os interessados podem contactar-me para o e-mail: jejgomes@gmail.com

a eficácia e consistência de um protocolo inovador de controlo da varroose

No âmbito do meu trabalho de consultoria e apoio técnico aos apiários experimentais do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, propus ao Nuno Capela, o investigador responsável, fazer o controlo da varroa com um protocolo inovador em dois dos apiários experimentais deste Centro.

Na altura, a proposta deste controlo decorreu da observação que fiz da situação de risco elevado a que um dos apiários (conhecido por nós pelo apiário da APA) chegou no início de fevereiro, um mês depois de iniciada a aplicação de um medicamento homologado baseado no amitraz. A taxa de infestação em cerca de 70% das colónias deste apiário ultrapassava os 8% um mês após o início do tratamento, quando um mês antes, no início do mesmo, estava em 2-3%. O Nuno concordou, e avancei com este protocolo que trazia na minha “caixa de ferramentas/conhecimentos”, aprendido nas muitas leituras que faço da melhor literatura apícola — ando ao ombro de gigantes e continuo o meu percurso cada vez mais motivado e convicto do meu papel e lugar na apicultura nacional.

Assim, iniciei a aplicação deste protocolo na primeira e segunda semana de fevereiro no apiário da APA, e estendi a aplicação a outro apiário experimental, o apiário da Milvoz, onde a infestação estava muito mais controlada com a aplicação do mesmo medicamento homologado baseado no amitraz (expliquei a razão desta diferença nos resultados obtidos com um mesmo medicamento, iniciado na mesma data e com taxas de infestação relativamente baixas no início do tratamento nos dois apiários, aos muitos companheiros apicultores que acompanharam as minhas sessões Zoom “Controlo efectivo da Varroose”, que ministrei de janeiro a abril).

De colmeias fortemente infestadas, com os sintomas das viroses já visíveis no início de fevereiro em várias das 18 colmeias instaladas no apiário da APA, passámos, em cerca de 20-30 dias, a ver as colónias com o aspecto que as fotos em baixo ilustram.

Vista geral do apiário da APA.
Foto de 1 de abril de uma colónia representativa de 95% das colónias no apiário, depois de em março ter doado vários quadros com criação e abelhas para desdobramentos.
Foto de 1 de abril do padrão de postura de uma colónia representativa de 90% das colónias no apiário.
Foto de 1 de abril do padrão de postura de uma colónia a ser equalizada.
Foto de 1 de abril de mais um desdobramento realizado nas colónias deste apiário.
Algumas das ferramentas que andam sempre na minha caixa: copo de testagem, álcool, copo para marcar rainhas, caneta e fita adesiva. Como diz um dos gigantes, só controlamos o que medimos e mais vale um lápis pequeno do que uma grande memória. Medir e anotar, são dois dos hábitos a que me obriguei.
A recolha de amostras: abelhas adultas e criação de zângãos.
Vista geral do apiário da Milvoz, onde também foram recolhidas amostras de abelhas adultas e criação de zângãos.

Há cerca de um mês o Nuno enviou-me os dados em baixo, colhidos das amostras de 1 de abril dos dois apiários experimentais. Estes dados são muito elucidativos e permitem-me confirmar a elevada eficácia e consistência deste protocolo inovador que utilizei em todas as colónias destes dois apiários para fazer o controlo da varroose.

Dados da infestação em abelhas adultas recolhidas nestes dois apiários em 1 de abril.

Para levar para casa:

Dada a solicitação de informação de um número apreciável de apicultores sobre este e outros aspectos de uma estratégia bem fundamentada, testada e com os resultados acima descritos em apiários do território português, vou abrir uma nova data para iniciar este percurso formativo “Controlo efectivo da Varroose ao longo do ano”, no próximo dia 16 de maio, com a sessão on-line, via Zoom, a ser iniciada às 21h30.

Os interessados em inscrever-se neste percurso formativo podem enviar e-mail para: jejgomes@gmail.com

Por uma apicultura sustentada e com dados recolhidos no terreno e alicerçada em resultados de elevada eficácia e consistentes.

Nota de agenda: No próximo dia 11 irei apresentar e exemplificar a aplicação em apiário destes conhecimentos a convite da Pampimel, na pessoa do seu Presidente o Luís Estevão.

aplicação da criação de rainhas por métodos orgânicos: a minha experiência prática

Deixo em baixo o testemunho do Rui Tomé, jovem apicultor da zona de Viseu, que conheci através dos cursos Zoom que tenho ministrado. O texto é particularmente feliz pela conexão que faz entre os seus valores enquanto cidadão deste mundo, a opção de criar rainhas por métodos orgânicos, uma forma de sustentar e promover a diversidade conjugada com a preocupação e respeito pelas abelhas, seus ritmos naturais e sua conciliação com a manutenção do potencial produtivo. Um testemunho claro de que as abelhas possibilitam encontrar diversos tipos de satisfação e realização pessoal, por caminhos vários, com objectivos de natureza diversa.

Após a frequência das sessões Zoom de formação em apicultura orientada pelo formador Eduardo Gomes, fiquei motivado para experimentar, na prática, uma técnica de criação de rainhas que me marcou bastante. Ao contrário dos métodos mais convencionais, baseados em translarve ou uso de cúpulas artificiais, esta abordagem foi toda construída sobre princípios orgânicos e naturais. A ideia era simples, mas poderosa: deixar que as próprias abelhas, dentro da colónia, decidissem quando e como criar uma nova rainha, com o mínimo de intervenção da minha parte.

Este método exigiu muito da minha capacidade de observação. Tive de estar atento aos sinais da colónia, entender os seus ritmos e criar as condições ideais para que o instinto de substituição ou enxameação fosse ativado. Organizei os quadros de forma estratégica e acompanhei de perto o surgimento das realeiras, tentando sempre respeitar o tempo das abelhas e evitar qualquer tipo de perturbação desnecessária. A verdade é que, ao longo do processo, fui percebendo como esta forma de trabalhar é mais harmoniosa e menos intrusiva — e isso fez-me ganhar ainda mais respeito pelo comportamento natural das abelhas.

Uma das coisas que mais me surpreendeu foi ver que, mesmo enquanto a colónia estava a formar uma nova rainha, o trabalho não parou. As campeiras continuaram a sair e a recolher néctar, e a colmeia manteve-se funcional. Ou seja, a produção de mel não foi prejudicada, como por vezes se pode temer quando se mexe na estrutura da colónia. Pelo contrário, percebi que é possível renovar a genética do enxame sem travar a sua dinâmica produtiva — basta agir com consciência e saber ler os momentos certos.

Para mim, esta experiência foi mais do que uma aprendizagem técnica. Fez-me refletir sobre o papel do apicultor: mais do que um gestor ou produtor, alguém que deve saber escutar o ritmo da natureza e intervir apenas quando necessário. Aprendi que criar rainhas por via orgânica não é apenas eficaz, mas também mais sustentável e coerente com uma visão de apicultura que privilegia o equilíbrio e o respeito pelo ecossistema.

Também me ajudou a desenvolver competências essenciais: paciência, atenção ao detalhe e capacidade de decisão baseada na observação, e não apenas na rotina. Ao confiar mais nas abelhas e menos nos atalhos técnicos, percebi que elas sabem muito bem o que estão a fazer — só precisamos de lhes dar espaço e condições para isso.

Outro ponto que levo comigo é a importância da diversidade genética. Ao deixar que as rainhas sejam criadas dentro das próprias colónias, estamos a preservar linhagens bem adaptadas ao ambiente local, o que pode fazer toda a diferença num tempo em que as abelhas enfrentam tantos desafios, desde doenças até mudanças no clima.

Em resumo, esta prática de criação orgânica de rainhas mostrou-me que é possível — e desejável — alinhar técnica, produtividade e respeito pela natureza. Sinto que esta abordagem me aproxima daquilo que quero ser como apicultor: alguém atento, responsável e comprometido com a sustentabilidade das abelhas e do seu habitat.

No final das contas fiz 14 enxames apenas com este método e neste momento estou com uma taxa de fecundação de 100% e com posturas de ponta a ponta nos quadros.

Um apiário em território de granito: o apiário do Rui
Um dos núcleos com rainha criada organicamente.
Outro núcleo com rainha criada organicamente.
Um dos enxames na actualidade.
Outro dos enxames na actualidade.
Um dos quadros de uma destas colónias.

Por uma apicultura inclusiva, para todos os apicultores, com foco na diversidade de objectivos e finalidades.

Parabéns pelo trabalho e bom ano apícola Rui!