vespa velutina: entrevista a Denis Thiéry* (INRA**)

Denis Thiéry*, investigador senior do INRA** (Institut National de Recherche Agronomique) dá uma entrevista (fonte: https://www.rustica.fr/articles-jardin/lutte-scientifique-contre-frelon-asiatique-se-renforce-i,14266.html) que me parece clarificadora acerca das razões na demora do avanço científico para uma melhor compreensão da vespa velutina e no consequente avanço de contra-medidas de controlo e até erradicação da mesma. Em primeiro lugar a vespa velutina era um ilustre desconhecido, pouca ou nenhuma literatura científica específica existia sobre a mesma antes da sua chegada acidental a Bordéus; em segundo lugar a pesquisa demorou a estruturar-se a um nível europeu o que teve um impacto negativo na criação de sinergias desejáveis entre os diferentes países afectados/interessados; e finalmente, o animal em questão é difícil de observar, é agressivo e esquivo, o que não facilita em nada o seu estudo, mais ainda em condições devidamente controladas. Se cada vez mais vivemos numa época acelerada, é natural que desejemos que também a ciência acompanhe esse mesmo ritmo e dê resposta quase imediata aos nossos problemas. Contudo observar, descrever, explicar e prognosticar em boa ciência é feito a um ritmo que está em grande dessincronia com o ritmo frenético de hoje. Enquanto esperamos… segue um excerto da entrevista a Denis Thiéry em baixo:

[…] “Existe uma crescente mobilização de equipes de pesquisa?
Em 2004, quando os dois primeiros ninhos de vespas foram observados em Lot-et-Garonne, não havia uma única publicação científica, além do trabalho do cientista neozelandês Spradberry, que data de 1973 [ Vespas: um relato da biologia e história natural das vespas solitárias e sociais, com referência particular às das ilhas britânicas]. Foi o único livro que tivemos! No entanto, desde a descoberta no ano passado do primeiro ninho inglês, há uma consciencialização mais real do problema. Alguns laboratórios do outro lado do Canal começaram a trabalhar em torno desta invasão e o número de equipes de pesquisa e publicações científicas no mundo está a aumentar.
 
Esta pesquisa está estruturada?
Não. Projetos muito grandes, como pesquisas sobre SIDA, etc., sim. Essa estruturação ocorrerá quando houver projetos europeus e está começando a tomar forma. Com Karine Monceau, professora da Universidade de La Rochelle e pesquisadora do CNRS no Centro de Estudos Biológicos de Chizé, submetemos um projeto aos programas europeus “Interreg”, visando, entre outras coisas, estudar a resistência de abelhas aos ataques das vespas. Outro trabalho europeu, coordenado por Alessandro Cini, foi aceite com o objetivo de sequenciar o genoma do vespão asiático. Finalmente, outra proposta importante foi submetida ao Conselho Britânico de Pesquisa e uma rede europeia foi construída, a Força-Tarefa Coloss Velutina. Uma verdadeira dinâmica científica está, portanto, em ação.


Que dificuldades enfrentam?
Até agora, pouco se sabia sobre o comportamento desta espécie. Então tivemos que colectar dados básicos sobre sua biologia, sua ecologia, o que levou alguns anos, porque o grande problema das invasões biológicas é que, no começo, não as vemos, ou vemos pouco. E, ao contrário de uma colmeia, o ninho de vespas não é um modelo de docilidade … Sua observação é difícil: essa colónia geralmente é estabelecida nas copas das árvores, geralmente com mais de vinte metros de altura, e os vespões exibem um comportamento de defesa muito agressivo. Para contornar esses problemas, tivemos que desenvolver uma criação em laboratório. Recentemente, para analisar o comportamento deste formidável predador, trabalhámos com chips RFID e um ninho numa gaiola equipado com um pórtico. Mas levamos quase dois anos para alcançar esse resultado …”[…]

Instalação de chips RFID em vespas asiáticas adormecidas.
Foto: Alain Girard © INRA.

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