ventilação do ninho: dois apontamentos

Nesta publicação deixei a pergunta: “o comportamento de ventilação das abelhas expulsa o ar quente e saturado de CO2 do interior da colmeia, como se o aspirasse para o exterior ou, ao contrário, força a entrada de ar fresco e oxigenado do exterior para o interior da colmeia?”

A questão surgiu-me da leitura do artigo Collective ventilation in honeybee nests, de 2019, Jacob M. Peters e colegas. Os investigadores tiram duas conclusões dos dados que recolheram da ventilação auto-organizada em colónias de abelhas melíferas europeias:

“Existem dois componentes comportamentais que são críticos para a ventilação auto-organizada.

  • “Primeiro, com o batimento de asas à entrada da colmeia as abelhas devem (e fazem) a extracção do ar para fora da entrada do ninho, e não para dentro. Isso permite-lhes sentir a temperatura do ninho a montante. Se as abelhas introduzissem o ar pela entrada do ninho, não teriam nenhuma informação sobre o estado da colmeia. ” Por palavras minhas, as abelhas ventiladadoras aspiram/expulsam activamente o ar do interior da colmeia e despejam-no no exterior. Ao fazerem assim recolhem informação da temperatura deste ar [humidade e CO2 também, digo eu] e o ar do exterior entra passivamente para ocupar o espaço do ar extraído. Esta utilização da mecânica dos fluídos pelas abelhas é de uma elegância e inteligência inquestionável, na minha opinião.
  • “Em segundo lugar, a função que determina a probabilidade de uma abelha ventilar a uma determinada temperatura provavelmente foi ajustada por meio da seleção natural. […] De fato, sabe-se que colónias com alta diversidade genética têm mais variação nos limiares individuais de temperatura para ventilação e são capazes de atingir uma temperatura de colmeia mais estável ao longo do tempo. Nossa teoria sugere que essa diversidade também é crítica para a estabilidade da padronização espacial do comportamento de ventilação, necessária para uma ventilação eficiente.” Mais um aspecto que associa a diversidade genética da colónia, isto é a presença de diversas sub-famílias, ao bem-estar e sanidade das colónias. Vamos a ver o que o nosso afã para selecionar, afunilando a diversidade genética, nos está a trazer e nos trará no futuro. Por exemplo nos EUA, vários especialistas e apicultores já se questionam se a selecção para abelhas menos propolizadoras não será uma das causas para os problemas sanitários e mortalidade de suas abelhas.

Deixo outra questão: em que medida o apicultor ao promover a ventilação superior, com a abertura por exemplo do óculo da prancheta e promovendo o efeito chaminé, não está a perturbar estes comportamentos de auto-organização? Se sim, que significado e impacto tem essa perturbação?

2 comentários em “ventilação do ninho: dois apontamentos”

  1. Boas, obrigado pelo informação. Na minha pouco experiença reparei que as abelhas fecharam os óculos da prancheta, eu uso uma rede no “chão”. Tenho dois sistemas de colmeias (Reversivel e Zander (sem óculos)) é até agora as abelhas estão com boa saúde.

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