Nesta série de vídeos publicado no youtube https://www.youtube.com/watch?v=ti2xcXxwOzM (ver lista completa à direita) podemos assistir a uma série de conferências muitíssimo recente apresentada por António Gomez Pajuelo, um dos maiores especialistas espanhois em apicultura e em varroose. A conferência é dada em catalão. Com a ajuda dum forista espanhol transcrevo algumas das ideias principais apresentadas por este especialista espanhol. Muito do que ele refere já foi escrito e abordado por mim neste blog, servindo este post como um sumário de alguns desses aspectos e, naturalmente, como confirmação e reforço do que foi por aqui escrito.
A introdução faz um enquadramento geral da atual situação da varroose e ciclo de vida da varroa. Refere que 25% da varroa é forética e permanece no corpo da abelha entre 3 a 10 dias. 75% está operculada. Os tratamentos que introduzimos na colmeia devem assegurar que, além de atacar a varroa forética (25%), também atacam a varroa operculada, devendo ser eficazes durante os próximos 12 dias. Isto porque quando nós introduzimos o tratamento pode acontecer que a varroa tenha acabado de ser coberta pelo opérculo, de modo que a varroa só sairá do opérculo 12 dias mais tarde, portanto o produto deve ter o potencial de atacar estas varroas que não foram atacado pelo produto no momento da sua introdução. Pajuelo explica ainda que os produtos têm o início da libertação ou ataque sobre as varroas 3 ou 4 dias após a introdução, portanto devemos adicionar 3 ou 4 dias a esses 12 dias, o período que a abelha leva até nascer depois de operculada. Então, se não temos um suporte para libertar o produto por 30 dias devemos fazer um segundo tratamento após 15 dias para atacar a varroa que sobreviveu no alvéolo operculado.
Este especialista refere que por cada varroa que entra num alvéolo saem 2 varroas. A teoria diz que, se não houver intervenção do apicultor na luta contra a varroa, por cada mês a partir fevereiro e até agosto a varroa duplica o seu número por cada mês que passa e atinge as 6400 no final deste período, conduzindo a colónia à morte. Os sinais visuais mais evidentes da varroose são abelhas com abdómen reduzido e abelhas com asas deformadas.
Acerca do teste de monitoragem da varroa na criação que o apicultor desopercula (por exemplo com um garfo de cresta — o método de monitoragem que prefiro) encontramos 75% das varroas existentes na colmeia (exceção feita ao meses de paragem de postura). Esta monitoragem deve ser realizada após o término do tratamento, porque não há garantias da eficiência do tratamento por forma a ficarmos tranquilos (produto com prazo de validade expirado, manuseio incorreto apicultor, tempo pouco auspicioso, etc.).
Pajuelo refere que hoje os tratamentos mais eficazes são os que têm o amitraz como substância activa. O Amicel, tiras de celulose impregnadas com amitraz, é mais eficaz do que as tiras de plástico, porque as abelhas retalham as tiras de celulose e as fibras de celulose envolvem e impregnam mais os corpos das abelhas. Além disso as fibras que caem no fundo da colmeias aumentam ainda mais contato com o produto. Diz que as tiras de celulose atingem mais rapidamente que as de plástico uma maior mortalidade das varroas, mas tal não significa que o produto seja mais eficaz, apenas que é mais eficaz na fase de introdução, mas eventualmente ambas as tiras, tanto de plástico como celulose acabam por ter a mesma eficiência ou resultados.
Acerca do ácido oxálico afirma que gotejamento do mesmo deve ser prudente em função do seu grau de pureza. Quanto às sublimação do ácido oxálico, é um procedimento que mata apenas a varroa forética (25%) e 4 aplicações dão mais garantias do que apenas 3 aplicações. Se a sublimação do oxálico não é corretamente efectuada, por ex. com a utilização de sublimadores de construção caseira sem controle de temperatura, devido às temperaturas demasiado elevadas, a molécula do oxálico é destruída e a eficácia do tratamento fica seriamente comprometida.
Acerca do thymovar diz que na zona onde o thymovar é colocado a rainha suspende a postura, podendo chegar a parar a postura por um par de dias assistindo-se ainda a aumento da agressividade das abelhas quando sujeitas à aplicação de tratamentos à base de timol.
Aborda também as teses do alvéolo pequeno dizendo que todos os estudos sérios que foram realizados confirmam que as colónias com os alvéolos de 4,9 mm acabam por ter mais abelhas/criação e, portanto, mais varroas sobre as abelhas. Conclui dizendo que, portanto, o alvéolo pequeno/natural não diminui a quantidade de varroa como defendido por alguns. Afirma ainda não é verdade que o tamanho de 4,9 mm é o tamanho natural dos alvéolos, porque os enxames naturais apresentam alvéolos com 4,9 mm na parte inferior dos favos, mas surgem alvéolos com 5,1 mm na zona intermédia e com 5,4 mm na zona superior do mesmo, isto é, a dimensão dos alvéolos não é uniforme ao longo de um favo natural. Refere ainda que a varroa não suporta mais de 40 graus, portanto no deserto do Arizona onde o casal Lusby afirma ter abelhas resistentes à varroa, as condições ambientais locais podem ajudar a explicar quase tudo.
Acerca do quadro de criação intensiva de zângãos refere que se ajuda a subtrair algumas varroas pode também causar dissabores se no dia ou dias previstos para o corte o favo de zângão não se pode ir ao apiário, porque o apicultor teve um impedimento/acidente ou porque está a chover. Em situações destas os zângãos acabarão por nascer e com eles todas as varroas que se tencionava eliminar.
Pajuelo termina dizendo o que todos sabemos ou deveríamos saber, que não existe uma fórmula única e maravilhosa para lidar com a varroa.
Bem dito Eduardo,
Apenas não concordo com a parte do quadro dedicado aos zangãos, pois o rácio de cria de zangão em relação à obreira irá ser pouco alterado quer se tenha o quadro armadilha ou não. As abelhas, como todos podem comprovar, deformam os quadros de obreira por forma a acomodar entre 17 a 25% de àrea dedicada ao zangão.
Assim considero que um quadro dedicado permite não só apanhar o zangão operculado, mas também dar às abelhas o sentimento de ninho aberto, e permitir que os outros quadros não sejam deformados e como tal tenham a cria de obreira mais compacta.
Ainda sobre isto, ao cortarmos o zangão, de uma grande àrea de zangão, quer dizer que enquanto esteve desoperculada aquela cria emitiu uma fortíssima feromona, deslocando o grosso da varroa nessa direcção e as obreiras nascem mais limpas de virose. Ao cortar o zangão apanha-se parte das não foréticas (30 – 35%% do total de varroas), e no mesmo momento com um tratamento flash eficaz podemos apanhar os 25% da forética. Assim, no fim desse dia temos um ninho aberto, apenas metade das varroas na colmeia e portanto além de diminuir a carga parasitária temos uma prevenção de enxameação.
Bom dia Afonso
Vejo que madrugaste. Mais um dia cheio de trabalho suponho. No meu caso decidi fazer uma pequena pausa neste fim-de-semana depois de cerca de 15 dias de trabalho diário. O meu pai bem que me avisou para não me meter na apicultura. E já tive dias em que cheguei a pensar que ele tinha razão. Contudo a maior parte dos dias sinto-me bem onde estou. A maior parte dos dias continuo a levantar-me com vontade de ir trabalhar. Quantos não irão a arrastar os pés e a alma para o seu trabalho/emprego?
Quanto ao teu comentário que agradeço, permite-me discordar da sua permissa básica: os quadros preparados para a criação intensiva de zângãos fazem disparar a criação de zângãos. Esta afirmação baseia-se nas minhas observações, que valem muito para mim mas compreendo que pouco poderão valer para ti ou para outros companheiros, e baseia-se também num estudo de Thomas Seeley que conheci há cerca de um par de anos e que conto publicar por aqui muito em breve.
Um abraço!