o material vinculativo

Nestas duas últimas semanas fiz várias intervenções nos meus apiários que espero venham a ter um impacto assinalável nos resultados deste ano.

Mais adiante conto referir algumas delas. No entanto, por vezes, são as pequenas coisas que mais nos ficam na memória e que mais nos levam a reflectir nos caminhos que a natureza foi encontrando para a perpetuação das espécies. Vem esta conversa a propósito de um pequeno episódio que ocorreu no meu apiário da beira litoral.

No passado domingo insatisfeito com o padrão de postura de uma rainha decidi eliminá-la. Depois de lhe ter passado com o raspador/formão por cima, deitei-a ao chão logo ali. Passado cerca uma hora o meu empregado chamou-me a atenção para um aglomerado/cacho de abelhas no chão, no mesmo local onde tinha deitado a rainha morta.

No dia seguinte, logo pela manhã cedo, voltei ao apiário e lembrando-me deste episódio fiz questão de olhar para o local onde no dia anterior tinha deitado a rainha, e voltei a ver um aglomerado de abelhas por lá. Ainda hoje me pergunto se as abelhas por lá pernoitaram, no exterior da colmeia, ainda atraídas por uma força invisível à sua mãe? Estou em crer que sim.

Na terça feira, já num apiário da beira alta, pedi ao meu empregado que encontrasse e eliminasse duas rainhas que, de acordo com os registos das visitas anteriores, apresentavam um padrão de postura duvidoso. Junto com estas orientações ia uma outra: “depois de eliminar a rainha abra um pequeno buraco no chão e tape a rainha morta com terra”.

Seja nas pessoas, seja nas abelhas, seja noutra qualquer espécie os vínculos são feitos de uma matéria intangível tão ou mais forte que o aço. Nas abelhas o material vinculativo, os entendidos chamam-lhe feromonas.

11 comentários em “o material vinculativo”

  1. Olá Eduardo

    Em vez de cometer o crime milenar de matar, porque não oferecer à Rainha, pouco produtiva, um quadro com abelhas e criação, numa caixa com abertura, ao ar livre e deixar que a Natureza resolva o problema da selecção natural ? – Por vezes enganamo-nos e cometemos erros.
    Tem custos ? Há riscos ? – Sim !
    Saudações

  2. Boa tarde, interessante partilha. Talvez seja utopia pensar numa forma de obter a mesma rentabilidade sem matar rainhas. Ate agora, jamais matei uma rainha por intenção, acho isso anti natureza, mas tambem não vivo dessa profissão. Compreendo e aceito racionalmente que seja necessario e uma inevitabilidade certa em casos de suspeitas de doenças, por exemplo. No entanto, gostaria de descubrir um metodo “menos antinatureza” e tenho reflectido bastante sobre isso…uma rainha é uma rainha. Provavelmente idealismo inutil de minha parte.
    Cumprimentos

    1. José e Carlos agradeço os comentários que fizeram a este post.
      Antes de tudo quero deixar claro que é com nenhum prazer que mato uma rainha. Contudo há algumas circunstâncias em que o faço.

      Nos casos referidos, como a minha intenção foi focar o fenómeno da vinculação não detalhei suficientemente as razões por que eliminei as rainhas e coloquei as razões debaixo do rótulo “padrão de postura duvidoso”. Detalhando um pouco mais as razões:
      — no caso de domingo a razão foi que o padrão de postura duvidoso tinha na sua origem a ascosferiose;
      — nos casos de 3ª feira a razão foi que o padrão de postura duvidoso de uma das rainhas já o tinha verificado no ano passado à entrada da primavera e no outro caso eliminei uma rainha híbrida (F2 ou F3) cujas abelhas tinham um comportamento insuportavelmente defensivo associado a um fraco padrão de postura.

  3. Boa tarde, fiz um comentario, mas não aparece publicado. Gostaria de saber se foi por ter dito alguma coisa de errado, ou por ainda estar em moderação. Pareceu-me ter saido publicado, mas agora não o vejo. O assunto interessa-me pois tinha uma questão posterio relativa a rainhas de substituição. Cumprimentos

    1. Carlos
      Não recebi outro comentário da sua parte para além do que acima publiquei. Se enviou outro peço-lhe que tenha a paciência de o voltar a enviar para ser publicado. Obrigado!

      1. Boa tarde, estava-me a referir ao 1ro comentario que fiz, mas saiu publicado, so que estava em moderação e não me tinha apercebido disso quando o enviei e depois fiquei na duvida. Por vezes ha blogs que permiten publicação directa dos comentarios sem moderação, dai ter feito confusão, peço desculpa e obrigado. Tenho uma duvida que gostaria de partilhar com apicultores, é o seguinte: quantas vezes pode enxamear uma mesma rainha? Isto é, supondo que uma rainha enxameia ao 2do ano, depois na nova colmeia onde se estabelece, se ficar no ano seguinte sem espaço, essa mesma rainha costuma enxamear outra vez na vida dela ou não? Ou simplesmente é substituida pelas abelhas imediatamente logo que possivel aquando da instalação desse enxame primario na colmeia? Cumprimentos
        Cumprimentos

  4. Olá Eduardo
    Ser prático e racional é , talvez, a melhor forma de estar na vida.
    Eu deixo-me , normalmente, abalar pelas emoções. Estou com o Sr. Carlos Marques e também nunca matei, nenhuma Rainha com intenção. No caso de doença procuro curar, no caso de debilidade faço reunião com uma colmeia mais forte. O risco não é de 50 % : a Rainha que ficar em cima tem 95 % de ser morta e portanto o meu risco de perder baixa para 5% (aproximadamente, segundo ensaios realizados) e eu lavo as mãos ! No caso da ascoferose talvez mudasse a rainha e abelhas (e… quadros ?) para uma colmeia limpa e arejada e ficava à espera.
    Procuro não ser fundamentalista, nem radical e não desejar aos outros o que não quereria para mim .
    Saudações e obrigado pela partilha .

  5. Olá Eduardo

    Atrevo-me a responder ao pedido do Sr. Carlos Marques com a incerteza que, na apicultura, todas as respostas têm .
    Na apicultura, como na agricultura e muitos outros fenómenos naturais não há certezas, há probabilidades .
    O que ensaios realizados, não por mim, demonstram é que a probabilidade de uma rainha enxamear no 1º ano é baixa e aumenta ano a ano, até ao limite de vida ( 5 anos).
    Mais frequentemente, uma rainha que enxameia é substituída no final da época. Algumas poderão não ser. Os desígnios das abelhas nesse capítulo ainda são mal conhecidos, mas a produção de ferormonas, espaço e factores genéticos são factores determinantes.
    Respondendo concretamente às suas questões:
    1 – Uma rainha que enxameie no 1º ano pode enxamear no 2º, com probabilidades diferentes conforme as causas específicas que provocaram a enxameação ( genéticas, falta de espaço ou falta de ferormonas ). Não tenho dados para as probabilidades em que este caso acontece.
    2 – Por ensaios efectuados verifica-se que o caso anterior é menos provável acontecer, sendo muito mais frequente verificar-se nos anos seguintes de idade da rainha. Que sendo mais velha será, mais provavelmente, substituída por falta de ferormonas ou debilidade.
    Gostava de ter mais dados experimentais, mas não há ou não conheço, tenhamos esperança que alguém saiba e divulgue.
    A resposta não satisfaz, mas é a melhor que tenho !
    Saudações apícolas

    1. Obrigado José Marques pelo comentário acerca da relação entre a idade da rainha e a enxameação.

      Respondendo à questão do Carlos e de acordo com a minha experiência verifico por vezes um dos seguintes casos (contudo as excepções são muitas pelos factores referidos pelo José Marques e provavelmente outros ainda desconhecidos):
      1) a rainha de uma colónia que está para enxamear e que eu divido para não perder as abelhas e a rainha, mais adiante na temporada esta é substituída pelas abelhas;
      2) uma colónia que está para enxamear e que eu divido para não perder as abelhas e a rainha, levo para outro apiário com floração mais tardia e mais adiante nesse mesmo ano tenta enxamear novamente;
      3) um enxame primário que apanho nos arbustos nos meus apiários, no ano seguinte tenta ou enxameia novamente.

  6. Boa tarde Eduardo!
    Esta questao do material vinculativo faz-me lembrar um ensinamento de um apicultor ja idoso da minha terra. Uma vez acompanhando-o ele matou uma rainha na minha presenca e em seguida depositou-a no interior da colmeia. Eu perguntei porque fez ele isso ao que ele responde: “assim elas vao perceber mais depressa a falta da rainha e vao comecar mais cedo a produzir uma nova!” .
    Na boa verdade tenho reparado que sempre que o faco os alveolos ficam maiores mesmo os de.emergencia seleccionados por.elas!
    Abracos
    Hugo

    1. Olá Hugo!
      Pois até pode ser que sim. Verdadeiramente quem sabe o que se passa na cabeça das abelhas nestas e noutras circunstâncias?

      Estando eu de “fora” (como todos nós, não é?) parece-me que deixando a rainha morta no interior da colmeia libertando ainda as suas feromonas as abelhas tardarão mais a iniciar a sua substituição. Talvez com o passar das horas/dias a dissipação gradual das feromonas do cadáver da rainha contribua para uma melhor selecção e alimentação das jovens larvas que a irão substituir, isto é, as abelhas não estarão tão pressionadas pela urgência, afinal ainda “sentem” a sua rainha, ainda que mais e mais fracamente. Se assim é parece-me muito acertado deixar a rainha morta no interior da colmeia. Mas aponto para outras razões. Contudo seja qual for a razão, o produto final (os mestreiros) poderá ser de melhor qualidade. Seguramente que experimentarei! Um abraço.

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