fórum nacional de apicultura: a manhã

Decidi ir sábado ao Fórum Nacional de Apicultura, que este ano decorreu na bela cidade de Castelo Branco, depois de desafiado na véspera pelo meu amigo e apicultor José Pires Veiga.

Com base na memória do que vivenciei vou arriscar a escrever umas linhas sobre o que retive de mais saliente para mim.

Da sessão solene de abertura ressalvo a perspectiva comum que os diversos oradores comungaram acerca da importância actual e futura do sector agrícola em geral e da apicultura em particular, para o desenvolvimento do território nacional e particularmente das zonas do interior. O reconhecimento deste facto, e nas palavras de um dos oradores, parece no entanto chocar com constrangimentos, mais de natureza legal/normativa que propriamente financeira, que entravam parte dos planos e acções para fazer mais e melhor.

Na sessão da manhã, dedicada ao tema da sustentabilidade futura da apicultura, estabeleceu-se o aquecimento da atmosfera como causador de impactos negativos sobre a flora e polinizadores e os bons serviços ecossistémicos que estes últimos prestam. Nas palavras da ilustríssima oradora, o sector apícola em particular merece o justo reconhecimento de todos, reconhecimento este que deverá materializar-se em apoios de estado mais condizentes com este papel. A necessidade de intervir de forma informada nos solos de áreas ardidas, com vista à potenciação das melhores condições para que a flora nativa germine e se desenvolva em simultâneo com o necessário controlo das infestantes, prendeu a minha atenção na segunda apresentação deste painel.

Fez-se o intervalo onde tive o renovado prazer de voltar a encontrar amigos e conhecidos e trocar palavras, participar na boa disposição e partilhar algumas ideias e anseios com os mais experientes acerca da plasticidade e adaptabilidade da vespa de patas amarelas, também conhecida por asiática. Apesar de diferentes opções quanto ao caminho em concreto a seguir no combate, em comum partilhamos a ideia que se o sector apícola foi aquele que primeiro sofreu com a presença deste insecto, os danos se expandem de forma cada vez mais notável ao sector dos pomaristas e viticultores. Mais preocupante ainda é o achamento de cada vez mais ninhos na malha urbana de cidades e vilas e em locais cada vez mais diversos, o que dificulta a localização dos ninhos e aumenta a probabilidade de o transeunte ser picado.

O painel seguinte de oradores, abordou a realidade da fraude do mel no país vizinho e o caminho que está a ser feito para a validação de uma nova técnica de análise do mesmo (baptizada com a sigla LIBS), com vista a uma mais rápida identificação e despistagem dos méis não conformes assim como a sua origem geográfica. Em simultâneo a legalidade de rotular “mistura de meis UE e não UE”, nas opinião dos dois oradores espanhóis, facilita a concorrência desleal e, mais preocupante, gera perda de confiança dos consumidores em relação à garantia da qualidade do mel em geral.

Resumindo a percepção que tirei das sessões da manhã é que a apicultura é reconhecida por todos como uma actividade indispensável à sustentabilidade do ecossistema sócio-rural, mas que paradoxalmente a sustentabilidade da mesma enfrenta um horizonte negro, consequência das alterações climáticas e destruição pelo fogo de enormes e ricas áreas de pasto. Este cenário adensa-se mais ainda com determinadas práticas comerciais, algumas a coberto de lei, que apesar de identificadas à muito continuam a fazer o seu caminho de forma mais ou menos impune. A cereja no topo desta tempestade quase perfeita tem patas amarelas e entrou na Europa à cerca de 15 anos atrás, vinda do sudoeste asiático. Saí para o almoço com a convicção reforçada que a sustentabilidade da apicultura apresenta níveis de risco e graus de incerteza cada vez maiores. O almoço foi um momento muito agradável, passado com bons amigos e servido de uma conversa animada e enriquecida por pontos de vista nem sempre convergentes que não nos separam, antes nos unem e aumentam o nosso respeito mútuo.

No futuro próximo espero escrever umas linhas sobre as sessões a seguir ao almoço.

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