erradicação da V. velutina através da tecnologia de silenciamento de genes: os primeiros passos

A propósito da publicação anterior foi-me perguntado se a tecnologia de silenciamento de genes estava a ser investigada/aplicada com o objectivo de erradicar/controlar as populações de V. velutina. Os estudos não são muitos, ao que me parece e, entre outros, destaco este que está a ser desenvolvido na Universidade de Lausanne.

V.E.S.P.A. — Vespa velutina Eradication through gene Silencing and Precise AI-based recognition

Projeto do iGEM Lausanne 2024, conduzido por estudantes da Universidade de Lausanne (Suíça).


🎯 Objectivo principal

Desenvolver um sistema biotecnológico e inteligente para controlar a vespa asiática (Vespa velutina nigrithorax), espécie invasora que ameaça abelhas e ecossistemas europeus.

A abordagem combina:

  • Silenciamento de genes (RNAi / shRNA) — para enfraquecer ou eliminar as vespas;
  • Visão computacional (IA) — para garantir que apenas V. velutina é visada;
  • Entrega seletiva da substância — evitando impacto em espécies nativas.

⚙️ Conceito científico

1. Silenciamento genético (RNAi / shRNA)

  • O RNA de interferência (RNAi) é usado para “desligar” genes essenciais ao desenvolvimento ou sobrevivência da vespa.
  • O grupo da UNIL planeia sintetizar pequenas moléculas de RNA em forma de hairpin (shRNA) que, ao serem ingeridas, impedem a produção de proteínas vitais.
  • Entre os genes-alvo propostos estão:
    • V-ATPase — gene essencial ao metabolismo celular;
    • VgR (receptor de vitelogenina) — relacionado com a reprodução;
    • Chitin synthase (Chs1 / Chs2) — necessário à formação do exoesqueleto.
  • Estes genes foram escolhidos por apresentarem alta especificidade para V. velutina, minimizando riscos de afetar insetos nativos.

2. Vetor biológico (entrega da molécula)

  • O RNA de silenciamento seria produzido por bactérias modificadas (não patogénicas), que funcionariam como “transportadoras” vivas.
  • Estas bactérias seriam incorporadas num isco alimentar destinado às larvas da vespa (que são carnívoras e alimentadas pelos adultos).
  • Ao ingerir o isco, as larvas absorveriam o shRNA, levando ao silenciamento do gene e, em teoria, à morte ou infertilidade.

3. Sistema inteligente de identificação (VespAI)

  • O grupo desenvolveu o protótipo de um sistema de reconhecimento por IA, denominado VespAI, treinado para identificar Vespa velutina através de imagem (forma do corpo, coloração, tamanho).
  • Só quando o sistema reconhece a vespa-alvo é que liberta o isco com RNAi, garantindo seletividade e segurança ecológica.

Implementação e estado atual

  • O projeto está ainda em fase laboratorial e de simulação, não em campo.
  • Foram realizados:
    • Modelos in silico de estrutura genética e análise de alinhamento de sequências para garantir especificidade;
    • Simulações de eficácia do RNAi (com softwares de biologia molecular);
    • Protótipos iniciais de IA para reconhecimento visual da vespa asiática.
  • A fase experimental prática (testes em insetos vivos) ainda não decorreu, por questões éticas e de biossegurança.

⚠️ Considerações éticas e ambientais

  • A equipa reconhece que o uso de organismos geneticamente modificados e RNAi em ambiente aberto exige avaliação de biossegurança rigorosa.
  • Por isso, o projeto é conceptual e não visa libertação em campo nesta fase.
  • Propõem um futuro modelo de implementação controlada, com sistemas fechados de alimentação seletiva (ex.: caixas inteligentes em apiários).

🌍 Impacto potencial

Se for bem-sucedido, o método:

  • poderia reduzir drasticamente as populações de Vespa velutina sem afetar outras espécies;
  • representaria uma alternativa ecológica ao uso de inseticidas químicos;
  • e integraria tecnologia de biologia sintética + inteligência artificial, criando um modelo de controlo seletivo e automatizado de pragas invasoras.

🧠 Em suma

ElementoDescrição
InstituiçãoUniversidade de Lausanne (Suíça)
Ano / programaiGEM 2024
Nome do projetoV.E.S.P.A.
AbordagemRNAi / shRNA + visão por IA
AlvoVespa velutina nigrithorax
Estado atualLaboratorial (conceitual, sem testes em campo)
Potenciais benefíciosControlo seletivo, sem químicos, compatível com apicultura
Principais desafiosEntrega eficaz do RNA, biossegurança, regulamentação

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