O princípio de uma colónia produtiva é bem conhecido: só uma colónia com uma população numerosa está em condições de acumular um excedente apreciável de mel para o apicultor (Lei de Farrar).
A preparação de uma colónia produtiva inicia-se verdadeiramente na cresta do ano anterior. Se a cresta for excessiva a colónia dificilmente ultrapassará o período invernal sem ajuda de alimentação suplementar. Caso consiga, muito provavelmente, surgirá à entrada da primavera com uma pequena população, estando em causa a sua produtividade. Terá uma população aquém do necessário para produzir um excedente de mel para o apicultor e todo o néctar entrado na colónia será utilizado para suprir o seu próprio crescimento. Sabemos que um quadro de criação consome, em média, um quadro de mel. Há colónias que não sobem à primeira meia-alça por esta simples razão: estão a crescer no ninho.
Analisemos agora alguns números e dois cenários que poderão servir de referência para o maneio do apicultor com o objectivo de preparar colmeias produtivas.
Cenário 1) Há colónias que nas 2-3 últimas semanas do inverno apresentam 4-6 quadros de criação e 8-10 quadros de abelhas no ninho. Estas colónias com um enorme potencial de se tornarem uma colónia muito populosa, acima dos 50 000-60 000 indivíduos, reúnem as condições para acumular um excedente de 25-35 Kg de mel para o apicultor (Lei de Farrar). Estes valores representam uma produção média que, no patamar inferior, está ao nível da média nacional e que, no patamar superior, está acima da mesma. Estimulante mas não irrealista!
Para concretizar este cenário a colónia deve ter condições para que, 20-30 dias antes do fluxo principal de néctar, apresente 6-8 quadros de criação no ninho. Nestas colmeias que saem fortes do inverno, o apicultor deve estar atento aos possíveis bloqueios do ninho que poderão impedir o seu normal crescimento e/ou suscitar a enxameação. A minha sugestão central para o maneio do ninho em colónias deste tipo passa pelo fornecimento atempado de quadros de cera puxados e/ou laminados que desbloqueiem o ninho, o abram e o expandam. Nestas colónias coloco um quadro numa das extremidades da câmara de criação (geralmente opto pelo lado mais quente da colmeia) com um intervalo de cerca de 7-10 dias, de acordo com o que vou observando. Não devemos descurar também a necessidade de ir aumentando verticalmente o espaço nestas colónias, colocando atempadamente alças ou meias-alças meleiras.
Fig. 1 — Colónias produtivas
Cenário 2) Há casos, contudo, de colónias que saem do inverno com uma população bastante mais reduzida. Estou a pensar no caso de colónias que chegam a 20-30 dias de uma floração importante com 3-4 quadros de abelhas. Estas colónias, com populações de 6 000 a 10 000 indivíduos, necessitam de cerca de 4 ciclos de criação para atingirem a população necessária para que se tornem produtivas. Deixadas ao seu destino, sem a nossa intervenção, são colónias que demorariam 80-90 dias a atingir a massa critica necessária para trabalhar adequadamente a floração em questão. Facilmente se conclui que, deixando tudo nas mão da natureza, a floração principal estaria terminada ou a terminar quando a colónia atingisse as condições de a trabalhar em força.
A equalização de colónias é a chave para estes casos. No dia -30 (30 dias antes da floração que nos interessa) coloco um quadro com criação operculada nestas colónias. São mais 4000-5000 jovens abelhas que nascerão durante os próximos 12 dias (lembro que um quadro Langstroth tem 7000-7200 alvéolos). No dia -20 coloco mais 2 quadros com criação (recebem mais 8000 a 10 000 abelhas). No dia -10 coloco mais 3 quadros com criação. No final presenteei esta colónia com 6 quadros com criação operculada (24 000-30 000 abelhas). Estas acções graduais dão-me boas garantias de atingir a almejada população de 50 000-60 000 abelhas (as que lhes ofereci adicionadas às abelhas que a própria colmeia foi criando) à entrada do fluxo de néctar que me interessa. No caso estou a pensar no fluxo do néctar rosmaninho, que inicia a floração em meados de abril, nos locais onde estão situados os meus apiários.
Viva Eduardo,
Em primeiro lugar um agradecimento, é sempre compensador ler os seus artigos.
Em segundo, pergunto: sabe que razões poderão ter levado o apicultor da figura 1 a colocar 1 1/2 alça antes do ninho?
Viva, Nuno! O apicultor é Walt Wright, o proponente da técnica Checkerboarding. Segundo ele, a meia alça antes do ninho serve para as abelhas aí depositarem o pólen/armazenarem o pão de abelha.