“as tuas sessões e explicações ajudaram-me imenso a dar o passo em frente na aplicação do PI”: o testemunho de um apicultor acerca da sua experiência com o Protocolo Inovador

Bem haja ao apicultor que me enviou este testemuho muito detalhado e analítico sobre a sua experiência recente com a aplicação do Protocolo Inovador (PI).

A este propósito e porque continuo a receber inúmeros pedidos de informação acerca deste PI, vou abrir novas datas para o percurso formativo “Controlo efectivo da Varroose ao longo do ano” onde ensinarei a utilizar este protocolo, assim como a utilizar devidamente o ácido fórmico, o ácido oxálico e o timol, numa luta integrada e com a necessária rotação dos princípios activos. As datas do novo curso Zoom são: 14, 21 e 28 de novembro, com as sessões a iniciarem às 21h00. Enviem pedido de mais informação através da caixa de comentários deste blog ou para o e-mail: jejgomes@gmail.com

Boa tarde Eduardo,

Com muita pena minha, não pude estar presente na sessão online de sábado. Vais realizar mais alguma?

Uma vez que procuro manter-me informado sobre o mundo da apicultura, recorrendo a fontes o mais científicas possível , já tinha conhecimento do Protocolo Inovador (PI).
No entanto, as tuas sessões e explicações ajudaram-me imenso a dar o passo em frente na aplicação do PI.

Quero dar-te algum feedback sobre o meu percurso e também sobre o tratamento. Vou tentar ser o mais breve possível.

Desde que tenho abelhas (há cerca de cinco anos), tenho tido sempre problemas com a varroa, sobretudo no verão(achava eu) — altura em que via as colmeias a enfraquecer.
Nos últimos dois anos comecei a estar mais atento ao longo do ano, testando regularmente os níveis com o copo de álcool(Seguidor do Randy Oliver), e verificava que os índices de varroa se mantinham sempre elevados: acima dos 4% em média, com algumas colmeias a atingirem 20% ou mesmo 30%.

Apesar de aplicar tratamentos sucessivos com amitraz (Ação rápida) e ácido oxálico, foi muito difícil baixar esses valores, além do custo associado. Graças a tua formação em Coimbra com o Marcelo e o Nuno , cheguei a enviar amostras de varroa para o IPB, onde foi detetada a presença de varroas com resistência ao amitraz.

Este ano, após a floração do eucalipto(pouca pelos incêndios), levei as colmeias para a serra. Quando as voltei a descer, encontrei taxas de infestação entre 0% e 20%. As colmeias fixas apresentavam geralmente 0% devido ao tratamento nas alturas correctas, enquanto as transumadas mostravam valores mais elevados.

Tratei todas da mesma forma, embora, por questões de disponibilidade, não tenha conseguido respeitar totalmente os intervalos, como poderás verificar abaixo:
Dia 09/Ago: Contagem + Protocolo Inovador (PI) + Tiras de Amicel
Dia 23/Ago: Contagem 
Dia 28/Ago:  Protocolo Inovador (PI) + Oxálico Sublimado
Dia 13/Set: Contagem

No entanto, posso concluir que o tratamento foi eficaz. No caso de uma colmeia com 65 varroas, o número desceu para 6 e depois para zero nas contagens seguintes. As restantes estão  a zero ou muito perto.

Quanto à eficiência, reconheço que não foi a ideal devido à carga de trabalho, mas, se fizermos as contas ao custo real, pode não ser assim tão diferente de um tratamento convencional. Deixo abaixo os custos de “mercearia” :

Total de colmeias: 60
Média de quadros com criação: 2 (devido aos incêndios,  ao clima e a realização 2 desdobramentos com a ideia de aumentar efetivo, as colmeias apresentavam menos criação)
Tempo total de tratamento: cerca de 3,5 horas
Mão de obra (2 pessoas): 7,5 €/h × 2
Tratamento aplicado: 3 € (pode ser mais barato comprando em maiores quantidades)
Custo total: 55,5 €
Custo aproximado por colmeia: 0,93 €

Vou tentar ser mais eficiente nos tempos 😊

Em resumo, trata-se de um método eficaz e económico, que pode ajudar a reduzir a varroa a níveis controláveis, permitindo depois recorrer a outros tratamentos mais práticos ao longo do ano. O importante é testar.

Tenho procurado levar a apicultura de forma mais séria e controlada, e acredito que este tipo de abordagem é o caminho certo.

Deixo aqui um pequeno resumo do meu ponto de vista e aproveito para te agradecer pelo contributo que tens dado à apicultura, mesmo enfrentando alguma resistência de certos “experts” que temem a mudança.

Apesar de algumas resistências na comunidade apícola, pontuais e pouco consistentes no argumentário, vou continuar a trilhar o meu caminho! Cada vez acho mais necessária introduzir mudanças e adaptações nos velhos modos de fazer e pensar, para atingir uma apicultura sustentável, motivante e vencedora face aos desafios de hoje e àqueles que se avizinham vindos de leste europeu!

erradicação da V. velutina através da tecnologia de silenciamento de genes: os primeiros passos

A propósito da publicação anterior foi-me perguntado se a tecnologia de silenciamento de genes estava a ser investigada/aplicada com o objectivo de erradicar/controlar as populações de V. velutina. Os estudos não são muitos, ao que me parece e, entre outros, destaco este que está a ser desenvolvido na Universidade de Lausanne.

V.E.S.P.A. — Vespa velutina Eradication through gene Silencing and Precise AI-based recognition

Projeto do iGEM Lausanne 2024, conduzido por estudantes da Universidade de Lausanne (Suíça).


🎯 Objectivo principal

Desenvolver um sistema biotecnológico e inteligente para controlar a vespa asiática (Vespa velutina nigrithorax), espécie invasora que ameaça abelhas e ecossistemas europeus.

A abordagem combina:

  • Silenciamento de genes (RNAi / shRNA) — para enfraquecer ou eliminar as vespas;
  • Visão computacional (IA) — para garantir que apenas V. velutina é visada;
  • Entrega seletiva da substância — evitando impacto em espécies nativas.

⚙️ Conceito científico

1. Silenciamento genético (RNAi / shRNA)

  • O RNA de interferência (RNAi) é usado para “desligar” genes essenciais ao desenvolvimento ou sobrevivência da vespa.
  • O grupo da UNIL planeia sintetizar pequenas moléculas de RNA em forma de hairpin (shRNA) que, ao serem ingeridas, impedem a produção de proteínas vitais.
  • Entre os genes-alvo propostos estão:
    • V-ATPase — gene essencial ao metabolismo celular;
    • VgR (receptor de vitelogenina) — relacionado com a reprodução;
    • Chitin synthase (Chs1 / Chs2) — necessário à formação do exoesqueleto.
  • Estes genes foram escolhidos por apresentarem alta especificidade para V. velutina, minimizando riscos de afetar insetos nativos.

2. Vetor biológico (entrega da molécula)

  • O RNA de silenciamento seria produzido por bactérias modificadas (não patogénicas), que funcionariam como “transportadoras” vivas.
  • Estas bactérias seriam incorporadas num isco alimentar destinado às larvas da vespa (que são carnívoras e alimentadas pelos adultos).
  • Ao ingerir o isco, as larvas absorveriam o shRNA, levando ao silenciamento do gene e, em teoria, à morte ou infertilidade.

3. Sistema inteligente de identificação (VespAI)

  • O grupo desenvolveu o protótipo de um sistema de reconhecimento por IA, denominado VespAI, treinado para identificar Vespa velutina através de imagem (forma do corpo, coloração, tamanho).
  • Só quando o sistema reconhece a vespa-alvo é que liberta o isco com RNAi, garantindo seletividade e segurança ecológica.

Implementação e estado atual

  • O projeto está ainda em fase laboratorial e de simulação, não em campo.
  • Foram realizados:
    • Modelos in silico de estrutura genética e análise de alinhamento de sequências para garantir especificidade;
    • Simulações de eficácia do RNAi (com softwares de biologia molecular);
    • Protótipos iniciais de IA para reconhecimento visual da vespa asiática.
  • A fase experimental prática (testes em insetos vivos) ainda não decorreu, por questões éticas e de biossegurança.

⚠️ Considerações éticas e ambientais

  • A equipa reconhece que o uso de organismos geneticamente modificados e RNAi em ambiente aberto exige avaliação de biossegurança rigorosa.
  • Por isso, o projeto é conceptual e não visa libertação em campo nesta fase.
  • Propõem um futuro modelo de implementação controlada, com sistemas fechados de alimentação seletiva (ex.: caixas inteligentes em apiários).

🌍 Impacto potencial

Se for bem-sucedido, o método:

  • poderia reduzir drasticamente as populações de Vespa velutina sem afetar outras espécies;
  • representaria uma alternativa ecológica ao uso de inseticidas químicos;
  • e integraria tecnologia de biologia sintética + inteligência artificial, criando um modelo de controlo seletivo e automatizado de pragas invasoras.

🧠 Em suma

ElementoDescrição
InstituiçãoUniversidade de Lausanne (Suíça)
Ano / programaiGEM 2024
Nome do projetoV.E.S.P.A.
AbordagemRNAi / shRNA + visão por IA
AlvoVespa velutina nigrithorax
Estado atualLaboratorial (conceitual, sem testes em campo)
Potenciais benefíciosControlo seletivo, sem químicos, compatível com apicultura
Principais desafiosEntrega eficaz do RNA, biossegurança, regulamentação

uma nova esperança no controlo da varroose: Vadescana/Norroa

Nos últimos anos, o combate à Varroa destructor tornou-se um dos maiores desafios da apicultura moderna. Muitos tratamentos tradicionais perderam eficácia devido à resistência crescente dos ácaros, e a procura por alternativas mais seguras e sustentáveis é cada vez maior.

É neste contexto que surge o Vadescana, uma molécula inovadora de RNA de dupla cadeia (dsRNA) desenvolvida para atuar de forma altamente específica sobre a Varroa, interferindo na expressão de genes essenciais à sua reprodução e sobrevivência — sem prejudicar as abelhas nem outros organismos.


🔬 Como funciona

O Vadescana baseia-se no princípio da interferência por RNA (RNAi), uma tecnologia biológica de ponta que “silencia” genes-alvo.
Nos ácaros da Varroa, o Vadescana bloqueia a expressão do gene Calmodulina (CAM), fundamental para processos fisiológicos e reprodutivos.
Ao impedir a ação desse gene, os ácaros tornam-se estéreis ou incapazes de completar o seu ciclo de vida, levando à redução natural da população dentro da colmeia.

Ensaios laboratoriais mostraram que, após exposição ao Vadescana, a maioria dos ácaros não produziu descendência viável, enquanto as abelhas mantiveram elevadas taxas de sobrevivência, sem efeitos adversos detetados nas larvas ou pupas.


🌍 Um passo inovador na luta biotecnológica

O Vadescana é o primeiro produto aprovado que utiliza esta tecnologia de RNAi em apicultura.
Nos Estados Unidos, a EPA (Environmental Protection Agency) aprovou recentemente o seu uso sob o nome comercial Norroa, desenvolvido pela empresa GreenLight Biosciences.

Segundo os dados de campo, o tratamento com Vadescana/Norroa oferece controlo eficaz da varroa durante 16 a 18 semanas, sem deixar resíduos nocivos no mel, cera ou abelhas.
O produto degrada-se rapidamente no ambiente, representando baixo risco ecológico e uma ferramenta sustentável a longo prazo.


⚠️ Limitações e cuidados

Apesar do entusiasmo, o Vadescana não está isento de precauções:

  • Doses incorretas podem afetar negativamente as abelhas, pelo que o cumprimento rigoroso das instruções de uso é essencial.
  • A tecnologia RNAi, embora precisa, pode ocasionalmente interagir com genes semelhantes de outras espécies (efeito cruzado).
  • A eficácia depende da absorção adequada pelo ácaro e de fatores ambientais (temperatura, humidade e densidade populacional da colónia).
  • O custo e a disponibilidade comercial ainda estão a ser definidos em vários países europeus.

O que esperar no futuro

A introdução do Vadescana marca um novo capítulo na apicultura de precisão.
Trata-se de uma abordagem científica que alia biotecnologia e segurança ambiental — uma alternativa ao uso repetido de acaricidas químicos convencionais.

O objetivo é integrar o Vadescana em programas de maneio integrado da varroose (IPM), combinando monitorização regular, tratamentos biológicos e estratégias preventivas.


📌 Em resumo

AspectoDetalhe
NomeVadescana (molécula de dsRNA)
FabricanteGreenLight Biosciences
Nome comercialNorroa
MecanismoSilenciamento do gene CAM da Varroa
Duração do efeito16–18 semanas
Impacto ambientalDegrada-se rapidamente, baixo risco ecológico
Situação regulatóriaAprovado pela EPA nos EUA (em análise na UE)

🧑‍🔬 Conclusão:
O Vadescana representa uma das inovações mais promissoras dos últimos anos no controlo da varroose. Embora ainda não disponível em todos os mercados, esta tecnologia de RNAi pode redefinir a forma como os apicultores combatem este parasita, garantindo colónias mais saudáveis e sustentáveis no futuro.

4 de outubro, dia de portas abertas na JGS Beekeeping

No próximo dia 4 de outubro, a JGS Beekeeping abre as portas para um dia dedicado à partilha de conhecimento, experiências e boas práticas em apicultura.

📢 Oradores convidados:

  • Eduardo Gomes
  • Bruno Moreira
  • Henrique Rebelo

🛠️ Workshops práticos:

  • Tiago Morais
  • Candace

📍 O encontro será nas instalações da JGS e promete ser um momento único de aprendizagem e convívio entre apicultores e amantes das abelhas.

⚠️ A participação é gratuita, mas é necessária inscrição prévia (link na legenda).

👉 Não perca esta oportunidade de aprender, partilhar e viver de perto a paixão pelas abelhas.

“sem dúvida que os investimento que fiz nas suas formações foi o melhor investimento que fiz na apicultura nos últimos anos…”: um testemunho

Recebi hoje outro testemunho acerca das virtualidades da utilização do protocolo inovador de controlo da Varroose e expressão da satisfação por ter frequentado os meus cursos por Zoom.

Fui autorizado fazer aqui a sua publicação pelo autor, que me solicitou anonimato. Fico muito grato pelo testemunho, que muito me motiva para continuar, assim como a autorização para o publicar.

O autor frequentou em março e abril o percurso formativo “Controlo efectivo da Varroose ao longo do ano” que ministrei via Zoom. As fotos foram enviadas por este apicultor muito satisfeito pelo que está a ver nas suas colónias, situadas na zona centro do país.

O testemunho de seguida.

Boa tarde Sr. Eduardo só para partilhar consigo a minha experiência com o protocolo inovador. Fiz a cresta no final de julho e deparei-me com a perda de 5 colmeias. Após a cresta apliquei um tratamento de amitraz. No dia 9 de agosto testei e tinha uma taxa de infestação de cerca de 6% (19varroas/300abelhas). Nesta altura e perante esta alta infestação apliquei pela primeria vez o protocolo inovador conforme a sua recomendação e passados 2/3 dias coloquei tiras de apitraz. Na segunda semana de setembro voltei a testar e na primeira colmeia que testei ainda tinha 3% de varroa voltei a aplicar o protocolo inovador! Hoje fui ver as colmeias e estavam assim:

Não testei porque não levei comigo as coisas necessárias apenas fui com intenção de alimentar.

Mas tenho em cada colmeia 3 a 4 quadros de criação, abelhas gordas bem nutridas, as larvas bem alimentadas com geleia real.

Claramente o protocolo inovador entrou para numero 1 no tratamento/ prevenção contra a varroa a um custo muito baixo.

Sem dúvida que os investimento que fiz nas suas formações foi o melhor investimento que fiz na apicultura nos últimos anos…

Obrigado pela ajuda e partilha de informação.

Continuo a receber manifestações de interesse neste percurso formativo com a primeira data agendada para o dia 17 de outubro, e para a qual ainda há umas poucas vagas disponíveis.

Venha aprender a melhorar as suas competências de controlo da Varroose mesmo em circunstâncias de infestação elevada.

Solicite mais informação sobre este percurso formativo enviando e-mail para o endereço: jejgomes@gmail.com

Por cursos apícolas com propostas práticas, eficazes e económicas, respeitando de forma orgânica o ambiente interno e externo das colónias de abelhas.

protocolo inovador de controlo da varroa: o testemunho de um formando

O Ricardo fez o percurso formativo “Controlo efectivo da Varroose ao longo do ano” nos meses de março e abril. Ontem enviou-me este e-mail. Liguei-lhe para que me desse autorização para partilhar o seu testemunho com os leitores do meu blogue — a exemplo do que já fiz no passado com testemunhos de outros companheiros. Generosamente assentiu. O meu grande bem-haja!

Fica a transcrição do e-mail recebido, onde retirei duas pequenas partes pela sua natureza mais pessoal.  

Bom dia Sr. Eduardo,

Escrevo-lhe este e-mail para lhe dar conta da minha experiência com o tratamento inovador.

Este ano comecei a época com 8 colmeias, tendo ideias de desdobrar 2 delas para fazer 6 novos enxames. Em janeiro deparei-me com a morte de 3 delas o que me deixou surpreendido e apreensivo em relação aos planos que tinha. 

Então decidi fazer o seguinte plano:

  • 2 colmeias iriam estar afetas à produção de mel;
  • 3 colmeias iriam ser desdobradas (de uma delas iriam sair 6 quadros de criação, um por núcleo, e das outras duas iriam sair 3 de cada, de maneira a fazer 6 núcleos fracos e ainda manter 2 colmeias com algum potencial produtivo).

As 2 colmeias que iriam estar afetas à produção de mel foram “passadas” para lusitana no fim de fevereiro, e a colmeia que foi mais desfalcada com os desdobramentos foi passada para lusitana em fim de março (na data do desdobramento).

Essa troca de modelo em 3 colmeias teve como consequência a renovação das ceras, ao longo da primavera, quase na totalidade para quadros lusitanos. Eu sabia que só por isso, com cera nova, que conseguiria atingir níveis altos de população de abelhas e por conseguinte níveis altos de varroa. Ainda para piorar, os espaço deixado pelos quadros reversíveis nas colmeias lusitanas era ideal para as abelhas fazerem criação de zangão, embora tenha feito uns cortes de criação, houve alguns descuidos por falta de tempo. Tinha noção que o pós cresta não ia ser fácil, principalmente em uma dessas 3 colmeias que tinha tido um crescimento mais acelerado. Vamos chamar a essa colmeia a Colmeia A.

Já a antecipar o problema, em Maio faço uma lavagem de abelhas na Colmeia A, 12 varroas. No simulador do Randy já mostrava o colapso da colónia no pós cresta. Decidi fazer um tratamento com tiras de ácido oxálico durante o mês de Junho, mas por falta de tempo não testei o resultado. 

Decido esperar pela cresta (dia 26 de julho), no dia seguinte à cresta faço o teste na Colmeia A, e o resultado é alarmante, 58 varroas, nem testei mais nenhuma colmeia. Deduzo que as tiras de ácido oxálico tenham feito pouco efeito. E zero criação operculada, não consegui aplicar o tratamento inovador. Nas outras colmeias que produziram mel (que foram as 5 iniciais, os desdobramentos nao deram mel), utilizei o tratamento inovador seguido das tiras de apitraz. Mas na Colmeia A coloquei 3 tiras de apitraz, passados 15 dias já apresentava criação operculada apenas em um quadro, onde apliquei o tratamento inovador (nesta altura retirei a 3 tira). 

Já no fim de Agosto, decidi aplicar fórmico convencional (100ml a 65% no evaporador da Lyson) para experimentar. Então apliquei na Colmeia A e numa outra do apiário. Testei antes ambas as colmeias, a Colmeia A um mês depois de iniciados os tratamentos (apitraz e tratamento inovador passados 15 dias) já só apresentavas 12 varroas. 

Ora no passado sábado, (cerca de 3 semanas depois após o tratamento com fórmico convencional) , a lavagem de abelhas na Colmeia A deu apenas 1 varroa. E como referi anteriormente, passado 1 mês já só apresentava 12 varroas. É importante salientar que as tiras de apitraz ainda estão na colmeia, pois ainda não passaram 10-12 semanas. Mas na minha opinião o fator importante aqui, foi mesmo o tratamento inovador. Pois também fiz o teste a uma colmeia que também teve um crescimento idêntico e que foi tratada com o tratamento inovador seguido das tiras de apitraz (tinha cerca de 5 ou 6 quadros com criação na altura do tratamento) e no passado sábado na lavagem de abelhas deu apenas 2 varroas. 

Apesar disto, e estando as temperaturas baixas, decidi tratar tudo novamente (os enxames que foram feitos este ano apenas tinham sido tratados com as tiras de apitraz) com ácido fórmico de forma convencional apenas 100ml por colmeia porque os evaporadores da Lyson não levam mais.

Aproveito também para desabafar consigo alguma tristeza que tenho em relação ao setor apícola,[…] os dois tratamentos por ano são uma autêntica anedota […], ainda para mais com a quantidade de informação cientifica que há acerca da varroa é uma estupidez não alterar isso. Por isso faço votos que continue o seu trabalho, acho que é e tem sido uma mais valia para a apicultura nacional.

Cumprimentos,

Ricardo Luís

A propósito da experiência que o Ricardo relata, relembro o caso mais extremo de salvamento com o protocolo inovador de uma colónia altamente infestada num apiário de um cliente.

7 quadros cobertos com abelhas, quando 3 meses antes a infestação estava a atingir os 24% e à beira do colapso. Em maio vi uma colónia saudável, a crescer de forma notável.

Para memória futura, fiz duas aplicações deste protocolo, a primeira a 5 de março e a segunda a 13 de março. Em apenas 8 dias esta colónia desceu de 23,7% (71 varroas em 300 abelhas) para 7,7% (23 varroas em 300 abelhas) após a primeira aplicação do protocolo. Depois da segunda aplicação, a 13 de março, achei por bem não testar para não “sacrificar” mais abelhas adultas numa colónia já pouco povoada.

A 13 de maio, voltei ao apiário e achei que tinha chegado o momento certo para fazer um novo teste de infestação: estavam passados exactamente 2 meses e a colónia estava relativamente bem povoada com 7 quadros de abelhas e 5 quadros com criação, como mostra a foto em cima.

No coador, 4 varroas e um cisco. Um protocolo de controlo da varroose com 97% de eficácia não se encontra facilmente, mas está ao seu alcance conhecê-lo inscrevendo-se no percurso formativo que vou iniciar no próximo dia 17 de outubro. Foto minha de uma colmeia que no passado dia 18 de fevereiro apresentava 71 varroas

A aprendizagem do protocolo/tratamento inovador e utilização do simulador de varroa do Randy Oliver, que o Ricardo refere, são conteúdos do percurso formativo “Controlo efectivo da Varroose ao longo do ano”, entre outros conteúdos de grande relevância.

No próximo dia 26 encerrarei mais um percurso formativo, que teve/tem tido uma muito boa adesão junto de um grupo de apicultores muito interessados e com vontade de aprender a melhorar o controlo do principal inimigo das colónias de abelhas.

Entretanto, recebi novas manifestações de interesse neste percurso formativo e decidi abri novas datas. Assim a primeira data está agendada para o dia 17 de outubro, e para a qual ainda há algumas vagas disponíveis.

Venha aprender a melhorar as suas competências de controlo da Varroose mesmo em circunstâncias de infestação elevada, como as descritas no testemunho do nosso companheiro Ricardo Luís.

Solicite mais informação sobre este percurso formativo enviando e-mail para o endereço: jejgomes@gmail.com

tiras de libertação lenta de ácido oxálico são eficazes?

O princípio que recomendo aos meus clientes e formandos é avaliarem o nível de infestação após a conclusão dos tratamentos. Não confiar, sem mais e antecipadamente, em nenhum medicamento/tratamento é uma regra de bom senso.

Vem este lembrete a propósito dos resultados discrepantes obtidos em diversos estudos com a utilização de suportes celulósicos de libertação lenta de ácido oxálico dissolvido em glicerina. Estas discrepâncias, que reforçam o cuidado mencionado em cima, ficam visíveis, por ex., nos resultados obtido por Bartlett et al. (2023) e Branchicella et al. (2025).

Bartlett et al. (2023) mostraram que a administração de uma formulação não comercial de libertação lenta de ácido oxálico e glicerina em toalhetes azuis (blue towels) não tem efeito na diminuição dos níveis de ácaros, nas condições em que realizaram o estudo.

Aplicação de toalhetes azuis em colónias de Randy Oliver

Já os resultados obtidos no estudo de Branchicella et al. (2025) mostram que com outro tipo de suportes celulósicos e outro técnica de aplicação estes suportes de libertação lenta de ácido oxálico pode ser altamente eficaz no controlo V. destructor. Contudo mostrou também que, em circunstâncias específicas, a sua utilização pode não diminuir necessariamente as populações de ácaros da colónia.

Estes detalhes e “pormaiores” serão mencionados por mim no próximo percurso formativo que se iniciará no próximo dia 12, às 21h30, via Zoom. A pedido de apicultores já inscritos ensinarei a produzir tiras celulósicas de libertação lenta de ácido oxálico.

uma das principais causas da falha dos tratamentos contra a varroa

Desde 2017 que escrevo e alerto para que uma das principais causas da falha dos tratamentos está relacionada com o timing incorrecto em que eles são aplicados. Passados estes anos a mensagem chegou a alguns apicultores; ainda assim um número importante continua a aplicar tardiamente os acaricidas.

Este maneio ineficiente não é exclusivo de Portugal, o mesmo se passa em muitos países, nomeadamente em Inglaterra e País de Gales, como revela a análise dos dados recolhidos de um inquérito nacional aos apicultores destes países.

No sumário da publicação feita a partir da análise dos dados disponíveis no BeeBase da National Bee Unit relativos a inquéritos respondidos por 4.339 apicultores de 37 condados, abrangendo um total de 18.700 colónias, no período de 2016 a 2020, escreve-se:

[…] utilizando dados recolhidos de um inquérito anual nacional a apicultores de Inglaterra e País de Gales, avaliámos o impacto relativo da adesão ao tratamento contra a Varroa nos resultados de saúde das colónias. Os resultados demonstram que menores perdas de colónias durante o inverno estão correlacionadas com o timing correto de aplicação do tratamento, e não apenas pela aplicação do produto, reforçando a importância epidemiológica do momento da aplicação.” (fonte: A large-scale study of Varroa destructor treatment adherence in apiculture; fev. 2025)

Varroa destructor, haplotipo coreano, é a mais virulenta das 4 espécies conhecidas e a que se estabeleceu na Europa.

Os investigadores observaram que os apicultores que falharam o timing de tratamento contra o ácaro Varroa sofreram perdas elevadas de colónias, tendo este efeito ocorrido numa vasta gama de medicamentos — mais do que o medicamento escolhido é o momento da sua aplicação que explica o sucesso ou insucesso do mesmo.

Para além do timing há um outro factor de grande relevância a ser considerado no momento de selecção e aplicação dos acaricidas, excluindo o factor resistência ao princípio activo.

Estes e outros aspectos serão analisados em detalhe no percurso formativo “Controlo efectivo da Varroose ao longo do ano”, que irei iniciar via Zoom no próximo dia 12 de setembro, e para o qual há 2 vagas disponíveis neste momento.

Mais informações devem ser solicitadas para o e-mail: jejgomes@gmail.com

as abelhas domésticas transferem vírus para os abelhões?

Há vários anos que os apicultores mais informados e atentos se preocupam com os efeitos colaterais da proximidade entre as colónias de abelhas melíferas (Apis mellifera) e as populações de abelhões selvagens (Bombus spp.). A possibilidade da disseminação viral entre estas espécies tem alimentado muitos debates. Alguns estudos sugerem que os vírus típicos das abelhas, como o VAD (vírus das asas deformada), o VPA (vírus da paralisia aguda), poderiam não só infectar os abelhões, como também sobreviver de forma autónoma nesta espécie. A possibilidade dos vírus, habitualmente presentes nas abelhas domésticas, se espalharem a novas espécies levanta não só questões de conservação, mas também responsabilidades sanitárias para os apicultores.

Bombus terrestris, o abelhão mais conhecido e estimado na Lusitânia.

Um estudo de grande escala realizado entre 2021 e 2023 no Minnesota (EUA), recentemente publicado na Communications Biology (2025), atenua estas preocupações. Os investigadores compararam os viromas (conjunto de todos os vírus presentes num determinado ecossistema, organismo ou ambiente) de 389 abelhas e 117 abelhões Bombus impatiens que viviam no mesmo ambiente. A sua conclusão é clara: apesar das exposições frequentes, não há evidência de transmissão viral sustentada ou adaptações dos vírus nos abelhões.

Bombus impatiens

Para que um vírus se estabeleça de forma sustentável numa nova espécie, têm de ser cumpridas várias condições: capacidade de replicação, transmissão eficiente entre indivíduos da mesma espécie e compatibilidade com as barreiras imunológicas do novo hospedeiro. O estudo realça que, embora o VAD e VPA possam replicar-se em alguma abelhões em condições experimentais, não há evidências de uma cadeia de transmissão natural na ausência de abelhas.

Mesmo em colónias de abelhões colocadas perto de apiários, a proporção de vírus com origem nas abelhas não aumentou. No entanto, quando as abelhões foram afastadas das abelhas, o seu viroma rapidamente voltou à sua composição original. Isto confirma o cenário de “transferência sem saída”: o vírus infecta um hospedeiro acidental (neste caso os abelhões), mas não consegue sobreviver nele.

(fonte: McKeown, D. A. et al. (2025). Distinct virome compositions and lack of viral diversification indicate that viral spillover is a dead-end between the western honey bee and the common eastern bumblebee. Communications Biology, 8, 926)

Sem dramas e sem holofotes a ciência, gradualmente, vai colocando as peças no seu devido lugar. A resposta que dá à questão do título é um… não.

A propósito do VAD e VPA, que matam 200-300 mil colónias de abelhas/ano só em Portugal, venha conhecer um protocolo inovador de tratamento que com 5-10 cêntimos por colónia lhe permite manter estes vírus e o seu veículo, a Varroa destructor, debaixo de controlo. Para mais informações entre em contacto para o e-mail jejgomes@gmail.com

a eficácia e consistência de um protocolo inovador de controlo da varroose (revisitado)

Dada a solicitação de informação de um número apreciável de apicultores sobre este e outros aspectos de uma estratégia bem fundamentada, testada e com os resultados acima descritos em apiários do território português, vou abrir uma nova data para iniciar este percurso formativo “Controlo efectivo da Varroose ao longo do ano”, no próximo dia 12 de setembro, com a sessão on-line, via Zoom, a ser iniciada às 21h30.

Os interessados em inscrever-se neste percurso formativo podem enviar e-mail para: jejgomes@gmail.com

MUITO IMPORTANTE: no dia 11 de outubro, abrirei uma sessão via Zoom gratuita , com início às 21h30, para todos os formandos que até essa data tenham frequentado este percurso formativo na sua totalidade, com o objectivo de partilharmos experiências e reflexões. Poderão participar todos aqueles que concluíram este percurso formativo em abril, maio, os formandos que estiveram na sessão presencial de Coimbra e os formandos que irão concluir este percurso fomativo nas próximas semanas. No última semana deste mês endereçarei este convite a cada um que cumpra estes requisitos para reservarem esta data.

Por uma apicultura sustentada e com dados recolhidos no terreno e alicerçada em resultados de elevada eficácia e consistentes revisito esta publicação.

No âmbito do meu trabalho de consultoria e apoio técnico aos apiários experimentais do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, propus ao Nuno Capela, o investigador responsável, fazer o controlo da varroa com um protocolo inovador em dois dos apiários experimentais deste Centro.

Na altura, a proposta deste controlo decorreu da observação que fiz da situação de risco elevado a que um dos apiários (conhecido por nós pelo apiário da APA) chegou no início de fevereiro, um mês depois de iniciada a aplicação de um medicamento homologado baseado no amitraz. A taxa de infestação em cerca de 70% das colónias deste apiário ultrapassava os 8% um mês após o início do tratamento, quando um mês antes, no início do mesmo, estava em 2-3%. O Nuno concordou, e avancei com este protocolo que trazia na minha “caixa de ferramentas/conhecimentos”, aprendido nas muitas leituras que faço da melhor literatura apícola — ando ao ombro de gigantes e continuo o meu percurso cada vez mais motivado e convicto do meu papel e lugar na apicultura nacional.

Assim, iniciei a aplicação deste protocolo na primeira e segunda semana de fevereiro no apiário da APA, e estendi a aplicação a outro apiário experimental, o apiário da Milvoz, onde a infestação estava muito mais controlada com a aplicação do mesmo medicamento homologado baseado no amitraz (expliquei a razão desta diferença nos resultados obtidos com um mesmo medicamento, iniciado na mesma data e com taxas de infestação relativamente baixas no início do tratamento nos dois apiários, aos muitos companheiros apicultores que acompanharam as minhas sessões Zoom “Controlo efectivo da Varroose”, que ministrei de janeiro a abril).

De colmeias fortemente infestadas, com os sintomas das viroses já visíveis no início de fevereiro em várias das 18 colmeias instaladas no apiário da APA, passámos, em cerca de 20-30 dias, a ver as colónias com o aspecto que as fotos em baixo ilustram.

Vista geral do apiário da APA.
Foto de 1 de abril de uma colónia representativa de 95% das colónias no apiário, depois de em março ter doado vários quadros com criação e abelhas para desdobramentos.
Foto de 1 de abril do padrão de postura de uma colónia representativa de 90% das colónias no apiário.
Foto de 1 de abril do padrão de postura de uma colónia a ser equalizada.
Foto de 1 de abril de mais um desdobramento realizado nas colónias deste apiário.
Algumas das ferramentas que andam sempre na minha caixa: copo de testagem, álcool, copo para marcar rainhas, caneta e fita adesiva. Como diz um dos gigantes, só controlamos o que medimos e mais vale um lápis pequeno do que uma grande memória. Medir e anotar, são dois dos hábitos a que me obriguei.
A recolha de amostras: abelhas adultas e criação de zângãos.
Vista geral do apiário da Milvoz, onde também foram recolhidas amostras de abelhas adultas e criação de zângãos.

Há cerca de um mês o Nuno enviou-me os dados em baixo, colhidos das amostras de 1 de abril dos dois apiários experimentais. Estes dados são muito elucidativos e permitem-me confirmar a elevada eficácia e consistência deste protocolo inovador que utilizei em todas as colónias destes dois apiários para fazer o controlo da varroose.

Dados da infestação em abelhas adultas recolhidas nestes dois apiários em 1 de abril.