Há vários anos que os apicultores mais informados e atentos se preocupam com os efeitos colaterais da proximidade entre as colónias de abelhas melíferas (Apis mellifera) e as populações de abelhões selvagens (Bombus spp.). A possibilidade da disseminação viral entre estas espécies tem alimentado muitos debates. Alguns estudos sugerem que os vírus típicos das abelhas, como o VAD (vírus das asas deformada), o VPA (vírus da paralisia aguda), poderiam não só infectar os abelhões, como também sobreviver de forma autónoma nesta espécie. A possibilidade dos vírus, habitualmente presentes nas abelhas domésticas, se espalharem a novas espécies levanta não só questões de conservação, mas também responsabilidades sanitárias para os apicultores.

Um estudo de grande escala realizado entre 2021 e 2023 no Minnesota (EUA), recentemente publicado na Communications Biology (2025), atenua estas preocupações. Os investigadores compararam os viromas (conjunto de todos os vírus presentes num determinado ecossistema, organismo ou ambiente) de 389 abelhas e 117 abelhões Bombus impatiens que viviam no mesmo ambiente. A sua conclusão é clara: apesar das exposições frequentes, não há evidência de transmissão viral sustentada ou adaptações dos vírus nos abelhões.

Para que um vírus se estabeleça de forma sustentável numa nova espécie, têm de ser cumpridas várias condições: capacidade de replicação, transmissão eficiente entre indivíduos da mesma espécie e compatibilidade com as barreiras imunológicas do novo hospedeiro. O estudo realça que, embora o VAD e VPA possam replicar-se em alguma abelhões em condições experimentais, não há evidências de uma cadeia de transmissão natural na ausência de abelhas.
Mesmo em colónias de abelhões colocadas perto de apiários, a proporção de vírus com origem nas abelhas não aumentou. No entanto, quando as abelhões foram afastadas das abelhas, o seu viroma rapidamente voltou à sua composição original. Isto confirma o cenário de “transferência sem saída”: o vírus infecta um hospedeiro acidental (neste caso os abelhões), mas não consegue sobreviver nele.
(fonte: McKeown, D. A. et al. (2025). Distinct virome compositions and lack of viral diversification indicate that viral spillover is a dead-end between the western honey bee and the common eastern bumblebee. Communications Biology, 8, 926)
Sem dramas e sem holofotes a ciência, gradualmente, vai colocando as peças no seu devido lugar. A resposta que dá à questão do título é um… não.
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