As colónias de abelhas iniciam a criação de realeiras de enxameação durante um período de rápido crescimento da população de novas abelhas obreiras (ver post relacionado). A altura do ano em que este fenómeno ocorre varia com as zonas e é do interesse do apicultor ir anotando de ano para ano quando se inicia e quando abranda ou pára. Para além deste calendário pessoal, deverá olhar também para as florações que habitualmente estão associadas ao arranque da enxameação.
Por norma, verificamos que nas semanas anteriores à enxameção a entrada de pólen nas colmeias é intensa, que um fluxo de néctar, ainda que relativamente lento está a decorrer, que as temperaturas sobem, com as máximas a tocar frequentemente os 20ºC — 22ºC e as mínimas não descem abaixo dos 12ºC—15ºC. Estamos num contexto de relativa abundância de recursos e as abelhas andam felizes.
Nestas condições, a rainha, intensamente alimentada pelas suas aias, aumenta gradualmente a sua postura e acaba por atingir o pico, que mantém por alguns dias, após os quais diminui gradualmente o ritmo de postura. As 2 a 3 semanas após este pico são semanas que enchem de alegria todos os apicultores, que se apercebem do bom ritmo a que as suas colónias crescem. Mas, fora do seu olhar, está a germinar um fenómeno com uma importância crítica na vida daquela colónia: a predisposição para se reproduzir através da enxameação. Analisemos com algum detalhe este momento.
Fig. 1 — Quadro típico de criação operculada numa época em que a rainha atingiu o seu pico de postura
Lembremo-nos que a rainha atingiu o seu pico de postura, e nas 2 a 3 semanas seguintes vão nascer muitas abelhas novas. O pico de nascimento destas abelhas coincide com um momento em que a rainha já abrandou o seu ritmo de postura. Em quadros onde 2 ou 3 semanas antes encontrávamos postura de uma ponta à outra, encontramos agora áreas ocupadas com pólen, mel e menos criação. Neste momento, o número de abelhas amas disponíveis é muito grande, assim como é grande a sua vontade/instinto de alimentar as larvas. Para além das abelhas amas, as abelhas cerieiras anseiam por construir novos favos e darem bom uso às suas glândulas secretoras de cera. Não tendo favos para construir aplicam-se a fazer pontes de cera entre os quadros ou entre os topos dos quadros e a prancheta, enfim, enchem de cera qualquer espaço apetecível. Por outras palavras estas abelhas (amas e cerieiras) encontram-se desempregadas. O seu potencial produtivo excede em larga medida as exigências da colónia. A colónia está em desequilíbrio. Para agudizar mais as coisas, este período costuma coincidir com a época em que as abelhas campeiras/forrageiras, vindas do exterior, trazem néctar e pólen fresco em quantidade. “Uummhh… há boas condições lá fora”, deverão pensar estas entediadas abelhas amas e cerieiras.
Fig. 2 — Quadro com grandes áreas ocupadas por mel e pólen e com uma pequena área central disponível para a postura da rainha
Instintivamente as abelhas parecem compreender que este desequilíbrio pode ser resolvido com a cisão do enxame. A pulsão para a enxameação e colonização de um novo espaço está criado e é muito difícil de travar. Quase tanto como parar um comboio em andamento…