Vou assumir neste post que todos nós somos capazes de identificar a loque americana e, mais arrojado ainda, todos estamos dispostos a fazer o melhor possível para resolver este problema quando ele surge nas nossas colmeias. Tendo assumido a competência e a motivação (num mundo ideal claro) para erradicar a loque americana dos nossos apiários, resta-me deixar muito claro o que se deve fazer quando somos confrontados com este problema sanitário.
Fig. 1: Utilização do teste do palito para fazer de forma expedita o diagnóstico de loque americana
Como ponto de partida importa-nos reconhecer o seguinte: para a loque americana ainda não existe nenhum antibiótico verdadeiramente eficaz; a loque americana é uma doença extremamente infecciosa e que urge o mais rapidamente possível erradicar completamente. Os antibióticos utilizados não eliminam o problema, apenas o mascaram. O foco irá persistir através dos esporos e mais tarde ou mais cedo expandir-se a outras colmeias do apiário e colmeias de apiários vizinhos.
Para quem quer impedir o alastramento do contágio e assim preservar as suas colmeias e as colmeias dos vizinhos só tem um caminho: eliminar pelo fogo as fontes de loque americana. Isso implica matar as abelhas e queimar tudo: abelhas, quadros e caixas num buraco aberto no solo que depois deve ser bem coberto com terra para evitar que as abelhas nas redondezas se infectem em alguns restos mal queimados. Só o fogo elimina os esporos da loque americana, os antibióticos não o conseguem fazer.
Quem trata a loque americana com medicamentos está a iludir-se porque não elimina devidamente os esporos e ainda acaba por contaminar o seu mel e, eventualmente, o mel dos seus vizinhos. Na tentativa vã de salvar um ou mais enxames com a utilização de antibióticos pode estar a colocar em causa a sanidade/conformidade de centenas ou milhares de quilogramas de mel. A este propósito leia-se o que o especialista Miguel Maia escreve:
“A introdução de antibióticos no mel inicia-se com o intuito do apicultor prevenir /controlar as loques. As boas práticas indicam que no caso de loque americana, as colmeias devem ser destruídas em detrimento do controlo por antibióticos. […] Durante o armazenamento do mel, os antibióticos são estáveis e, mesmo que exista a sua degradação, os produtos de degradação são detectados. Devido à má utilização dos antibióticos, muitos lotes de mel podem ser rejeitados no comércio provocando enormes prejuízos na apicultura.” fonte: Os antibióticos no mel, Miguel Maia, Engº Zootécnico.
Bom dia Eduardo
Não é preciso ser tão drástico para se ver livre da peste americana. Essa teoria é dos livros de meados do sec. xx.
Há que ter muito cuidado quando se nos depara uma colmeia com podridão americana(loque em Espanha) e loque europeia (mais suave).
Modo de proceder:
1- Varrer todas as abelhas para uma caixa vazia e mantê-las nessa caixa 12 a 24 horas, sem alimento.
2-Preparar uma caixa nova, ou queimada a maçarico, e quadros novos com cera moldada. 3-Varrer novamente todas as abelhas para essa caixa.
4-Preparar alimentação estimulante a 2/1 (açúcar e água) onde se adiciona tetraciclina a 5/1000 (5 ml por um litro de alimentação). É a única vez que se alimentam abelhas com antibiótico.
5- Alimentar mais uma vez com alimentação estimulante, mas já sem antibiótico.
6-Não havendo entrada suficiente de néctar, dar alimento de manutenção, de qualidade comprovada.
Este procedimento só deve ser feito quando houver temperaturas próprias para as abelhas saírem, puxarem a cera e haja entrada de algum nectar.
Segundo a minha experiência em duas vezes que tratei assim abelhas com loque americana (há mais de 20 anos) nunca mais esta apareceu.
Eficácia deste procedimento:
Ao retirarmos tudo o que contenha esporos às abelhas, estas são obrigadas a saírem para procurar própolis novo e algum nectar com que impermeabilizam e desinfetam a colmeia. Se alguma bactéria sobrou, é morta com esta nova impermeabilização.
Como a alimentação é nova e contém antibiótico, as abelhas, raínha e zangãos, ao ingerirem este alimento ficam protegidas da bactéria.
Como a geleia real é produzida com este novo alimento as larvas são alimentadas já sem a bactéria.
As caixas onde estiveram as abelhas juntamente com os quadros com mel poderão ser primeiro passados por congelação a -18 graus. Depois o mel poderá ir para consumo humano (nunca para alimentação de abelhas) A cera deverá ser enterrada, os quadros poderão ser desinfetados fervendo-os em soda caustica e depois passados a maçarico e as caixas deverão ser completamente queimadas a maçarico assim como toda a madeira (pranchetas, tábuas de voo, etc). Assim ficam prontos para nova utilização.
Escusado será dizer que tudo o que esteve em contacto com esta colmeia doente deverá ser completamente desinfetado.
Cumprimentos
Bom dia Manuel!
Conheço a técnica que descreve e, em situações muito excepcionais, também me parece que possa ser utilizada. Na minha opinião e caso o apicultor decida salvar as abelhas através do “enxame nú” que descreve, deverá também mudar a rainha. Neste caso estará a salvar apenas as abelhas e algum material em segunda mão. Aceitando que as abelhas salvas poderão valer cerca de 30-40 euros e o material salvo em segunda mão 20-30 euros e se, agora, subtrairmos os custos que irá ter na concretização da operação (tempo despendido, deslocações ao apiário, desinfecção do material, rainha, …) muito da poupança será gasta. Se adicionarmos os riscos da operação não ser efectiva, porque me parece fácil algum pormenor falhar, nomeadamente com apicultores menos experientes ou menos dados ao trabalho e ao cuidado com os detalhes que o Manuel tão bem descreve (a falta de conhecimento e motivação que refiro no post), concluo que para a nossa realidade europeia o melhor mesmo é queimar tudo. Trata-se de fazer o que se tem feito na Nova Zelândia, que passou de uma epidemia de loque americana para uma situação de quase erradicação de focos de loque.
Relativamente à utilização de antibióticos desaconselho vivamente a sua aplicação. Tenho um amigo que teve que mandar analisar o seu mel para o colocar no estrangeiro e que teve um gravíssimo dissabor: 7 bidões analisados deram positivo relativamente às tetraciclinas (resíduos do antibiótico utilizado para os casos de loque). Ele jura, e eu acredito, que não colocou nenhum antibiótico nas colmeias, que nos poucos casos que teve de loque sempre erradicou o problema de forma radical queimando tudo. De onde vieram as tetraciclinas? Na sua pesquisa pessoal veio a saber que um apicultor vizinho aplica de forma regular antibióticos nas suas colmeias.
A razão de escrever o que escrevi (a minha proposta radical) está relacionada com a empatia que tive com este caso. Como nem todos somos experientes e/ou diligentes o suficiente, e porque bem feitas as contas a poupança poderá ser muito menor do que a inicialmente esperada, a técnica do enxame nú a utilizar deverá ser deixada para os casos de estarmos na presença de um foco de loque que atinja dezenas ou centenas de colmeias de um mesmo apicultor. Nestes casos entendo até que se utilizem antibióticos se os apiários estiverem suficientemente isolados, sem apiários vizinhos num raio de cerca de 5 Km.
Uma outra vantagem que encontro na minha proposta passa por eliminar no nosso meio ambiente rainhas e zângãos que podem perpetuar uma genética pouco resistente/pouco higiénica.
Retribuo os seus cumprimentos e conto continuar a ver os seus comentários e de outros companheiros, porque a energia e motivação que ponho neste blogue sairão renovadas.
Bom dia,na minha humilde opinião só existe um tratamento eficaz para a loque,lume .Por ser um microorganismo invisível a olho nu é impossível saber se foi totalmente erradicado,eu nos primeiros casos desinfetava o material aplicava antibiótico e era sempre tempo perdido,agora quando aparece nem penso duas vezes boto fogo a tudo sem dó nem piedade .Assim tou a proteger as outras .
Olá Eduardo
Não posso deixar de o felicitar. O seu Blog, como os poucos que restam vivos, não primam pela quantidade de participantes, mas o seu vale pela qualidade das exposições e comentários apresentados.
Os apicultores são especialistas forçados em várias valências: economistas e financeiros em custos, receitas e investimentos; botânicos de plantas melíferas; geneticistas de raças (ou etnias ? ) e veterinários exímios das doenças das abelhas.
Pessoalmente não acredito muito na capacidade, minha e alheia, de diagnóstico e terapêutica das doenças das abelhas. As doenças do século passado não foram erradicadas, foram, apenas, ofuscadas pelo flagelo da varrose. Muito poucos estarão preparados e atentos para os perigos que sempre espreitam.
Relativamente às alternativas clássicas de cura da loque americana, agora magnificamente apresentadas, atrevo-me a sugerir uma metodologia:
1º – no caso de a doença ser diagnosticada logo no início, em época favorável, com a/s colmeia/s, ainda, medianas ou fortes, eu optaria pelo método de transvasamento do enxame nu.
2º – no caso de a doença ser diagnosticada em fase avançada, com a/s colmeia/s enfraquecidas e/ou época climática desfavorável, eu optaria, tristemente, pela queima.
Nunca detectei nenhum caso de loque no meu apiário e, por isso, falo sem experiência. Acredito que haja gente com experiência mas que, infelizmente, se cala.
Em países mais civilizados ( a apicultura também é cultura ) este problema é colocado de forma muito diferente. Há ” inspectores apícolas “, amigos dos apicultores que, a pedido ou por iniciativa própria, visitam os apiários, diagnosticam e decidem os processos de cura.
Não me atrevo a pedir o mesmo para o nosso País.
No dia seguinte à nomeação os “inspectores apícolas” viravam a “fiscais apícolas” e nós passaríamos de mal a pior.
Saudações minhas para si e para os seus colaboradores.