as minhas colmeias de 9 quadros no ninho

Apicultores conceituados (Charles Dadant entre outros) foram apologistas das colmeias com 9 quadros no ninho. A distância entre os centros dos quadros nestas colmeias é de 38mm. Lembro que a configuração de 10 quadros no ninho determina uma distância entre o centro dos quadros de 35mm e 32 mm no caso de ninhos com 11 quadros. Estas distâncias referem-se a colmeias padronizadas Langstroth, Dadant/Jumbo ou outras, com uma distância interior entre as extremidades laterais do ninho de 37,5 cm.

Entre as vantagens mais notáveis apresentadas pelos defensores da configuração com 9 quadros surge a diminuição do impulso para a enxameação. A maior ventilação e o menor congestionamento do ninho são as razões mais referidas para explicar o fenómeno.

Mas como na apicultura raramente se encontram unanimismos, há um outro grupo de apicultores, entre os quais se destaca Michael Bush, que entendem que esta opção pelos 9 quadros no ninho atrasa significativamente o crescimento da população de abelhas à saída do inverno e entrada da primavera. A razão que estes apicultores dão é que a distância de 38 mm entre o centro dos quadros é demasiada o que dificulta o aquecimento dos ovos e larvas.  Na sua opinião este facto tem consequências, nomeadamente as áreas de criação acabam por ser inferiores se comparadas com as das configurações de 10 quadros e/ou 11 quadros, e isto numa época do ano crítica para o crescimento da população de uma colónia.

Como sabemos em Portugal, assim como noutros países, a prevenção da enxameação é uma tarefa à qual os apicultores devem dar muita atenção com o objectivo de maximizarem a capacidade produtiva das suas colónias. Tendo eu lido acerca da inibição ou atraso do impulso da enxameação em ninhos de 9 quadros decidi fazer a experiência colocando 20 colmeias com esta configuração nos meus apiários. No final desta primavera fará 2 anos sobre o início desta experiência, que tem decorrido sem preocupações de controlar ao detalhe as condições envolventes, mas que me permitirá tirar conclusões gerais acerca da validade desta opção tendo em conta as minhas condições.

Avanço alguns dos dados que possuo até agora, e que surgem na decorrência da dinâmica que surgiu dos diálogos no blog.

À entrada do inverno de 2015/2016 tinha 18 colmeias com esta configuração do ninho nos meus apiários. De acordo com a última inspecção realizada há poucos dias, as 18 colmeias estão vivas sendo que uma delas se encontra zanganeira. O tratamento dos dados que recolhi nestas 18 colmeias foram trabalhados no sentido de obter uma visão de conjunto acerca de três aspectos:

  1. Enxameação no ano de 2015.
  2. Produção de mel no ano de 2015.
  3. Força dos enxames à saída do actual inverno (2015/2016).
  1. No final do verão das 18 colmeias existentes, 12 não enxamearam no decorrer da época de enxameação de 2015 e não mostraram sinais de o desejar fazer; 4 foram divididas para controlar a enxameação eminente; 2 enxamearam. Uma nota que me parece importante: nas 12 colmeias que não enxamearam 9 tinham uma rainha com mais de um ano; 2 substituíram a rainha e numa introduzi uma rainha para melhorar a genética.

2. Relativamente à produção de mel nas 12 colmeias que não enxamearam 7 delas tiveram uma boa produção (acima dos 20 Kg/colmeia); 4 produziram medianamente (entre 10 e 20 Kg/colmeia); não disponho de dados acerca da produção de uma colmeia. Lembro que o ano passado foi um ano de baixa produção um pouco por todo o país (temperaturas muito altas em maio e meses seguintes e uma pluviosidade inexistente).

3. Já em 2016, com base nos dados mais atuais que disponho, as colónias estão a sair vivas do inverno. Das 18 colónias avaliadas, todas estão vivas e uma está zanganeira. Das 17 que interessa detalhar: 7 colónias apresentam mais de 8 quadros de abelhas; 4 apresentam entre 5 e 7 quadros de abelhas; 6 apresentam menos de 5 quadros de abelhas.

Deixo três notas para enquadrar alguns dos aspectos observados: das 6 colónias mais fracas 4 têm rainhas com mais de dois anos; as 17 colmeias estão em zonas de escassez durante o outono-inverno (não é zona de eucaliptais ou outras florações invernais); foram alimentadas com pasta açucarada/fondant durante o inverno.

Estes dados, num primeiro olhar deixam-me relativamente optimista acerca do futuro das minhas colmeias com 9 quadros no ninho. Vou continuar a recolher dados durante esta época para fortalecer as conclusões que daí possa vir a tirar.

A terminar enfatizo que estes dados são acerca das minhas colmeias, nos meus apiários e com o meu maneio. Reforço que esta experiência pessoal está a ser realizada sem um controlo rigoroso de um conjunto de outras variáveis naturalmente envolvidas.

3 comentários em “as minhas colmeias de 9 quadros no ninho”

  1. Olá Eduardo,

    Dado que já passou algum tempo desde o início desta experiência, gostaria de saber se continuou com a aposta em colmeias com ninhos de 9 quadros e se passados estes anos teve melhores resultados em relação a colmeias com ninhos de 10 quadros.

    Um abraço,
    Filipe Cunha

    1. Viva Filipe! Nestes anos fui transferindo gradualmente estas colónias em caixas de 9 quadros para caixas de 10 quadros. Este ano terminei com a transferência das 3 últimas. Tomei esta decisão por necessidade de standartizar todos os ninhos, sobretudo por duas razões: comercialização dos enxames nas suas caixas (os compradores compram caixas com 10 quadros) e para facilitar a transferência de quadros entre colónias durante o processo de equalização ou formação das colmeias armazém (os quadros das caixas de 9 quadros ficam mais “gordos” e torna mais difícil este maneio em caixas de 10). Verifiquei que à saída do inverno algumas destas colónias arrancavam mais devagar, enquanto outras arrancavam muito bem. No que respeita à enxameação, fenómeno multideterminado, as caixas de 9 quadros não foram a resposta para a sua prevenção. Um abraço!

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