tenho que fazer cera

Nas abelhas Apis mellifera, a cera é uma substância secretada por meio de oito glândulas cerígenas, que estão localizadas na parte inferior do abdómen, sendo libertada na forma líquida e que ao entrar em contacto com o ar solidifica e fica em forma de lâminas brancas que são perfeitamente visíveis.

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Fig. 1 — Abelha a produzir pequenas escamas de cera nas oito glândulas cerígenas

Estas pequenas escamas de cera nova são produzidos por abelhas operárias com idade entre 12 a 18 dias de vida adulta. Após este período, normalmente as glândulas atrofiam-se e param de funcionar nas abelhas mais velhas. A cera pura, tal como se encontra nas escamas secretadas pelas operárias, é branca, e a coloração final dependerá da presença de pólen e própolis. A cera contém mais de 300 componentes, o que ilustra bem a complexidade deste composto.

Sabendo que a época de produção de cera pelas abelhas varia com os locais e até com os anos, importa ao apicultor ir precisando no seu calendário apícola a altura do ano em que as abelhas a produzem num ritmo intenso e rápido. Assim, o apicultor munido desta informação pode organizar devidamente a colocação das lâminas de cera nos quadros e, sobretudo, gerir o momento mais oportuno para ir colocando os quadros de cera laminada nos ninhos das suas colmeias. Será muito perturbador para a colónia ver colocados no seu ninho quadros de cera laminada quando as abelhas ainda não estão preparadas para os  puxar. Estes quadros, ao invés de terem um papel na expansão da câmara de criação como era intenção do apicultor, acabam por constituir barreiras às abelhas, quais muralhas de uma fortificação.

É sabido que que as abelhas campeiras/forrageiras não armazenam o néctar nos favos; elas transferem a sua carga de néctar para as abelhas armazenadoras mais novas que estão na entrada da colmeia. Quando estas abelhas armazenadoras estão cheias, partem à procura de um local, no interior da colmeia, onde possam armazenar o néctar. Se depois de um tempo razoável (o “tempo razoável” não parece estar bem determinado na literatura, mas provavelmente será alguns minutos) a abelha armazenadora não encontra um alvéolo onde depositar o néctar — um que não esteja já cheio de néctar, que não esteja a ser utilizado por outra abelha, ou que não tenha cria — acaba por ingerir o néctar. Neste processo, o néctar, que era parte da colheita, acaba no sistema digestivo da abelha. Este consumo elevado de açucares transforma estas abelhas em produtoras de cera, em abelhas cerieiras. Esta transformação é um ponto crítico na vida da colónia de abelhas ao qual o apicultor deve estar muito atento.

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Fig. 2 — Cacho de abelhas a construírem favo novo

A minha experiência diz-me que estas abelhas cerieiras estão em grande número e “esfomeadas” por fazerem cera quando começo a ver pequenas extensões de cera nova, muito clara, a aparecerem nas faces laterais dos travessões superiores dos quadros.

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Fig. 3 — Pequenos favos adventícios de cera nova

Esta transformação começa usualmente quando 60-70% do espaço disponível para o armazenamento está ocupado. As abelhas, que se converteram às tarefas de produzir cera e construir favos, visitam frequentemente a entrada da colmeia para se reabastecerem de combustível junto das abelhas forrageiras.

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Fig. 4 — Cera branca na face interior da prancheta

Quando o fluxo de néctar termina, este comportamento cessa também. A necessidade de construir favo novo cessa com o abrandamento e fim do fluxo de néctar. Este mecanismo autorregulado permite e garante que as abelhas não construam mais favo do que aquele que necessitam.

Uma questão que divide os apicultores gira em torno de como apresentar a cera laminada às abelhas para que elas procedam o mais rapidamente possível à construção dos favos para armazenar o mel. Será ou não importante colocar as quadros com cera laminada logo por cima do ninho? Como já foi referido, o que mais importa nesta equação é a necessidade que as abelhas sentem de construir favo novo e um fluxo de néctar generoso que forneça o combustível à realização desta tarefa. Acrescento que, em geral, a puxada de cera é mais fácil no local mais quente da colmeia, e este local é imediatamente por cima do ninho. No entanto, se os dias estiverem quentes e se houver um fluxo de néctar generoso, as abelhas puxarão alegremente a cera se a alça ou meia-alça de cera laminada estiver mais distante do ninho, no topo da colmeia. Colocar um ou dois quadros com mel nesta caixa do topo poderá encorajar as abelhas a subirem e a puxarem a cera laminada mais cedo.

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Fig. 5 — Quadro puxado com cera nova

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