Ontem, fiz cerca de 400 kms (ida e regresso) para fazer uma visita técnica a dois apiários localizados num território lindíssimo, em Moledo. Foram cerca de 4 h de viagem mais 7 horas de trabalho nos apiários, mas quem corre por gosto de ajudar, partilhar técnicas e conhecimentos no terreno, ao lado dos apicultores, aprender todos os dias com os matizes e diferenças, decorrentes da diversidade dos territórios que percorre e do ajustamento local, quer das abelhas quer dos companheiros apicultores, não arrasta os pés ao iniciar estas longas jornadas.

Fui recebido e acompanhado pelo Sr. José Maria, que cuida com uma motivação extrema das colmeias de seu filho e nora, o Bruno e a Elisabete, que trabalham e vivem na Suiça e que conheci através das sessões Zoom que ministro.

O primeiro apiário é um misto de colónias estabelecidas, enxames passados recentemente de núcleos para colmeias e núcleos resultado dos desdobramentos efectuados pelo Sr. José Maria até à data.
Neste apiário abrimos várias colónias, mas centremo-nos na torre com 7 meias-alças, na qual já tinham sido retirados quadros e abelhas, nos meses anteriores à minha visita, para prevenir a enxameação (e prevenir a enxameação é uma coisa muito diferente de controlar a enxameação, como esclareci os companheiros que frequentarem a sessão zoom correspondente).
Esta colónia tem várias características que me agradaram muito:
- é um enxame que foi adquirido a um apicultor local, e este aspecto é muito valorizado por mim. Cada vez mais observo que os enxames e rainhas que os meus clientes adquirem de proveniência local são, por regra, muito interessantes ;
- tendo uma taxa de infestação elevada (um pouco acima de 9%) a colónia não apresentava sintomas visíveis das viroses habituais — sinal de tolerância aos patógenos?;
- abelhas muito calmas e colónia produtiva acima da média (fiquei a saber quem é criador/fornecedor local que passarei a recomendar a apicultores meus clientes naquela zona do país).

Dada a elevada infestação, esta foi uma das várias colónias onde apliquei o protocolo de tratamento inovador, para que o meu cliente o apreendesse na totalidade, com a exemplificação que fiz no terreno.
Abrimos mais algumas colónias, avaliámos a sua taxa de infestação, marcámos mais algumas rainhas, ajustámos alguns quadros nos ninhos, colocámos uma ou duas grelhas excludentes, ajustámos alguns quadros nas meias-alças.
Depois do almoço foi tempo de visitar o segundo apiário, localizado num território de montanha (com o mar logo ali em baixo!) por onde andámos cerca de 4h30 “non stop”.

Abrimos diversas colónias, localizámos e marcámos várias rainhas, avaliámos taxas de infestação de varroa e observámos que 3 delas estavam em momentos diferentes do processo de enxameação: uma colónia já enxameada com uma rainha virgem a passear num quadro; duas colónias com mestreiros de enxameação a poucas horas de enxamearem — o comportamento das abelhas e a delgadez das rainhas assim o anunciava. Estas duas colónias foram trabalhadas de acordo com os procedimentos que recomendo utilizar nestas circunstâncias nas sessões Zoom que ministrei acerca da Prevenção, Controlo da enxameação e Desdobramentos. No final da intervenção os meus clientes tinham 7 núcleos mais, cujas abelhas e rainhas, hoje ou amanhã, estariam penduradas em algum tojo ali em frente e depois partiriam sabe-se lá para onde.




Com o acordo do cliente, porque esta colónia mãe lhe agrada, decidimos fazer colónias filhas. Em rigor não fizemos selecção nenhuma, fizemos uma escolha: multiplicar uma colónia que agrada pelas suas características observáveis: colónia produtiva, abelhas com bom comportamento nos quadros e sem sinais visíveis de doenças na criação.
É sobre este lema, multiplicar a partir da escolha das colónias que mais nos agradam, que se fundará a próxima sessão Zoom a 2 de maio, Criação de rainhas por métodos orgânicos. A escolha das melhores/as que nos agradam não é selecção genética, esse é outro campeonato. Alguns enchem a boca com esse “meme” (selecção genética) mas não lhes é conhecido nenhum programa devidamente planeado e controlado. Estamos com Anselmo Martz, quando nas saudosas conferências organizadas pelo João Tomé, referiu que as melhores abelhas provavelmente já estão no nosso apiário.
Este é o curso para quem não quer ou não consegue fazer translarve, e que quer escolher a partir do melhor que tem no seu apiário para aumentar o seu efectivo, de forma relativamente controlada, sem ter de andar a espalhar caixas isco pelos terrenos circundantes ou andar pendurado em árvores a apanhar garfas. Não é um curso contra ninguém, é um curso a favor das abelhas e dos seus diversos produtos, em particular da sua enorme capacidade para produzir rainhas de qualidade em circunstâncias naturais.
Se desejar frequentar esta sessão, já no próximo dia 2 de maio, envie por favor e-mail para jejgomes@gmail.com
De uma para dez …
Graças a mestreiros de enxameaçao