Quando um enxame de abelhas enxameia e ocupa um buraco numa árvore, numa parede, etc., a primeira tarefa a que se dedica é à construção de um conjunto de favos. Independentemente do local onde os constroem, o espaçamento dos favos apresenta uma grande regularidade: 30 a 32 milímetros entre os centros dos mesmos. Somente nos favos nos lados de fora do ninho surge um espaçamento ligeiramente maior, mas estes são usados quase exclusivamente para o armazenamento de mel ou para a criação de zângãos.
Fig. 1 — Medição da distância entre os centros de dois favos de abelhas
Os favos que que as abelhas constroem em condições naturais raramente são planos. Os favos são muitas vezes curvados em arcos graciosos e apresentam uniões entre si, o que lhes dá integridade estrutural, para que possam suportar o peso do mel e resistam às altas temperaturas nos dias quentes de verão.
No que respeita à sua utilização, os favos num ninho natural são multiuso e a postura da rainha surge quase em qualquer lugar, com a possível excepção dos favos externos. Os alvéolos onde antes houve criação são, habitualmente, ocupados com néctar, impedindo a rainha de aí fazer postura imediatamente a seguir, obrigando-a a procurar outros alvéolos. Isto significa que a rainha está constantemente a ser reconduzida para um outro favo, componente importante do comportamento higiénico da colónia.
Por que é que os favos naturais apresentam um espaçamento de 30-32mm entre os seus centros? As medições dos alvéolos preparados para a postura da rainha mostram que eles apresentam 11-12mm de profundidade. As medições mais detalhadas revelam que a profundidade não é uniforme e que a relação entre a largura/profundidade é aproximadamente de 1 / 2 — os alvéolos de diâmetro mais pequeno são alvéolos menos profundos, os alvéolos com um diâmetro maior são mais profundos.
Qual é a razão desta relação? Como sabemos, o alvéolo fica plenamente ocupado nos estágios finais de desenvolvimento da criação e estas são as proporções que se adequam exatamente ao seu ocupante — a pupa ou abelha pré-emergente. Alvéolos com diâmetros menores produzem abelhas mais pequenas. Em conclusão, é a relação largura/profundidade, e não somente a profundidade, que determina se a abelha é um pouco maior ou um pouco menor.
Assumindo que a profundidade média dos alvéolos é de 11,5 milímetros, a largura do favo, com ambos os lados preparados para receber criação, é de 23 milímetros (2 x 11,5 = 23). Se subtrairmos ao espaçamento entre favos (32 mm) estes 23 mm, resulta um espaço excedente de 9 milímetros entre as suas faces opostas (32-23 = 9). Estes 9 mm não acontecem por acaso (Deus não joga aos dados, dizia frequentemente Einstein). O espaço de 9 mm é exatamente a distância adequada para que as abelhas sejam capazes de trabalhar nas faces opostas de dois favos, de costas umas para as outras, apenas com um ligeiro roçar de asas.
Ilustração 1 — Duas abelhas de costas uma para a outra a trabalharem nas faces opostas de dois favos
Isto significa que as abelhas nutrizes se podem mover livremente nas duas faces do favo, sem se atropelarem mutuamente, aumentando a eficácia dos seus esforços nos cuidados que prestam à criação. Este espaço de 9 milímetros também é importante para a termorregulação. Esta distância permite que, com apenas duas camadas de abelhas entre os favos, o espaço entre eles fique quase totalmente preenchido e aquecido. Como sabemos em ambientes ou épocas mais frias as abelhas são chamadas a ocupar o espaço entre-favos, onde geram calor e retardam o fluxo convectivo do ar. Um espaçamento entre-favos maior exige mais abelhas — mais de duas camadas — para manter a criação quente. Como sabemos as colónias de abelhas são altamente sensíveis a este aspeto. Se aumentarmos o espaço entre favos muito provavelmente será produzida menos criação, particularmente durante o crescimento primaveril da colónia, o que implicará menos abelhas forrageiras disponíveis para os primeiros fluxos de néctar. Este é um aspecto com um grande impacto prático, nomeadamente no que respeita à opção por colocar 9, 10 ou 11 quadros no ninho de uma colmeia (tema a que voltaremos num futuro próximo).
Quando os favos de criação (ou partes deles) são utilizados para o armazenamento de mel no fim do verão (na preparação para o inverno), os alvéolos são estirados com maior profundidade restando um único espaço abelha entre eles (5-6 mm). O mesmo acontece nas alças meleiras. Antes destes alvéolos poderem ser reutilizados para a criação, na primavera seguinte, eles têm de ser aparados para uma profundidade correcta. Nesta época do ano podemos descortinar este comportamento, quando nos apercebemos dos fragmentos de cera sob os pisos em malha de rede ou à entrada da colmeia.
Boa noite Eduardo!
Uma pergunta rápida. Quantos quadros usas no ninho?
Abraços
Hugo
Boa noite Hugo
De facto a sequência natural do post é essa mesmo: uma reflexão acerca do número de quadros a colocar no ninho.
Respondendo à tua questão tenho cerca de 95% das colmeias com 10 quadros no ninho e as restantes 5% com 9 quadros (como aconselhado por Charles Dadant, entre outros). Ainda não experimentei os 11 quadros mas gostaria de o tentar, sobretudo depois de ter entendido que a sua utilização tem argumentos que vão muito para além do famoso “11º quadro que combate a varroa”.
Aproveito para retribuir a questão.
Bom dia Eduardo
Já usei 11 quadros no ninho e arrancavam mais rápido que com 10.
Parecia muito mais vantajoso.
No entanto perdiam as rainhas e ficavam zanganeiras.
Abandonei a experiência
Olá Eduardo.
Notas alguma diferença entre as colmeias de 9 e 10 quadros?
Eu já experimentei com 9 quadros, mas não gostei, nem elas!
Abraços.
Olá Dino
A resposta a esta questão vou deixá-la para um post. Posso adiantar que tenho cerca de 20 colmeias com 9 quadros e não vejo exatamente o mesmo em todas elas. Por outro lado esta experiência ainda só tem um ano. Vou ver como corre esta ano, em especial no que respeita à enxameação. Dadant e outros apicultores defendem a ideia que o espaçamento maior entre quadros diminui de forma significativa a enxameação. No post darei mais detalhes acerca da minha experiência até agora.
Se quiseres dar mais alguns pormenores sobre a tua experiência com os ninhos de 9 quadros força.
Boa Noite.
Tudo aconteceu quando comprei 5 colmeias em Arganil, eram do modelo reversivel, e traziam 9 quadros.
No primeiro ano notei que não evoluíam, no inverno tanto como as de 10 quadros.
A bola de criação era mais pequena dos que as outras.
Criavam muita criação de zângão.
A criação estava confinada a 3 ou 4 quadros.
Eram mais propicias a criarem varroa,
Trocavam com facilidade de mestra.
Demoravam muito para subirem as alças, o que é normal depois dos pontos antes referenciados.
Saiam mais tarde e recolhiam mais cedo do que as outras, excepto no Verão.
Bem com era o primeiro ano, e como vinham de zona onda invernam, resolvi deixa-las mais um ano para experiência.
No segundo ano notei as mesmas características, e todas enxamearam, mas a culpa foi minha, penso eu, pois alimentei com abundância, (alimento liquido).
Resolvi e passei para 10 quadros, e alterou completamente.
Atenção, mais uma vez isto aqui na minha zona, noutras zonas pode ser diferente.
No geral, para mim é uma solução para esquecer. As de 11 quadros nunca fiz experiência.
Nota: no Verão com o calor, não se viam muitas abelhas fora da colmeia, a fazer barba.
Abraço.
Obrigado Dino. Também neste caso me parece que a zona pode ditar desfechos diferentes. Estive a fazer a compilação dos dados que tenho acerca das minhas colmeias de 9 Q (neste momento são 18) para fazer um sumário. Este trabalho de compilação dos dados destas colmeias, que já deveria ter feito antes, permite-me fazer uma análise mais fidedigna, para não ser induzido em erros decorrentes das naturais distorções da percepção e da memória quando temos que trabalhar com um aglomerado grande de dados e não totalmente convergentes. Espero tê-lo terminado ainda hoje. Um abraço!
Boa tarde Eduardo!
Eu sempre usei 10 quadros no ninho.
Contudo já fiz a experiência dos 11 quadros no ninho a conselho do autor do artigo “11º quadro – viver ou morrer com a varroa” (se não for este o título correcto será algo parecido) que correu mundo na revista apícola on-line “apicultura sin fronteras”, e tirei algumas conclusões próprias que me inibiram de continuar a usar os 11 quadros.
Então passo a explicar o que aconteceu. Nesta experiência simultaneamente introduzi 2 variaveis, sendo elas a dimensão dos quadros (quadros com 40cm de altura o que corresponde a mais ou menos 1Q do ninho reversível + 1Q de 1/2 alça) e a quantidade de quadros no ninho (11 quadros), e esteve em campo durante 2 anos (tempo mais que suficiente para observar o comportamento das colónias).
Ano 0: foram colocados 2 enxames a nu em 2 colmeias com estas características e com cera moldada. neste ano os enxames apenas cresceram o suficiente para puxar as ceras e encher de reservas o ninho.
Ano 1: notei maior economia no consumo das reservas comparando com as outras colmeias e ambas enxamearam antes de o ninho estar completamente cheio de abelhas e/ou criação e/ou reservas. Ambas as colmeias não conseguiram encher o ninho e não produziram mel extra para o apicultor (facto a que relacionei com a primavera ventosa e com fluxos de néctar reduzidos no tempo)
Ano 2: novamente notei maior economia no consumo das reservas e mais uma vez ambas as colmeias enxamearam antes de o ninho estar completamente cheio de abelhas e/ou criação e/ou reservas. Ambas as colmeias não conseguiram encher o ninho e não produziram mel extra para o apicultor (desta vez não consegui encontrar motivo aparente para a improdutividade destas 2 colmeias).
Depois de no ano 2 os resultados se repetirem decidi acabar com a experiência e retirei as seguintes conclusões:
1ª: a barra superior dos quadros era demasiado larga (cerca de 27mm) e dificultava o maneio;
2ª: comparando com outras colmeias o consumo de reservas foi sempre menor nas colmeias da experiência do que nas outras;
3ª: não verifiquei nenhuma diminuição de varroas na colmeia e sempre necessitaram de ser tratadas ao mesmo que as restantes do apiário;
4ª: O ninho demasiado grande e com 11 quadros potenciou a enxameação antes das outras colmeias do mesmo apiário (cerca de 1 a 2 semanas antes);
5ª: estas duas colmeias se tornaram improdutivas pois enxamearam nos 2 anos consecutivos e nunca encheram os ninhos na totalidade.
Estas foram as principais conclusões que retirei desta minha experiência. Contudo confesso que apenas deveria ter tentado fazê-la recorrendo ao 11º quadro e não ao aumento de tamanho dos mesmos em simultâneo.
A principal razão que me levou a desistir de recorrer ao 11º quadro foi o facto de a enxameação ter sido potenciada.
Abraços
Hugo
Olá Hugo.
Usaste colmeias langstrough, e trocastes a disposição dos quadros ou construístes de raiz?
Faço esta pergunta porque, com a largura dos quadros que mencionas, não conseguias colocar 11, numa colmeia lusitana, respeitando o espaço abelha.
Abraço.
Bom dia Bernardino!
Eu usei o corpo de um ninho reversível e uma meia alça para a experiência. Os quadros esses sim foram feitos de raiz com a altura conjunta do ninho e meia alça.
Relativamente a colocar 11 quadros dentro de um corpo lusitano permite-me discordar porque salvo erro a medida interior do ninho lusitano é de 380mm. se colocares 11 quadros com 27mm de largura cada um ainda ficas com 88mm para espaçamento entre quadros que é diferente do espaço abelha, pois como o Eduardo referiu no post a distância de centro a centro de cada favo é de 30 a 32 mm, que logo por aqui consegues ver que até poderias ter 11 a 12 favos e não 10 se no ninho não usasses quadros. A questão de não se conseguir colocar 11 ou mais quadros num ninho lusitano prende-se mesmo com a largura dos quadros, que no sr. onde as compro ele os faz com 27mm de largura e não 23mm como o fazem as abelhas nos favos de criação.
Abraços
Hugo
Olá Hugo.
Tens toda a razão, até cabem mais, só que o espaço abelha é muito reduzido.
27 x 11 = 297
380 – 297 = 83
83 / 12 espaços abelha =6,916
Espaço ideal 9 mm
Isto no ninho de colmeia lusitana.
Eu utilizo quadros de 26 mm o que me dá espaço abelha de 10,9
Abraço.
Obrigado Hugo pelo relato detalhado da tua experiência com o 11º quadro. Um amigo do norte também tentou controlar a varroa com o 11º quadro e também não obteve bons resultados. Referiu-me também a dificuldade que passava para tirar os quadros do ninho. Já não estou certo se mencionou alguma coisa em relação à enxameação.
E fico muito honrado pelo relato em primeira mão no meu blog. Depois de o Luís se ter referido a este assunto, lembro-me de também ter ficado à espera das tuas conclusões. Cá estão elas e logo no blog de um apicultor algo cético relativamente ao alcance das medidas biotécnicas no controlo eficaz da varroose. Hugo, se não vires nada em contrário gostaria de utilizar alguns dados da tua experiência na produção de um post acerca dos prós e contras dos ninhos com 9, 10 e 11 quadros.
Olá Hugo, também já fiz a experiência de 11 quadros em colmeias Lusitanas e os resultados são muito idênticos aos que refere, não encontrei vantagem alguma, antes pelo contrário mais dificuldade no maneio.
Cumprimentos
Hélder
O Hugo Martins é o escritor de um blogue que nos prometeu contar a sua experiência com o 11º quadro mas nunca expôs lol. Finalmente vi aqui os resultados da experiência.
Gostei
Abraço
Bom dia Luís!
Estás certo relativamente ao blogue. Infelizmente já não existe por opção minha. Confesso que fiquei bastante desmotivado com o que, pessoas sem formação e mal-educadas e que têem acesso ao mundo livre da Internet, são capazes de fazer e dizer. Vi isso nos comentários que recebia no meu blogue que só não eram publicados porque tinha a moderação de comentários activada. E ainda com a agravante de não fazerem interpretação e uso correcto das informações que nele depositava. Por estas razões e outras mais decidi acabar com o blogue.
Eduardo relativamente ao que me solicitaste, não vejo inconveniente em utilizares as informações que forneci acerca do uso do 11º quadro. Se alguém as quiser contestar desafio essa mesma pessoa a replicar a experiência e confrontar os resultados dela com os meus, tal e qual como mandam as regras do método cientifico.
Abraços
Hugo
Ok Hugo, obrigado pela tua simpatia e disponibilidade.
Se me permites uma pequena reflexão em torno da tua experiência como blogger. Começo por dizer que espero que voltes ao ativo. Obviamente que se resolvemos escrever num espaço público o estímulo que vem do lado de lá ajuda-nos, e muito, a continuar. Dito isto, quer o blogger quer os seus leitores devem ter um elevado espírito crítico acerca do que escrevem e do que lêem, com naturais desacordos aqui e ali, e que devem ser expostos dentro dos limites da civilidade. A realidade não é a preto e branco, é múltipla. A abelha é o insecto mais estudado em todo o mundo. Apesar disto há inúmeras áreas desconhecidas e outras onde estamos só a arranhar a superfície. A verdade pode não ser uma só; é bem possível que a complexidade deste insecto lhe permita ir muito para além dos comportamentos instintivos, automáticos e mecânicos. Por isto é também muito provável que os apicultores vejam coisas diferentes uns dos outros nas suas colmeias e apiários. A este propósito, um dia destes conto falar um pouco sobre a influência dos aspectos epigenéticos no comportamento da rainha. As abelhas são o que são, diversas e múltiplas e tenho a certeza que entre nós ninguém sabe exactamente o que elas são.
A nossa dignidade pessoal é um bem muito precioso e que todos ansiamos preservar. Apesar de como as abelhas sermos diversos e múltiplos, somos muito semelhantes neste aspecto nuclear da nossa vida.
Um abraço Hugo!
Oi Eduardo!
Não descarto a possibilidade de no futuro voltar a ter um blogue dedicado a apicultura, no entanto a experiência que tenho como blogger vai-me inevitavelmente levar a mudar a dinâmica e o intuito dos eventuais posts.
Para já vou-me dedicando a aprofundar os meus conhecimentos de apicultura e adaptá-los à minha realidade. Esta tem sido a minha aposta para uma apicultura sustentável e de sucesso, mas como todos vou fazendo os meus erros e aprendendo com o dia-a-dia.
Abraços
Hugo
Boa noite a todos.sou ainda principiante na apicultura. Mas acho muito positivo e interessante todas as vossas experiências partilhadas , independente o resultado ser ou positivo. Mas já percebi que para muitos isto é uma ciência exata, independente do lugar ou outro factor, que até poderão ser muitos. Por isso na minha humilde ignorância, acho que TUDO É POSITIVO, e para quem vai mais longe além de produzir mel e abelhas, é SEMPRE UMA MAIS VALIA, a partilha de experiências.. A todos saudações apiculas, e CONTINUEM…..