Parece que há coisas que em Portugal só são testemunhadas por muito poucos. A criação de realeiras de emergência durante o processo de introdução de rainhas em gaiolas é uma delas. Há anos que me incluo neste grupo minoritário, aqueles que testemunham que com a introdução rainhas virgens ou fecundadas o impulso do enxame iniciar a puxada de realeiras, com larva e geleia real, a partir das larvas e ovos disponíveis nos quadros do enxame acabado de orfanar não é inibido automaticamente/magicamente. Já escrevi sobre este aspecto por aqui no blogue, há anos.
Mas nunca é demais revisitar este tema, sabendo que muitos companheiros estão a introduzir rainhas em gaiolas nos seus desdobramentos. Acrescentar também que pelo facto de haver poucos testemunhos, não significa que este seja um fenómeno raro. Mais depressa quer dizer desatenção, selectiva ou ingénua não sei, mas seguramente desatenção. Começando pelas evidências recentes que, uma vez mais, validam as observações que venho fazendo há anos. As fotos são de há dois dias e de hoje.



Com a falta de testemunhos sobre este fenómeno pergunto: serão só as abelhas com que o Eduardo trabalha (sejam as dele, sejam as dos clientes) que apresentam este comportamento bizarro: numa situação em tudo semelhante à da semi-orfanação, com a rainha confinada a um local, a gaiola neste caso, não podendo espalhar as suas feromonas mandibulares e da pegada pelo seio do enxame, decidem iniciar a produção de realeiras? Bem, bizarro seria não o fazer, à luz do que se conhece do comportamento básico do enxame quando a rainha não espalha as suas feromonas pelo ninho.
Mas como em Portugal este fenómeno não está aparentemente descrito, sendo até negado por outros, nada como ir a uma das bíblias da apicultura mundial, a revista Bee Culture, ver o que escreveram sobre este fenómeno. E num número da revista, publicado em 2023, encontro um texto, do qual extraí estes 2 parágrafos:
“Placing a queen in a hive inside a cage doesn’t actually provide much Queen Mandibular Pheromone, since it is passed by touch throughout the hive, and they can’t really touch her very well through the cage. And, thinking like a bee… if there is no brood pheromone, whose fault is it? Answer: it is the queen’s fault. The bees don’t make the connection that it was the old queen’s fault, and not this one. They just know… poor QMP and no brood pheromone, we ain’t happy. If there are still eggs in the hive, the bees will usually start emergency queen cells, even though there is a caged queen, since they aren’t getting a good dose of QMP from that young queen whose pheromones haven’t developed too well yet, and that they can’t really touch. It is important to be aware of the likelihood of queen cells in the hive, since the bees would always prefer to raise their own queen (even if it wasn’t their own egg) than to accept your store-bought queen.
Letting her out of the cage sooner, so that they can touch her is not the answer, either, since they still know that she isn’t theirs. They will ball and kill her (they usually heat her up so much that she cooks, rather than stinging her). They must be ready to accept her before you let her out of the cage. There should be brood in the hive, and there must not be any queen cells anywhere.” (Tina Sebestyen, Bee Culture, july 24, 2023)
[Tradução: Colocar uma rainha numa colmeia dentro de uma gaiola não fornece muita feromona mandibular ao enxame, já que ela é passado pelo toque por toda a colmeia, e as abelhas não conseguem tocar a rainha muito bem através da gaiola. E, pensando como uma abelha… se não há feromona de quem é a culpa? Resposta: é culpa da rainha. As abelhas não fazem a conexão de que foi culpa da rainha velha, e não desta nova no interior da gaiola. Elas apenas sabem… feromona fraca, não estamos felizes. Se ainda houver ovos na colmeia, as abelhas geralmente iniciarão células reais de emergência, mesmo que haja uma rainha enjaulada, já que elas não estão recebendo uma boa dose de feromona daquela rainha jovem cujas glândulas ainda não se desenvolveram muito bem, e que elas não conseguem realmente tocar. É importante estar ciente da probabilidade de surgirem células reais de emergência na colmeia, já que as abelhas sempre preferem criar sua própria rainha do que aceitar uma rainha comprada na loja.
Deixá-la sair da gaiola mais cedo, para que elas possam tocá-la, também não é a resposta, já que elas sabem que ela não é de sua família. Elas vão embolar a rainha e matá-la. Elas devem estar prontas para aceitá-la antes que você a deixe sair da gaiola. Deve haver cria na colmeia e não deve haver células reais em lugar nenhum. (sublinhado meu)]
Se desejarem saber como evitar este grande contratempo podem inscrever-se na sessão Zoom Prevenção, Controlo da Enxameação e Desdobramentos, a realizar-se no próximo dia 25 de março, pelas 21h30, e aumentar o vosso conhecimento e atenção aos detalhes críticos. Para mais informações podem contactar para o e-mail: jejgomes@gmail.com