Começando por alguns factos e concluindo com um cenário ou uma projecção com base nos factos:
Os factos:
Um ciclo de reprodução de varroas produz, pelo menos, 1,45 novas fêmeas se criadas em larvas de obreira; pelo menos 2,2 novas fêmeas se criadas em larvas de zângãos, larvas mais atraentes para a varroa.
A reprodução da varroa ocorre nos alvéolos fechados/operculados e dura 12 ou 14 dias, se em larvas de obreiras ou de zângãos respectivamente. A maioria das varroas sexualmente maduras apresentam 3 ou 4 ciclos reprodutivos sucessivos durante a sua vida.
A duração da fase forética entre 2 ciclos reprodutivos é variável. Uma fêmea nova amadurece durante 7 dias, em média, na sua primeira fase forética (mínimo de 5 até 14 dias) antes de infestar uma larva e levar a cabo o seu primeiro ciclo reprodutivo. Muito importante: no entanto, a fase de forética não é vital, e subsequentemente passa a depender, principalmente, da disponibilidade de larvas próximas a ser infestadas e na fase adequadas do seu desenvolvimento.
O tempo de vida útil do parasita é adaptado ao ciclo de vida da abelha. Uma fêmea pode viver entre 1 e 2 meses no verão e entre 6 a 8 meses durante o inverno, na ausência de criação.
Infestação: na temporada apícola, as larvas de zângão são muito mais fortemente infestadas do que as larvas de obreiras (8 a 10 vezes mais). O impacto e nível de infestação é, portanto, menos perceptível, exceto quando a criação de zângãos diminui, provocando, assim, uma transferência em massa da população das varroas em direção à criação de obreiras, o que tem um impacto súbito numa única geração de obreiras e pode levar ao colapso da colmeias quando o nível de infestação é muito alto (facto de importância crítica, nunca o esquecer).
(fonte: http://www.veto-pharma.com/products/varroa-control/about-varroa-mites/)
Agora o cenário…
Começando com uma varroa na nossa colmeia a 1 de Fevereiro, no dia 12 fevereiro temos a mãe e mais uma filha. No dia 1 de março (5 dias na fase forética e 12 dias a reproduzir-se nas larvas das obreiras), temos as duas mães e mais duas filhas, 4 no total. Se considerarmos que a mãe original está no fim da vida passados estes 30 dias temos 3 varroas na nossa colmeia. Antes do início da temporada de criação de zângãos a varroa triplica os seus números a cada trinta dias (perspectiva conservadora).
Mas em abril as nossas colmeias começam a criar zângãos e as 3 varroas vão desenvolver a sua prole nesta casta de larvas. Tudo se irá acelerar. Passados 19 dias (5 dias da fase forética e 14 nas larvas de zângão) as três varroas presentes no início de abril deram origem a 6 novas filhas. Temos agora nove varroas na nossa colmeia. Num período de 19 dias o número de varroas triplicou. Por volta de 8 de maio temos cerca de 30 varroas. Antes do final de maio temos entre 90 e 100 varroas. A quinze de junho o número voltou a triplicar e chegamos às 300 varroas. No início de Julho estamos a chegar às 1000 varroas. 3000 varroas será o número aproximado cerca de 20 de Julho. Por volta de 10 de Agosto estamos a chegar a 10 000 varroas.
Os números não enganam: numa população de 50 000 abelhas no início de Julho temos 2% de infestação. Percentagem tolerável mas que coloca as nossas colmais à beira de um aumento crítico das varroas num período de pouco mais de um mês, mês em que geralmente andamos muito ocupados com a cresta do mel para nos apercebermos. Se nada fizermos entre o início de Julho e meados de Agosto a percentagem de infestação muito provavelmente irá atingir os 20%. Nesta altura temos uma colmeia à beira de colapsar pelo contributo negativo dado por vários factores:
- temos um ácaro em cada uma de 5 abelhas;
- os ácaros preferem as abelhas nutrizes e portanto não será extravagante pensar que uma em cada duas abelhas nutrizes transportam uma varroa;
- estes ácaros esperam o momento oportuno para se introduzirem nos alvéolos e podem encurtar a fase forética para menos do que os 5 dias que habitualmente são referidos na literatura;
- a criação de zângãos está reduzida e assistimos à transferência massiva dos ácaros para a criação de obreira;
- a postura das rainhas e a criação tem vindo a decrescer regularmente desde o solstício de verão em muitas regiões do nosso país…
- todos estes factores criam as condições para que 50% a 75 % do próximo ciclo de novas abelhas surjam de larvas parasitadas.